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Cristãos e a opressão

Dos rios dizemos violentos mas não dizemos violentas às margens que os oprimem“. Brecht

Esta é a face mais triste das religiões: transformar os fiéis em cordeiros manipuláveis pela mídia e pelo capital, fazer com que acreditem que a resistência à opressão não é legítima ou digna, tornando cada cidadão em um servo robotizado carregando um crucifixo para que ele mesmo seja, por fim, pendurado. Talvez seja um pagamento justo para sua alienação. Não esqueçam que este Cristo a quem tanto adoram era um revolucionário que deu a vida pela libertação de seu povo, e não um babaca conformista que baixava a cabeça para os poderosos.

Seja cristão e combata a opressão!!! O cristianismo, via de regra, acaba com o senso crítico, a visão política e a cidadania em nome de uma teleologia de direita, alienante, aristocrática e sem uma visão coletiva. Essa é a parte mais triste das religiões: imaginar que a luta pelos direitos deve estar subjugada a uma falsa visão pacífica de Cristo, quando em verdade sua vida foi uma luta constante contra a opressão.

“Não se faz uma revolução com tapinhas nas costas”, como dizia Sheila Kitzinger. Se algumas pioneiras não fossem suficientemente ousadas, quebrassem padrões morais e estéticos e botassem “pra quebrar” as mulheres estariam ainda hoje indo à missa, bordando e conversando sobre receitas.

Alguém aí acha que as conquistas dos trabalhadores surgiram através de abaixo assinados ou conversas amigáveis com os patrões? Claro que não. Direito não se ganha, se conquista. Se tiver que ser incendiando carro que seja. Trabalhadores bem comportados vão para o céu; os corajosos vão à luta!

Apenas para lembrar a necessidade de lutar:

Não precisa lei trabalhista, ora, basta negociar. No circo romano onde estava escrito que era o leão que comia as pessoas? Podia ser o contrário, por que não? Havia espaço para livre negociação, e se esta não ocorria era por culpa do radicalismo das pessoas e não pela força superior ou ferocidade dos felinos“.

A propósito, uma realidade chocante: recente pesquisa nos Estados Unidos (!!) revela que 43% dos entrevistados tem uma visão positiva do socialismo e apenas 32% do capitalismo. É aqui, no centro mundial da ideologia capitalista, onde a queda do sistema será mais ruidosa.

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Ode ao parto

 

Nós, os humanistas do nascimento, não temos interesse em tratar o nascimento fisiológico, também chamado de “parto normal” (mas que, infelizmente não se expressa de forma “normal” no mundo contemporâneo), como se fosse um bem, uma commodity a ser adquirida com qualidades acima das concorrentes. A humanização do nascimento não se propõe a isso, e quem preferir entender nossas palavras como uma “ode ao parto natural” então as leu de forma equivocada. O que pretendemos é lançar um contraponto à alienação que a cultura contemporânea propõe pela intromissão excessiva no fenômeno do nascimento. A evidência de hospitais brasileiros com quase 100% de cesarianas está ACIMA de qualquer discussão, mas curiosamente a própria sociedade (com exceção dos poucos humanistas) não os acusa de propor uma “ode às cesarianas”, esta sim, sem dúvida.  

Parece que escutamos as palavras proféticas de Bertold Brecht: “Dos rios dizemos violentos, mas não chamamos violentas as margens que o oprimem“. Dos humanistas “temos medo”, com sua “ode ao parto natural”, mas não temos pânico de ver uma cultura endeusar a tecnologia e desprezar a capacidade feminina de gestar e parir com segurança. A destruição sistemática de uma capacidade humana como o parir, e o desprezo pelas milenares habilidades de cuidar do parto humano, não causam medo em muitas pessoas, e a invasão tecnológica no parto, sem que ela ofereça melhorias na atenção, é saudada com o nome de “progresso”. Por favor, permitam que nos escandalizemos com isso. Escutem o que temos a dizer, antes de nos condenar por um ingênuo conceito de “fanatismo”.

Por outro lado, percebemos sempre, e de forma padronizada, o mesmo discurso, em qualquer lugar: “Eu fiz cesariana, não sou menos mãe por isso, e se não a tivesse feito teríamos morrido, eu e meu bebê”. Mesmo reconhecendo que essa frase pode estar correta (existem cesarianas que são realmente salvadoras) a sua multiplicação nas inúmeras vozes femininas, para muito além do que seria de se esperar, apenas nos demonstra que ela é usada para camuflar uma verdade que se esconde por detrás de tais palavras. Em verdade, poucas dessas cirurgias seriam justificáveis à luz da medicina baseada em evidências, mas quase todas as mulheres se agarram a esta explicação sobre a necessidade de suas cesarianas (muitas vezes cômica) como quem se agarra a um pedaço de madeira, depois do naufrágio. A explicação do médico cesarista parece, muitas vezes, o suporte para manter a autoestima quando ela parece querer afundar. Por isso é que eu acho compreensível a dor que se expressa com certa crueza nas palavras de mulheres que fizeram cesarianas e que suspeitam, mesmo que secretamente, que não havia, para elas, uma real necessidade.  

Para terminar, quero deixar claro que “retrógrado” é o discurso alienante de não discutir a invasão de corpos e mentes por uma ideologia que considera as mulheres inferiores, e seus corpos defectivos, anômalos e imperfeitos. Retrógrado é olhar para as cesarianas desmedidas, a mortalidade materna aumentada, a violência institucional praticada contra as gestantes e ficar em silêncio, apenas por uma promessa inconsciente de calar-se diante da violência que também sofreu, mas que teme confessar.  

Para melhorar o nascimento é necessário modificar o mundo ao redor, e o primeiro lugar a fazer isso é o interior de nossas mentes, pois que o nascimento, em verdade, é algo que ocorre “entre as orelhas”.

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