Arquivo da tag: Pelé

Maçãs e Peras

Primeiramente deixo claro que eu debato o que eu quiser e quando eu quiser. Não há o que possam fazer, a não ser me bloquear caso minhas opiniões machuquem. Eu, em verdade, prefiro ser bloqueado (e sou diariamente) quando o livre direito de expressão não é respeitado ou bem-vindo. Quanto ao debate sobre Neymar x Rivaldo, ele é realmente inútil; apesar disso, está na Internet e muita gente está fazendo essa comparação. Eu mantenho a minha opinião sobre esse tipo de discussão: o debate é sem sentido porque são jogadores diferentes, de posições diversas e de gerações diferentes, mesmo que próximas. Essa história de “quem foi melhor” é um debate caça níquel, pois as pessoas tendem a desvalorizar um jogador para valorizar o outro. No caso, dois craques máximos do futebol brasileiro, na galeria dos Top 10.

Passei boa parte da minha vida escutando esse debate sobre Pelé x Maradona e nada de produtivo pode ser retirado das toneladas de textos escritos sobre essa comparação. Muitos até reconhecem que se trata de “uma discussão praticamente sem fim“. Ora… o que é uma discussão infindável? É exatamente aquela que impossibilita uma conclusão, tornando-a sem utilidade, pois esbarra em preferências pessoais e modos distintos de analisar futebol. No caso, estamos comparando “maçãs com peras” e tentando afirmar qual é a melhor das duas, mas felizmente não há gostos e perspectivas idênticas, e o debate se torna um “cul de sac”, um beco. A complexidade das visões subjetivas sobre a qualidade (das maçãs, das peras e dos jogadores) nos condena a jamais chegar a uma conclusão definitiva.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Silvio Santos

É curioso como a postura do esquerdismo em relação à morte do Silvio Santos cumpre o mesmo roteiro dos ataques à todas as celebridades: usam a as pequenas falhas humanas do personagem e negam a importância de sua obra. É como se dissessem: “Você errou por não ser o sujeito perfeito que existe dentro da minha cabeça, e por isso jamais será perdoado”.

As queixas são sempre ligadas às questões pessoais, aquilo que no sujeito ataca suas feridas subjetivas. O rei do futebol não foi perdoado por mulheres cujo pai igualmente não cumpriu seu papel com elas. Silvio Santos, o rei da comunicação, fazia piadas de “tiozão do pavê”, e não era aceito, mas esquecem que essa era a cultura da época. Sim, teve falhas terríveis, e tinha também os erros comuns da sua época, mas era o estereótipo do comunicador, e do vendedor impecável. Entretanto, durante décadas trouxe alegria para as camadas mais pobres da população com seu programa de variedades. Sim era oportunista, reacionário e sem escrúpulos, mas era genial na comunicação.

Menos elitismo ajudaria a entender essas personalidades e nos faria compreender porque fizeram tanto sucesso.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Eu vi Pelé jogar…

Pelé e Alcindo Marta de Freitas na inauguração do Colosso da Lagoa – Erechim, em 2 de setembro de 1970. Grêmio 0 x 2 Santos.

… e todos que dizem isso revelam inexoravelmente a idade. Porém, só quem foi menino e jogou bola nos anos 60 e 70 pode entender a verdadeira dimensão desse acontecimento. Sendo gaúcho, e vivendo numa época em que as transmissões de TV eram precárias, isso significa que você teve a rara oportunidade de testemunhar a presença de um Deus.

Um fenômeno como Pelé não existe mais na atualidade, não na dimensão que ocorreu com Sua Majestade. O fenômeno Pelé só poderia acontecer em uma época anterior ao futebol moderno, quando o jogo ainda se confundia com a arte e o balé, quando os jogadores eram pessoas comuns, gente como todos nós, e não milionários exibicionistas que ganham mais com publicidade do que com a arte dos seus pés. Pelé surge como a “grande esperança negra”, o menino pobre, preto, filho de dona Celeste – uma lavadeira – e seu pai “Dondinho” – um jogador de pouco brilho. Era um Brasil que recém acordava como nação, emergindo do grande trauma do “maracanazo“. Pelé mudou a história desse país, tornou-se menino prodígio em 1958 na Suécia, passou a ídolo e de ídolo para “Rei do Futebol” antes de completar 25 anos. Depois disso ainda foi considerado como o maior esportista de todos os esportes no século XX.

