Arquivo da tag: espiritismo

Determinismo

Creio ser importante ressaltar que o debate é mais profundo do que parece. A questão que se coloca nesse quadrinho é estabelecer a contraposição de duas propostas espíritas. De um lado, a ideia do ACASO: uma mulher atacada por acaso por um estuprador, sem nada ter feito para isso; uma ocorrência de puro azar. Esta visão se contrapõe à proposta DETERMINISTA, que afirma que todos os fatos de hoje – das punições aos benefícios – são decorrência de algo do passado, de uma vida anterior onde houve falhas a serem purgadas na vida atual ou créditos a serem resgatados. Aliás, é daí que vem uma conhecida expressão brasileira “Eu devo ter atirado muita pedra na cruz para ter que passar por isso”.

Para quem aceita a hipótese determinista, todo o sofrimento presente estaria relacionado a um fato do passado, seja uma dívida ou um talento. O problema para aqueles que creem no determinismo – não cai uma folha da árvore sem que Deus tenha conhecimento – é que essa perspectiva os levaria a aceitar uma vida absolutamente controlada pelo destino, pelos “espíritos superiores”, pelas rígidas leis de causa e efeito (sucedânea da Lei de Talião) ou por Deus, sem que haja qualquer protagonismo de sua parte. Se tudo já estava previamente escrito, de que adiantaria mudar suas condutas? Já para aqueles que acreditam no acaso – ou na ocorrência de fatos dramáticos sem uma causalidade moral anterior – é necessário aceitar que o aprendizado não precisa necessariamente ocorrer pelas punições. Em verdade, a concepção determinista do mundo espiritual é um espelho de nossas próprias convicções punitivistas, que acreditam no poder transformador das penas, das punições, das cadeias e dos castigos. Essa é a visão mais direitista, que acredita que as prisões e penas poderiam produzir algum benefício nas sociedades, algo que se contrapõe à materialidade dos fatos.

Alguns poderiam dizer que não é preciso vasculhar outras existências para explicar as dores desta; muitas vezes colhemos aqui mesmo o que foi plantado nesta vida.  Entretanto, essa proposta apenas traz o limite do debate mais para perto (nesta vida, não necessariamente em outras), mas mantém o dilema principal: é preciso ter feito algo de mal para ser vítima de uma tragédia? Não podemos ser vítimas do acaso? Se você é determinista, dirá que todo efeito necessariamente tem uma causa; as dores serão sempre a decorrência de malfeitos e culpas. Já se você acreditar na possibilidade do aleatório, aceitará que muitas vezes o sofrimento não foi produzido por nenhum fato anterior, mas que ainda assim pode ser fonte de aprendizado.

Além disso, creio que o quadrinho carrega uma falácia lógica, chamada de “non sequitur”, na qual a conclusão, que encerra as ponderações, não decorre das premissas apresentadas. Quando um espírita “determinista” fala de “pecados do passado”, ele não está justificando o crime, mas tentando entendê-lo numa perspectiva maior, mais abrangente, que englobe as vidas passadas e a lei de causa e efeito – também chamada de “lei do carma”. Portanto, é possível a ele dizer que o abuso é “horrível, injustificável, monstruoso e que merece punição, como forma de proteger a sociedade”, enquanto, ao mesmo tempo, tenta entender porque aquela específica mulher passou por tamanha provação e dor. Como eu disse anteriormente, não concordo com a visão determinista admitida pela maioria dos espíritas que procuram causalidades morais em cada tragédia, mas, por uma questão de justiça, creio que esta visão não transfere a culpa para a vítima, apenas tenta entender, dentro desta específica lógica, o que estes sofrimentos poderiam ter como causa.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Umbanda

A Umbanda é uma religião afro-brasileira criada no início do século XX, no Rio de Janeiro, a partir da associação de crenças e ritos do candomblé, o catolicismo e o espiritismo. A palavra “umbanda” tem origem no idioma Bantu e significa “lugar de culto” ou “sacerdote”. Umbanda é, portanto, uma religião cristã, criada do sincretismo entre tradições africanas (como o Candomblé) e o cristianismo, numa das mais bonitas mesclas entre as iconografias cristã e africana, fazendo uso também do mediunismo como expressão, elemento característico da herança africana.

Eu sou espírita laico, portanto não tenho e não sigo nenhuma religião. Entretanto, quando analisamos as manifestações culturais de um país gigante como o Brasil é forçoso reconhecer a Umbanda é uma das mais bonitas páginas da cultura religiosa brasileira, com seus ritos, suas vestimentas, seus orixás, seu sincretismo, sua música e a mistura criativa entre África e Ocidente. Além disso, a Umbanda é a religião mais respeitosa com o universo LGBT, e uma das que mais concentra – junto com o Candomblé – pretos e pobres do Brasil, a classe de trabalhadores explorados que levarão adiante a nossa revolução proletária. A Umbanda tem um valor cultural imenso para o Brasil e, assim como as outras religiões surgidas dos mitos africanos, é um maravilhoso patrimônio cultural desse planeta.

Por certo que existem pessoas que usam das religiões para enganar e ludibriar pessoas em necessidade, mas isso ocorre em todas as religiões. É comum ver “médiuns” querendo ganhar dinheiro explorando a crendice e o misticismo de gente crédula ou desesperada. Ao mesmo tempo está cheio de “sensitivos” que recebe mensagem falsa dos mortos, desonestos que usam a Cabala, picaretas do xintoísmo, dos ciganos, do espiritismo, dos exorcistas católicos, etc. Ou seja, esse não é um problema da Umbanda, mas dos humanos. Porém, o fato de mesclar tradições de África com santos católicos não é uma falha ou fraqueza de suas tradições; em verdade é a magia do sincretismo. Não é à bossa nova o sincretismo do jazz com o samba? Não é o blues a mistura da tristeza e da musicalidade negra com os ritmos ocidentais? Não seria o Rock o filho parido de tantas mães? Não seria a própria humanização do nascimento uma espécie de sincretismo entre o “free birth” e as práticas tecnocráticas de assistência ao parto, alimentando-se de ambas as experiências para produzir uma síntese que tende a melhorar a experiência e a segurança do parto? Desta forma, para “não morrer” tudo precisa se transformar e se adaptar. Seria justo dizer para os passarinhos que eles são “pobres dinossauros fracassados, que precisaram diminuir para não acabar”? Ou que o seu sucesso surgiu de sua adaptabilidade a um mundo em transformação?

A música “Banda Um” do genial do Gilberto Gil é uma ode ao sincretismo, uma elegia ao pote de raças e culturas que se produziu no Brasil como uma de suas maiores riquezas. A Umbanda é a melhor síntese de brasilidade!! Viva a Umbanda, a religião mais brasileira e mais revolucionária das Américas!!!

“Banda um que toca um balanço
parecendo polka
Banda um que toca um balanço
parecendo rumba
Banda um que é África,
que é báltica, que é céltica
UmBanda América do Sul
Banda um que evoca
um bailado de todo planeta

Banda pra tocar por aí
No Zanzibar
Pro negro zanzibárbaro dançar
Pra agitar o Baixo Leblon
O Cariri
Pra loura blumenáutica dançar
Banda um que soa um barato
pra qualquer pessoa
UmBanda pessoa afins
Banda um que voa,
uma asa delta sobre o mundo
UmBanda sobre patins
Banda um surfística
nas ondas da manhã nascente
UmBanda, banda feliz
Banda um que ecoa
uma cachoeira desabando
UmBandaum, bandas mis”

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Espiritismo e religião

O espiritismo surgiu da investigação sobre fenômenos extraordinários que ocorriam em Paris em meados do século XIX. Hippolyte Léon Denizard Rivail, pedagogo francês, nascido em Lyon, diante do desafio de encontrar uma resposta racional e lógica para estes fatos, desenvolveu uma metodologia para a busca do entendimento do que ocorria. “Se as mesas carecem de músculos, nervos e discernimento, alguma força inteligente as move”, teria dito o professor Rivail. Caberia à curiosidade, acrescentada de método científico, a tarefa de esclarecer a origem das “mesas girantes”.

