Arquivo da tag: gurus

Missionários

Sobre missionários americanos que vem ao Brasil para trazer “a palavra” e fazer assistencialismo barato (na verdade, bem caro).

Será que realmente precisamos de mais gurus? É esse tipo de “levante” espiritual que necessitamos? Os caras chegam aqui falando inglês para nos “salvar”? Já não foi suficiente o Jim Jones na Guiana? Mais espertalhões que misturam espiritualidade com negócios? Outro Rajneesh? Mais um Edir Macedo, desta vez um “que habla”? Outros reacionários conservadores que usam a pobreza, a miséria e a carência para vender seu salvacionismo conservador e bilionário?

Mais promessas? Mais sucesso econômico e cadeira cativa no céu? Ainda mais dízimos sendo recolhidos para a ganância das igrejas? Trago seu amor de volta? Mais assistencialismo que escraviza as mentes? Mais torniquetes emocionais de culpa? Mais líderes carismáticos que lucram com a fé? Afinal, quem financia esse gente? Quem paga essas apresentações midiáticas? Quem está por trás da fortuna que circula nessas instituições? Posso apostar que procurando bem podemos encontrar o dedo do Departamento de Estado Americano, que pretende nos fazer a creditar que o fim da pobreza está na … fé.

Esses espetáculos não são feitos para acordar; pelo contrário, são feitos para nos manter em sono profundo, anestesiados, imóveis e sem reação. Acordar significaria revolucionar nossa realidade de tal sorte que a sociedade, ao fazer uma mudança tão radical, não teria mais nenhum pobre para ajudar.

Basta desses gringos falastrões….

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Sedução e alienação

Líder espiritual que tem 400 retiros espalhados por 19 países foi sentenciado à prisão perpétua por estupro.

Qualquer sujeito dotado de poder, magnetismo, beleza física e carisma pode facilmente ser envolvido em um caso de abuso. Diga lá: quantas mulheres se interessariam por um envolvimento com sujeitos nessa posição? Milhares, eu me arrisco a dizer. Quantas investiriam em uma aproximação? Por certo que muitas. Quantas avançaram o sinal?

Pois é exatamente nesse encontro que ocorrem as maiores perversões e tragédias.

O abuso que ocorre por parte dos gurus pressupõe duas pontas: o sujeito que acredita na sua qualidade superior, por lhe faltar a necessária castração, e aquele outro que aceita se submeter ao poder fálico de quem tudo sabe sobre si. Esse encontro é explosivo e frequentemente catastrófico. Quando vi o documentário sobre o Osho eu não me surpreendi com seu magnetismo ou seu poder de mobilizar milhões (de seguidores e de dólares) mas a quantidade inacreditável de sujeitos solicitando avidamente para serem submetidos a esse poder magnético e essa dominação; legiões de masoquistas imersos no gozo da subserviência e à ordenação do mestre supremo.

Em minha imaginação eu me perguntava o que havia faltado a essas pessoas em sua infância mais precoce para precisarem, já adultos, de um cabresto místico a guiar cada um de seus passos. Do que são carentes essas mulheres que pulam de forma hipnótica nos braços de um abusador, cujo carisma magnético as atrai como abelhas no mel? O que falta a estes jovens rapazes para se sentirem tão atraídos para a obediência cega aos ditames do mestre? Por que se tornam impenetráveis à razão e às evidências? Por que tamanha necessidade de acreditar?

Desenvolvi desde cedo uma alergia a qualquer tipo de sujeito que assuma a posição de guru, em especial aqueles que evitam o nome, mas se comportam como se assim o fossem. De todos eles procuro distância, desde os religiosos, passando pelos cientistas, os médicos ou os artistas. Todo sujeito que é colocado nessa posição e se sente confortável neste lugar, recebe de mim o imediato rechaço. Não acredito em gênios verdadeiros que, desprezando Sócrates, pensam saber de tudo mas negam a imensidão do quanto ignoram. A verdadeira sabedoria é humilde exatamente pela constatação da infinita ignorância que carregamos como marca.