Hoje em dia está cheio de torcedor Nutella que chama jogadores absolutamente comuns de “craque”. Nunca houve nada semelhante a Pelé. Pelé parou uma guerra. Pelé expulsou um juiz de campo. Pelé fez mais de 1000 gols na carreira e levantou 3 copas do mundo em 12 anos. Pelé foi o gênio maior da bola. Eu me sinto feliz por ter sido contemporâneo desse monstro sagrado do futebol e, ainda menino, ter assistido o Rei jogar no Estádio Olímpico.

Tamanha foi sua fama que quando o Santos vinha jogar em alguma cidade – e naquela época eram comuns as excursões de clubes ao exterior – as pessoas iam ao estádio somente para ver Pelé, marcar a presença desse talento em suas retinas, torcer e vibrar por ele. Até eu mesmo fui ver Pelé no Estádio do Grêmio (o Imortal) e meu olhar esteve o tempo todo sobre ele; sua desenvoltura em campo era mais importante que a vitória da minha equipe. Ele era um personagem maior do que o próprio futebol.

Com a morte de Pelé se vai essa mística, que não existe em nenhum outro jogador da atualidade. Morre junto com o Rei o menino que havia em mim e que se encantou com o Deus do futebol.

Nesta foto abaixo é do jogo que eu vi Pelé jogar ao vivo, no Estádio Olímpico de Porto Alegre. Se a foto tivesse resolução adequada eu poderia ser visto na social do velho estádio tricolor, ao lado da cintura do craque Atílio Genaro Ancheta. Siga em paz, Pelé.

Grêmio x Santos, na última partida de Pelé no Estádio Olímpico, 27 janeiro 1974. Na foto, Pelé e Ancheta. Gremio 1 x 0 Santos, gol de Carlinhos.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Os ataques contra Pelé

Pelé, Rei do Futebol, magia nos pés, Imperador de ébano, orgulho da raça, maior esportista do século XX, homem negro, pobre, periférico, humilde, garoto de 3 Corações que levou o nome do Brasil para além de todas as fronteiras….

… mas eu entendo a dor de quem não suporta ter um herói negão.

Estamos próximos de perder Pelé mas é inacreditável a quantidade de comentários racista contra ele, inclusive análises morais fajutas baseadas neste tipo especial de racismo escamoteado e envergonhado. Existe uma horda de racistinhas identitárias e ferozes que contaminam a internet iludindo a todos e a si mesmas de que são progressistas e de esquerda, quando não passam de sexistas e reacionárias, fazendop o trabalho sujo da direita internacional de dividir a organização do trabalhadores e destruir os símbolos e heróis nacionais. Um exemplo diasso é o que circula entre muita gente – infelizmente também da esquerda – a imagem dos familiares do Pelé reunidos no hospital para oferecer o suporte afetivo para ele, que se aproxima de seu desencarne. A legenda diz que “os herdeiros de Pelé aguardam sua recuperação”, de forma irônica, dando a entender que eles apenas desejam sua morte, ansiosos pela partilha dos bens do Rei do Futebol.

Penso que deveria ser justo anotarmos os nomes de todos que divulgam essa crueldade para publicar algo semelhante quando for sua hora de partir. Acreditar que os filhos, netos e noras dele estão angustiados apenas por dinheiro, como urubus aguardando o último suspiro do seu almoço, diz mais de quem divulga essa crueldade do que da própria vida do Pelé. Não esqueçam as lições duras que surgiram dessa última eleição: a esquerda também tem seu gado e ninguém deixa de lado seus preconceitos – em especial seu racismo – apenas por declarar voto em Lula.

E salvem os heróis nacionais…

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Julgamentos

Peço àqueles que julgam a vida pessoal do Pelé, exaltando suas falhas e minimizando suas glórias, que não me julguem por esta mesma lógica quando eu estiver morrendo, pelo menos não em frente aos meus. Espero também que não sejam julgadas desta forma – e com a mão tão pesada – quando seu próprio tempo estiver para chegar. A crueldade sobre os corpos frágeis e indefesos daqueles que estão se despedindo da vida não leva ninguém ao céu; sequer lhes torna melhores, mais nobres ou superiores. Deixem os julgamentos para quem é isento de pecado.

