Arquivo do mês: dezembro 2016

Liberdade, liberdade

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A liberdade sexual das mulheres incomoda – e muito – no sexo e no parto. Incomoda porque TODA a estrutura patriarcal se assenta sobre a dominação e o controle da capacidade reprodutiva. Portanto, não se trata apenas de um sentimento subjetivo de posse sobre o corpo do outro (esse as mulheres também possuem) mas um sentimento cultural, esparso e arraigado de que o corpo da mulher precisa ser controlado para manter a ordem social. Por essa razão a liberdade sexual das mulheres nos incomoda a todos – homens e mulheres – porque desafia o paradigma atual que nos oferece alguma paz momentânea nesta zona de conforto patriarcal.

Quem assistiu o documentário sobre Amanda Knox no Netflix percebeu que, na perspectiva da opinião pública italiana, seu pior crime não foi ser suspeita de um crime bárbaro que vitimou uma menina brutalmente assassinada. Seu crime se tornou imperdoável quando descobriram seu diário na prisão. Nas páginas do diário ela assumia já ter se relacionado com 7 meninos durante toda sua vida de 20 anos. Isso fez a reviravolta da opinião pública. O roubo do diário, e estas revelações, criaram a ideia de uma puta, uma devassa que matou sua colega que se “negou a participar de uma orgia“. O crime de Amanda foi assumir publicamente sua liberdade sexual em uma comunidade conservadora e puritana.

A liberdade sexual de uma mulher abala as bases do patriarcado.

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O Ódio ao Parto Domiciliar Planejado

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O parto domiciliar causa tanto ódio, raiva e produz tantos ataques da corporação médica mesmo sendo absolutamente desimportante do ponto de vista estatístico. Ele representa bem menos de 1% dos partos. Por que tanta raiva?

Se a segurança das pacientes fosse o temor, por que se admitem cesarianas a rodo quando sabemos cientificamente que elas multiplicam o risco de morte materna e neonatal, além de elevar exponencialmente os riscos de danos a ambos e produzir custos estratosféricos?

Se a segurança fosse a preocupação por que os hospitais privados não são obrigados a ter anestesistas de plantão exclusivos para a obstetrícia para dar conta de emergências obstétricas? A razão é que não se trata de oferecer segurança, mas de manter “controle”. Em sua casa a mulher está no comando e a corporação patriarcal não pode lhe lançar os olhos. Não se trata de “cuidar melhor”, mas de controlar esta mulher em seu momento mais íntimo. A medicina é um braço do patriarcado, ocupada em conservar e disseminar seus pressupostos. Ela é em essência, conservadora e em oposição aos movimentos que lutam pela liberdade da mulher.

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Icterícia

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Vejam bem, existe uma abordagem da icterícia neonatorum (o amarelão dos bebês ao nascer) por parte da “medicina evolucionista” que é muito criativa. Por volta de 70% dos recém nascidos nasce com algum nível de icterícia. Isso sempre foi interpretado como uma incompetência hepática do recém nascido que se resolve com luz ou apenas aguardar o tempo. Uma versão grave – e extremamente rara – desse transtorno passageiro é o “kernicterus“, um aumento muito grande com impregnação cerebral de bilirrubina. Em 30 anos atendendo partos nunca vi um caso assim.

Mas a novidade da interpretação darwinista é que talvez o aumento de bilirrubina seja benéfico e faz parte da adaptação do organismo à hiperoxigenação que ocorre depois do parto.

Os fetos vivem em um ambiente pobre em oxigênio. Não é à toa que nascem azulados, arroxeados; essa é sua cor natural no útero. No momento do nascimento e com o surgimento abrupto da respiração pulmonar o corpo do bebê é inundado com altas quantidades de oxigênio. O corpo todo se “oxida”, o que pode causar problemas, em especial para os receptores cerebrais. Para contrabalançar essa entrada abrupta de O2 no corpo o organismo lança mão de um potente antioxidante. Qual?

Isso mesmo, a bilirrubina. Ela se combina com o oxigênio absorvido e freia seus efeitos. Portanto, ao invés de entender como um “erro metabólico passageiro potencialmente perigoso” talvez seja mais útil olhar para a icterícia causada pela concentração de bilirrubina como um evento ADAPTATIVO milenarmente construído pelo nosso corpo para se adaptar ao ambiente aerado.

“O mundo não se descortina diferente procurando novas paisagens, mas construindo novos olhares”. (Marcel Proust)

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Sorrisos

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Existem dificuldades inquestionáveis em toda a tentativa de modular nossa ação e nossa fala em função do outro. Como será recebida a mensagem? Por mais que a intenção seja clara em nossa mente a chegada aos olhos e ouvidos alheios dependerá do meio (palavras, gestos, entonação, local, circunstância, etc.) e do universo de signos que dão sentido a quem as escuta e vê.

Por isso mesmo, eu entendo o quanto deve ser difícil para uma mulher controlar o conta-gotas da simpatia para não errar o ponto e oferecer aos outros uma falsa sensação de abertura. Enganam-se, portanto, os que pensam que ao homem cabe o ônus da iniciativa. Não, ela é sempre feminina e, via de regra, não verbal. E é nesse gestual intrincado e sofisticado, elaborado em milhões de anos de aprimoramento, que um sorriso simpático dirigido a uma alma sequiosa de atenção e carinho pode ser confundido com um convite.

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Fetiches

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Fiquei pensando sobre os fetiches e me veio à mente a pergunta é: não temos um preconceito irracional sobre a expressão dos fetiches, desconsiderando sua natureza e aplicando sobre eles valores morais? Poderia um homem que expressa seus fetiches aparentemente bizarros – fazer sexo vestido de mulher, vestido de bebê ou caubói, em lugares exóticos, com múltiplas(os) parceiras(os), etc. – ser criticado, humilhado e censurado pelas sua “escolhas”, a forma como recobre de realidade suas fantasias?

A questão, entretanto é mais complexa. Os fetiches e as fantasias não são escolhas racionais e livres; são emanações do inconsciente e vinculadas aos estratos mais profundos do psiquismo humano. Nenhum sujeito escolhe racionalmente (apesar da expressão do desejo ser racional) ser espancado durante o sexo como forma de gozo, mas estas atitudes expressam significados muito profundos e da ordem do inconsciente.

Todavia, não seria o romantismo uma manifestação fetichista socialmente aceita e valorizada? Essa foi a ideia que algumas amigas mulheres me trouxeram e que eu achei muito interessantes. O romantismo de homens e mulheres é tão fetichista quanto uma orgia ou uma fantasia “bizarra”. O romantismo pode fazer diferença para o(s) parceiro(s), pois que são convidados a participar ou ser cúmplices dele; todavia ele é igual a qualquer outra fantasia para o sujeito que a produz.

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Desejos, Fantasias e Vibradores

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Sobre desejos, fantasias e vibradores…

A propósito de um debate sobre uso de vibradores por mulheres casadas – ou com parceiros fixos – eu lembrei de uma frase que ele tratava de algumas particularidades da sexualidade feminina: “o pênis é uma parte do corpo feminino que fica pendurada nos homens“. Mas, se a discussão é sobre a fantasia feminina e o prazer que dela se produz, o auto erotismo, a luxúria solitária, o que haveria a debater? Um homem pode até esconder um vibrador, mas pode amarrar os dedos, queimar o travesseiro, aplicar um torniquete nas fantasias? Não creio…

Mas se o debate for sobre a representatividade do falo no vibrador… bem, essa seria uma linda discussão.

Tenho a ideia de que a fantasia feminina é insuperável. Em “Eyes Wide Shut”, derradeiro filme de Stanley Kubrick (2001, uma Odisseia no Espaço) ele explora isso, baseado na obra Traumnovelle de Schnitzler. No filme a fantasia erótica de Alice (Nicole Kidman) aparece em todas as suas nuances, detalhes e riquezas. A descrição pormenorizada ao marido Bill do não-encontro com o capitão do navio deixou o protagonista, Dr Bill (Tom Cruise), absolutamente abalado. Não se tratava de um ciúme materializado por um ato de infidelidade; era a fantasia inalcançável, impossível de controlar ou proibir; era a riqueza do erotismo feminino, o espaço infinito no qual suas mãos jamais poderiam controlar ou alcançar, constituindo-se no fato que que mais lhe torturava. Esse relato sôfrego, é interrompido bruscamente pelo telefonema de uma cliente, e ali se inicia sua busca, uma aventura angustiante através de um percurso masculino.

O que ele encontrou foi um universo gélido, tétrico e insípido criado por mulheres nuas e sem rosto. Sobrava-lhes corpo, matéria; faltava a elas alma e desejo.

Quanto a estes fantasmas femininos, que os deixemos livres.

(essa foto é do momento em que Alice descreve suas fantasias ao marido, deixando-o atônito e em pânico)

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Lava Jato e os Limites da Lei

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Com todo o respeito, e com toda a pipoca de quem assiste a bandidagem digladiar, acabar com os crimes da Lava Jato é uma obrigação republicana. A pressão inadequada sobre juízes e promotores – como está no texto – é OUTRO erro, mas surgiu para retaliar os desmandos de um juiz insano e irresponsável, que com seu messianismo está destruindo a economia do país e criando desconfiança do cidadão no sistema Judiciário.

Como você justificaria, dentro do estado democrático do direito, a barbárie da condução coercitiva de Lula (as vésperas de ser nomeado ministro), divulgação das conversas de uma presidente – de forma ILEGAL – perseguição a um partido e vistas grossas ao seu (o PSDB), prisões preventivas ilegais, tortura psicológica de presos, delações sob constrangimento, grampos telefônicos de advogados de Lula (!!!!) e tantos outros delitos menores que esse juiz protagonizou?

Como imaginar que esse assalto ao direito e tal insulto à democracia não recebesse uma resposta à altura dos que estão ameaçados mas também dos que lutam pelos valores máximos de um estado que preza a justiça?

Estamos de acordo que os abusos estão em ambos os lados, operadores do direito e legislativo, mas veja bem: quem poderia suportar a tirania de um juiz sem reagir? Claro que o resultado seria uma série de artimanhas jurídicas para proteger o legislativo, cheio de corruptos e aproveitadores, mas tal reação só ocorreu porque o Sr Moro ultrapassou TODAS as barreiras da decência e da legalidade. Tivesse ele colocado limites em seu messianismo e controle sobre sua vaidade pessoal e não tivesse buscado com tanto afã uma vingança partidária e nada disso seria necessário. Digo isso do alto da poltrona e da pipoca: só assisto consternado legislativo e judiciário batendo boca como lavadeiras, onde todos tem o rabo preso.

“Mais perigoso, porém, que o uso estratégico da corrupção, é o tratamento dispensado ao chamado “combate à corrupção”. Por mais que possa parecer absurdo ou até mesmo contraditório, esta expressão vem se revelando uma seríssima ameaça aos direitos fundamentais, tendo se convertido em um verdadeiro Cavalo de Tróia do Estado de Direito moderno. É de todo óbvio que a corrupção destrói a confiança que torna possível o sistema representativo e solapa as bases do Estado Democrático de Direito, na medida em que subtrai os meios financeiros indispensáveis à realização dos direitos fundamentais. Contudo, a gravidade do ato de corrupção – à semelhança de outros comportamentos odiosos, que merecem o mais veemente repúdio da sociedade – não pode, jamais, justificar o desrespeito ao Direito e, sobretudo, o amesquinhamento de direitos fundamentais.” (Juiz Federal Silvio Rocha)

O golpe legislativo e a mordaça aos juízes e promotores se tornou natural. Como foi dito, as “lavadeiras” estão se xingando, mas o que se poderia esperar de resposta quando um juiz vira “justiceiro” e destrói as barreiras da ética e da lei em nome de um salvacionismo medieval?

Estamos de acordo que as manobras para amordaçar o MP e o judiciário foram feitas em causa própria, mas precisamos entender a origem da insegurança desses sujeitos. Quando o judiciário não é mais confiável sobrevém a destruição do Estado.

Os processos do Renan não estão “engavetados” como foi dito por alguns, querendo com isso justificar os desmandos da Lava Jato. Estes processos estão ativos e começaram a ser julgados. Nada foi descartado. Contudo, isso não significa que eu confie no STF, avaliador do golpe junto com esse parlamento que agora mostra sua verdadeira face. Foi golpe… e foi para barrar a Lava Jato.

Esse é o drama da República: achar que o combate à corrupção vale tudo – fins justificando meios – e com isso tendo como possível consequência o desmantelamento do Estado.

Eu de minha parte acredito ser coerente deplorar tanto as manobras dos parlamentares que objetivam livrar-se de apuros com a justiça quanto os desmandos de um juiz demagógico, partidário e megalomaníaco.

Por que não uma Lava Jato justa e dentro dos limites da lei?

Moro é um megalomaníaco que foi desmascarado pelos próprios colegas do judiciário. Ninguém pode aceitar que o desrespeito às leis e à constituição possam ser benéficos para um país. Repetindo: Moro estaria PRESO se tivesse feito o que fez na Europa ou nos Estados Unidos. Seus crimes são graves e não é preciso citá-los de novo, mas grampear telefones de advogados e colocar escutas em celas já seria suficiente para encarcerá-lo. Seu messianismo embasado no ódio contra as esquerdas (nenhum político do partido que seu pai fundou é perseguido) demonstram a visão parcial de um sujeito desonesto e vil. A corrupção não é um mal que pode ser combatido com ilegalidades, falsidades e violência. Ela é um mal sistêmico que só pode ser extirpado com uma reforma política profunda que inclua barreiras ao financiamento privado de campanhas e o loteamento dos governos.

Não são as pessoas corruptas o problema, e essa é a principal TOLICE ingênua na qual incorrem os que querem prender corruptos e saciar sua sede de vingança. A corrupção está entranhada no proceder político pois sem ela o poder não se sustenta. O mensalão que existiu em TODOS OS GOVERNOS é a prova cabal da injustiça de culpar partidos em detrimento de outros, mas o mensalão sempre foi uma forma de sobrevivência dos governos. Moro é a CONTINUIDADE da corrupção pois sua luta é para destruir um partido e é um líder, e seu fracasso em atingir Lula já seria suficiente para ser esquecido pela história. Seu salvacionismo nacional canhestro levará o Brasil à ruína com a quebra das empresas, e isso talvez seja o mais importante de sua tarefa macabra: entregar um país quebrado nas mãos dos seus patrões americanos. É isso mesmo que queremos? Um país destruído e apenas trocando moscas? Moro é o que de pior existe no terreno da Justiça. Quando ela apodrece por corrupção (sim, seu trabalho contra um partido é um ato corrupto) sobrevém a barbárie da destruição do Estado.

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Antropologia do Nascimento

Homo erectus man. Model of a male Homo erectus, an early type of human. Homo erectus, or erect man, lived between roughly 1.8-0.3 million years ago and originated in Africa. They were the first humans to leave Africa, reaching Asia and possibly southern Europe. H. erectus had prominent brow ridges and a projecting face, and some specimens had brain volumes of over a litre. They stood upright, being a bit shorter than modern humans, but more heavily-built. They were nomadic hunters and gatherers. This model, from an exhibition by Nordstar, was photographed at the Naturkundemuseum in Stuttgart, Germany.

A tese sobre a inadequação evolutiva das cabeças fetais é do Michel Odent, mas não tem nada a ver com bebês grandes ou comorbidades, ou mesmo com mães diabéticas que engravidam. Ela tem o ver com os limites do crescimento encefálico e o fim da barreira que se criou ao longo dos milênios para obstaculizar seu aumento. É simples de entender. A gestação humana foi abreviada exatamente por causa do crescimento cerebral. Por isso a exterogestação e o crescimento fetal fora do útero. Essa “fetação” se tornou obrigatória pela pequenez pélvica (relativa) e a duplicação do volume craniano com o surgimento do gênero “homo”. Assim sendo, uma criança que tivesse cérebro maior teria que nascer antes da maturidade neurológica, sob pena de entalar e morrer. Isso criou a altricialidade – dependência extremada do outro – e a humanidade desejosa e sofredora como a conhecemos.

Todavia, se a “penalidade” (a desproporção e a morte) para cabeças maiores for retirada através do recurso cirúrgico – a cesariana – os genes ligados a esta característica podem passar às gerações seguintes e imprimir um novo padrão, tornando paulatinamente mais difícil, doloroso e até impossível o parto normal.

Os animais artificialmente construídos geneticamente como os buldogues ingleses já sofrem dessa desproporção, tornando a cesariana um recurso muito necessário. Este é um caso em que a troca genética não natural apressou o processo, mas que na espécie humana poderia ocorrer em um futuro não muito distante.

Isso não tem nada a ver com bebês gigantes por alimentação inadequada. Em uma população de veganos com IMC padrão, mas que usa cesariana como recurso salvador, isso também tenderia a ocorrer, mas não se trata de condenar a operação de extração fetal nesses casos, apenas uma ponderação sobre o destino sombrio e/ou incerto do parto humano.

A questão é que nós interrompemos o curso natural, o caminho da natureza. Sabe porque existe diabete tipo I no mundo? Por causa da insulina!!! Se não houvesse insulina a maioria dos diabéticos morreria ainda criança, antes de ser capaz de se reproduzir, e assim não passaria adiante seus genes. A insulinoterapia permite uma vida praticamente normal para estas pessoas e com isso são competentes para atingir a maturidade sexual e manter os genes da diabete no pool genético da humanidade.

Com a cesariana a mesma coisa. Imagine um feto que tenha genes para nascer mais tarde, uma gestação mais prolongada, e com isso desenvolver uma cabeça ainda maior. Se isso acontecesse há 100 anos morreria, mas agora sobrevive. Um cabeçudo nascido de uma gestação de 43 ou 44 semanas. Ele tem genes mutantes que deixam sua cabeça maior no útero, mas não é “penalizado” pelas leis de adaptação. Com isso poderá transmitir essa tendência aos seus descendentes, da mesma forma como o foi com a bipedalidade há 5 milhões de anos passados.

Mais uma vez, não se trata de condenar os recursos salvadores da medicina. Salvamos diabéticos de uma morte precoce e os fetos com desproporção ainda mais precocemente. Mas é importante saber o preço que pagamos. No diabete é bem claro, mas os “cabeçudos” podem ser o fim do parto como nós o conhecemos dentro de alguns milhares de anos.

Resta repetir a pergunta: o que será da humanidade quando nenhuma criança mais nascer do esforço de sua mãe?

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Juízo Final

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Creio que o dia do julgamento final de cada um deve ser marcado pelo assombro. De um lado a surpresa com as culpas injustas e inúteis que carregamos e de outro o susto diante do mal que causamos sem jamais termos consciência de nossa participação.

Eu penso muito no fato de que vou encontrar no dia do meu julgamento muitas pessoas que me odiaram durante a vida. Imagino que elas estarão lá, e esse encontro é tão duro e pesado quanto inevitável. Porém é possível que algumas delas sejam boas e caridosas o suficiente para terem me perdoado as falhas e erros. Talvez elas estejam lá para me receber de forma carinhosa e bondosa. Se acredito que algumas pessoas que me odeiam seriam recebidas carinhosamente por mim, por que o contrário não poderia ser possível?

Por outro lado, e essa é a parte que me apavora, é provável encontrar pessoas totalmente desconhecidas. Homens e mulheres que foram prejudicados por algo que deixei de fazer, palavras que eu não disse, sujeitos a quem eu ofendi sem me dar conta ou mulheres que se sentiram ofendidas pelas minhas palavras sem que eu nunca tenha tomado conhecimento de sua dor ou tristeza.

Esses encontros talvez sejam a maior surpresa que alguém pode enfrentar logo após partir. Se alguns deles podem ser um alívio às culpas carregadas durante toda uma vida, outros podem ser surpresas terríveis e difíceis de suportar.

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Aborto Livre

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O STF declara que, em função das iniciativas internacionais das quais o Brasil é signatário, o abortamento até 12 semanas NÃO pode ser considerado crime, pois tal postura ou normativa legal agride o princípio da autonomia. Essa é uma decisão que precisa ser comemorada e sustentada, pois outras instâncias vão tentar destruí-la.

Portanto, o aborto… PODE e DEVE ser debatido em todos os setores da sociedade, em especial na esfera de defesa da autonomia da mulher. Entretanto, por conhecer as características dos movimentos de outros países – em especial dos Estados Unidos – a conjunção das temáticas de aborto descriminalizado e livre e a humanização do Nascimento em um nível institucional tem o potencial de DIVIDIR o movimento. Muitas ativistas da Humanização são contrárias ao aborto – por questões religiosas ou morais – enquanto muitas ativistas pelo aborto não aceitam os postulados da Humanização ou da amamentação.

Se o aborto se tornar uma “pedra fundamental” do movimento de humanização do parto e Nascimento isso pode criar uma dissidência desnecessária e potencialmente destrutiva. Nos Estados Unidos esses assuntos são tratados separadamente exatamente para não criar um obstáculo à união dos ativistas. Pode ser que minha opinião, baseada em minha experiência pessoal, esteja equivocada e que devemos unificar essas lutas, mas ainda não vejo argumentos suficientemente consistentes para me demover da ideia de deixar esses temas separados, para o bem de AMBOS movimentos.

Minha postura sobre isso é clara, cristalina e não dogmática. Posso conversar sobre essas estratégias tomando um cafezinho ou escrevendo um texto, sem problemas. Posso me render a bons argumentos contrários às minhas ideias, mas ainda não ouvi nenhum que seja bom o suficiente. Pessoalmente eu apoio a ambas lutas, mas ainda acho que elas correm melhor separadas, pelas características especiais do aborto e suas conotações morais e religiosas. Sempre haverá intolerância em pautas que despertam tanta paixão.

Eu estou acostumado com isso, por esta razão não transformo esses debates em questões pessoais. A posição do movimento de humanização não precisa ser a minha. Eu apenas falo em meu nome, e como participante do movimento digo abertamente minhas ideias, que jamais podem ser entendidas como posições institucionais, que demandam um debate democrático de seus membros.

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