O segredo, digo eu, é o exercício constante de desinstituir-se, retirar-se constantemente da posição de mestre, para não permitir o esvaziamento da potencialidade do pupilo. “Para a existência de um guru repleto de saber há que existir um aluno esvaziado dele”..

A análise permite ao sujeito a fuga da alienação e o exercício do pensamento crítico, em especial sobre si mesmo. Resistir a tentação dos gurus é uma ato de fervor em nome da autonomia e da liberdade

1 comentário

Arquivado em Pensamentos

Lugares

Certa vez uma amiga publicou uma foto “agressiva” em seu Facebook e recebeu imediatamente uma chuva de críticas. Eu achei que a foto era mesmo desnecessária, e que a reação das pessoas – embora grosseira e machista – era esperada diante do contexto preconceituoso em que vivemos. Seria como chegar na frente de uma comunidade pobre e começar a xingar e ofender os chefões da milícia e do tráfico. Um tiro seria uma consequência óbvia, mesmo sendo um crime.

Expliquei minha perspectiva para ela, que é basicamente essa: quando você se posiciona de forma contundente precisa estar preparado(a) para a reação. É pura ingenuidade imaginar que vai questionar poderes estabelecidos e as pessoas vão assistir impávidas. Não; a reação – inclusive violenta – é a REGRA e quem produz vanguarda precisa estar fortalecido ANTES de se aventurar. Os xingamentos que ela recebeu não poderiam produzir surpresa, mas deveriam ser absorvidos e reciclados.

Ela não aceitou a minha ponderação e ficou profundamente ofendida por não tê-la “defendido” e feito coro contra os que debochavam dela. Eu achei apenas que defendê-la seria infantilizá-la, ao estilo “Eu faço isso porque depois meu irmão mais velho vem aqui distribuir porrada em vocês”. Achei que ela estava preparada para o “backlash” que eu sabia ser inevitável. Não estava….

Depois disso ela passou a ser minha inimiga expressa, disparando rancor e ressentimento em todos os lugares que escrevia. Mais de uma vez recebi avisos de amigos em comum mandando prints e dizendo que eu deveria abrir um processo. Não, não me interesso por isso, até porque eu me acho razoavelmente preparado para dizer coisas sabendo que alguns (ou muitos) não vão gostar. Espero, sinceramente, que ela esteja em paz e que um dia possa me perdoar.

Foi este fato que me fez (re)pensar em Jiddu Krishnamurti e sua importante perspectiva sobre os mestres, as autoridades superiores e os gurus:

“Esta é uma das questões mais importantes. Invariavelmente, desejamos achar um instrutor, um guia, para moldar a conduta de nossa vida; e, no momento em que vamos pedir a outrem uma norma de conduta, uma maneira de viver, criamos uma autoridade e a ela ficamos escravizados. Atribuímos a tal pessoa uma alta sabedoria, extraordinária ciência. E com essa atitude gera-se, invariavelmente, o medo. E ela não determina também o disciplinamento de nós mesmos, de acordo com a autoridade de uma ideia ou pessoa?

Ora, não vos parece de todo fútil essa busca? Estar-se cativo na gaiola de uma disciplina, o ser impelido de uma gaiola (…) para outra, isso, evidentemente, não tem significação alguma. Assim sendo, devemos investigar por que buscamos. A busca pode ser um “processo” totalmente errôneo. Pode ser justamente um desperdício de energia.

Nenhum guru nem sistema pode ajudá-los a se compreenderem a si mesmos. Sem a compreensão de si mesmos, não tem razão de ser o descobrir aquilo que constitui a ação correta na vida que é a verdade.” (Jiddu Krishnamurti)

Buscar um “mestre” é procurar escravidão voluntária. Aceitar a posição de Guru é uma postura perversa que viola a autonomia alheia. “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, como dizia Augusto dos Anjos, e assim ocorre porque o pupilo cobra do guru a absoluta fidelidade. No momento em que essa fidelidade é quebrada – quando se afasta de um ideal imaginário – ocorre a queda. A partir daí surge o ódio, a raiva, os ataques e o cancelamento. Em verdade, o pupilo exige o pagamento que considera devido pelo amor devotado. E o guru, envolto em um manto ilusório de saber, aceita essa relação movido pela vaidade e pelo poder sobre seus seguidores.

A regra, em minha opinião, é a permanente “desinstituição“. É a prática diária de fugir da posição de mestre, de guru, de professor, de proprietário de um “saber superior” ou de uma pretensa infalibilidade. É acostumar-se a falar o que pensa, em sintonia com sua consciência, a despeito do que as pessoas vão pensar, inobstante sua concordância, cultivando os inimigos e desafetos que naturalmente surgem quando se toca nos poderes sacramentados de uma sociedade.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Gurus

Qualquer grupo religioso onde se destaca a figura de um “guru”, um mestre cujas palavras assumem aspectos de “revelação” ou “verdade” corre o risco de se decepcionar com a práticas de abusos – morais e sexuais. Acontece com os padres (escândalos imensos), os evangélicos (todos os dias), os mestres espiritualistas (como João de Deus), os orientalistas (como Prem baba) e certamente ocorreria entre os praticantes da Ayahuasca.

O que se faz necessário nestas circunstâncias é orientar as pessoas desde muito cedo a não acreditarem em pessoas que tem “A Mensagem”, entregue diretamente a eles por “Deus”, ou pelos “espíritos de Luz”. TODAS são seres humanos, alguns deles perversos e abusadores cruéis, mas é impossível que seus egos não se deixem inflar pela veneração que seu carisma recebe como resposta. Eu procuro orientar a todos para que SEMPRE desconfiem de qualquer misticismo e qualquer encenação de “pureza e espiritualidade”.

Mesmo vestindo o mais alvo dos mantos por baixo dele existe apenas um ser humano deslumbrado com sua influência sobre mentes frágeis e carentes.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Livre pensador

Não vou me cansar de falar como é importante cultivar a independência pensamento, e o distanciamento de grupos, facções e fã-clubes. Você pode ser admirado, adorado, reverenciado e jogado às alturas, ser visto como uma figura que representa todos os anseios profundos de uma comunidade, mas basta uma falha, uma postura crítica à militância e mesmo uma postura mais moderada para ser execrado e – modernamente – cancelado.

Por isso o valor da independência. Meu pai gostava de se descrever como “livre pensador”, o que de uma certa forma se opõe ao “ativista”, já que este último está compromissado com uma ideia, uma luta, e também com aqueles que são seus companheiros na arena das ideias.

Meu conselho é – e sempre será – “desinstituir-se“, abandonar o lugar sedutor de guru, abdicar da posição de condutor do fervor dos outros, pois o que parece ser à vista desarmada uma posição de destaque nada mais é do que uma masmorra controlada pelo desejo alheio.

Deixe um comentário

Arquivado em Ativismo, Pensamentos

Cabeça certinha

Discordo apenas da cabeça arrumadinha do psicólogo. Essa imagem pode dar a entender que a cabeça dele está com as neuroses ajeitadas, dobradinhas dentro das gavetas, empilhadas em perfeita ordem. Já a imagem do pincel significa que as formas “modernas” listados ao lado não se propõem a mudar a estrutura do Cubo Mágico – nossa alma – mas tão somente falseiam a sua aparência com recursos exógenos e, portanto, fugazes.

Creio que a angústia do terapeuta não é menor é nem menos dolorosa do que a de seus pacientes. A escuta não pressupõe ausência de neurose, mas o entendimento de suas representações e esconderijos.

Lembro de um velho psicanalista me contando que a escolha para seu terapeuta foi guiada pela escolha do mais “normal”, o mais humanamente imperfeito. Assim também eu penso.

Sobre os gurus, outro exagero. Entre os exemplos de guru que eu conheci em toda a minha vida – aqueles que colocados nessa posição se acomodaram a ela – NENHUM deles cabe na definição de “mente organizada”. Seria útil ter uma visão menos idealizada desses personagens. Eles são mensageiros de uma nova perspectiva de mundo, mas ela também é repleta de contradições e paradoxos. Em verdade eles são criados pelas nossas próprias projeções, muito mais do que pelas suas qualidades.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Gurus e súditos