Pelé é o maior gênio do futebol, o esporte que tanto amamos. Por certo que para alguns, que tem as emoções controladas e agem sempre de forma racional, é fácil fazer desaparecer da memória e dos sentimentos décadas de emoções compartilhadas com o maior ídolo do esporte, movidos por um suposto erro pessoal na vida do nosso craque. Eu, infelizmente, não consigo. Para aqueles que não se afetam com a iminente partida de Pelé eu pergunto: será que apenas quando a tragédia lhes atinge pessoalmente ela é digna de lágrimas?

Parece bem claro para mim que, fosse Pelé uma mulher e seria mais fácil perdoar seus deslizes. Todavia, ele é homem e ainda por cima é negro!!! Difícil para muitos sentir algo pelo Rei Negro do Futebol. Melhor e mais fácil seria adorar o Airton Senna, não? Esse pelo menos sempre foi da classe média e bem branquinho.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Reis do Povo

Pelé e Lula na Comemoração do cinquentenário do primeiro mundial (1958)

Já é possível sentir o bater de asas dos abutres esperando o Pelé morrer para despejar seu racismo em forma de críticas morais ao Rei do Futebol. Não é fácil para o Brasil Branco exaltar um Rei Negro. Nunca o aceitaram, e não será agora. Agora nas redes, e do alto de sua pureza moral, identitários estão postando críticas à vida privada de Pelé, numa tentativa de destruir a imagem do maior ídolo do esporte mais importante do planeta.

Sempre que eu escuto a narrativa da filha é nítido que aqueles que a contam não conhecem a história toda e estão fazendo críticas baseadas em meias verdades, mentiras e fofocas. Poucos se dão ao trabalho de escutar os dois lados do enredo. Mas antes desse episódio Pelé já era atacado por “não ajudar Garrincha” – sendo desmentido por Elza Soares – ou de “não ter ido ao seu enterro“, como se cuidar do craque das pernas tortas (que jamais foi seu amigo) fosse sua obrigação. Sempre existiu uma enorme patrulha sobre quaisquer atos de Pelé, como se o fato de ser negro e famoso lhe conferisse uma dívida com os brancos que permitiram a sua notoriedade.

Quando Pelé dedicou o milésimo gol às crianças, naquele jogo emblemático no Maracanã contra o Vasco, foi porque não passava de um ingênuo que estava fazendo demagogia. Quando levou o nome do Brasil para todo o mundo, sendo eleito o maior atleta do século XX e patrimônio da humanidade, o fez apenas por dinheiro. Se foi o maior jogador do mundo é apenas porque “naquele tempo era mais fácil”, mesmo que as agruras do futebol violento a que foi submetido nos anos 60-70 fossem inimagináveis quando comparamos com o que é praticado nos dias de hoje.

Em verdade os ataques a Pelé muito se assemelham às agressões sofridas por Lula desde que este se destacou como líder no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista. Quando Lula ressaltou a importância de dona Marisa na criação do PT em seu velório foi atacado por estar fazendo comício sobre um corpo já sem vida. Se Lula vai a um restaurante caro é um “comunista gourmet”, mas se faz um piquenique com dona Marisa e carrega um cooler de isopor na cabeça é porque não passa de um populista criando um personagem. Quando Lula visitou um apartamento, sem jamais ter a posse do mesmo, foi caçado impiedosamente por uma horda de promotores fanáticos e um juiz corrupto.

A verdade é que, inobstante o que façam, Pelé e Lula jamais serão aceitos pela burguesia deste país exatamente por serem quem são: representantes das camadas populares, do povo pobre, dos descamisados, dos negros, dos operários, dos mulatos, nordestinos e retirantes. Ídolos dos torcedores cuja alegria máxima é o gol e heróis para os pobres que sonham com uma vida digna para sua família. Não há perdão para os ídolos que, emergindo das camadas inferiores da sociedade, tornam-se ícones planetários por suas habilidades, seja no esporte ou na política.

