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Vira-Latas

Sempre foi notória a vinculação do Ministro Barroso com os interesses da burguesia rentista nacional e do empresariado, os quais defende com unhas e dentes, mas resta a tristeza de saber que Barroso foi indicação do PT, seduzido por seu discurso identitário. Barroso é a imagem mais clara e cristalina do STF, uma corte de barões e baronesas acima do bem e do mal. É terrível saber que a Rede Globo – e o lavajatismo – tem nesse sujeito seu grande escudeiro. Que outra Rede de Comunicações no mundo consegue eleger um Ministro do STF para defender seus interesses? Quem tem um “ministro prá chamar de seu” nas grandes democracias?

Esta semana surge outra informação que até então eu desconhecia: O Ministro Dias Toffoli foi assistir a final da Champions League com políticos e empresários – os quais poderá estar julgando no futuro – em Londres, numa demonstração de absoluto viralatismo. Não só pela companhia, que depõe contra a isenção e a imparcialidade do ministro, mas pelo próprio evento, sonho de todo cucaracha endinheirado. Nestas horas cabe repetir a frase de Júlio César sobre sua esposa, Pompeia Sula: “A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita. A mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”. Este é um mantra que deveria ser repetido diariamente por qualquer sujeito que se coloca na posição de julgador.

Não escondo de ninguém minha vinculação marxista, e sei o quanto custa ser comunista em um contexto onde o fascismo bate à porta. Entretanto, reconheço que a desconfiança da extrema direita com o STF tem sentido. Claro, não pelos seus interesses oportunistas, pois quando Lula e Dilma eram os perseguidos nada disseram. Calaram-se diante das arbitrariedades da Suprema Corte, ficaram em silêncio quando a constituição foi rasgada para impedir Lula de concorrer e silenciaram diante da censura imposta a partidos de esquerda e ao próprio ex-presidente. Agora aparecem como garantistas de última hora e defensores da “liberdade”, mas quando estavam no poder não se acanharam em pedir aos fardados uma nova ditadura.

São espertalhões, que fique claro; no entanto estão corretos pelos motivos errados ao denunciar as arbitrariedades da suprema corte. Só perceberam o autoritarismo e os interesses escusos nas ações dos ministros quando a “água bateu na (sua) bunda”. Parabéns aos comunistas que atacam a Globo e o STF desde sempre como representantes da burguesia decadente deste país muito antes desta crítica virar modinha entre bolsonaristas.

O texto abaixo publicado na Folha de São Paulo expõe a degradação dessa instituição.

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Arquivado em Causa Operária, Política

Entre Marx e Freud

Nossa herança animal nos oferece uma característica peculiar na história da vida no Planeta. Carregando a herança de milhões de anos de processo evolutivo, mas subitamente dotados de razão, caminhamos sobre a fina lâmina que divide a mais instintual animalidade das características angelicais de quem pensa e raciocina. Inobstante a grandeza do nosso avanço tecnológico, somos governados por um núcleo de medos coberto por uma camada de crenças irracionais. Estas crenças nos oferecem a falsa certeza de termos controle sobre a natureza e o caos do universo, e nos protegem das sombras da desesperança. Sobre nossas crenças se assenta uma fina e translúcida camada de racionalidade, quase insignificante, mas que nos oferece a ilusão de termos suplantado nossos atávicos temores.

A psicanálise nos mostra, em essência, a fragilidade de nossas escolhas, não apenas em termos subjetivos, mas também no que diz respeito às opções sociais e políticas. Por mais que tentemos entender de forma racional os diferentes modelos e sistemas políticos, haverá sempre dentro de cada sujeito um choque interno determinado pelos nossos valores, os quais dominam e direcionam nossas escolhas. Para o pai da psicanálise, “Não há sujeito sem cultura e nem cultura sem sujeito”. Freud deixou claro, desde o surgimento da psicanálise, que o sujeito é inseparável da cultura; a vida subjetiva implica, inexoravelmente, na referência do sujeito ao Outro – objeto de amor e de ódio – e à linguagem. A psicanálise atua na sutileza, na delicadeza, nas filigranas do discurso; sua busca é pela imbricação de afetos, o conflito dos amores, a disputa de desejos e o desatar destes nós que carregamos.

Desta forma, quando o sujeito se situa à direita ou à esquerda do espectro político, existe nesta definição uma série de elementos psíquicos intangíveis, escondidos nos porões úmidos do inconsciente, agindo sobre suas ações. E assim o fazem escondidos atrás de discursos lógicos e racionais, mesmo que a opção por uma perspectiva ou outra seja determinada por questões inconscientes. O inconsciente controla, sem que o próprio sujeito se aperceba. O verniz de intelecto que cobre nossas crenças nos impede, à primeira vista, de entender as verdadeiras e profundas razões pelas quais escolhemos um caminho em detrimento do outro.

A escolha pelo marxismo como modelo de compreensão da realidade e organização política das sociedades se faz através dessa complexa rede de interações entre elementos racionais e questões afetivas e psíquicas – como qualquer outra decisão em nossas vidas. Todavia, a perspectiva socialista é ainda pequena em nossa cultura, colocando aqueles que ousam aceitá-la como minoritários, sofrendo todos os reveses possíveis dentro de uma sociedade capitalista organizada em classes. Mais do que isto, estes que abraçam as teses marxistas foram historicamente perseguidos, caçados, calados, censurados, torturados e até mortos, o que confere aos socialistas uma perspectiva emocional peculiar e significativa. É por estas circunstâncias que é necessário ter suporte emocional e conhecimento dos elementos constitutivos do psiquismo humano para empreender a tarefa de construção de uma sociedade que pretende abolir as classes que nos separam, transformando um mundo marcado pela desigualdade em um que seja baseado na equidade e na justiça social. Compreender o funcionamento da alma humana é tarefa precípua de todo aquele que se aventura pelo socialismo.

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Doulas e Psicanalistas

Sobre a polêmica de cursos de graduação em psicanálise creio que esta discussão é a EXATA reprise de um debate que eu iniciei há mais de 10 anos sobre “cursos de formação de Doulas”, os quais pretendiam sua transformação em profissão regulamentada e desejavam tornar a doula uma “profissional da saúde” – como médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, etc.

Quando me posicionei sobre o tema – fazendo oposição à tentativa de encaixar as doulas no nosso modelo acadêmico e trabalhista – fui atacado, xingando, cancelado e tratado como “traidor”. Claro, ainda tive que escutar o famoso “lugar de fala”, mesmo que eu estivesse presente desde os primeiros cursos de capacitação de doulas no Brasil. Mas isso não foi suficiente para me fazer mudar de opinião.

Agora o debate é sobre um ramo centenário do conhecimento humano, a psicanálise. Entretanto, percebi que os argumentos que sustentam a ideia dos “Cursos de Graduação em Psicanálise” visando uma formação acadêmica na área tem os mesmo problemas estruturais que eu questionava na formação de Doulas. Tomo aqui emprestadas as palavras de Diogo Fagundes em um texto que circula na internet sobre a “domesticação” da psicanálise, mudando apenas o campo ao qual ele se refere.

“Graduação em Doulagem oferecida pelo Estado – ou pior, empresas de educação privada visando lucro – é algo análogo à possibilidade hipotética de graduação em marxismo. Faz sentido haver escolas de doulas (aliás, desejo muito isto) associadas a organizações ligadas à humanização do nascimento, grupos de mulheres ou clubes de mães, mas não cursos de graduação estabelecidos pelo Estado ou proprietários privados em busca de dinheiro fácil.

Ambos – doulas e psicanalistas – são formas de pensamento implicados na construção de um sujeito não necessariamente ligados ao que Lacan chama de “discurso da universidade” – não à toa o francês recusou chefiar o departamento de psicanálise (o primeiro da França) quando convidado por Foucault na criação da Paris VIII.

Na prática, vai haver um monte de biboca de esquina transformando o trabalho das doulas em “coaching de gestação”, autoajuda e coisas do gênero. Entretanto, a formação não pode prescindir de habilidades humanas e acompanhamento pessoal, uma experiência subjetiva complexa não balizada por prazos e exercícios determinados burocraticamente.”

Como pode ser visto, a mesma ideia de criar cursos de formação em psicanálise ou formação de doulas esbarra no fato de que ambas as funções sociais não são aprendidas exclusivamente nos bancos escolares mas pressupõe uma vivência no trabalho direto com os clientes, um mergulho na subjetividade destes, um aprendizado que surge do atrito com a infinita diversidade dos clientes, a alegria e o sofrimento com as vitórias e frustrações que esta função nos impõe. A academia e seus diplomas são incapazes de fornecer este tipo de construção, o qual não pode ser delimitada no tempo ou na carga teórica de conhecimento oferecida.

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Fuga da Venezuela?

Uma recente publicação (veja aqui) avalia os fluxos migratórios entre países da América Latina e a Venezuela é os achados brutos demonstram que mais brasileiros, argentinos e colombianos atravessaram as fronteiras em direção à Venezuela do que o oposto. Isso confronta diretamente a tese de que existe uma “fuga” maciça do “bolivarianismo venezuelano” e de que haja uma “catástrofe humanitária” ocorrendo com nosso vizinho. Uma recente visita de um alto funcionário das Nações Unidas desmente peremptoriamente a ideia de que haja uma tragédia em curso (veja aqui)

Mais uma pedra sobre a falácia da “crise humanitária” Venezuelana e uma prova cristalina da manipulação das informações que nos chegam através do cartel de mídias brasileiras. Isso lembra a Guerra Fria e os “informes de Moscou” onde tudo que chegava a nós sobre o comunismo era distorcido e manipulado. Felizmente hoje existe a Internet e os mecanismos de avaliação mais abrangentes do que efetivamente ocorre.

Crise humanitária? Um terço da população AMERICANA vive abaixo da linha da pobreza. O capitalismo está nos seus estertores, conforme a exata previsão de Marx —> o movimento do capitalismo é para a periferia deixando seus próprios países com um vazio de empregos, o que resulta em sentimentos ódio aos imigrantes e a eleição de “salvadores” populistas e proto-fascistas (como nos Estados Unidos). Os ricos ficam mais ricos com o pagamento mínimo de trabalhadores periféricos, mas com o tempo os produtos produzidos não podem ser mais comprados pelos trabalhadores desempregados ou descapitalizados. A crise é inevitável, mas a situação se mantém pela propaganda e pela obstrução (temporária) da verdade.

Os bodes expiatórios acabam sendo criados baseados em oportunismo e interesses, quando em verdade o problema é a própria estrutura capitalista da sociedade.

O capitalismo disfuncional termina por colocar o cidadão insatisfeito diante de um dilema: combater os fantasmas criados pelo capitalismo decadente (a corrupção, a criminalidade, os imigrantes, os petralhas, o comunismo, os sindicatos) que, apesar de existirem e muitas vezes serem problemáticos, NÃO SÃO a origem dos problemas estruturais pelos quais passamos, ou olhar para o envelhecimento e a senescência de um modelo de três séculos que mostra sinais de falência sistêmica. É mais fácil procurar a chave perdida sob a luz da lamparina do que procurá-la onde verdadeiramente se encontra: na escuridão dos modelos que valorizam o capital em detrimento do sujeito.

Enquanto isso nós continuamos a pregar em favor de um modelo doente terminal com argumentos saídos dos gibis do Capitão América.

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