O surgimento de gurus pressupõe (ou estimula) a supressão temporária (nos casos graves, definitiva) do senso crítico. De Jesus a Lula a veneração aos ídolos esvazia as almas dos seguidores. Esses que por ora estão nos portais do inferno, como João de Deus, Abdelmassi, Elizabeth Holmes, etc já tiveram legiões de fãs. Cuidado, ponderação e canja de galinha continuam não fazendo mal à ninguém…

Por essa razão os Estados democráticos no mundo inteiro só homenageiam seus heróis postumamente, para evitar surpresas. Mesmo assim, nem isso é suficiente para evitar dissabores, como provam as estátuas derrubadas do general Lee, do Lênin e do Stálin e – se Deus quiser – um dia será a vez da derrubada do monumento aos genocidas carniceiros bandeirantes.

Quase todos os youtubers são muito queridinhos quando comparados com qualquer terraplanista e negacionista, mas qualquer sujeito em evidência que se põe a falar de ciência lá pelas tantas começa a misturar ciência com autoridade acadêmica – que não são coisas necessariamente unidas. Aí mora o perigo, quando se iludem com a ideia de que a ciência é um ente “imaterial e positivo“, infenso à veleidade humana, e não uma entidade criada e conduzida pela alma corrupta dos homens.

Mais cedo ou mais tarde começam a dar pitaco em assuntos controversos. Muitos disseminadores de ciência se perderam por isso. Um deles, muito famoso por tratar de questões da filosofia, resolveu falar de comunismo e trocou os pés pelas mãos, e desse assunto só sai besteira. As luzes da ribalta danificam a maquiagem. Espero que não a de Rita com Hunty, mas até dela eu guardo distância segura para não me entusiasmar demais com o ineditismo e a qualidade ímpar do seu personagem.

Não seria a primeira vez que um personagem em evidência larga uma declaração ao estilo “…quem acredita nessas coisas são os mesmos que não tem fé nas vacinas, acreditam em homeopatia e fazem parto em casa“. E aí? Como fica o (meu) nosso amor? “Eu me desiludi com ele…” diz a moçoila, mas aí o vovô Ric lembra que para se desiludir é preciso primeiro…. se iludir.

Nesses momentos em que é fundamental cativar uma audiência segura é que aparece o ideólogo por trás do cientista – algo que todos carregamos. Esse erro muitos cometeram com aquele “médico do Fantástico”, menos eu que conhecia seu passado de desprezo pelo parto normal e sua visão preconceituosa com a medicina suplementar – da acupuntura, passando pela fitoterapia, até chegar à homeopatia.

Por estas razões eu acho bom ter cuidado sempre. Aliás, o cuidado que sempre pedi que as pessoas tivessem comigo mesmo, mas que não vejo ser estimulado por algumas “estrelas” que estão em evidência. Antes de escrever “mito” pra algo bonitinho que eu escrevi lembre que ali na esquina vai fatalmente se decepcionar, porque eu não tenho compromisso algum com a tarefa de agradar prosélitos.

Deixe um comentário

Arquivado em Ativismo, Medicina

Espiritismo careta

Uma análise profunda da idolatria que se estimula no cenário espírita brasileiro é uma tarefa urgente a ser realizada pela Academia. Desde figuras populares como Zé Arigó, Chico Xavier até Divaldo Franco que percebemos um traço marcante no espiritismo cristólatra brasileiro: ele sempre foi pródigo na criação de “gurus”, líderes carismáticos que repetem discursos conservadores e moralistas. São comuns os textos carregados de uma visão superficial e maniqueísta da espiritualidade e da reencarnação, cheios de prescrições de evolução espiritual que criminalizam a luta política e a livre expressão da sexualidade, entendidas assim como “desvios obsessivos”. Em verdade, mais do que um achado ocasional, este é o padrão das publicações espíritas.

A adesão de Divaldo Franco – famoso tribuno espírita e médium – à barbárie jurídica lavajatista empresta um apoio fundamental aos tribunais de inquisição que se transformaram as côrtes de Curitiba, com o intuito de atingir a esquerda e os movimentos populares. Por outro lado, esta simpatia do líder espírita mostra a verdadeira face alienada e subserviente da baixa classe média ressentida que constitui seus seguidores.

O espiritismo institucional mais uma vez adere ao conservadorismo moral e político tacanho que sempre o caracterizou – basta lembrar as falas reacionárias de Chico Xavier sobre a ditadura militar de 64. Alia-se ao poder econômico, às elites, aos conservadores, ao judiciário partidário e aos golpes sucessivos à nossa democracia.

Corremos o risco de não ver no futuro nenhuma diferença significativa entre as monstruosidades de Malafaia, Edir e Feliciano e alguns líderes espíritas alinhados com o atraso, o preconceito e a mistificação. Aquela doutrina que, ao descortinar a reencarnação como processo de depuração espiritual, se apresentava como revolucionária e progressista, em verdade se mostra como mais uma seita cristã atrelada aos privilégios, ao moralismo, à tradição (escravista), à família (falocêntrica) e à propriedade (intocável).”

Que Deus tenha piedade de nossas religiões.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Autoajuda de palco

As vezes aparece na minha TL uma dessas palestras de gurus de um determinado assunto com aquele formato TED. Aí este especialista fala tudo que você está fazendo de errado na sua vida, seja o que come, como enxerga o sexo oposto, sua noção do infinito cósmico e, acima de tudo, como está falhando em conquistar o sucesso.

Eu acho profundamente brega essa estética “autoajuda de palco”. O sujeito caminha por todo lado, tem um foco de luz por cima, o microfone fica ao lado da boca e o aparelho que o controla na cintura. Palavras de ordem se repetem, estímulos ao “sucesso”, críticas à mentalidade “perdedora” e um mise-en-scène que em tudo lembra as igrejas evangélicas pentecostais. Um show de mensagens estereotipadas e criadas por algoritmos num computador baseadas em pesquisas de preferência. As apresentações são shows de atuação sedutora e hipnotismo.

A diferença entre as palestras motivacionais e as performances dos bispos pentecostais é que naquelas o diabo é menos grotesco e caricato do que nas apresentações de palco dos pastores e suas igrejas abarrotadas, porém não menos assustador. Num mundo onde o sucesso é o céu e o inferno a existência comum, viver uma vida frugal e simples é uma terrível danação.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Os Gurus

Uma verdade que aprendi muito cedo, mas a duras penas: a mão que afaga é a mesma que apedreja, do famoso poema de Augusto dos Anjos. Todo aquele que oferecer o seu amor cobrará uma contrapartida, e caso esta não seja devidamente paga, torna-se inevitável a emergência do ódio e do ranger de dentes.

Sim…. é uma espécie de amor. É o amor do fã, do torcedor e do admirador pelo seu ídolo. É o amor do sujeito que grita “goze por mim, já que eu sou tão pequeno“, e essa paixão terá sempre um (alto) preço. Quando ele não é plenamente correspondido – o que, por definição, nunca é – sobrevém o ressentimento e, muitas vezes, o ódio mortal.

Você não silencia quem lhe ama. Inegável o brilho nos olhos de quem escuta um afago no ego. Pelo contrário: embevecido pelo canto da sereia você ingenuamente acredita nos elogios e se julga merecedor de todos eles. “Todas essas pessoas não podem estar erradas“, pensa, sem se dar conta que existe uma piada sobre isso que envolve moscas e dejetos. O bloqueio só vem quando chega a conta a ser paga. Aí é que você percebe que vinha recebendo um salário de afetos sem ter sequer solicitado, mas que mesmo assim o usufruía. Aí é tarde para negociar as cláusulas; uma parte já foi paga, agora só resta aceitar a indignação do consumidor irritado.

A saída? Nunca aceite a posição de guru. Fuja da posição delicada de porta-voz dos desejos alheios na qual lhe colocam. Não aceite os elogios honrosos e exagerados que lhe fazem e, acima de tudo, “sê fiel a ti mesmo”, e não tenha medo de desagradar quem outrora tanto lhe amou. Cultive uma parcela fiel de inimigos: são eles que vão lhe avisar dos seus piores defeitos. Não ceda aos seus princípios por vaidade, dinheiro ou amor…. mas aprenda a adaptar os caminhos justos ao tamanho dos passos da jornada. Seja apenas você mesmo e pague o preço de ser o que é.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos