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Esperança

Esta semana surgiu a notícia de que sujeitos ligados ao bolsonarismo estariam se infiltrando em ambientes progressistas, seja no Facebook ou nas outras mídias sociais, para pintar um cenário de derrota iminente da candidatura Lula. O objetivo é óbvio: desmobilizar, esmorecer, refrear as manifestações a favor da chapa liderada por Lula. Porém, esta é uma estratégia eleitoral. Para a libertação do nazifascismo bolsonarista a estratégia em longo prazo deve ser a orientação sedimentada pela razão. Não vejo futuro na troca de uma mistificação por outra, mesmo que a segunda seja infinitamente melhor que a primeira. A tarefa de libertar o sujeito só virá através do único atributo que nos diferencia dos outros animais: a razão, esta fina camada de verniz, a tênue fachada que nos livra dos medos e nos permite entender os fatos para prever o futuro

Entretanto, não se combate uma ideia que surge irracionalmente usando argumentos racionais. Portanto, para combater o fascismo e a pulsão de morte que Bolsonaro representa, precisamos usar e canalizar emoções.

Para derrotar Bolsonaro e seu plano totalitário nestas eleições é necessário usar as armas da sedução, do afeto e das emoções e mostrar o rastro de destruição crua causada por essa ideologia macabra. Esta é a estratégia para as eleições, em curto prazo, mas não o caminho em longo prazo que teremos de trilhar. O bolsonarismo não vai desaparecer apenas com a eliminação do seu mais importante expoente. Será necessário um processo muito mais complexo e difícil para desentranhá-lo da mentalidade do brasileiro. Para exterminar o fascismo é preciso educação é paciência.

Temos que manter o foco e a esperança. Lula nunca esteve atrás em nenhuma pesquisa. Ganhou o primeiro turno contra a máquina dinheiro e corrupção do governo de contra o derramamento de fake news. Não há porque esmorecer agora. Na última manifestação em Porto Alegre havia 70 mil pessoas na rua. O mesmo aconteceu em Recife, Curitiba, em Padre Miguel – multidões gigantescas nas ruas clamando por Lula e o que ele representa para as ideias de solidariedade e progresso com distribuição de renda. Apesar de estarmos presenciando a eleição mais desonesta da história da República, Lula continua na frente, desafiando as gigantescas quantias de dinheiro do governo derramadas com o objetivo de comprar votos, além da enxurrada de fake news que foram usadas neste ano. Desta vez o “banheiro unissex” toma o lugar do “kit gay” e da “mamadeira de piroca”.

Para aqueles que estão, como eu, à esquerda de Lula, o momento é de apostar no pragmatismo. Lula está muito mais próximos dos ideais revolucionários do que seu oponente – que representa o oposto desta perspectiva. Portanto, está em nós continuar ao lado de Lula nas ruas e em todos os ambientes que formos chamados à luta. Não acredito que as provas da obsessão sexual do atual presidente por adolescentes, o desprezo pela população das favelas e as agressões ao nordeste não terão uma resposta das urnas. Precisamos livrar o Brasil da tragédia que representaria Bolsonaro por mais 4 anos.

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Volta pra casa

Adoro os videozinhos de soldados gringos que voltam do front de batalha em algum lugar invadido pelo imperialismo e fazem uma surpresa para seus familiares. Lágrimas, emoção, alívio e alegria…

Voltaram das guerras imperialistas onde mataram homens, crianças, pais de família, mulheres, bebês e velhos, em sua grande parte de pele escura e seguidores do Islã. Destruíram países inteiros para roubar petróleo e outros recursos naturais.

Criaram redes de prostituição de crianças, como no Afeganistão e no Vietnã. Estupraram e violentaram a memória e o corpo dos habitantes nas dezenas de nações que invadiram desde a segunda guerra mundial.

Mas, depois de tanto matar e destruir, voltam cansados para seus lares cristãos para abraçar seus filhos loiros e de olhos claros, e receber o beijos de seus pais fiéis a Jesus Cristo.

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Idealizações

Toda a paixão por uma causa leva fatalmente à idealização. Mulheres, negros, índios, partos, gays, trans, socialismo, religião e todas as outras causas nobres sucumbem – mais cedo ou mais tarde – a este tipo de arapuca.

Não há como evitar. Se o motor é a paixão, e sendo ela irracional, como evitar que estas ideias fujam das rédeas frágeis da razão? Com o tempo o ativista percebe que seus pés se afastaram tanto do chão firme que não existe mais contato possível com a realidade. Tudo em volta é etéreo e moldável, como o desejo, e a realidade é vista através de um funil que tanto focaliza um fato quanto apaga o mundo ao redor

A maturidade de uma luta parte do arrefecimento desse afã juvenil, que tanto impulsiona quanto oblitera a visão. Amadurecer é aceitar o recuo das paixões para que se estabeleça um contato mais racional com nossas causas e propostas.

Como no amor.

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Cabeça de baixo

“Homem só pensa com a cabeça de baixo”

A frase é usada, em geral, para entender (e não justificar) atitudes irracionais que homens cometem em função da pulsão sexual. Tipo, se envolver com uma mulher “perigosa” apenas por atração irresistível. O que eu acho injusto é dizer que os HOMENS agem assim, quando na verdade mulheres são conduzidas por esta mesma força e com igual volúpia. Eu não acho o termo pejorativo e nem o vejo sendo usado desta forma. Ele é usado como uma confissão do gigantismo de um e a pequenez de outro. Creio ser este seu sentido verdadeiro: reconhecer a potência do desejo diante da insignificância da razão como forças motrizes da humanidade

Eu sempre escutei a frase como um lamento e o reconhecimento de uma espécie de maldição do espírito humano, e nunca como forma de justificar atrocidades. Assim, acho essa frase errada, e acima de tudo injusta. Na verdade ambos, homens e mulheres, quase nunca pensam com a cabeça de cima, como nosso racionalismo arrogante propõe. Somos feito por um núcleo pulsante de temores atávicos, rodeados de crenças irracionais e cobertos por uma fina camada de frágil racionalidade, que mais nos ilude do que orienta.

Somos coordenados pelas “cabeças de baixo”, do submundo de nossos sentimentos de onde brotam nossas pulsões mais profundas, sombrias e egoísticas. Não creio que um gênero esteja menos condenado do que o outro a este aprisionamento.

Por outro lado, de uma certa forma isso é bom. Não fosse por essa brutal irracionalidade nossos encontros seriam muito mais insípidos e nossa população muito menor. O poder do desejo é o que ainda nos mantém por aqui…

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Razão e emoção

Nenhuma filiação a um grupo de ideias respeita ordenação racional. Você apenas assume suas crenças mais primitivas e as veste com uma roupagem racional. Somos um núcleo de medos cobertos por crenças e envoltos em uma tênue película de razão, uma fachada intelectual, que nos confere a suprema ilusão de sermos comandantes de nossa consciência.

Almirante Henry Mulder, “Vignettes de la Voyage au Fin du Monde”, Ed. Printemps, pág 135

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Razão

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Nosso erro frequente ao debater temas difíceis como aborto ou humanização do nascimento é tentar usar a racionalidade contra argumentos surgidos da irracionalidade. É o caso de alguém tentar demover o outro de uma crença que se estrutura sobre o desejo, e não sobre a razão. É nesse ponto que os debates sobre o aborto emperram e não prosperam. A questão do aborto, para além dos conceitos, é uma questão POLÍTICA. De pouco ajudam as pesquisas e os estudos diante da negativa em reconhecer sua validade. O mesmo ocorre com as questões relativas à humanização do nascimento, em especial o tema do “local de parto”; aqui também o que vai valer é a maturidade da cultura em aceitar elementos da ética e dos direitos reprodutivos, acima de questões médicas

Acreditar que a razão e a ciência são forças capazes de iluminar mentes obscurecidas pela ignorância é colocá-las em uma posição para a qual não foram feitas. A verdade da ciência só pode frutificar quando existe um terreno cultural que a faça crescer. Sem terreno adequado a semente da verdade científica não germina; enfraquece, definha e morre. A ciência é incapaz, por si só, de modificar a nossa compreensão do mundo, mas é uma excelente ferramenta para consolidar as decisões e consolidar os caminhos definidos.

A descoberta científica de que o cigarro produz câncer não eliminou prontamente seu uso. Não foi suficiente expor os danos causados pelo seu uso; era preciso que estas verdades entrassem no coração das pessoas. Entretanto, tais estudos serviram de embasamento para as decisões políticas tomadas depois. A função da ciência é educativa; ela é uma juíza medíocre, mas uma ótima professora.

Não há debate com pessoas que desconhecem a perspectiva do outro. Não se debate, se educa. E do ponto de vista da política o que podemos fazer é mostrar e expor a nossa maneira de ver a realidade e esperar que mais pessoas sejam tocadas por nossa visão. Aprendi a duras penas que não adianta aumentar o volume para que um surdo escute.

O respeito pelas decisões soberanas das mulheres sobre seus corpos não virá a partir de descobertas da ciência médica, mas da mobilização política das mulheres em torno destes temas.

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Mudança de Paradigma

 “Dificil mundo este em que vivemos, onde é mais fácil quebrar um átomo que um preconceito”.
– Albert Einstein –

As lições mais importantes e impactantes para os profissionais da área da saúde resistentes às mudanças, também conhecidos como “os tecnocratas renitentes”, não são aquelas recheadas de evidências, e isso eu descobri da pior maneira possível, ao tentar convencer colegas que não se dispunham a me ouvir. Essas aulas brilhantes sobre Cochrane, OMS, Ministério da Saúde, protocolos, etc. produzem efeito apenas para os que percebem que evidências são relevantes, e para aqueles que, depois de “sensibilizados”, entendem que seus paradigmas são apenas modelos que competem com outras formas alternativas. Os tais “paradigmas hegemônicos” estão nessa posição tanto pela capacidade de responder aos desafios que lhes são oferecidos quanto pela vinculação com o modelo econômico vigente (no caso o capitalismo). A tecnocracia cumpria todas essas reivindicações e, por essa razão, oferecia aos médicos as melhores respostas para os seus questionamentos. A humanização do nascimento veio problematizar a visão positivista da obstetrícia contemporânea ao incluir a questão do sujeito que gesta, junto com as específicas necessidades afetivas e psicológicas que traz para a cena de nascimento. Para estas questões a tecnocracia se oferece falha e deficiente e, assim, instala-se a crise.

Desta forma, oferecer aos profissionais da saúde evidências científicas mostra-se inútil sem que antes seja oferecida a eles a necessidade de calcar suas ações em provas contundentes de aplicação benéfica para o binômio mãebebê. Entretanto, a forma de sensibilizar profissionais para a “fraternidade instrumentalizada” (no dizer de Max) não é pela via cognitiva, e sim pelos canais emocionais e afetivos. As ações de caráter analítico e racional se assentam sobre uma plataforma sólida de intuição e sentimento, para só depois poderem ser traduzidas. Podem observar: a mudança paradigmática dos profissionais que abraçam a causa da Humanização do Nascimento está forte e explicitamente marcada por fenômenos de ordem emocional. Assim sendo, a ferramenta mais fundamental para oferecer uma alternativa ao modelo hegemônico não é (em primeira instância) oferecer provas e evidências de boas práticas. Antes é preciso que os profissionais que tratam do rito de passagem que chamamos “nascimento”, sintam a necessidade de mudar, de pensar fora da estreita caixa cartesiana, para só então aventurarem-se no mundo complexo, desconhecido e, por vezes, inóspito, do humanismo aplicado ao nascimento.

A abordagem, portanto, deve ser sistêmica e abrangente. Mais do que a razão, é preciso tocar corações E mentes ao mesmo tempo. Faz-se necessário abandonar a postura limitante da academia que insiste num biologicismo anacrônico como forma única de entender o fenômeno humano.

Minha entrada na humanização do nascimento se deu muito antes de compreender o significado e a importância das evidências científicas na condução da assistência ao parto. Tal mudança paradigmática se deu pela participação presencial no nascimento dos meus filhos. Os cheiros, as imagens, os silêncios entremeados com as guturalidades erotizadas de um nascimento me abriram um portal sensorial violento, que me permitiram adentrar no espaço afetivo-emocional do evento. Este lugar do “parto para além dos sentidos” somente muito tempo depois foi preenchido por uma explicação racional e científica. Eu tenho certeza que a arrogância cientificista nega tal caminho, mas afirmo que até mesmo as análises mais racionais e matemáticas se ancoram em fatos e lembranças caracteristicamente emocionais e primitivas. Einstein mesmo dizia que a imaginação era muito mais importante para o seu trabalho do que o conhecimento, que apenas seguia àquela. Disse o mestre: “A imaginação é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado; a imaginação envolve o mundo“. Cientistas criativos são essencialmente poetas das leis naturais e seus experimentos são os versos que escrevem com as letras da natureza. Imaginar que a razão seja a principal motivadora de nossas ações é negar a avassaladora força dos nossos sentimentos e desejos. Como diria Max, “a racionalidade nada mais é do que um verniz tênue e translúcido que se aplica sobre uma capa grossa de mitos irracionais, os quais envolvem um núcleo pulsante de medos ancestrais“. Para mudar atitudes anacrônicas, muito mais do que lustrar o verniz aparente de nossa tímida racionalidade, é fundamental entender as origens emocionais e profundas de nossas condutas recalcitrantes.

Longe de mim, e dos objetivos desse texto, imaginar que a paternidade tenha essa força transformadora para todos que dela participam. Esse fenômeno é evidentemente subjetivo em essência. Em nenhum momento eu afirmo que essa experiência poderia ser reproduzida. Mas vejam bem: alguns hospitais modificaram posturas dos seus serviços após debate interno sobre evidências, o que não significa que tais condutas estejam nos corações e mentes das pessoas que lá trabalham. Tais modificações podem ocorrer por um fenômeno vertical, por determinação superior, e não por um real convencimento do cuidador. Estas alterações eu já vi em dezenas de lugares, inclusive em um que descrevo no meu livro segundo livro “Entre as Orelhas – Histórias de Parto”; o hospital militar onde trabalhei por alguns anos. Lá a taxa de cesarianas despencou de 45 para 22% em dois meses depois que criamos um protocolo de assistência humanizada no hospital, muito simples e conciso. Entretanto, era uma determinação do serviço que funcionaria enquanto certas pessoas trabalhassem lá (eu, precisamente). Quando saí nada restou de humanização, porque meus colegas nunca foram verdadeiramente tocados por esse paradigma. Outro lugar em que eu trabalhei por pouco tempo foi em um hospital de periferia de uma capital do nordeste brasileiro. Durante os dias que lá estive alguns médicos experimentaram posição de cócoras para parir, deixaram de fazer tricotomias e enemas, pararam de estimular puxos prolongados e esperaram para cortar o cordão. Que aconteceu depois que dei as costas? Fácil prever…

Alguns serviços podem, sim, mudar com a abordagem racional, assim como podemos convencer pessoas de que suas atitudes podem produzir repercussões negativas em suas vidas, mas a gigantesca maioria não irá proceder dessa maneira. O modelo de “educação continuada” do MS, em que vários profissionais transitavam pelo Brasil divulgando o ideário da medicina baseada em evidências obteve resultados nulos na diminuição de cesarianas, por exemplo, mas acredito que tais resultados foram insatisfatórios em qualquer parâmetro analisado. A resposta, na minha modestíssima opinião, tem a ver com a abordagem racionalista adotada, que não é capaz de mobilizar a plêiade de emoções, sentimentos e vinculações inconscientes que são as verdadeiras motivadoras das condutas médicas. Nós não deixamos de realizar episiotomias porque existem evidências em contrário! Fosse isso verdade ela teria acabado há décadas, bastaria que aprendêssemos na escola a inutilidade dessa cirurgia quando aplicada de rotina, e isso o sabemos desde 1983! O problema está em sabermos “conscientemente” e não “afetivamente”. Apenas deixamos de realizar tais intervenções porque (entre outras razões) a visão de uma vulva dilacerada nos mobiliza negativamente. Ou porque queremos honrar a experiência de um profissional que nos auxiliou no passado, como referência profissional. Ou qualquer outro significante do passado que nos tenha impregnado em nível emocional. Pode ser, em verdade, qualquer migalha ou fragmento de lembrança que se vincula a esse evento, catalisando afetos recônditos. Assim sendo, o que em essência nos modifica não está acessível à cognição. Trabalhar com os médicos apenas no verniz transparente (porém reluzente e superficial) do consciente nos faz perder a infinita magnitude das possibilidades. Pode nos oferecer a ilusão fátua de mudança, mas que se desfaz diante da primeira contrariedade, tal como o calor de uma tarde se desfaz com a deposição do sol no horizonte. As mudanças ocorrem da terra para o céu; do coração em direção às mentes. As modificações cognitivas não têm sustentação, pois não atingem o âmago diretivo do comportamento, que é afetivo e emocional.

Meu temor é que uma abordagem racionalista (e arrogante) das posturas humanistas leve a um efeito contrário: um fechamento das mentes. E isso pode acontecer porque contrapomos um sistema de ideias oferecendo em troca outro, e isso pode ocasionar um choque que é desnecessário. Uma caravana de missionários da “verdade obstétrica baseada em evidências” é tudo que não precisamos (e não digo que é isso que está se formando, mas é como podem nos ver). A abordagem deve ser pela sedução e pelo redescobrimento da beleza da parturição, e a via para isso é emocional. Necessitamos ajudar nossos colegas para que despertem para o lúdico do parto, a beleza escondida nos gemidos e lágrimas e para que façam despertar o feminino que trazem dentro de si. Apenas depois que tal ação for realizada é que as evidências farão sentido e serão incorporadas às suas atitudes. Antes disso teremos apenas ações com corpo, todavia desprovidas de alma.

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