Não terei pena daqueles que resolverem tripudiar sobre o corpo frágil do Rei do Futebol, o atleta máximo do século XX, o maior gênio que o esporte já criou neste planeta. Eu me impressiono muito com o esforço imenso que algumas pessoas fazem para odiar Pelé. Pois eu digo: odeiem o Chico Buarque também. Apesar de ser branco, se procurarem bem vão achar alguma razão para ele ser cancelado. Vamos, sei que imaginação não lhes falta.

Deixe um comentário

Arquivado em Causa Operária, Pensamentos

Pelé…. e Maradona

Até quando o Maradona morre o foco volta a ser o Pelé e de novo aparece a nossa incapacidade de aceitar um ídolo e herói negro para um país racista. É difícil aceitar o Pelé, não?

Acho curioso que o Pelé não pode ser referência por causa de seus erros humanos, mas a madame branca que apoiou a pedofilia pode…

Nada a ver com drogas ou “vidaloka” de um ou pela postura política à direita do outro. Pelé é criticado porque ousou ser um Rei preto num pais racista. Maradona pôde fazer filhos com todo mundo e dar porrada na mulher, mas não é negro. Aqui falam exaustivamente do “reconhecimento da filha” apenas para facilitar o ódio que sempre tiveram do Pelé pela cor da sua pele. Preto desaforado, metido…

Pelé deu declarações à esquerda no passado, mas assina camisas para presidentes de direita hoje, e por isso não é perdoado. Toda a cocaína e o álcool de Maradona, assim como as violências domésticas, recebem nosso perdão porque, afinal, ele “parece” ser um rei, e não alguém que algumas poucas décadas atrás era açoitado por um deslize qualquer.

Pelé nunca será perdoado pelo crime de ser negro.

Maradona não foi nem uma quarta parte do que Pelé foi em campo, não teve metade da sua genialidade com a bola nos pés, mas teve muito mais consciência social e muito mais engajamento nas lutas pelo povo da América Latina, e por isso merece também estar no Panteão dos gênios da raça.

Salve Maradona, salve Pelé, salve Fidel e Simón. Viva Che, viva Rosa e Ataualpa… e longa vida à unidade Latinoamericana.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Racismo invisível

O sucesso do negro no Brasil é crime hediondo, insuportável. Digo também que o sucesso do nordestino pobre com dedo faltando também machuca aqueles que não aceitam a ascensão das camadas mais baixas da sociedade. Por isso Lula é atacado e Fernando Henrique, o “príncipe”, poupado. Por isso Pelé foi duramente ofendido (chamado de “ser humano desprezível”) no seu aniversário por seus problemas familiares (o reconhecimento de uma filha fora de seus casamentos), mas Simone, socióloga francesa, chique e branca, jamais foi atacada por sua defesa da pedofilia. Ou quando citam Marie Curie e não falam do abandono de seus filhos. Não, elas eram brancas demais para merecer o mesmo tipo de ataque destrutivo que o Rei do Futebol recebe há tantos anos. Afinal, para elas vale a regra: “os gênios são esquisitos mesmo”.

Não esqueçam que, antes do caso da filha que faleceu de câncer, Pelé era acusado de não ter ajudado Garrincha diante de suas mazelas com o alcoolismo e a falta de dinheiro – como se Pelé tivesse obrigações com o craque das pernas tortas. Isto é: Pelé jamais teria perdão, e o crime poderia ser escolhido dependendo do gosto do acusador.

Sim, diante da chuva de ataques ao Pelé por suas fragilidades e seus pecados, e diante da constatação de que isso nunca foi feito com os defeitos de Ayrton Senna (entre outros ídolos esportivos) fica inegável para mim que há também – mesmo que de forma inconsciente – um ataque a um “negro metido a besta”, que nunca aceitou seu lugar.

O racismo se assemelha à violência obstétrica nesse ponto: tanto mais forte quanto mais inconsciente e mais disseminado silenciosamente pelos “costumes”. E veja: pode-se ser racista travestido das melhores intenções, assim como as piores violências de gênero contra as gestantes podem ser cometidas ilustradas com a famosa frase “aceite, é o melhor para você”.

Para ver a fala de Emicida sobre o tema no “Papo de Segunda” do GNT, clique aqui.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos