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Jogados à direita

O grande número de homens brancos e cis que foram jogados para os braços da direita por serem tratados diariamente como inimigos, “machistas“, “esquerdomachos“, “mascus” e todo tipo de agressão (bastando para isso discordar do catecismo fechado das lideres) mostra porque a esquerda identitária se tornou um ambiente tóxico para os homens que gostariam de uma sociedade com justiça e equidade de gênero.

Por mais que a mídia transforme o homem contemporâneo como um predador – muitas vezes com justiça – alguns homens querem equidade de gênero e justiça social e desejam uma sociedade mais igual para todos. Ou deveríamos achar que só os negros queriam o fim da escravidão? Ou podemos presumir que apenas as mulheres querem o fim do patriarcado, um modelo social em que 90% dos assassinados são homens e 80% dos suicídios são também entre os eles?

Eu pergunto: Que tipo de homem não deseja mudar uma sociedade onde mulheres são vítimas de feminicídio cada duas horas, onde uma dessas vítimas pode ser a sua mãe, sua filha ou a sua irmã?

Que tipo de sexismo absurdo é esse que imagina que só mulheres querem uma sociedade mais equilibrada? As mulheres com quem convivo não lutam por uma sociedade boa para si mesmas; pelo que elas falam, essa luta só faz sentido se for bom para todos (ou todxs).

Claro que existe um problema sério de machismo e racismo na sociedade, mas quando o “branco“, o “cis” e o “homem” são vistos e tratados como inimigos – e não os machistas, os racistas e os homofóbicos – a decisão óbvia, natural e JUSTA que muitos deles tomam é procurar um lado na disputa de ideias que não os trate como inimigos e não os veja com desprezo.

Sério que alguém acha que essa sociedade é boa para os homens? Por que então se matam uns aos outros? Por que arrancam a própria vida às pencas? Por são os mais afetados pela depressão? Por que são os que mais se destroem pelo álcool, pela cocaína, pela maconha, pelo cigarro? Se é tão bom ser homem porque tantos querem acabar com a dor que sentem, e que está obviamente ligada à sua condição masculina?

Sério que alguém enxerga o mundo como um lugar de prazer desmedido para os homens e um martírio sem fim para as mulheres? Exercitemos a empatia, se é que queremos mais homens entendendo o sofrimento e as dificuldades de ser mulher.

Por isso mesmo que estes homens – que geralmente são bons pais e excelentes amigos, apesar de ainda reproduzirem algo da herança preconceituosa que receberam – desistem de somar nesta luta quando percebem que serão vistos como eternos adversários.

O presidente do Brasil e seus filhos foram eleitos por serem machistas e racistas (e não apesar disso), mas ninguém teve coragem (ou muito poucos) de perguntar quais os erros cometidos pelos movimentos identitários nesse processo. Por que tanta gente de centro foi jogada para a direita mais abjeta?

Palestinos perceberam muito cedo esse dilema ao não desprezarem o auxílio valioso de judeus que se somaram à sua luta por uma Palestina livre. Entre os meus amigos não se permite nenhum ataque aos judeus ou ao judaísmo, mas apenas ao sionismo e sua ideologia de colonização, limpeza étnica e supremacia racial. Por isso os autores judeus por uma Palestina livre são tão celebrados entre os árabes – para não serem jogados no colo dos supremacistas.

Existem, por certo, mulheres machistas, e eu arrisco dizer que são a maioria nesse país – mas não na minha bolha de classe média. Entretanto, não acho justo dizer que “as mulheres cis e brancas no Brasil são machistas“. Algumas realmente são, mas não quero jogar toda as mulheres com boas ideias no colo dos liberais.

Até porque, como estamos vendo, o nome disso é suicídio.

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Mitos espíritas

Não passem pano para seus mitos espíritas…

Acho curioso quando surge esse tipo de argumento: “sim, Moro é um juiz corrupto e Dalanhol cometeu crimes como promotor, mas, mas, …. quem pode falar qualquer coisa contra esses combatentes corajosos contra a chaga da corrupção no Brasil???

Ora… o trabalho de Chico e Divaldo deve ser reconhecido pelo seu valor, mas o fato de serem dois notórios reacionários deve ser dito e exposto, até para retirar a aura de divindade que carregam.

Querem mais? Passei a infância lendo Monteiro Lobato, um racista e eugenista asqueroso. Valorizo seus livros infantis e deploro seus preconceitos. Humberto de Campos era um racista nojento e grande cronista. Fernando Pessoa, ele mesmo, nutria profundo desprezo pelos negros e foi o maior poeta da língua portuguesa. John Lennon era um perverso e sádico. David Bowie pedófilo, assim como Simone Beauvoir nos anos 60. Todos humanos e falíveis, alguns com máculas morais terríveis. Não passo pano para nenhum deles, e ainda assim separo o autor da obra.

Chico e Divaldo apoiaram regimes de força. Foram coniventes com as ditaduras de outrora e com o golpe juridico-midiático de agora. São golpistas com um pezinho no autoritarismo e na ditadura. Divaldo exaltou publicamente um juiz criminoso que combinava sentenças secretamente com a promotoria.

Ambos poderiam ter ficado quietos, mas deixaram claro seu apoio à brutalidade da direita nesse país.

Ahhhh, mas e os livros, a Mansão do Caminho, as palestras?” É curioso quando trazem esse argumento pois é o mesmo argumento usado pelos milicianos. Eles esperam ser desculpados pelas assistência oferecida aos pobres e pelas benfeitorias que realizam nas favelas que comandam (a ferro e fogo). Pablo Escobar, os donos de Escolas de Samba e os barões do jogo do bicho sempre agiram assim. Sei que a comparação é dura, mas não comparo as figuras e sim a lógica usada para passar pano em seus erros. Não tem como usar a obra de Chico e Divaldo como blindagem para sua vinculação clara com o ditadura de 64 ou os crimes terríveis desse magistrado corrupto que envenenou a democracia no Brasil.

Blindagem de espíritas? O mesmo que faziam com os crimes de papas, suas orgias e lambanças da Igreja.

Para finalizar, eu não reduzo essa dupla de mitos espíritas às suas opções políticas autoritárias ou a exaltação de corruptos como heróis nacionais. O trabalho deles, para os que creem, ultrapassa esse limite. Entretanto, exatamente pela importância que eles tem, não há como perdoar e desviar o olhar de sua vinculação com a barbárie e o atraso do nosso país.

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Espíritas carolas

Não creio que se possa dizer que existe um mosaico de preferências políticas dentro do espiritismo contemporâneo. Quando observamos as manifestações de seus líderes percebemos um enorme contingente de carolas, cristólatras (como Divaldo e Chico), místicos, e conservadores de todos os matizes. Em minha experiência pessoal posso dizer que no meu grupo de jovens espíritas praticamente todos se voltaram à direita.

Um espírita de esquerda como eu é quase uma aberração. Divaldo foi ovacionado de forma entusiástica numa conferência ao exaltar a figura patética e corrupta do ex juiz da Lava Jato, cuja reputação agora se despedaça publicamente. Poderia ter ficado quieto, ser discreto. Poderia até entender que sua posição o impede de vinculações apaixonadas com um lado ou outro. Entretanto, preferiu o bolsonarismo mais tacanho, fazendo uma manifestação apaixonada de um punitivista messiânico que, ao que tudo indica, se corrompeu pela vaidade e pela ambição desenfreada.

Os espíritas, enquanto grupo social, são conservadores e moralistas. É até curioso ver uma enorme parcela de líderes espíritas homossexuais reprimidos que se aliam à direita mais sexista – que os desaprova e condena – mas isso tem tudo a ver com a “identificação com o opressor”, como o próprio Freud nos ensinou.

Divaldo Franco e sua legião de espíritas conservadores exaltou o ex juiz, tratando-o nesta conferência em Goiás como “espírito de luz” e “missionário” da “República de Curitiba”. Hoje se descobre que tal sujeito é apenas um espírito das trevas corrompido pelo orgulho, pela ambição e por uma vaidade desmedida. O tempo é o senhor da Verdade.

Se há alguma diversidade no movimento espírita ela se encontra na marginalidade. Eu, por exemplo. Não está na FEB ou em federações regionais; dificilmente na direção das casas Espíritas. Se houver estará nos poucos negros e negras, nas mulheres espíritas, nos gays e trans que enxergam no espiritismo uma possível explicação para suas dores, mas que não negam a importância central do modelo social na reprodução do sofrimento que os oprime.

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Direita Chucra

O problema da direita chucra é essa tolice de que “a corrupção é o grande problema nacional”. Que bobagem; nem de longe esse é nosso grande drama. Os Estados Unidos são muito mais corruptos do que o Brasil e a Coreia do Sul então, nem se fala. Nosso problema que se mantém, apesar de outros avanços, é a estrutura escravocrata de nossa sociedade, que herdamos de mais de 500 anos de história.

O problema é a iniquidade e a injustiça social; a divisão do país entre o que podem e os que servem. A corrupção PRECISA ser combatida, mas sem a crença de que ela é a “grande tragédia da nação”.

Todavia, a direita tenta sempre moralizar a questão criando estratégias para poder classificar nossos problemas dentro do seu maniqueísmo habitual: “bandidos x cidadãos de bem”, que nada mais é do que a manutenção da dualidade “Casa Grande x Senzala”. A estrutura é a mesma, mas hoje é feio admitir que sempre foi o horror aos negros e pobres que criou o ódio ao PT, enquanto o combate à corrupção sempre foi a capa encobridora da realidade odiosa do racismo e da exclusão.

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Empresários da Intolerância

Eu prefiro ver a emergência de sentimentos discriminatórios nas últimas entrevistas com “pastores” de igrejas evangélicas através de uma análise mais mercadológica. Os tais defensores dessas visões homofóbicas sabem que existe uma parcela minoritária da população que simpatiza com as teses de extrema direita. Os consumidores desse tipo de visão de mundo são frequentemente sexistas e preconceituosos, brancos, moralistas e muitas vezes ligados a uma religião. Fundamentalistas e oportunistas, tentam explicar a sua condição social superior através de uma espécie de “essencialismo”, ao estilo de Calvin Candie em Django Livre, que justifica as diferenças sociais ligadas às raças com explicações genéticas e frenológicas estapafúrdias. Para esse grupo “reacionário” sempre haverá prepostos, “escolhidos” para levar adiante suas ideias. E essa escolha por um “nicho de mercado” está relacionada aos 20 bilhões de reais que verteram para as igrejas brasileiras no ano de 2011. Muito dinheiro para ser dividido entre alguns poucos empresários da fé.

Bolsonaro, militar aposentado e deputado do Rio de Janeiro, é popular por essa mesma razão: ele representa essa parcela minoritária – mas significativa – da população. Os disseminadores das teses da direita falam àqueles que se sentem amedrontados com o surgimento de uma maior liberdade sexual. Quanto mais livre a sexualidade, mas ela é ameaçante à vista de alguns. Enquanto o homossexualismo era a explicação mais fácil, tornado desvio e doença pela oficialidade que redigia o DSM, ele estava restrito aos consultórios médicos. Após a queda do “Muro de Pedra” (Stonewall, boate gay de Nova York que foi invadida pela polícia no início dos anos 70), e a consequente reação do universo homoerótico, o mundo não seria mais o mesmo. Surgia a homossexualidade e os conceitos de “opção” e posteriormente “orientação sexual”.

Mas a liberdade cobra seus preços. Entre eles a “homofobia”, fruto da abertura sexual, exatamente porque a liberdade de expressão é opressiva para aqueles que se julgam ameaçados pela pluralidade de opções. Esses grupos reacionários normalmente atacam o que mais temem, e usam explicações de ordem religiosa (assim como Calvin Candie usou a Genética, em Django Livre, para explicar a escravidão) para levar adiante suas ideias segregacionistas. Minha posição, diante dessa especial visão do problema, é ignorar os arautos da “decência sexual”, não dar publicidade aos seus pressupostos e não difundir suas ideias (que é exatamente o que eles querem quando expõem suas declarações escandalosas). E isso não é omissão, pelo contrário. Trata-se de uma estratégia para manter esses grupos como minoritários, e não permitir que suas ideias grosseiras e discriminatórias se propaguem.

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