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Netanyahu

A nova/velha tática de sionistas confrontados com imagens, relatos e depoimentos sobre o massacre de mulheres e crianças – além da morte de membros de uma ONG que levaria comida aos famintos de Gaza – é afirmar que estas verdades insofismáveis não são decorrentes da ideologia racista e supremacista que abraçam, mas do governo Netanyahu, que faz parte de uma extrema direita impopular e “extremista”. Esta é, aliás, a retórica mais preponderante entre os ditos “sionistas de esquerda”, um oximoro que ocupa posição de destaque na imprensa corporativa. Tentam retirar a culpa da estrutura que sustenta o Estado terrorista de Israel para colocá-la numa contingência eleitoral, como a presença de um radical de direita à frente do seu governo. Todavia, ao contrário do que os sionistas mais ufanistas acreditavam, Israel se mostrou incapaz de quebrar a resistência palestina. O apoio internacional à causa Palestina aumenta no mundo inteiro e o sionismo racista e supremacista se isola, restando apenas o apoio do Império Americano. Porém, mesmo no seio da América este suporte está enfraquecendo rapidamente, na medida em que as mentiras de Israel são reveladas e as pessoas aos poucos começam a conhecer a realidade da ocupação brutal de Israel. A Palestina vencerá porque o mundo não pode mais aceitar o racismo e a brutalidade fascista que são o coração do sionismo, porém, antes que isso aconteça, muitos sionistas tentarão oferecer a simples troca de um governo fascista por um personagem mais moderado como solução para o drama palestino. Todos sabemos o quanto isso é falso.

Ora, todos sabemos que a imensa maioria da população de Israel apoia os massacres aplicados à população palestina. Os descontentes que saem às ruas contra o governo atual clamam por ações mais enérgicas (ou seja, mais mortes) para o resgate dos reféns e pelo fim do governo corrupto de Netanyahu. Não são movidos por interesses humanitários, por certo. Também é fácil perceber que, entre a elite política de Israel, Netanyahu é visto como moderado; por mais bizarro que possa parecer, os chacais ao seu redor são ainda mais radicais no uso da violência. A possível troca de Netanyahu por Benny Gantz ou Yair Lapid – seus principais opositores – produziria mais radicalismo, pois que suas posições são ainda mais virulentas, racistas e genocidas que as utilizadas até agora.

A sociedade israelense foi se deteriorando com o passar dos anos, radicalizando-se no arbítrio e na opressão, mergulhada no fascismo mais abjeto, em um nível e em que o desprezo pelos árabes, a postura supremacista, o excepcionalismo e a desumanização do povo palestino permitem que o massacre cruel e abjeto seja a cola social que unifica seu povo. Não há diferença alguma em suas práticas que os diferencie dos seguidores de Adolf.

Por outro lado, é certo que esta “solução” – a queda e a prisão do primeiro ministro Netanyahu – mais cedo ou mais tarde poderá ser aventada, mas não nos enganemos; caso venha a correr a proposta terá como objetivo “mudar para não mudar”. Ou seja, “oferecemos a cabeça de Netanyahu em uma bandeja para o ocidente para que nossa proposta de extermínio da Palestina siga intocada”. A população da Palestina, que de forma intensa apoia as medidas dos grupos de defesa e de resistência armada, não vai aceitar a queda de um político corrupto como sinal de paz ou como solução para o colonialismo e a ocupação. Este truque também poderá ser utilizado na nossa questão doméstica: a prisão de Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que coloca um criminoso na prisão esta ação pode manter vivo o bolsonarismo, deixando protegido o radicalismo fascista de extrema direita.

É preciso entender a delicadeza da situação na Palestina para não se deixar aprisionar pelo emocionalismo. O ataque ao sionismo e sua ideologia fascista precisa muito mais de cérebro e paciência do que pressa e ações apaixonadas. É necessário ser frio e entender que a luta de 75 anos pela Palestina livre não vai terminar da noite para o dia e muito menos vai se dar por ações atabalhoadas e midiáticas.

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Contra o sionismo

O jornalista Breno Altman tem feito um périplo pelo Brasil – e até pelo exterior – para a divulgação do seu livro “Contra o Sionismo”, e está obtendo um enorme sucesso. Um grupo crescente de pessoas começa a se interessar nas questões da Palestina, porque ela concentra de forma muito didática as grandes questões dos últimos 100 anos: colonialismo e imperialismo. Ele tem se tornado a mais importante voz da esquerda na luta contra os massacres do governo fascista de Israel na Faixa de Gaza, em especial pela sua condição de judeu antissionista. Pois, para surpresa apenas daqueles menos avisados, Breno teve sua presença contestada na Universidade Federal de Santa Catarina pela pró-reitoria de “Ações Afirmativas e Equidade” desta universidade, que recomendou a retirada do apoio à sua palestra por seu conteúdo “antissemita”.

Todos sabemos do interesse de grupos ligados à Israel em fomentar a confusão oportunista e mentirosa entre antissemitismo (que deploramos) e antissionismo (que é o tema da palestra e foco da nossa luta). Por que então o repúdio desse setor da Universidade ao evento? Quem está por trás da condenação a esta conferência? Quem se opõe ao debate que vai se seguir e a quem interessa censurar as vozes que denunciam o holocausto palestino? Ora, a pró-reitora responsável por este repúdio à luta anticolonial chama-se Leslie Sedrez Chaves, uma mulher negra, feminista, acadêmica e reconhecida pela sua luta antirracista. Todavia, cabe perguntar: se ela tem todos esses predicados, por que se posiciona na contramão da luta antirracista na Palestina? Por que se coloca a favor de Israel e da opressão do povo Palestino? Por que vira as costas ao clamor de milhões que, no mundo inteiro, condenam o fascismo, o Apartheid, a violência desmedida e a morte de crianças e mulheres, que já ultrapassam os 30 mil? Para entender esta dinâmica é necessário aclarar vários pontos:

  1. O identitarismo é uma força conservadora, individualista e à direita no espectro politico. É uma corrente de pensamento surgida dos think tanks do partido democrata americano para obstaculizar as perspectivas revolucionárias e a luta de classes. Não possui uma visão abrangente da sociedade e seu foco é a visão fragmentada desta, entendendo as identidades como recorte estanques sobre os quais é possível agir sem agir em toda a complexidade social,
  2. Ser mulher, negra, feminista e antirracista não garante uma postura progressista e em defesa das lutas de classe e em favor dos outros povos que sofrem opressão e são vítimas das forças imperialistas. A negativa em apoiar a Palestina em sua luta anti-imperialista é um exemplo claro dessa visão tubular da sociedade, ignorando a dinâmica econômica que a controla, muito mais do que os gêneros, cores de pele ou orientações sexuais.
  3. O lobby sionista, que age através de ONGs imperialistas (StandWithUs e aqui no Brasil a CONIB), tem uma enorme pervasividade, atingindo todos os setores da sociedade. Estas instituições se ocupam em atacar a oposição crescente das sociedades do mundo inteiro aos desmandos e crimes contra a humanidade perpetrados por Israel com a conivência e apoio dos Estados Unidos. Esta adesão aos pressupostos identitários e a favor do sionismo corrói a consciência de classe que lentamente estamos construindo. O mesmo processo que ocorre na luta antirracista ocorre também na luta feminista, no movimento LGBT e até na humanização do nascimento. 

Esta Pró-Reitoria não tem capacidade de veto, muito menos de impedir a palestra do camarada, porém sua postura reacionária deve aumentar ainda mais o interesse pela conferência de Breno Altman, marcada para o dia 3 de abril 2024 no auditório central da Universidade. Cabe a todos nós darmos a resposta a esta tentativa de calar as vozes que lutam contra a chacina contra o povo palestino.

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Horror e Culpa

Na segunda guerra mundial é dito que as câmaras de gás foram criadas porque os fuzilamento de inimigos carregavam dois graves problemas: o uso de uma munição cada vez mais escassa em não combatentes e as graves repercussões psíquica nos soldados a quem era dada a tarefa de matar com tiros na nuca jovens, mulheres e até crianças. Não raro, os soldados nazistas tiravam a própria vida como forma desesperada de escapar do martírio de culpa e dor diante da barbárie de seus atos. Com o tempo, apenas os psicopatas mais renitentes suportavam as execuções. Diante de tamanho custo, uma forma mais asséptica de assassínio coletivo foi elaborada.

Na campanha genocida de Gaza, um fenômeno semelhante começa a acontecer. Incapazes de justificar os massacres, o assassinato de mulheres e crianças indefesas pelos bombardeios de seus modernos aviões, Israel começa a ver crescer um enorme contingente de soldados transtornados por suas ações criminosas. Da mesma forma como ocorreu com os nazistas, os recrutas e aviadores agora tomam consciência plena do que significa bombardear uma mesquita, uma igreja, um hospital, matando tudo e a todos sem qualquer respeito pela vida de um povo. Não há como manter a sanidade diante de tantas atrocidades, algo que o filme “Corações e Mentes” já denunciava quando avaliou a repercussão da guerra do Vietnã na saúde psíquica dos soldados americanos que retornavam para casa.

Em Israel, muitos são os soldados que se recusam a atuar na Palestina. Em um caso famoso de 2014, um grupo de elite do exército sionista que atuava na Cisjordânia negou-se a compactuar com a opressão sistemática exercida sobre os habitantes palestinos das cidades ocupadas. Para estes militares, serem os agentes de uma brutal opressão sobre uma população oprimida e sem recursos tornou-se um fardo moral demasiado pesado para carregarem. A questão moral passou a se tornar um elemento crucial na coesão do exército sionista, deteriorando sua união e ameaçando as hierarquias. Assim como era impossível passar pelo charco das execuções nazistas sem enlamear suas botas, também agora é impossível cometer todos os crimes de guerra até hoje catalogados e não se sentir participante de um holocausto racista e desumano. Os próprios recrutas – jovens de diferentes nacionalidades e culturas – aos poucos perceberão o quão destrutivas são – para si mesmos – suas ações contra um grupo humano desarmado e indefeso. Não há como manter a sanidade mental quando se adentra o inferno de uma guerra racista e genocida.

No filme “Valsa com Bashir” toda a narrativa é construída sobre o sentimento de culpa obliterante de um jovem judeu que participou do massacre de Sabra e Chatila. Seu esquecimento dos acontecimentos daquela madrugada de 16 de setembro de 1982 estava relacionado com sua vã tentativa de apagar da memória os fatos e cenas terríveis que protagonizou ao lado de seus amigos soldados no sul do Líbano. Como o filme deixa claro, não há recalque que se mantenha para sempre; um dia “o retorno do recalcado” há de cobrar de cada um de nós a responsabilidade pelos eventos que constroem nossa subjetividade. Não pode ser diferente para estes que, agora, participam do horror e dos massacres em terras palestinas; mais cedo ou mais tarde haverá uma cobrança, seja ela social e jurídica, ou pela culpa mortífera que, por fim, destruirá o sujeito por dentro.

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Birthright

Lembrei hoje de um colega da escola médica porque na época da faculdade ele fez a conhecida viagem de “intercâmbio” de jovens para Israel – chamada de Taglit, ou Birthright Israel – que muitos, se não todos, judeus de classe média faziam ainda quando bem jovens. Quando voltou estava transformado, com incontido patriotismo por Israel. Perguntei a ele, por curiosidade, qual sua opinião sobre a região, o país, as guerras, a construção da nação e sua experiência com o povo de lá. Ele me descreveu detalhadamente sua perspectiva sobre o “conflito” na Palestina, trazendo uma visão totalmente enviesada, que é exatamente para o que servem estas viagens com a juventude judaica: produzir uma lavagem cerebral profunda, para introduzi-los na narrativa sionista.

Na sua explicação escutei todos os clichés que me acostumei a ouvir a partir de então sobre “um povo sem terra para uma terra sem povo”, “a guerra dos bárbaros árabes contra os bravos judeus”, “os heróis da independência”, “a villa in the jungle”, “a única democracia entre ditaduras sangrentas” etc. Outra coisa que me chamou a atenção foi sua visão sobre “Sabra e Chatila“. Ele estava em Israel exatamente na época da invasão e ocupação do sul do Líbano, quando ocorreu o massacre do campo de refugiados palestinos por milícias cristãs libanesas. Na madrugada do dia 15 de setembro de 1982, o Exército de Israel ocupou Beirute Ocidental, mesmo depois de se comprometer a não fazê-lo, tendo como contrapartida a saída da OLP para a Tunísia. “Tão logo a ocupação foi concluída, as tropas israelenses – comandadas por Ariel Sharon – cercaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila. No dia 16 de setembro, o alto comando israelense autorizou às tropas falangistas cristãs, sedentas de sangue, a entrarem nesses dois campos de refugiados para realizar uma chacina contra a população civil que ali vivia, concretizando a vingança pela morte do ultradireitista Bachir Gemayel, presidente do Líbano ocupado”. (Breno Altman, vide mais aqui). Um filme muito interessante sobre este massacre patrocinado por Israel (entre tantas outras atrocidades) é a animação “Valsa para Bashir“. 

Tão logo voltou ao Brasil, sua explicação sobre o massacre que ocorreu tão próximo de si, está em plena sintonia com as narrativas sionistas que percorrem o campo simbólico até hoje. “Permitimos que dois inimigos nossos – libaneses e palestinos – se matassem mutuamente. Onde está a falha ética? Eles que se entendam”, explicou-me, de forma altiva. Na época eu nada sabia sobre a causa Palestina, o Nakba, e a resistência da OLP. Também acreditava que Yasser Arafat era um “terrorista”, que os árabes eram selvagens e que os sionistas desejavam a paz; por ignorar tantos aspectos importantes do conflito, lembro com vergonha de ter concordado com vários dos seus argumentos. Afinal, como poderia contestar, quando toda informação sobre a região na época era filtrada por uma imprensa claramente imperialista e favorável ao colonialismo?

Hoje resolvi olhar no seu Facebook para saber o que ele pensava sobre o massacre de agora, os 30 mil palestinos mortos, as crianças amputadas, o horror do genocídio contra a população civil, a limpeza étnica e, sem surpresa, percebi que ele se mantém aferrado ao preconceito sionista, usando palavras de ordem que vão desde “os palestinos não existem”, “vamos destruir o Hamas”, “eles morrem porque usam crianças como escudos humanos” e até “é imoral comparar o holocausto com essa guerra”. E, claro… não poderiam faltar os ataques a Chomsky, todos os judeus que apoiam a Palestina e os indefectíveis ataques ao presidente Lula e à esquerda, pelo crime de se posicionarem contra o mais brutal massacre contra civis do século XXI. O Birthright cumpriu seu objetivo, e manteve um sujeito prisioneiro de uma ideologia racista e supremacista desde a juventude até quase a velhice. Não há como não reconhecer a potência de um modelo que engessa mentes utilizando o holocausto como fonte de inspiração e identidade.

Com tristeza percebi que a faculdade de Medicina não é capaz de criar profissionais capazes de um olhar crítico sobre a sociedade, prontos para enxergar esta profissão de uma forma mais abrangente e complexa do que as simples tarefas operacionais de classificar, diagnosticar doenças e aplicar sobre os pacientes as drogas que nos ensinaram a prescrever. Acabamos sendo o sustentáculo de uma sociedade capitalista e patriarcal, sem perceber o quanto disso se reflete nas próprias doenças que tentamos tratar. Meus contemporâneos do tempo de escola médica, com raríssimas exceções – acreditem, ser de esquerda na Medicina é uma posição muito solitária – se tornaram conservadores em sua grande maioria, sendo alguns deles despudoradamente reacionários e fascistas, cuja paixão pela humanidade – a arte de curar e o questionamento das razões últimas que produzem as doenças – foi esquecida no banco de uma sala de aula da faculdade, durante uma classe de fisiologia, há muitas décadas.

Só me cabe agora lamentar…

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Reprise

Quando vejo tantas “pessoas de bem” na Internet justificando os massacres contra crianças palestinas usando a Bíblia e suas específicas interpretações como desculpa, fica claro que a vinculação com o cristianismo não garante nenhuma vantagem ou distinção moral para os seus adeptos. Os cristãos que agora aprovam o genocídio no Oriente Médio são apenas monstros travestidos de carolas, pessoas vis e sem alma. Que pensar de religiosos que aceitam a morte de milhares de mulheres e crianças em nome de suas convicções místicas?

Não vejo nenhuma diferença entre a barbárie inominável de agora e o que ocorreu há pouco menos de 1 século na Alemanha. O desejo de sangue, o desprezo pela vida das crianças e a desumanização de um povo – para deixar livre a escolha explícita pela “solução final” – não podem ser desmerecidos, e são na verdade elementos estruturais do desastre civilizatório, tanto lá atrás quanto agora.

Não pare de falar da Palestina. Não pare de denunciar o massacre. A Palestina somos todos nós…

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Sionismo não é judaísmo

Nem todo judeu é sionista e a maioria dos sionistas sequer é composta por judeus; são cristãos sionistas, como Biden ou os bispos Malafaia e Edir Macedo, pragas surgidas respectivamente pelo israelismo da política americana ou pelo neopentecostalismo tupiniquim, que lucra milhões com suas viagens turísticas à Terra Santa. Portanto, qualquer confusão entre estes termos é oportunismo, serve como manobra diversionista, cujo único objetivo é evitar que apontemos os horrores da aventura colonial racista no Oriente Médio. Para qualquer sujeito intelectualmente honesto, não é difícil entender que atacar o nazismo não significa ser antialemão, assim como criticar o retrocesso civilizatório do bolsonarismo não é o mesmo que ser antibrasileiro. Da mesma forma, criticar a inquisição da idade média não é o mesmo do que atacar Cristo ou sua doutrina.

Passei anos sendo perseguido por sionistas da aldeia que acusavam minhas críticas veementes ao apartheid de Israel como sendo “racismo”, ataques injustificados aos judeus ou ações antissemitas. Muitas dessas pessoas me xingaram e usaram de violência verbal pelas minhas palavras duras, em especial durante e após as “operações especiais” realizadas em Gaza e nos territórios ocupados da Cisjordânia, que matavam centenas de crianças e mulheres, números que agora chegam aos milhares. Nunca me intimidei e desafiei aqueles que me contestavam para que respondessem perguntas simples sobre a vida em Gaza e na Cisjordânia, as quais demonstram sem sombra de dúvida a brutalidade da ocupação.

Para quem acompanha este debate há décadas, é simples de ver que a defesa de Israel é sempre recheada de mentiras. Desde uma terra sem povo para um povo sem terra até as crianças decepadas, estuprosou não atiramos em civis, as mentiras são inexoravelmente imbricadas na narrativa sionista. São falsidades repetidas à exaustão, auxiliadas pela parcialidade criminosa das grandes plataformas digitais (Facebook, Instagram, Google) e a imprensa corporativa, toda ela nas mãos dos sionistas e dos senhores da guerra, que lucram bilhões quanto mais mortes aparecem nas capas dos jornais.

Já aqueles que defendem o povo palestino são, via de regra, pessoas que, como eu, acordaram para a realidade da geopolítica do Oriente Médio há muitos anos, o que só ocorre quando ousamos investigar o que existe por detrás das capas de enganação que são despejadas pelos telejornais há décadas. Nossas posições são essencialmente humanistas, pois que expõem a barbárie da ocupação, as mortes, a limpeza étnica, a indignidade do tratamento, os abusos, a prisão de crianças, as detenções administrativas que duram anos, as mortes e os processos kafkianos de violência jurídica. Por outro lado, o “whitewashing” (prática de selecionar informações, enfatizando ou omitindo, a fim de melhorar a imagem de uma pessoa ou de uma instituição frente à opinião pública) sempre foi a forma de apresentar Israel ao ocidente, e por isso era chamado de “a villa in the jungle” e, com o mesmo cinismo característico, difundem ideia de serem a única democracia na região – uma mentira asquerosa – e usam a questão identitária (em especial de mulheres e gays) para vender a imagem de uma civilização justa, europeia, branca e semelhante à nossa. Por seu turno, todo e qualquer grupo que lutasse pela libertação do povo palestino era imediatamente rotulado de “terrorista”, da mesma forma como os presidentes anti-imperialistas de qualquer nação são automaticamente chamados de “ditadores”, inobstante serem democráticas as eleições que os tenham levado ao poder.

Cabe a nós não retroceder na exposição, cada vez mais intensa, das contradições do sionismo. Não é mais possível aceitar o colonialismo genocida a controlar com mão de ferro a Palestina, e cada um de nós é responsável por espalhar a necessidade de democracia na região. E “cada um de nós” inclui os nobres irmãos judeus que na Palestina, no Oriente, na Oceania, na América e na Europa se levantam contra o sionismo e seu modelo supremacista e excludente. Judeus estarão lado a lado com os palestinos na luta pela liberdade, do rio ao mar.

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Seu Passado Condena

Os fatos atuais, que mostram de forma explícita e inequívoca a barbárie do colonialismo racista de Israel, tornaram ainda mais vergonhosas as visitas de Caetano, Gil e Jean Wyllys à Palestina há poucos anos. A visita destes ocorreu mesmo depois dos avisos reiterados – inclusive de Roger Waters – para não visitarem um país que tinha uma imensa ficha corrida de abusos e violações de direitos humanos contra a população original daquela terra.

A ideia dos ativistas pela Palestina era reforçar o bloqueio cultural à Israel como parte do esforço para isolar um país que tem o supremacismo étnico e a invasão de terras palestinas como cimento cultural. Apesar dos avisos, estes personagens, identificados com a esquerda brasileira, foram a Israel, fizeram shows e palestras de cunho identitário e tiraram fotos com notórios terroristas – como Shimon Perez. Cabe também dizer que outro queridinho da esquerda liberal festiva do Brasil, Gregório Duvivier, também proferiu palestras a convite de Israel em sua campanha de propaganda e “whitewashing” do colonialismo. Esses convites “boca livre” de Israel são tradicionais para a compra de mentalidades na América Latina. Há poucos dias uma nova leva de influencers (como Rogério Vilela e André Lajst) foi para Israel receber uma versão distorcida e mentirosa para o ataque do Hamas em 7 de outubro. 

As imagens de Jean Wyllys na universidade sionista e dos músicos brasileiros ao lado do ex-presidente de Israel são as mais chocantes – e das mais difíceis de engolir. Quanto ao político israelense, Shimon Peres, nasceu na Polônia em 1923, em Wiszniew, Polônia (hoje Vishnyeva, Bielorrússia) e seu nome original era Szymon Perski. Ele foi um os fundadores de Israel, mas também de sua milícia terrorista mais cruel, chamada Haganah. Este comando terrorista se ocupava em exterminar e expulsar palestinos de seu território com o suporte das forças imperialistas para criar uma grande base militar no Oriente Médio. Anos após, foi Shimon Peres quem negociou o apoio imperialista para que Israel tivesse armas atômicas.

Shimon Peres foi também primeiro ministro e presidente de Israel – parte de uma longa lista de terroristas que se tornaram políticos de destaque naquele país. Nesta condição é responsável direto pelas violências, abusos, massacres, bombardeios, execuções extrajudiciais e múltiplas violações dos direitos humanos aplicados ao povo palestino durante mais de sete décadas. Peres foi ideólogo do terrorismo israelense em sua mais clara manifestação. Ele é responsável pela nomeação de Ariel Sharon, que o sucedeu, para o comando das tropas que invadiram o Líbano, as mesmas que posteriormente estiveram presentes no massacre de Sabra e Shatila. Não por acaso, Shimon Peres foi parceiro dos mais sanguinários ditadores genocidas latino americanos, como Pinochet, Videla e Hugo Banzer.

Não deveria causar surpresa que Shimon Peres (que faleceu em 2011) pertencia à esquerda israelense, do partido trabalhista, porque para Israel a esquerda e a extrema direita são visceralmente unidas no etnocentrismo racista que sustenta a ideologia sionista.

A culpa que estas personalidades da cultura brasileira carregam eu não gostaria de ter sobre as minhas costas. Não há justificativa para ser fotografado ao lado de reconhecidos genocidas ou para posar sorridente à frente de uma universidade erguida sobre terra Palestina furtada pelo estado terrorista que a controla. Todavia, espero que eles tenham a capacidade de rever suas posições (algo que até agora não ocorreu de forma clara), reconhecer seus erros e, enquanto ainda houver tempo para limpar suas biografias desta nódoa, colocar suas vozes a favor da independência, da autonomia e da liberdade do povo da Palestina.

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Decepção

Durante muitos anos eu achei que Robert Kennedy Jr, por atacar de forma muito dura a indústria farmacêutica – um empreendimento maior que o PIB de inúmeros países – e por ser um defensor do meio ambiente, poderia ser uma esperança para o comando dos Estados Unidos, fugindo da dualidade entre os “elefantes” e os “asnos”. Ele parecia a muitos ser uma esperança de renovação e uma forma de garantir um contraponto ao poder imenso das grandes corporações que controlam o “deep state“: indústria farmacêutica, indústria bélica e as big techs do vale do silício.

Entretanto, quando vi sua última entrevista a respeito da Palestina, ficou evidente que sua posição é tão ou mais imperialista que a dos outros candidatos. Diante da evidência dos massacres, da morte das crianças, dos ataques a civis, da humilhação constante dos palestinos e dos ataques à Cisjordânia, tratou o conflito da forma mais maniqueísta possível, usando os mesmos clichés que são distribuídos nos balcões da propaganda racista de Israel. Chamou o Hamas de “terrorista”, criticou a resistência palestina, tratou de forma condescendente o horror dos bombardeios aos hospitais e mostrou enorme amor pelo estado racista de Israel.

Ou seja: seja quem for o próximo presidente a sentar naquela cadeira em 2024 continuará a política genocida e imperialista do país, pois o imperialismo está para os americanos como o sionismo está para os israelenses: religiões que cimentam a coesão social de ambos os países. É ingenuidade imaginar que algum mandatário americano trairia a visão de “polícia do mundo” e o excepcionalismo americano.

Não há esperança alguma com qualquer dos políticos que tenham o interesse de assumir esta posição. O dinheiro do sionismo compra todas as mentes. 

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Evangelho

Quando pequeno tive aulas de “evangelização” na sociedade espírita que meu pai era presidente. Até hoje tenho sentimentos conflitantes sobre essa experiência. Discuti o assunto com vários amigos da época, e ainda acredito que, caso tivesse frequentado uma escola de artes, ou um clube literário, (quem sabe uma banda de rock?), estas escolhas teriam sido mais proveitosas, e me deixariam mais preparado para a vida. Para muitos, as aulas “dominicais”, são uma forma de ensinar perdão, amor, caridade, fraternidade, etc. Há quem discorde, acreditando que ensinar religião para crianças e encher suas cabeças com conceitos religiosos – acreditando que isso pode “moldar seu caráter” para que se tornem “cidadãos de bem” – é uma ideia absurda e que não encontra qualquer comprovação nos fatos. Seja qual for a verdade, compreendo quem acredita que a infância deve ser livre deste tipo de ensinamento, em especial os que são oferecidos às crianças do ocidente, como as mitologias judaico-cristãs.

Eu lembro vagamente dessas aulas, mas não de uma forma positiva, apesar de que minhas memórias sobre elas também não são negativas (afinal, conheci minha futura esposa nesses encontros). Todavia, acredito que minha cabeça seria mais livre de preconceitos se não tivesse escutado tantas histórias de Jesus e seus apóstolos, as quais acabaram trazendo toda uma exaltação da Palestina como um lugar “mítico” e “sagrado”. Ora, na perspectiva do Império Romano, naquela época a Palestina tinha tanta importância geopolítica quanto tem hoje a pequenina Gravatá em Pernambuco para o Imperialismo americano. Ou seja, absolutamente insignificante. Entretanto, foi Paulo de Tarso (o apóstolo dos gentios) e uma série inimaginável de intrincadas coincidências históricas o que fez o cristianismo ter relevância – muito mais do que a profundidade dos ensinamentos de Cristo, que podem ser achados numa infinidade de outras religiões e seitas até bem anteriores ao próprio cristianismo. “Ahh, mas o sermão do monte, as bem-aventuranças”. Sim, não há como negar o significado desta parte do Evangelho; este sermão é o coração do cristianismo e o seu grande diferencial, pois nele ficou clara a opção pelos pobres, e foi essa conexão com as classes miseráveis que lhe ofereceu imensa popularidade.

Por outro lado, por causa dessas aulas precoces de cristianismo, acabamos fixados nessa cosmovisão judaico-cristã – que pode ser sectária e até obliterante. A pior de todas as heranças é a tese do “povo escolhido” ainda usada pelos sionistas, como se aquele povo tivesse alguma qualidade especial aos olhos de Deus, mais do que os asiáticos, africanos ou os habitantes do novo mundo. Como se Deus tivesse encontrado, entre todos os grupos humanos, a sua gente “preferida”. Pergunto: que Deus é esse que se comporta como um pai irresponsável, que se dedica mais a um filho do que aos outros?

O espiritismo, por sua vez, importou esta ideia supremacista ao criar a fantasia do Brasil como “Coração do Mundo e Pátria do Evangelho”, uma ideação arrogante e ufanista que não se assenta sobre nenhuma evidência na história, a não ser o fato de termos a maior população católica do mundo. Bem sabemos o quanto essa “religiosidade” não nos garante nenhuma qualidade especial na defesa dos direitos humanos, das crianças, das mulheres, da população LGBT, da natureza ou na distribuição de renda. Na infância muitas crianças espíritas são alimentadas com estas visões equivocadas e arrogantes sobre o Brasil, trazendo a fantasia de que somos um país “especial”, quando em verdade somos apenas mais uma nação que tenta sobreviver ao capitalismo brutal e decadente.

Hoje vejo entre os cristãos brasileiros uma adesão muito forte ao discurso de Israel na sua guerra covarde contra os palestinos, e acredito que muito disso está na visão positiva que têm da região. “Ahh, Jerusalém, o Monte das Oliveiras, o Gólgota, o lago Tiberíades, Belém, Nazaré, o lago de Genesaré, o mar da Galileia, o rio Jordão”…. são lugares que eu lembro de cabeça somente pelas histórias que li e ouvi durante os anos da infância, mas isso não deveria produzir nossa cegueira diante da perversidade genocida daqueles que controlam a ferro e fogo a região.

Minha experiência mais contundente aconteceu quando fui à China pela primeira vez e perguntei à uma plateia de quase 100 profissionais da saúde se tinham ouvido falar de “Freud”. Apenas duas pessoas o conheciam, mas nada sabiam de sua obra. Ou seja: a cultura de lá jamais necessitou de Freud para construção de uma sociedade vigorosa. Da mesma forma, conheci lá centenas de maravilhosas pessoas que jamais tiveram qualquer contato com o cristianismo ou com as histórias e parábolas de Cristo, o que parecia não lhes fazer falta alguma. Naquela oportunidade cheguei à conclusão que nossa visão eurocêntrica, ocidental e cristã nos dificulta enxergar outras realidades no pensamento humano. Por isso, oferecer aos pequenos uma perspectiva humanista e não sectária deveria ser uma alternativa muito mais frequente entre nós. Sem gurus, sem salvadores, sem messias, sem livros sagrados, sem povos escolhidos, sem verdades pétreas, sem diferenças essenciais entre os povos e abraçando a diversidade da forma mais intensa e possível, desde a mais tenra idade.

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Guerra e Opinião Pública

Nos últimos dias apareceram duas manobras da grande imprensa corporativa manobras claramente farsescas para tentar mudar a opinião pública sobre a guerra de Israel contra os palestina. A primeira foi uma operação da Polícia Federal contra supostos agentes do Hezbollah que estariam agindo no Brasil e planejando ataques “terroristas”. Imaginar que este partido libanês estaria desejando promover ataques contra um país que tem a maior colônia libanesa do mundo por si só não faz sentido. O caso fica ainda mais obscuro quando o Mossad – uma verdadeira organização terrorista de caráter internacional – diz que ajudou a polícia brasileira e aplaude a ação dos policiais brasileiros. Toda a acusação é muito frágil, sem evidências claras, e parece mesmo uma peça de publicidade para criar a narrativa batida de uma luta da “civilidade” ocidental contra o “fanatismo terrorista” do oriente. O outro caso foi a aparição de Bolsonaro com o embaixador de Israel no Brasil, tentando angariar frutos eleitorais para a direita brasileira ao vincular este encontro com uma possível liberação dos reféns brasileiros do sionismo israelense. Mais uma estratégia de propaganda descarada para que Israel fortaleça seus vínculos com a extrema direita fascista brasileira.

Talvez a pressa em mudar a narrativa se deva ao fato de que o mundo inteiro começa a mudar sua opinião e seu apoio à causa de Israel. Os ataques covardes, a morte de crianças, a destruição de hospitais, médico e ambulâncias mostram as verdadeiras intenções genocidas de Israel, mas a cortina de fumaça de imprensa ocidental – totalmente vendida para o imperialismo – começa a se dissipar pela avalanche de depoimentos e comprovações em contrário. Uma pesquisa nos Estados Unidos aponta que, no que concerne à posição de Biden sobre a guerra contra o povo Palestino, ele tem apenas 10% de aprovação no grupo de 18 a 35 anos. Ou seja, a juventude americana , aquela que vai morrer no caso de uma guerra aberta, é absolutamente contrária ao conflito. A imensa maioria do povo americano se opõe ao suporte americano para o estado terrorista de Israel. É notório que os impostos americanos financiam as bombas que matam crianças na Palestina, e isso começa a pesar na opinião pública americana. As últimas manifestações, ocorridas em diversas cidades americanas, deixam bem claro para que lado o povo americano está se dirigindo. A posição do sionismo e sua ação genocida na Palestina não consegue mais se sustentar, por mais que fortes poderes e quantidades imensas de dinheiro tenham comprado a mídia corporativa americana para favorecer o colonialismo racista de Israel.

Na verdade, se olharmos para o conjunto das nações do planeta, apenas Estados Unidos, seus vassalos europeus, Japão e Austrália apoiam Israel nesse enfrentamento. Por certo que nesse grupo há dinheiro e poder, mas o grosso da população está ao lado da Palestina. Se somarmos China, Índia, Bangladesh, Paquistão, Brasil, Indonésia, Nigéria temos apenas nesses 7 países quase a maioria absoluta da população mundial. A opinião pública do planeta, as marchas, os debates na Internet, a derrota da retórica sionista, as manifestações de chefes de governo, tudo isso está mudando a trajetória desse conflito. Isso fez com que a esperada “invasão de Gaza” não tenha ocorrido.

Além das questões relacionadas ao rechaço mundial à postura criminosa de Israel há outro fator importante sobre o fracasso (até agora) da invasão por terra. Os especialistas são claros: o exército de Israel é formado majoritariamente por um contingente não profissional, “garotos de apartamento”, sem preparo, sem condições físicas para suportar um combate em cada rua, cada viela, cada beco, no corpo-a-corpo, de forma desgastante (moral e fisicamente), com a morte espreitando em cada esquina e num terreno cheio de túneis que apenas os habitantes de Gaza dominam. Há o temor por parte dos sionistas de que Gaza possa se tornar o novo Vietnã, com baixas gigantescas de combatentes sionistas, um cemitério de jovens sionistas, o que dará ao imperialismo um novo fracasso retumbante, como o foram o Vietnã, a Síria e o Afeganistão.

As cartas estão na mesa. O sionismo está com seus dias contados, e seu fim será determinado pela comunidade internacional, a exemplo do que ocorreu com o Apartheid da África do Sul. Exatamente pela ação corajosa do Hamas, desafiando a arrogância militar de Israel, pela primeira vez em décadas existe uma uma luz no fim do túnel, e como todos sabemos, só quando Israel se sentir acuado poderemos ter uma real esperança de paz na região.

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Arquivado em Causa Operária, Palestina