Entretanto, a busca de uma explicação para estes fatos de forma alguma demandaria a criação de uma religião. Seria como imaginar que Isaac Newton, propondo que os objetos são atraídos pela massa dos planetas e das estrelas pela teoria da gravitação, tivesse como objetivo o amor ao próximo, a fraternidade, a existência de Deus ou a evolução espiritual. Não, por certo que Newton era movido tao somente pela busca da verdade. A existência de espíritos, ou sua manifestação neste plano, não precisa ser investigada por meio das religiões que, por sua vez, acabam por criar códigos de comportamento e proibições de toda ordem, em especial sobre as múltiplas manifestações da sexualidade.

A ideia de uma “religião dos espíritos” nunca foi o objetivo inicial do espiritismo, que se propunha a investigar sua existência, criando a “ciência dos espíritos”. A mescla dessa proposta primordial com o cristianismo está na origem da cisão atual entre o espiritismo cristão e o espiritismo laico, mas também na imensa disseminação das ideias espíritas, em especial no Brasil, através do sincretismo tão característico do nosso caldeirão cultural.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Evolução espiritual

“O objetivo do espiritismo é a reforma intima e a evolução dos espíritos?

Não é como vejo. O objetivo do espiritismo é exatamente comprovar a sobrevivência do princípio espiritual, a reencarnação e a lei de causa e efeito. A transformação moral do sujeito – se é que seja possível – é apenas uma consequência do tempo alargado, das múltiplas vivências, da multiplicidade das experiências terrenas e da convivência com o outro. O espiritismo não é (ou não deveria ser) uma doutrina moralista, que estimula as pessoas a fazer o “bem” e o “amor ao próximo”. Nada disso; o espiritismo é uma perspectiva de mundo e de universo que engloba as realidades do espírito; nada mais do que isso. É a compreensão do mundo a partir da imortalidade da alma, mas não tem como objetivo mudar o sujeito, transformar a sociedade, da mesma forma que Newton não criou a lei de gravitação para amarmos ao criador e sermos a ele obedientes. O espiritismo fala de leis naturais, não “leis de Deus”.

Essa transformação só pode ocorrer pela materialidade da vida, pelos choques, pelo contraditório e pela dor. O espiritismo, enquanto se aproxima da carolice religiosa cristã, se afasta de sua essência científica, filosófica e renovadora. Esse espiritismo católico que temos nas Casas Espíritas é apenas uma seita espiritualista que contém os mesmos vícios moralizantes e alienantes de todas as religiões tradicionais. Não é à toa que os espíritas em grande número aderiram ao conservadorismo e ao radicalismo fascista embrionário. Figuras como Divaldo aderiram aos crimes da LavaJato assim como Chico apoiou a ditadura militar, porque seu espiritismo é conservador. O espiritismo, se realmente tiver algo a dizer, será muito diferente do discurso religioso que temos no Brasil contemporâneo.

“Seriam as manifestações espirituais – leia-se mediunidade – casos de esquizofrenia, dissimulação ou falsidade ideológoca?”

Não creio ser essa uma perspectiva justa. Acredito na possibilidade de auto engano, sugestão, wishful thinking ou desejo mascarado de informação. “Safadeza” pode existir, mas jamais explicaria o fenômeno. Existe em pessoas como enganadores profissionais, prestidigitadores, mágicos, etc., mas não em número considerável para ser a razão principal. Psicose e esquizofrenia seriam explicação para um número limitado de casos, mesmo sendo importante levar essa possibilidade sempre em consideração.

A mediunidade pode ser um fenômeno muito interessante a ser estudado. Se aceitamos a possibilidade de manutenção de um princípio espiritual, poderia haver influência entre os planos? Seria possível estabelecer uma linha que parte da mera influência sutil e chega às manifestações mais explícitas? Negar estes fenômenos e tratá-los como falhas morais – tipo safadeza, bandidagem, engodo, dissimulação – não me parece a forma mais adequada de encarar relatos de fatos tão antigos quanto a própria história. Eu prefiro ter a mente aberta para a possibilidade de tais fatos serem verdadeiros e que descortinam uma realidade ainda desconhecida.

Pelo espírito Odracir

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Espiritismo é Religião?

O espiritismo enquanto sistema de crenças institucionalizado foi criado por um homem, Allan Kardec (ou o pedagogo Hippolyte Leon), baseado em manifestações de espíritos acerca de fenômenos muito comuns na França do século XIX. Não é uma “revelação”, porque este tipo de modelo só pode produzir doutrinas dogmáticas, e também não é uma doutrina ditada por espíritos. Ela foi criada por Kardec, que lhe ofereceu todas as virtudes e todas os seus defeitos. Como principal virtude a ideia de que não é uma religião, não se comporta como seita, não aceita personalismo, não tem caráter sectário e está vinculada à ciência, de maneira que pode ser modificada indefinidamente caso seja comprovado um erro em seus pressupostos.

Como principal defeito o evidente eurocentrismo, a ideia construída de Cristo como espírito guia da humanidade, desprezando outros personagens religiosos de igual relevância e importância histórica. Faltou ao espiritismo nascente este caráter de universalidade. A ideia de uma doutrina de consequências morais também me parece bastante equivocada, pois que a moral se molda e se transmuta com o tempo. Ver espíritas adotando a moral conservadora cristã e as perspectivas políticas mais alienantes são os resultados óbvios dessa escolha. O espiritismo deveria se ocupar da pesquisa científica e filosófica da sobrevivência da alma, a manutenção do princípio espiritual e a reencarnação como processos depurativos do sujeito, e muito menos com os costumes e a moral vigente, elementos que apenas atrasam sua circulação no ambiente acadêmico.

Não se trata de “conhecer”, mas de interpretar os fatos. Não acredito que o espiritismo seja uma doutrina “ditada” por espíritos, mas criada por Kardec a partir de mensagens esparsas e sem a devida conexão recebidas por médiuns de sua época. Kardec sempre foi a figura central e unificadora do processo, pois é dele a sistematização, a divisão dos temas, a escolha das perguntas e a formatação final. Desta forma, o Livro dos Espíritos é tão humano e tão centrado na figura do seu criador quanto a teoria evolucionista de Darwin. A ideia de que ele seria apenas o “codificador” (seja lá o que isso quer dizer) não me parece justa. Os méritos são de Kardec, assim como os terríveis defeitos encontrados nas obras, causados pelo contexto em que foram escritos aqui na Terra.

E quanto a “espírito perfeito” essa é outra tolice. Jesus é uma criação humana, criado e moldado pelas nossas necessidades e interesses geopolíticos. O Jesus real foi basicamente um judeu reformista, cujo principal interesse era reformular a religião judaica. Nunca conversou com alguém que não fosse judeu e sempre se dirigiu apenas ao seu povo. Era basicamente um autoproclamado “messias” – assim como outros 400 daquela época – alguém destinado a livrar os judeus do jugo Romano. Tinha portanto uma missão política, aliás, para criar um “reino deste mundo”. Falhou em seu intento, e por esta singela razão jamais foi reconhecido como “ungido” por seus iguais. Entretanto, sua mensagem aos humildes e pobres cativou a periferia do Império Romano, graças ao apóstolo dos gentios (não judeus), Paulo de Tarso, que a levou a “gregos e baianos”.

Por outro lado, essa é apenas a história criada sobre um personagem mitológico ocidental, que ganhou sucesso graças a uma decisão de gabinete de Constantino. Que dizer dos outros líderes espirituais, como Buda, Lao Tsé, Zoroastro, Confúcio etc. Por que seriam eles “inferiores” ao “sujeito perfeito” nascido no fim do mundo, num lugar miserável e desimportante do Império Romano chamado Palestina e cuja mensagem não trazia nenhuma grande verdade oculta (a não ser parte das bem-aventuranças)? Ora… 200 anos depois de Kardec e continuamos com o mesmo eurocentrismo cafona, achando que nosso Jesus branco é um “ser de luz” com faroletes mais luminosos que do que aqueles dos seus concorrentes. Por que haveria de ser? E por que deveria o espiritismo, em sua proposta universalista, escolher o líder ocidental como paradigma de perfeição? Não faz nenhum sentido, e o espiritismo deveria abandonar essa perspectiva racista e sectária para se tornar a verdadeira voz de unificação de uma proposta espiritualista.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Os Espíritas e a Palestina

É impressionante (mas não deveria surpreender) o número de espíritas evangélicos (os chamados “espíritas cristãos”) que apoiam de forma explícita as ações de Israel em Gaza. Inobstante as imagens dos massacres, as 16 mil crianças mortas, o ataque desproporcional, a clara intenção de limpeza étnica e a ação genocidária de Israel eles se mantém fiéis à luta contra o “terrorismo” e ao direito sagrado do “povo escolhido” de ter a posse daquela terra. Usam a bandeira deste país em suas mídias sociais como emblema de sua fidelidade à “terra de Jesus”. Outros ainda defendem a morte dos palestinos dizendo tratar-se de um “karma coletivo“.

Esse é um tema interessante, e quem transitou pelo espiritismo já se deparou com esse conceito. Ele basicamente estabelece que certos grupos sofrem punição coletiva por erros e atrocidades cometidas no passado. Assim, os aviadores nazistas teriam se reunido num voo que incendiou e caiu no oceano – mas nenhuma menção aos americanos que chacinaram 1/3 dos habitantes da Coreia do Norte na guerra de libertação daquele país. Claro, as punições “divinas” dependem do nosso julgamento. A mesma sentença foi aplicada aos soldados dos exércitos de Napoleão, Gengis Khan, etc, que pelos seus crimes foram punidos pela lei do Karma. Sim, na mente de muitos espíritas habita o velho Deus malévolo, vingativo e cruel dos hebreus. Por certo que não são todos os espíritas que assim pensam, mas uma parte considerável, em especial os grupos ligados à “religião espírita” e os mais conservadores.

No atual episódio, os palestinos teriam cometido atrocidades no passado, as quais seriam a causa do sofrimento atual. Assim, os sionistas nada mais são do que “instrumentos divinos” para aplicar a punição necessária a quem cometeu delitos graves no passado. Ahh, e que fique claro que o holocausto sofrido na segunda guerra mundial contra a comunidade judaica da Europa também teria sido guiado pelas mesmas normas jurídicas punitivas celestiais. Crime e castigo.

Pois agora vejo os espíritas, que como eu estudaram na escola dominical estes personagens bíblicos, defendendo o direito sagrado dos judeus sobre a Palestina, tratando a população nativa – que habita a região há mais de 2 milênios – como invasores ilegais. Não sabem eles dos horrores que são cometidos em nome dessa ideologia abertamente racista e explicitamente fascista contra gerações de palestinos. Estes espíritas não têm noção do desprezo que os sionistas nutrem por eles e por todos os ditos cristãos, a quem consideram inferiores e subalternos. É tempo de acordar para a realidade perversa, racista, cruel e destrutiva do sionismo. Existem muitas provas da ideologia francamente racista que domina a mentalidade de Israel. Pensem, com sinceridade, se o mundo pode conviver com tamanha perversidade.

Deixe um comentário

Arquivado em Palestina, Religião

Espiritismo Místico

Minha dúvida é a seguinte: o que teria ocorrido com o espiritismo se houvesse optado por uma vertente científica – a vertente derrotada no final do século XIX, liderada por Angeli Torteroli, no enfrentamento com os místicos? O que teria acontecido com a “Doutrina dos Espíritos” caso tivesse aderido às concepções científicas da época, mantendo-se longe das percepções místicas e religiosas e tornando-se um ramo científico, positivista e experimental de investigação da vida e da comunicabilidade após a morte? Na minha humilde opinião esta escolha poderia ter produzido pesquisadores como os “Ghost Busters”, que se divertiriam fazendo experimentos em laboratórios para investigar fantasmas e mensagens do além, tendo quase nenhuma pervasividade entre a população.

O espiritismo assim desenvolvido seria um ramo quase desconhecido do conhecimento, como o são as ciências parapsicológicas. Ou seja: a vertente mística, cristã/católica e mediúnica do espiritismo, através do processo sincrético de adaptação à cultura brasileira, foi o responsável pela fantástica disseminação dessa mensagem. Todo mundo no Brasil conhece o espiritismo, conhece Kardec, conhece mediunidade e sabe o que é reencarnação. Pela mesma razão, a ligação da homeopatia com o espiritismo foi a responsável por manter a ideia do tratamento homeopático vivo na cultura – apenas porque na sua chegada ao Brasil esteve ligado ao espiritismo, mesmo que nada exista de necessário na conexão entre esses dois conhecimentos.

Desta forma, mesmo que seja justo discordar da forma como o Espiritismo se desenvolveu na cultura, sendo uma espécie de seita católica reencarnacionista e mediúnica, repetindo inúmeros defeitos e problemas das grandes religiões tradicionais (crendices, conservadorismo político, moralismo, conservadorismo de costumes, hierarquias, gurus, burocracia, culto às personalidades, etc.) ainda assim é correto dizer que estas foram as circunstâncias essenciais para a disseminação da mensagem espírita. Sua conexão com o cristianismo foi fundamental para garantir sua popularidade, mesmo que a visão kardequiana seja muito mais universalista – o que permitiria o espiritismo na China ou no Oriente Médio, já que não competem com visões religiosas tradicionais. Não fosse sua ligação com as vertentes mais místicas e a doutrina de Kardec jamais teria o sucesso que teve entre os brasileiros. Essa é uma das contradições mais interessantes para a abordagem espírita.

Muitos espíritas laicos, que combatem a vertente mística do espiritismo, negam a imensa maioria dos livros psicografados como embustes, incluindo toda a obra de Chico Xavier, “e não colocam nada no lugar”. Entretanto, cabe a pergunta: por que deveriam colocar “algo” no lugar? Se acham que é um embuste, por que razão deveriam colocar alguma coisa no lugar de erros, fantasias e até fraudes? Como provocação: “eles criticam ferozmente a TerraPlana mas não colocam nada no lugar”. Ora, colocam sim: o Globo terrestre, assim como as pessoas que combatem a mediunidade de Chico Xavier dizem que os seus livros são obra dele mesmo, e que os espíritos que assinam suas obras são seus tímidos alteregos.

Para outros “A ciência dentro do espiritismo tem um propósito final claro, que é a transformação moral das pessoas”. Sério? Por que deveria ser assim? Desde quando a ciência tem um “objetivo”? Por que deveríamos colocar na pesquisa da sobrevivência da alma um objetivo último de caráter moral? Imagine alguém afirmar que: “a lei de gravitação de Newton tem como finalidade última o aprimoramento moral dos indivíduos e uma vida centrada na caridade”. Não soaria ridículo? Pois assim é… e na minha perspectiva a vida após a morte não é uma pesquisa que objetiva mudar a moral de qualquer um!!!

Para mim, por exemplo, a pesquisa no espiritismo serviria tão somente para mudar a nossa percepção de realidade, acrescentando uma nova dimensão para entender o significado último da vida – caso ele exista – e que não precisa ser utilizada de forma moralizante. Por acaso as descobertas de Darwin serviriam a algum propósito nobre, como “melhorar o mundo”, ou “transformar moralmente” a humanidade? E Freud? E Oppenheimer? Estavam em busca da “bondade” ou da suprema “fraternidade”? Por que achamos que o objetivo precisa ser melhorar ou fazer evoluir a humanidade? Por que não poderia o espiritismo ser um ramo da ciência que procura desvendar este mistério, sem compromissos de caráter religioso, moral, ético, etc.?

Comparo o desbravamento da vida após a morte com a conquista espacial, ou a travessia do Atlântico pelas naus no fim da idade média. Por esta razão, “o conhecimento do outro mundo só se justifica pela utilidade em tornar alguém melhor” não faz sentido algum para mim. No meu entender a descoberta da América, da rota das Índias, ou da vida em Marte não é para trazer a transformação moral da humanidade, sequer para transformar o caráter dos sujeitos humanos, mas tão somente para alastrar o conhecimento humano sobre um campo até então obscuro e misterioso.

Para finalizar, combater os aspectos religiosos do espiritismo é um objetivo nobre. Alguns podem não concordar, mas isso não retira desse específico viés a sua importância. Nada há de necessariamente raivoso nisso. Essa visão teria a mesma função que o combate à politicagem contida nas decisões de juízes, ou à contaminação de ideologias sectárias em organizações que se propõem universalistas. Não se trata, portanto, de “combater por combater”, mas por entender que os aspectos religiosos e místicos contidos no espiritismo são elementos artificiais, enxertados na prática espírita, não contidos na proposta original da doutrina e que não estão em sintonia com a perspectiva laica que Kardec sempre tentou oferecer à doutrina dos espíritos. Claro que pode existir raiva e outros sentimentos menores na iconoclastia de figuras espíritas, mas esta busca, por si só, não pode ser penalizada.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Espiritismo e Cristianismo

Cristo não criou uma religião, muito menos Leon Tolstói ou Maradona, mas três igrejas se ergueram em seus nomes. Religião é o que os outros fazem do pensamento e das obras de alguém. O mesmo aconteceu com o pensador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, também conhecido como Allan Kardec. Na minha perspectiva – e na de Kardec, que explicitamente negava que o espiritismo fosse uma religião – uma religião é uma ideologia que nos aparta das demais. Por isso se usa a palavra “seita”, um termo que deriva do latim “secta” cujo significado é “seguidor”. O termo é utilizado para designar um grupo numeroso de uma determinada corrente religiosa, filosófica ou política que se destaca da doutrina principal. Sectário é um termo que designa o indivíduo que faz parte de uma seita. Uma seita pode também ser considerada uma “divisão”, “partido” ou “facção”.

Kardec não desejava nada disso. Ele era um homem de ciências e queria demonstrar a sobrevivência do princípio espiritual, a comunicabilidade entre os planos, a evolução e a reencarnação como sistemas pedagógicos espirituais. Em verdade, o espiritismo é apenas isso e Kardec tão somente desejava que o espiritismo fosse um suporte para todas as religiões. Na sua visão seria absolutamente razoável a existência de um católico espírita, um budista espírita, um muçulmano espírita e até um ateu espírita – se for possível negar a existência de Deus mas aceitar as outras leis naturais que o espiritismo defende.

Tornar-se uma religião formal foi, entretanto, algo inevitável para o espiritismo. Não haveria como o espiritismo nascente no Brasil – a grande nação espírita do mundo – não estabelecer um sincretismo com o cristianismo do país. De certa forma quando Kardec (ele mesmo um católico) escreveu o “Evangelho segundo o Espiritismo” criou uma conexão indissolúvel com a religião e suas inevitáveis pregações morais. Nem Kardec conseguiu evitar isso, mas em um mundo ideal, o espiritismo poderia ficar alheio às questões morais. Isso jamais ocorreu, e as palavras de um espírita são facilmente confundidas com qualquer cristão deste país. O espiritismo se tornou uma seita cristã reencarnacionista com os mesmos vícios moralizantes das outras religiões ligadas à figura de Cristo.

Para mim esta ligação com a “moral” e com o cristianismo aprisiona o espiritismo. Seria muito mais interessante que fosse livre, laico, despregado do catecismo carola das religiões. Sendo uma filosofia e uma ciência sem vinculação com preceitos morais ele estaria muito mais próximo de atingir seus altos objetivos. Porém…. admito que minha posição é contra hegemônica e pouco popular. Existe muita cristolatria no espiritismo, e uma necessidade de criar normas para regular o comportamento das massas. Como toda religião o faz.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Caritas

A palavra “caridade” tem origem no latim, “caritas” – significando um tipo de amor incondicional, que por seu turno deriva do grego “cháris”, que significa graça, a mesma origem de “caro”, ou seja, aquilo que possui valor.

Como tive uma formação espírita escutei muitas vezes a frase de Kardec que exaltava assim a caridade: “Fora da caridade não há salvação“. Esta é uma das frases mais icônicas do espiritismo, mas acredito ser importante entendê-la em seu contexto; é preciso colocar a sentença do pedagogo francês em seu tempo e sua circunstância histórica.

Um dos axiomas mais celebrados pelos estudiosos da Igreja é “fora da Igreja não há salvação”, ou seja, “extra Ecclesiam nulla salus“, que se pode encontrar nas manifestações de vários Padres e teólogos medievais, modernos e contemporâneos. O próprio magistério da Igreja já a usou inúmeras vezes e em contextos distintos.

Desta forma, a expressão usada por Kardec pretendia fazer um contraponto à expressão “Fora da Igreja não há salvação”, a qual estabelece que a condição precípua e inescapável para a salvação do espírito após a morte seria a crença em Jesus como seu salvador e sua fidelidade à Igreja fundada por Pedro. Para salvar-se do Inferno era fundamental aderir a Cristo. Assim, Kardec tão somente retirou a primazia da fé e colocou na prática da fraternidade o caminho indispensável para a evolução – já que “salvação” é um conceito desprezado pelo espiritismo. Nesse contexto, Kardec se contrapunha à Igreja e sua exclusividade salvacionista.

Também se faz necessário compreender que a “caridade” como nós a concebemos hoje é a ajuda aos mais necessitados, aos famintos, aos descamisados e destituídos, aos pobres, miseráveis e marginais, todos aqueles que surgem como resultado da aplicação dos modelos econômicos excludentes que se baseiam na estrutura das classes sociais, desde o feudalismo, passando pela aristocracia e desembocando no capitalismo, todos eles sistemas econômico-sociais que se sustentam na exploração do trabalho, criando classes distintas de oprimidos e proprietários, onde a miséria e o desemprego são peças essenciais para o funcionamento da máquina.

A caridade seria a válvula de escape das tensões sociais, uma forma sutil de apaziguamento das culpas derivadas da pobreza instituída pelo modelo de divisão das riquezas do planeta. Quando a simples caridade realizada como propaganda – a entrega de pequenas quantidades de valor para os despossuídos – não é suficiente, a ação das forças de repressão se faz necessária. Assim, a caridade é o espelho da desigualdade social; onde existe caridade prolifera a injustiça, a exploração e a opressão sobre enormes contingentes da população. Caridade é a humilhação que o pobre aceita em nome da sobrevivência – própria e dos seus.

Sociedades desenvolvidas não admitem a caridade, já que ela sempre sinaliza desequilíbrio. “A suprema caridade é o desaparecimento de toda e qualquer ação caridosa“. Todavia, se quisermos entender a caridade como “expressão da fraternidade”, poderemos incorporá-la, já que a fraternidade nada mais é do que a forma mais elevada e desenvolvida de relação entre os homens.

1 comentário

Arquivado em Pensamentos

Idealismo Espírita

Falar do espiritismo enquanto doutrina progressista e baseando-se em seus ensinamentos e sua perspectiva científica e adogmática é puro idealismo. Na materialidade, na concretude do real, o espiritismo se apresenta como uma seita cristã (e cristólatra), conservadora, à direita no espectro político e caracteristicamente moralista. O espiritismo não difere de forma consistente de outras expressões religiosas ocidentais no que se refere ao perfil dos seus prosélitos. É uma lástima, pois sua base ideológica prometia ser revolucionária.

No Brasil, justiça seja feita, só as religiões de matriz africana se aproximam discretamente da atenção ao povo preto, pobre e oprimido pelo capital, e ainda assim de forma muito sutil. O cristianismo brasileiro é, acima de tudo e em todas as suas expressões, muito mais ligado à Roma e ao Sinédrio do que ao povo chinelão que comia poeira e gafanhotos na Palestina.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião