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Emoções estupefacientes

É muito comum ver as análises morais dos jogadores e técnicos serem feitas à posteriori, ou seja, adaptamos os valores morais dos personagens aos fatos depois que estes ocorreram. A vitória ou a derrota nos fazem enxergar a moralidade dos nossos representantes de forma diversa ou mesmo antagônica. Todos se arvoram à condição de “experts” em comportamento humano, e até uma monja – com qualificações desconhecidas no futebol – faz críticas mordazes e severas ao técnico da seleção.

Por isso, somente depois do fracasso, conseguimos observar o quanto Tite é insensível assim como só agora vemos como é absurdo o salário astronômico que nossa neurose paga aos jogadores. Só agora acordamos para a covardia dos nossos diante das decisões em campo. Tudo isso teria sido esquecido bastando para isso acertar dois pênaltis.

Ao mesmo tempo nosso espírito macunaímico descobre em menos de 24 horas declarações impressionantes de humildade que partem de gente como Messi e outros jogadores vencedores, muitas delas criadas pela equipe de relações públicas que os assessoram. Mostramos gestos do craque argentino e os interpretamos como sinais de enfrentamento ao imperialismo, mesmo quando chegam de um craque que vive às custas do dinheiro europeu há 20 anos. Além disso, passamos pano para o deboche que os hermanos submeteram os holandeses após o jogo. “Ahhh, é do jogo…”

Como eu disse, é compreensível é até lícito tentar colocar as derrotas em linhas lógicas de causalidade; achar causas para fatos é um efeito inescapável do crescimento encefálico, do qual não podemos nos livrar. Porém, deixar-se levar pelas emoções depressivas é ficar refém da paixão, a qual não nos permite enxergar uma rota segura de vitórias no futuro. Acreditar que perdemos porque Neymar e os demais jogadores são ricos, e o Marrocos chegou às quartas porque seus jogadores são pobres e patriotas é se perder na superficialidade dos fatos. E as demais explicações (Messi é humilde, Argentina tem raça, Messi é vencedor, Marrocos tem liderança, França só tem sorte, Inglaterra sendo Inglaterra, Croatas tem amor ao seu país, etc.) também são carregadas de emocionalidade e lhes falta conexão com a realidade.

Não cobro racionalidade ao tratar de uma elegia à irracionalidade como é o futebol. Da mesma forma não peço aos amantes que usem a razão quando o fogo das paixões lhes consome os sentidos. Peço apenas calma, em ambas as situações. Muitas tragédias acontecem quando deixamos de lado a maior conquista da nossa trajetória humana: esta fina camada de matéria cinzenta que envolve nosso cérebro e nos confere a razão.

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Heróis e Vilões

O futebol é pródigo em criar vilões e heróis, em especial na copa do mundo onde as emoções e projeções que lançamos em direção aos ídolos se misturam com sentimentos de nacionalismo e fervor patriótico. Isto é natural. O que me parece necessário é que estas paixões guardem alguma relação com a realidade, e não sejamos presa fácil das fantasias de “capa e espada”, criando mocinhos e bandidos, onde o Mau é vil e perverso, e o Bem é simples, humilde e puro, sem matizes e sem contradições.

Na busca de construir o vilão perfeito obscurecemos suas qualidades e priorizamos seus defeitos e falhas, enquanto exaltamos apenas as virtudes do herói, para produzirmos a imagem mais perfeita e acabada dos nossos ídolos. Por isso mostramos a imagem da esquerda, e suprimimos a foto da direita. Afinal, o Neymar companheiro, solidário e que compartilha a alegria com seus parceiros não cabe nessa narrativa.

O problema é que estas imagens são construções midiáticas que nem sempre se adaptam à vida real. Servem tão somente ao nosso desejo de criar projeções e espantalhos, mas com isso inevitavelmente produzimos injustiças. Existe muita maldade no bem, e muita bondade no mal aparente. Ou, como diria Caetano, “O mau é bom e o bem cruel“. Acreditar que aquele é um anjo de braços abertos enquanto este é um demônio frio e insensível é falso. A vida é um pouco mais complexa do que as novelas mexicanas nos fazem crer. Não se deixar capturar pela armadilha da imagética é uma forma de se proteger dos maus julgamentos.

Vou explicar da seguinte maneira: se o Brasil HOJE fosse invadido pela Argentina do “esquerdista” Fernandes, ou pelos Estados Unidos do Biden, eu estaria ao lado de Bolsonaro defendendo o ESTADO brasileiro, mesmo sendo crítico ao seu governo. É uma hierarquia de valores. Não gosto do Neymar, mas ele está com a camiseta do Brasil, e não vou torcer contra os interesses do meu país.

A discussão é entre “autor e obra”, mas também entre “governo e Estado”. O único problema é que esse tipo de lógica só é usada para alguns, e não para todos. Se vocês cancelassem TODOS que tem este tipo de falha moral a sociedade ocidental teria que eliminar todos os livros do racista Fernando Pessoa, ou de Simone de Beauvoir por seu comportamento e algumas teses que sustentou. E a lista seria imensa; em verdade duvido que sobre alguém. Mas as pessoas escolhem alguns alvos enquanto passam pano para outros. É uma “lei de cancelamentos” que ora é aplicada, ora desconsiderada. A postura política de Neymar agora nos serve como falha moral, mas no passado já foi seu comportamento sexual. A verdade é que Neymar gera esse tipo de sentimento e a gente fica escolhendo coisas que se encaixem no “index cancelatorium” para poder atacá-lo.

Aliás, a propósito da Argentina, eu tenho uma dúvida. A sociedade Argentina também é dividida entre posições à direita e à esquerda. Seu maior ídolo no futebol, quase uma divindade do ludopédio, foi Diego Armando Maradona. Pergunto: será que a direita Argentina cancelou e torceu contra sua seleção quando ele tatuou a imagem de Che Guevara, um comunista e guerrilheiro argentino, em seu braço? Ou os hermanos conservadores perceberam que, apesar das diferenças políticas, ele continuava a ser o maior representante da história e da glória da sua seleção?

Só curiosidade mesmo….

A culpa, como sempre, é da Globo. Não fossem por suas novelas e hoje não estaríamos tratando a seleção e seus jogadores como personagem de um folhetim de Gilberto Braga. Richarlison é o formoso galã, o rapaz que exala virtudes e humildade por onde passa. Neymar é nossa Odete Roitman, o vilão para quem Vale Tudo, cuja queda será o gozo mórbido para uma parte da nação.

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Festa dos Identitários

Então vejamos… “Se não quer que passem a mão em você não saia de casa com vestido curto”. A tática é a mesma: transformar a vítima em algoz. Neymar sai com o tornozelo destruído, parecendo uma abóbora, mas a culpa é dele por “pegar a bola”. Sério que a perseguição ao Neymar vai chegar nesse nível? Não acredito que por posições políticas discordantes vamos fazer coro a este tipo de estultice. Não se trata de “sofrer falta”. Pelé foi caçado em 62 e 66, Neymar em 2014, o que nos fez perder a Copa. Agora foi atacado violentamente de novo. Será que isso é “mimimi“?

Tenha em mente apenas que o meu exemplo compara a lógica utilizada, não os fatos. Por isso é uma ana-logia. Faltas no futebol são diferentes de abusos contra mulheres, mas a lógica para justificá-los pode ser a mesma. Usar a ideia de que levar faltas graves e violentas é o “ônus natural de quem carrega a bola” é o mesmo que dizer que ser apalpada é o ônus natural de ser bonita e/ou provocante. Não há nada natural nestas violências e tanto as mulheres quanto os jogadores não podem ser considerados culpados pela condução da bola ou por suas formas exuberantes. A explicação do jogador rival de Neymar não convence, apenas explica a brutalidade. Da mesma forma, a explicação do abusador não me faz mudar de ideia.

Não existe nada mais direitista do que expressar ódio a um jogador da seleção durante uma copa do mundo. Eu, que não gostava muito do cara, estou virando fã. Essa exigência com o Neymar curiosamente não se aplica a outros membros da seleção, quase todos bolsonaristas, nem com outras figuras públicas. Esse tipo de perseguição sempre obedece as linhas mestras do imperialismo: destruam seus ídolos, encontrem falhas neles que possam eclipsar seus feitos e suas vitórias.

O mesmo foi feito com Lula, que de herói passou a ser tratado como “ladrão”, depois de uma intensa campanha midiática de iconoclastia. A mesma estratégia de atacar Lula por elementos alheios à política – sua vida privada – agora é usada contra outro herói, outro negro que, assim como Pelé teve sua imagem vilipendiada por fatos bem distantes do futebol. Torcer contra Neymar é fazer o jogo do Império, e nessa armadilha eu não caio.

Não dou ouvidos a fofocas de jogador. São garotos e, como eu, diziam muita bobagem antes dos 30 anos. Não o convocamos para ser professor de ética,mas para representar o futebol brasileiro. Eu não chamaria esse cara pra tomar um chimarrão na minha casa, mas apenas para representar meu país numa Copa do mundo.

E mais…. os ataques de Neymar são muito menos frequentes do que os ataques que sofre desde os 16 anos. Ele é muito mais vítima do que agressor. Vocês odeiam o Neymar porque ele é exibido e egocêntrico? Consegue imaginar que alguém que, aos 14 anos era considerado um super craque e que antes dos 30 é bilionário, não fique assim? Qual o problema disso? O que isso nos ofende? Os colegas adoram ele e não se importam com isso!!!! Por que a gente fica dodói com essas histórias???? Os jogadores estão fechados com seu amigo, e a torcida contra não ajudará a manter a União do grupo.

Força Neymar, cala boca Casagrande!!!!

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Ludopédio e Saudosismo

“Contando com jogadores como Gabigol, Arrascaeta e David Luiz no elenco, o Flamengo divulgou balanço em 2021 que aponta que a folha salarial foi de R$ 199,1 milhões por ano, algo em torno de R$ 16,6 milhões por mês. Ou seja, sozinho, Neymar recebe por ano cerca de R$ 17 milhões a mais que todo o elenco flamenguista” (UOL, Julho de 2022)

A existência desse tipo de aberração, onde um único jogador ganha na Europa muito mais que todo o time mais caro da América Latina não é um problema do futebol, mas uma decorrência natural da sociedade bizarra construída pelo capitalismo. Não é o futebol, somos nós. Essa situação era mais do que previsível, na medida que o capitalismo fecha as portas para a realização pessoal do cidadão comum, restando a ele apenas a projeção. “Eu não tenho valor, mas meu time é campeão”.

Reza a lenda que pesquisadores adentraram na África bravia em meados do século passado e encontraram uma tribo nativa muito primitiva. Passaram a trocar experiências e presentes com o uso de um intérprete da região. Num dado momento um pesquisador ligou o rádio de ondas curtas e os aborígenes escutaram pela primeira vez a música captada de uma estação distante através das ondas de rádio. Perguntado sobre o que achava daquela “máquina de música” o chefe da tribo respondeu:

“Que vida triste a de vocês que precisam usar caixas cantantes ao invés de cantarem vocês mesmos”.

Nós não nos divertimos mais jogando futebol com a garotada (ou a velharada) do bairro como fazíamos antigamente, improvisando meias de mulher enroladas como bola. Não há mais “campinhos”, várzeas, terrenos baldios onde se possa jogar nosso sagrado ludopédio. Terceirizamos a emoção do gol para os ídolos, figuras geralmente desprovidas de qualquer qualidade além do talento futebolístico, alçados, entretanto, à condição de “gênios” ou “semideuses”. Triste sociedade que paga fortunas para que os escolhidos gozem por nós.

Quando eu era garoto os jogadores eram seres humanos. Frequentavam lugares comuns, como padarias, mercados ou cinemas. No edifício na esquina da Getúlio Vargas com a Botafogo (Menino Deus, bairro que Caetano cantou) moravam Carpegiani e Tovar – campeões nacionais pelo Inter – e o Opalão verde do Carpegiani dormia na rua; a gente passava por ele quando ia pra escola, o Infante Dom Henrique. Falcão (do Inter) dava carona escondido para o Iúra (do Grêmio) até o Estádio Olímpico; eram amigos pessoais, mais ferrenhos rivais em campo.

Uma vez eu encontrei no ônibus – o famoso T2 – altas horas da noite um zagueiro titular do Internacional conversando com um amigo. Nos Grenais a distância entre as torcidas era de 3 metros, separados por duas linhas de “brigadianos” e metade da arquibancada era oferecida para o adversário. Todos saiam juntos do estádio, e as brigas eram raras.

Mas, repito, é errado pensar que foi o futebol que mudou; o futebol nada mais é do que o espelho da sociedade onde está inserido. Foi a sociedade, o capitalismo e sua influência nefasta que transformaram esse esporte num negócio de milhões. O futebol, enquanto veículo da angústia social, transformou-se a partir das mudanças sociais, que nos fazem jogar a fragilidade de nossas vidas nas mãos (e principalmente nos pés) de nossos ídolos.

“Rollerball”, filme de 1975 com o falecido James Caan, fala dessa realidade distópica, numa sociedade futurista onde os jogadores são gladiadores modernos que morrem em nome do circo midiático. Todavia, é preciso reconhecer que não existirá nenhuma mudança no futebol sem que haja uma transformação profunda na sociedade. Até lá veremos jogadores medíocres e suas fortunas, gastando seu dinheiro em baladas milionárias, cercados de garotas de capa de revista, usufruindo dos milhões que são pagos pela nossa neurose.

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Garoto Neymar

Para além de ser um futebolista, o garoto Neymar é mais um ídolo negro desprezado pelas elites. Essa é a razão da disputa de narrativas que envolve há muito tempo a figura desse jogador e a controversa defesa que o PCO faz de sua representatividade no imaginário nacional.

Basta uma pesquisa simples para vermos que ninguém jamais se perguntou se Zico, Piquet, Fittipaldi ou Airton Senna sonegavam impostos, se tinham amantes, e muito menos a qualidade do seu caráter. Senna já morreu, mas os outros três são, a propósito, bolsonaristas. Mas é claro que não se pergunta isso para ídolos brancos. Por outro lado, Neymar não pode ter esse tipo de falha.

Eu pessoalmente acho o Neymar um chato; um bebê imaturo. Um Michael Jackson da bola, gênio desde os 11 anos, infantilizado e mimado. Ser tratado como Rei – ou Rainha – desde a mais tenra infância costuma destruir personalidades brancas de Hollywood, mas Neymar não tem esse direito, por ser negro. Ainda por cima é cercado de gente do pior tipo, como o seu pai trambiqueiro e sonegador. Mas só ele é julgado por ser assim, e essa é uma clara face do racismo e do ataque sistemático ao futebol brasileiro.

A chantagem que recebeu naquele caso de falso abuso sexual há alguns anos mostra que, ao colocar-se automaticamente ao lado da suposta vítima, estimulando um linchamento público, e antes que as evidências (ou a falta delas) viessem à tona, a imprensa fazia coro às tentativas de destruir um ídolo que ousa ser negro em uma sociedade fortemente racista.

Desta forma o PCO tem razão ao criticar quem tenta destruir a imagem do Neymar e do próprio futebol, tratando-os como fenômenos menores. Assim como fizemos com Pelé e as críticas à sua paternidade, Neymar é outro ídolo negro que precisa ser destruído – assim como o futebol brasileiro, um dos poucos fatores de integração do negro em nossa sociedade.

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Exemplos

Exaltar personalidades é sempre ficar refém de suas atitudes. Por isso mesmo é importante deixar o entusiasmo de lado para não se enganar com fatos isolados que, muitas vezes, são produzidos de forma oportunista. No mundo do espetáculo tudo é fantasia e nada é de graça. Diante da pergunta “qual o verdadeiro Neymar?”, eu arriscaria dizer “nenhum dos dois”….

O jogador fazendo festa com os parça com muita mulher, cerveja e pagode. Muito brega, muito kitsch, muito caro mas, afinal, de que vale tanto sacrifício se não foi possível aproveitar com estes exageros e com os arroubos que ocorrem nestas comemorações?

Um menino que passou a ser vigiado desde cedo, amado pela torcida ainda na infância, adorado por fãs, reverenciado por críticos do futebol não tem condições de ver a vida a não ser por esta perspectiva de “centro do mundo”.

Cobrar dele que tenha consciência social não faz sentido, pois o mundo gira em torno de suas chuteiras. Ele jamais foi devidamente ensinado a ter limites, pois a cada ato irresponsável havia um tratamento de “príncipe temperamental” reservado a ele.

No fundo a gente queria que o garoto mentisse um pouco, que nos oferecesse uma imagem pública de respeito aos outros, que fosse mais solidário nas aparências e que levasse uma mensagem mais positiva para os meninos e meninas que admiram seu futebol.

Mas eu creio que ele não seja capaz disso. Sequer uma imagem fabricada e falsa de responsabilidade social e respeito ele admite assumir. Parece mesmo que ele sequer precisa fingir o que não é.

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Benemerência

Cara… não posso aceitar gente cobrando caridade dos ricos deste país, como se os milionários tivessem que fazer aparições públicas de distribuição de presentinhos ou cestas básicas…

Silvio Santos sequer deveria ajudar. Não é função dos ricos fazer isso. Não é obrigação de nenhum rico fazer a caridade que ELES querem para quem ELES querem. Isso é caridade e caridade é HUMILHANTE. O Brasil não precisa da bondade do Silvio Santos, do Neymar, do Huck, do dono da Ambev ou do Gerdau. Não é certo esperar que eles sejam bonzinhos ou caridosos. Ponto.

O que a gente precisa é de uma LEI para cobrar IMPOSTOS DURÍSSIMOS dos ricos, para que NÓS utilizemos esse dinheiro onde NÓS acreditamos ser o melhor para o país, e não mais admitir estas propagandas onde os capitalistas abonados usam as migalhas que dão como publicidade.

O Sílvio Santos NÃO DEVE DAR NADA como benemerência, mas tem que ter sua fortuna TRIBUTADA DURAMENTE. Não quero favor dessas pessoas, quero que o seu dinheiro (que em última análise foi retirado de nós) reverta para o bem do povo, e não para falcatruas ou para essa publicidade barata que os ricos fazem.

Desconstruam essa ideia de que ricos devem distribuir dinheiro do jeito que desejam. Eles devem PAGAR IMPOSTO PESADO!!

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