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Ataque americano

Muitos ainda insistem na defesa dos Estados Unidos como se este país fosse um “bastião em defesa da democracia”, mas bem o sabemos que esta postura é fruto de mais de um século de massiva propaganda que, ao mesmo tempo que exalta a democracia burguesa, tenta desumanizar e vilificar seus oponentes. Os árabes – como pode ser visto em “Reel Bad Arabs” – são, de longe, as principais vítimas dessas campanhas de descrédito, em função da importância geopolítica de Israel. Ora, nada poderia estar mais longe da verdade do que colocar os Estados Unidos como defensor dos valores democráticos, mas aqueles que ainda defendem o imperialismo o fazem como que dominados por uma religião irracional, carregando suas palavras de chavões desbotados pelo tempo, relíquias cafonas e empoeiradas da guerra fria. Usam até a retórica do Milei – um Bolsonaro ainda mais aloprado – que não passa de um maluco fracassado que empurrou a Argentina para o fundo do poço, piorando o que Macri já havia feito. Outro detalhe chamativo é a tentativa de atacar o Irã defendendo o “direito das mulheres”, como se houvesse qualquer interesse na defesa de mulheres muçulmanas, mortas de forma genocidária em Gaza há vários meses. Não, nunca foi esse o interesse, mas ele é usado como “peça de propaganda” para aglutinar identitários na causa imperialista.

O paradoxo que vemos agora é testemunhar a direita mais retrógrada cair “como um patinho” na retórica “woke”, o que demonstra que na falta de argumentos a direita aceita apoiar até mesmo o discurso dos identitários. A meu ver, apesar de críticas necessárias às questões de gênero em países do Oriente Médio, quando examinamos a realidade da situação das mulheres do Irã, é evidente que elas têm muito mais liberdade do que as ocidentais, basta ver o acesso delas às faculdades como engenharia e física, que no ocidente são majoritariamente masculinas. Ao lado disso, vemos o quanto as mulheres no ocidente são expostas e objetualizadas ao extremo, mas matar crianças e mulheres usando a desculpa de que, terminada a matança, as mulheres poderão mostrar os cabelos, é o extremo da perversidade, o cúmulo do pensamento assassino que a direita tanto dissemina. Criticar as vestimentas de uma cultura – e mesmo a prática perniciosa de alguns radicais – como forma de analisar a liberdade faz parte da retórica oportunista de quem se nega a olhar para qualquer assunto com a devida profundidade.

Escrevo este texto imediatamente depois do ataque americano às instalações nucleares do Irã, e antes da óbvia retaliação que virá. É importante deixar claro que os próprios especialistas americanos (vide abaixo), passada a fumaça e a poeira das bombas jogadas no deserto, deixaram claro que nada de grave aconteceu, nenhuma estrutura foi destruída e nenhum artefato nuclear danificado (havia sido removido há muito tempo). Enquanto isso, 1/3 de Tel Aviv está severamente danificada, e a tendência é se tornar muito pior. Somente os cegos e fanáticos não conseguem enxergar que o fundamentalismo sionista, racista, supremacista está desaparecendo, derretendo, sendo transformado em pó. O regime extremista e terroristas dos sionistas dará espaço a uma democracia próspera e vibrante depois de um belo espetáculo de destruição do regime racista em Israel. Agora estamos escutando os primeiros vagidos de uma nação palestina plural, democrática, sem muros, sem mortes, sem apartheid, sem racismo, sem supremacismo, sem “povo escolhido” e sem a tirania dos capitalistas e abusadores sexuais de Israel. Em breve veremos palestinos – judeus, cristãos e muçulmanos – livres das amarras totalitárias do sionismo.

Enquanto isso, Trump está correndo risco de vida, e querem nos fazer crer que ele será morto pelos iranianos. Netanyahu, em verdade, disse que isso iria acontecer; ele avisou explicitamente sobre a morte de Trump, e disse que o Irã desejava matá-lo. A verdade é que quem vai tentar isso será o Mossad, pois assim fazendo ganhará duplamente: eliminando um presidente rebelde e conseguindo uma ótima desculpa para a guerra total.

Neste ataque parece mesmo que Trump só bateu o ponto para justificar aos seus patrões sionistas de que algo foi feito contra o Irã. Na verdade, essas ações teatrais deixam cada vez mais claro que Trump está com medo de morrer.

“Um ato teatral. A grande boca de Trump o colocou em uma encruzilhada. O Irã não jogaria seu jogo. Então ele foi obrigado a bombardear o Irã para salvar a própria imagem. Para isso, bombardeou duas instalações vazias que já tinham sido atacadas por Israel e lançou seis bombas contra uma instalação indestrutível (Firdos), alegando destruição, apesar do contrário ser verdade. É isso; um ataque “controlado”, um fiasco. E este é o homem cujos apoiadores chamam de o maior líder do mundo. Ele é uma vergonha nacional”. (Scott Ritter)

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Uma ilha de democracia

Nas últimas semanas comecei a ver de novos nas redes sociais um movimento que me chamou a atenção. Voltaram a aparecer as críticas à República Islâmica do Irã e a comparação com a fulgurante democracia israelense. Diante da guerra aberta, com o céu das grandes cidades de Israel iluminadas pelos mísseis balísticos iranianos e com o zumbido mortífero dos drones que sobrevoam a suntuosidade de Tel Aviv e Haifa, o ocidente voltou a ser inundado com propaganda imperialista, que coloca o Irã como um país “do mal” enquanto o enclave branco ocidental chamado Israel passa a ser descrito como um oásis de civilização no meio de um deserto de valores morais.

Primeiramente, é importante levar em conta que Israel não é uma democracia – longe disso. O projeto sionista deixou claro, desde os primórdios de sua implantação, que não seria possível manter Israel sem uma maioria consistente de judeus, e que esse a quantidade de árabes na sociedade israelense jamais poderia ultrapassar 30%. Entretanto, Armon Soffer, proeminente demógrafo israelense, os judeus já são minoria quando se analisa a Palestina: Israel e os Territórios ocupados. Desta forma, incorporar as populações palestinas em um único país destruiria a hegemonia étnica artificial estabelecida após o Nakba em 1948. Ou seja: Israel é uma etnocracia institucional; está em sua constituição de que aquela é a “pátria dos judeus”. Fica evidente para quem estuda as questões da Palestina as razões pelas quais Israel não trata como cidadãos – com plenos direitos, inclusive o voto – os 7 milhões de palestinos dos territórios ocupados. Essa democracia destruiria a “maioria judaica”, artificialmente produzida pela expulsão de 750.000 palestinos em 1948 e pela limpeza étnica efetuada nos últimos 77 anos.

Já essa história de Israel como “defensor da democracia”, uma “barreira de valores ocidentais a impedir a invasão da barbárie muçulmana”, é uma mentira; uma farsa imperialista. O que existe como valor primordial se resume nos interesses econômicos e geopolíticos da região. Entretanto, vi surgir de novo a mesma retórica identitária, que agora parte de segmentos da própria direita mais oportunista: “Estariam membros da comunidade LGBT mais bem hospedados e mais seguros na Palestina ou no Irã?” Esta é um dos argumentos mais usados para atacar o Irã ou qualquer país de maioria islâmica, da Palestina à Indonésia. Primeiramente, isso mostra uma ignorância inaceitável sobre as disparidades existentes dentro do mundo muçulmano. Essa afirmação tem o mesmo nível de absurdo de questionar a “vestimenta típica da Europa”, ou a “comida do Brasil”, ou mesmo os “costumes morais dos cristãos”, como se o ocidente fosse um bloco hegemônico no qual a comida, a religião e os costumes fossem encontrados de forma idêntica em todas as latitudes. Ora, para uma população de mais de 1 bilhão de crentes, o Islã terá tantas diferenças quanto podem ser encontradas entre um umbandista e um mórmon no âmbito das suas práticas cristãs, sua comida, seus valores, seus costumes e até sua vestimenta.

O Irã fez uma revolução popular para defender seus valores e suas riquezas. Alguém acredita mesmo que americanizar um país, trazendo prostituição, drogas, casinos, metanfetamina, corrupção desenfreada, submissão, etc. significa melhorar a democracia e os direitos individuais dos seus cidadãos? Até a revolução islâmica, o Irã era capacho dos Estados Unidos, e seu líder – o Xá Reza Pahlevi – foi colocado no poder por um golpe de estado patrocinado pelos americanos. Este servia como mero despachante dos interesses ocidentais para o petróleo persa, um agente bem pago da CIA. Assim, antes de debater as questões de grupos específicos, como mulheres e gays, é fundamental entender a importância de defender os valores de um país e perceber o quanto o sul global serve de quintal para os americanos, que vendem sua música ruim, sua comida de baixa qualidade e seus valores capitalistas para nós de forma livre e acrítica. “Sim, mas vejam a liberdade de gays e trans em Israel. Há notícia de alguma parada gay na Palestina ou no Irã?”

Pois eu pergunto: desde quando a existência de paradas gays significa respeito aos homossexuais? Inclusive, muitos gays criticam esse tipo de exposição, basta olhar o que dizem muitas das lideranças dos movimentos LGBT sobre o estereótipo de gay usado nessas paradas. Parada gay em Israel é propaganda imperialista, o famoso “pinkwashing“, e serve para fingir uma pretensa liberalidade ocidental. Só tolos embarcam nessa canoa. Por trás disso está o controle do petróleo, o domínio geopolítico, as ogivas nucleares de Israel e a penetração cultural. E como são tratadas as mulheres em Israel? Bem, depende da cor. Em Israel respira-se arbítrio e racismo. Cerca de 130.000 etíopes, a maioria de judeus, moram em Israel. Conforme o Haaretz, médicos que injetaram anticonceptivos injetáveis em negras etíopes que migraram para Israel alegaram que “pessoas que dão à luz com frequência sofrem”. Mesmo que fosse possível que os médicos tivessem boas intenções (o que é altamente improvável) ao injetarem contraceptivos à força, não há justificativa alguma para privar as mulheres da soberania sobre suas próprias escolhas reprodutivas. Ou seja: o respeito às mulheres vai depender da sua cor, da sua origem e vai sempre estar atrelado aos interesses do etnoestado sionista. O mesmo tipo de tratamento ocorre desde 1948 com a discriminação dos judeus “mizrahim”, vindos do mundo árabe.

É evidente que o Irã não é um exemplo de democracia vibrante. É mais do que claro que uma revolução nacionalista como a que aconteceu em 1979 no Irã deixaria muitas feridas no tecido social e muitas questões sobre os valores e direitos individuais sem resposta, em especial no que diz respeito às mulheres, gays, etc. Entretanto, esse é o preço da liberdade e da autonomia. O Irã não passava de um entreposto comercial dos interesses do ocidente até meados do século passado, da mesma forma como a China sempre o foi durante todo o século XIX até a revolução de Mao em 1949. Depois de um processo revolucionário, com a nacionalização das empresas petrolíferas e um mergulho nos valores da Pérsia, haveria muitas arestas a serem aparadas. Entretanto, essas dificuldades – em especial no que tange as minorias e os costumes – são usados até hoje como instrumento de contra-revolução, querendo nos fazer crer que a vida antes da revolução era muito melhor para as mulheres, os gays, etc. Pergunte aos gays, às mulheres e às crianças palestinas como é viver sob o jugo sionista e esta será a melhor resposta.

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Tensão e guerra

Escrevo estas notas enquanto o céu de Talabib se ilumina com as bombas que chegam do Irã. Era de se esperar que a República Islâmica do Irã, mais cedo ou mais tarde, iria fazer a sua necessária retaliação aos ataques sionistas. Entretanto, sabemos bem que a agressividade de Israel é a maior demonstração de sua fragilidade. Tanto no plano internacional quanto interno, o país está em frangalhos. É impossível esconder hoje, como foi feito durante quase oito décadas, as atrocidades e os crimes cometidos contra a população da Palestina.

A operação de 7 de outubro destruiu o projeto sionista de uma forma irrecuperável. Não há mais como sustentar a ideia racista e supremacista que se constitui na estrutura central de Israel, sua espinha dorsal. O genocídio, as matanças de crianças, a diretiva Hannibal, o bloqueio de ajuda, a destruição dos hospitais, a mortandade de 10% da população, em sua maioria mulheres e crianças, as torturas denunciadas nos calabouços israelenses, a morte de jornalistas, médicos, enfermeiras e toda a podridão do apartheid foram jogadas nas telas de TVs e celulares do mundo todo. Ao contrário dos massacres cotidianos dos últimos 77 anos, agora a Internet expõe de forma crua o sofrimento do povo palestino e a perversão homicida da sociedade israelense. Não há mais como desver o que testemunhamos, e não há mais como Israel se tornar uma nação entre as nações. Israel é um cadáver que apodrece à vista de todos, mas enquanto o corpo não é enterrado, somos obrigados a ver o horror de sua decomposição, enquanto o mundo inteiro testemunha o horror e o racismo que imperam na sociedade israelense. Ficou claro que esse ataque israelense ao Irã foi puro desespero do Império em decadência. Fica evidente que Israel está morrendo, se desfazendo, e esse ataque revela um corpo em decomposição. Não há mais como sustentar Israel, uma aberração supremacista e genocida, um enclave europeu fascista encravado no Oriente Médio.

A meu ver, esse país não tem mais muitos anos de vida. É sintomático que 10% da população já tenha abandonado o país, voltando para seus lugares de origem, e por certo muitos mais vão trilhar esse caminho. Essa guerra provocada – com a desculpa do enriquecimento de urânio – é o sintoma do fim de Israel. Fica claro que está se comportando como a Argentina dos anos 80, entrando em colapso e nos estertores da ditadura militar, provocando uma guerra contra a Inglaterra para unificar o país em torno de uma ameaça externa. De nada adiantou; o regime caiu de podre.

Este é um sintoma inquestionável do fim de um projeto racista e colonial. É evidente que por trás das decisões agressivas de Israel existe a conivência ou a explícita cooperação americana, basta ver que os mísseis que atingiram Teerã partiram do Iraque, enclave imperialista no Crescente Fértil. A esperança de Israel é que os Estados Unidos mantenham a decisão de bancar o conflito, entrem na “guerra santa” e ajudem seu protegido.

Entretanto, isso não é certo, porque a situação interna dos americanos é caótica, com tropas nas ruas, motins, manifestações populares e um presidente fragilizado. Será difícil convencer a opinião pública americana a fazer sacrifícios e enviar tropas em nome de Israel. Principalmente agora, no momento em que o apoio a este país atingiu seus níveis mais baixos na história americana – sem falar do rechaço internacional. Alguém crê que mais uma vez veremos jovens americanos morrendo em uma guerra estúpida? Colocar os Estados Unidos em guerra contra um país distante, que não ameaçou diretamente os Estados Unidos, e com o risco de colocar o comércio de petróleo do mundo em colapso? Serão eles tolos o suficiente para produzir um novo Vietnã?

A situação é desesperadora para a velha ordem. Enquanto o mundo multipolar não se configura como a força hegemônica no planeta, viveremos a tensão, o medo e as guerras.

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Sonho

Meu sonho é estar vivo para ver a queda de Tel Aviv para reviver alegria que tive ao testemunhar a queda de Saigon.

Quem acha que o império romano desapareceria sem a queda de Roma, que o nazismo terminaria sem a queda de Berlim, que as monarquias absolutistas teriam um golpe fatal sem a queda da Bastilha e que o sionismo não vai ruir sem a queda de Tel Aviv, então é melhor acordar, porque a história do mundo necessita dessas destruições simbólicas para que seja possível a renovação e o progresso. E por “queda” não falo destruição, não falo de mortes ou catástrofes, mas do caráter revolucionário deste ato. Falo da saída dos sionistas desta terra, a exemplo do que ocorreu no Afeganistão quando os invasores ianques lotaram aviões para abandonar o país após o fracasso asso colonialista. Sim, eu desejo a expulsão de todos aqueles ligados ao sionismo maldito, a retomada do país pelos democratas e a construção de uma Palestina por todos aqueles que desejam uma nação multiétnica. Quero a entrada triunfal das forças Palestinas unidas, da mesma forma como entraram os bravos vietcongs na queda de Saigon, libertando o país de séculos de exploração.

Eu entendo todos aqueles que nutrem um desejo de paz. Durante décadas também sonhei com o entendimento, a conciliação, a paz e até distribuí pelas redes sociais imagens cafonas de crianças palestinas segurando a mão de crianças judias, sem me dar conta que não passavam de um estratagema pérfido criado para nos fazer acreditar que na região os embates eram produzidas por diferenças de fé. A idade me fez perceber que não há mais espaço para a ingenuidade. Os 70 anos de massacres contínuos de Israel sobre a população palestina nos mostram que não há – e nunca houve – qualquer disposição para negociação por parte dos sionistas, muito menos para o reconhecimento de uma pátria palestina autônoma, livre, independente e multiétnica nas bases da partilha da ONU. Portanto, a ideia de vitória da democracia e contra o apartheid sem a queda da capital e símbolo da presença sionista me parece uma ilusão.

Não há mais espaço para negociação; os sionistas estão pelo “tudo ou nada”. Por isso a opção pelo terror, por isso atacam a população civil da palestina, suas mulheres e crianças. Por isso também o bombardeio aos bairros densamente populosos do Líbano e o ataque a uma base russa na Síria; é puro desespero de causa, na tentativa de atrair os americanos para a guerra, nem que com isso o planeta venha a explodir. Entretanto, pela primeira vez nos últimos 80 anos, existe uma sinalização de paz no horizonte, e ela foi iniciada pelo levante palestino de 7 de outubro 2023 e pela consequente solidariedade mundial com sua causa. A história do futuro contará esse episódio como o dia que se iniciou a libertação da Palestina, assim como descrevem a vitória vermelha na segunda guerra mundial a partir da resistência ao cerco de Leningrado.

Não vejo nenhuma razão para perder a esperança. Eu achei que não veria nesta vida muitas coisas que acabei vendo, porque não veria a paz brotando no solo da Palestina? Há poucos meses Netanyahu estava jantando com o Rei Mohammad Bin Salman da Arábia Saudita, na tentativa de normalizar relações com seus desafetos históricos, estabelecendo negociações com países árabes e com isso relegando a causa dos palestinos ao absoluto esquecimento. Parecia o fim da Palestina Livre e do sonho de colocar um fim ao racismo pútrido e supremacista do sionismo. Pois em alguns poucos meses, graças à ofensiva genial das forças de resistência, o jogo virou. Os árabes se uniram contra os colonizadores, Tel Aviv pela primeira vez em 70 anos arde em chamas, o planeta inteiro se coloca ao lado do povo oprimido da Palestina e o exército de Israel se desmancha. Não há como ser pessimista diante de tantas notícias boas, depois de 70 anos de torturas, massacres, violências e mortes. Não será agora que perderei as esperanças e ninguém vai me tirar o direito de me manter otimista.

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Manifestações em Tel Aviv

Não podemos esquecer que os protestos em Tel Aviv, que na melhor das hipóteses poderiam derrubar Netanyahu, nada tem a ver com um repúdio da população israelense ao massacre em Gaza, nem com os assassinatos na Cisjordânia; sequer desejam buscar um entendimento com o Hamas e as outras forças da resistência Palestina. Não, são manifestações de descontentamento da franja mais fascista da população israelense com a questão dos reféns e as mortes que ocorreram, causadas pelos próprios ataques do exército de Israel à população civil de Gaza. Cerca de 61% dos israelenses não tem confiança na forma como o governo está atuando em Gaza, não confiam no seu primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ou sua habilidade em formar um novo governo em caso de eleições antecipadas. Estas pessoas, que agora protestam nas ruas de Tel Aviv para a soltura dos reféns, continuam com os mesmos jargões que caracterizaram por anos as manifestações da extrema direita sionista: cantam a plenos pulmões “Morte aos Árabes” entre outros cânticos racistas e supremacistas. A sociedade israelense tornou-se doente; mesmo que estudos projetem que 260 mil pessoas podem morrer nos próximos meses se a guerra continuar, isso não mobiliza ou cria empatia na população de Israel. e as últimas pesquisas apontaram que 98% dos entrevistados acreditam que a matança deve se intensificar, e que nenhum estado palestino jamais deverá ser criado. Porém, é forçoso ter em mente que, diante de outras figuras da extrema direita israelense, Netanyahu é considerado “moderado“. Outras figuras conhecidas da política israelense têm palavras muito mais odiosas – como Itamar Ben-Gvir, que defendeu apaixonadamente os torturadores – convocando a população a tratar como heróis os acusados de abuso nas masmorras israelenses ou pedindo, como a embaixadora americana Linda Thomas-Greenfield, a “solução final” para os palestinos que insistem em lutar por sua terra.

De nossa parte cabe intensificar os boicotes de todos os produtos israelenses, em especial o comércio de armas – que são testadas em crianças palestinas e em civis desarmados. Nada que venha de Israel deve ser consumido. O boicote contra Israel deverá se cada vez mais intenso, brutal, tanto em produtos quanto no terreno da arte, cultura, literatura e tecnologia. O bloqueio acadêmico – com o encerramento de qualquer intercâmbio com universidades sionistas – deverá se aprofundar ainda mais, isolando qualquer contato com o sistema de ensino sionista. Israel é um país terrorista, que está levando a cabo um “genocídio televisado”, e deve ser isolado e conduzido à condição de pária internacional. Nesta semana o Brasil interrompeu a compra de material bélico de Israel, diante do protesto de inúmeras organizações e instituições humanitárias e de apoio ao povo palestino, mas esta medida ainda é frágil e limitada. É necessário lutar pelo rompimento total das relações entre os países. Sabemos da importância do Brasil como exemplo aos países do sul global, e o exemplo de ruptura levaria a um efeito em cascata, que seria um golpe decisivo para o enfraquecimento de Israel. Se isso ocorrer, o estrangulamento financeiro que se seguirá levará ao colapso – que alguns analistas consideram iminente – da economia do país, e com isso se tornará inevitável a insurgência popular. Também é esperado que aumentem os protestos nos campi das universidades americanas – em número de universidade e de participantes – forçando que, inobstante quem seja o futuro presidente, tenha uma atitude mais comedida no apoio aos fascistas israelenses.

É forçoso entender que a crise no Oriente Médio não é algo novo ou ocorreu de forma inesperada. Ela se dá no momento de profunda fragilidade do imperialismo e como parte integrante da grande crise do capitalismo internacional. Portanto, não é adequado acreditar que este assunto pertence ao Oriente Médio ou mesmo que se trata de uma questão entre os colonos israelenses e os palestinos que há 7 décadas lutam por sua terra. Não; a palestina é uma ferida aberta do imperialismo. A luta dos Estados Unidos para manter de pé sua colônia na Terra Santa é um esforço para garantir uma sobrevida ao imperialismo. Combater Israel e suas atrocidades, o colonialismo e o apartheid, a opressão e as torturas são formas de ajudar a construir um mundo multipolar, com mais oportunidade para os países emergentes como o Brasil. Portanto, é nossa tarefa colaborar para que este conflito termine com a vitória da paz e da autonomia dos povos, e uma palestina plural, livre e democrática.

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