Tão preocupados estamos em vencer as barreiras constritivas da infância que não percebemos o amadurecimento dos nossos próprios pais. Todavia, uma busca mais consistente pela memória e percebemos as nuances do crescimento que eles enfrentam. Meu pai aos 50 anos era muito diferente do que se tornou aos 90. Ele dizia, próximo do final da vida, uma de suas frases mais marcantes: “Não se passa um dia sequer que eu não escute o ruído estrondoso da queda de uma das minhas antigas convicções”. Ele não diria isso aos 50, mas aos 90 foi capaz de se postar de forma humilde diante do conhecimento e da verdade.
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Maturidade
Sim, maturidade é apagar um parágrafo inteiro e dar como resposta apenas “ok”.
Faço isso literalmente todo santo dia. Escrevo uma enorme resposta e depois penso que não vale a pena. A maioria das vezes é porque acho que a pessoa na outra ponta tem suas razões e minha resposta pode estar sendo exagerada. Algumas vezes penso que o outro não vai conseguir entender meu ponto de vista. Outras vezes penso que estou fazendo tempestade em copo d’água. “Não é para tanto”, penso eu.
Outras vezes eu simplesmente suspeito que estou sendo vítima de um “bait”, uma armadilha, por alguém que quer trazer à baila uma discussão que interessa apenas a si próprio. Em outras situações eu vejo melhor o que a pessoa falou e penso que ela tem razão, e eu estava “torcendo a interpretação” por puro preconceito. O errado era eu.
Em todas as vezes o “ok” ficou bem melhor do que a minha resposta original.
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Doutores precoces
Sobre médicos se formando com 20 anos de idade…
Imaginem pedir conselhos e orientações de vida – sobre sexualidade, relacionamentos, crises vitais, separações – para um garoto de 20 anos de idade, sem filhos, recém começando a namorar e que vive na casa dos pais. Acham que funcionaria? Pois eu digo que essa fantasia de adolescentes “geniais” que com pouca idade acumulam conhecimento pode funcionar com enxadristas e instrumentistas, jamais com clínicos.
A ideia de que os médicos são técnicos que acumulam informações sobre a saúde e sobre tratamentos medicamentosos é um erro grosseiro; para isso tem o Google. Um bom médico se constrói a partir da empatia e da escuta dinâmicas, isentas de preconceito, e ambas são capacidades que se desenvolvem durante décadas de prática. É impossível criar maturidade sem que lentamente se produzam mudanças na alma; a mente humana é incapaz de amadurecer a despeito do tempo.
Fico escandalizado com juízes que julgam seus semelhantes antes dos 30 anos, assim como acho absurdo doutores – aqueles com PhD – dando aulas em universidades com tão pouca idade. Como julgar sem ter conhecido minimamente o espírito da transgressão? Como ensinar sem ter aprendido o que apenas a vivência ensina? A essas pessoas pode sobrar informação técnica – muitos são devoradores de livros – mas lhes falta experiência de vida, cimento fundamental para a construção da sabedoria. Ouso dizer que a decisão sabia de Salomão de dividir uma criança ao meio – para assim descobrir sua verdadeira mãe – não foi tomada por ser ele um magistrado genial, mas por ser velho e conhecer a alma humana, em especial a alma de uma mãe.
Certa vez perguntaram a Jacques Lacan: “Qual a maior virtude de um psicanalista?” e sua resposta foi simples e curta: “a idade”. Por que deveria ser diferente com um clínico que se posta diante de um sujeito sofrendo suas dores físicas e morais?
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Mentiras
“A maturidade apenas suaviza os jogos que fazemos e o teatro de nossas ações. Não há vida humana sem que nossas atitudes sejam apenas um pálido e distorcido espelho de nossos sentimentos. E, de uma certa forma, isso é o que nos torna humanos; sem essa distância nossas ações seriam enfadonhas e previsíveis. Mentir e mentir-se é tão essencial à alma quanto respirar.”
Jeanne Woolworth-Beeck, “Any Wheel”, ed. Pegasus, pág 135
Jeanne Woolworth-Beek é uma jornalista inglesa nascida em Brighton em 1949, filha de um pastor anglicano e uma professora primária. Sua infância foi toda dedicada à escola dominical, passeios à praia e o relações com os personagens de East Sussex, como o barqueiro Mortimer, a cozinheira Molly, o bêbado e mulherengo Oliver, e muitos outros que constam de seus livros, que misturam ficção com suas vivências na costa sul da Inglaterra, que ainda se curava das feridas da guerra. Mora em Londres com seu marido James.
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