Hoje lembrei que a chegada do meu amigo judeu que participou do “Taglit” (viagem de 10 dias para Israel, oferecida a jovens da comunidade judaica, também conhecida como Birthright Israel) ao Brasil foi logo após o histórico massacre de Sabra e Chatila. Este é reconhecido mundialmente como um dos mais bárbaros crimes de guerra da segunda metade do século XX, e o mundo ainda estava chocado com a crueldade do ataque contra barracas lotadas de refugiados, na maioria enquanto ainda dormiam. Perguntei o que ele achava daquilo, esperando que houvesse ao menos consternação com as mortes de milhares de mulheres e crianças no assentamento, o qual estava cercados pelo exército sionista.
Para lembrar, em 16 de setembro de 1982 os sionistas (comandados por um monstro, Ariel Sharon) permitiram a entrada nos assentamentos de Sabra e Chatila das milícias falangistas de extrema direita do Líbano, em busca de vingança pela morte do “presidente”do Líbano ocupado, Bachir Gemayel. Quando questionado sobre o horror do massacre, sua resposta foi dar de ombros, dizendo: “Imagine dois grupos que nos odeiam, um querendo matar o outro. Sim, permitimos que os direitistas do Líbano fizessem isso aos palestinos no assentamento que estava sob nosso controle. Qual o dilema ético? Eles que se virem”.
Minha tese é que a lavagem cerebral produzida nas jovens mentes sionistas é violenta e profunda, deixando quase nenhum espaço para um questionamento crítico ou para que ao menos esta visão supremacista e genocida de mundo seja desafiada. Esta posição me lembra um movimento religioso da minha época, os “Meninos de Deus”, que fizeram sucesso na minha juventude, mesclando sexo, drogas, música, espiritualidade e boas pitadas da mais inequívoca perversão, mas também se assemelha ao que hoje pode ser visto nos bolsominions da terceira idade, vomitando palavras de ódio enquanto se enrolam na bandeira de Israel.
Para saber mais sobre essa mácula na história dos direitos humanos, e uma demonstração da perversidade sionista, vejam a animação Valsa com Bashir.
Lembrei hoje de um colega da escola médica porque na época da faculdade ele fez a conhecida viagem de “intercâmbio” de jovens para Israel – chamada de “Taglit“, ou Birthright Israel – que muitos, se não todos, judeus de classe média faziam ainda quando bem jovens. Quando voltou estava transformado, com incontido patriotismo por Israel. Perguntei a ele, por curiosidade, qual sua opinião sobre a região, o país, as guerras, a construção da nação e sua experiência com o povo de lá. Ele me descreveu detalhadamente sua perspectiva sobre o “conflito” na Palestina, trazendo uma visão totalmente enviesada, que é exatamente para o que servem estas viagens com a juventude judaica: produzir uma lavagem cerebral profunda, para introduzi-los na narrativa sionista.
Na sua explicação escutei todos os clichés que me acostumei a ouvir a partir de então sobre “um povo sem terra para uma terra sem povo”, “a guerra dos bárbaros árabes contra os bravos judeus”, “os heróis da independência”, “a villa in the jungle”, “a única democracia entre ditaduras sangrentas” etc. Outra coisa que me chamou a atenção foi sua visão sobre “Sabra e Chatila“. Ele estava em Israel exatamente na época da invasão e ocupação do sul do Líbano, quando ocorreu o massacre do campo de refugiados palestinos por milícias cristãs libanesas. Na madrugada do dia 15 de setembro de 1982, o Exército de Israel ocupou Beirute Ocidental, mesmo depois de se comprometer a não fazê-lo, tendo como contrapartida a saída da OLP para a Tunísia. “Tão logo a ocupação foi concluída, as tropas israelenses – comandadas por Ariel Sharon – cercaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila. No dia 16 de setembro, o alto comando israelense autorizou às tropas falangistas cristãs, sedentas de sangue, a entrarem nesses dois campos de refugiados para realizar uma chacina contra a população civil que ali vivia, concretizando a vingança pela morte do ultradireitista Bachir Gemayel, presidente do Líbano ocupado”. (Breno Altman, vide mais aqui). Um filme muito interessante sobre este massacre patrocinado por Israel (entre tantas outras atrocidades) é a animação “Valsa para Bashir“.
Tão logo voltou ao Brasil, sua explicação sobre o massacre que ocorreu tão próximo de si, está em plena sintonia com as narrativas sionistas que percorrem o campo simbólico até hoje. “Permitimos que dois inimigos nossos – libaneses e palestinos – se matassem mutuamente. Onde está a falha ética? Eles que se entendam”, explicou-me, de forma altiva. Na época eu nada sabia sobre a causa Palestina, o Nakba, e a resistência da OLP. Também acreditava que Yasser Arafat era um “terrorista”, que os árabes eram selvagens e que os sionistas desejavam a paz; por ignorar tantos aspectos importantes do conflito, lembro com vergonha de ter concordado com vários dos seus argumentos. Afinal, como poderia contestar, quando toda informação sobre a região na época era filtrada por uma imprensa claramente imperialista e favorável ao colonialismo?
Hoje resolvi olhar no seu Facebook para saber o que ele pensava sobre o massacre de agora, os 30 mil palestinos mortos, as crianças amputadas, o horror do genocídio contra a população civil, a limpeza étnica e, sem surpresa, percebi que ele se mantém aferrado ao preconceito sionista, usando palavras de ordem que vão desde “os palestinos não existem”, “vamos destruir o Hamas”, “eles morrem porque usam crianças como escudos humanos” e até “é imoral comparar o holocausto com essa guerra”. E, claro… não poderiam faltar os ataques a Chomsky, todos os judeus que apoiam a Palestina e os indefectíveis ataques ao presidente Lula e à esquerda, pelo crime de se posicionarem contra o mais brutal massacre contra civis do século XXI. O Birthright cumpriu seu objetivo, e manteve um sujeito prisioneiro de uma ideologia racista e supremacista desde a juventude até quase a velhice. Não há como não reconhecer a potência de um modelo que engessa mentes utilizando o holocausto como fonte de inspiração e identidade.
Com tristeza percebi que a faculdade de Medicina não é capaz de criar profissionais capazes de um olhar crítico sobre a sociedade, prontos para enxergar esta profissão de uma forma mais abrangente e complexa do que as simples tarefas operacionais de classificar, diagnosticar doenças e aplicar sobre os pacientes as drogas que nos ensinaram a prescrever. Acabamos sendo o sustentáculo de uma sociedade capitalista e patriarcal, sem perceber o quanto disso se reflete nas próprias doenças que tentamos tratar. Meus contemporâneos do tempo de escola médica, com raríssimas exceções – acreditem, ser de esquerda na Medicina é uma posição muito solitária – se tornaram conservadores em sua grande maioria, sendo alguns deles despudoradamente reacionários e fascistas, cuja paixão pela humanidade – a arte de curar e o questionamento das razões últimas que produzem as doenças – foi esquecida no banco de uma sala de aula da faculdade, durante uma classe de fisiologia, há muitas décadas.
É impressionante (mas não deveria surpreender) o número de espíritas evangélicos (os chamados “espíritas cristãos”) que apoiam de forma explícita as ações de Israel em Gaza. Inobstante as imagens dos massacres, as 16 mil crianças mortas, o ataque desproporcional, a clara intenção de limpeza étnica e a ação genocidária de Israel eles se mantém fiéis à luta contra o “terrorismo” e ao direito sagrado do “povo escolhido” de ter a posse daquela terra. Usam a bandeira deste país em suas mídias sociais como emblema de sua fidelidade à “terra de Jesus”. Outros ainda defendem a morte dos palestinos dizendo tratar-se de um “karma coletivo“.
Esse é um tema interessante, e quem transitou pelo espiritismo já se deparou com esse conceito. Ele basicamente estabelece que certos grupos sofrem punição coletiva por erros e atrocidades cometidas no passado. Assim, os aviadores nazistas teriam se reunido num voo que incendiou e caiu no oceano – mas nenhuma menção aos americanos que chacinaram 1/3 dos habitantes da Coreia do Norte na guerra de libertação daquele país. Claro, as punições “divinas” dependem do nosso julgamento. A mesma sentença foi aplicada aos soldados dos exércitos de Napoleão, Gengis Khan, etc, que pelos seus crimes foram punidos pela lei do Karma. Sim, na mente de muitos espíritas habita o velho Deus malévolo, vingativo e cruel dos hebreus. Por certo que não são todos os espíritas que assim pensam, mas uma parte considerável, em especial os grupos ligados à “religião espírita” e os mais conservadores.
No atual episódio, os palestinos teriam cometido atrocidades no passado, as quais seriam a causa do sofrimento atual. Assim, os sionistas nada mais são do que “instrumentos divinos” para aplicar a punição necessária a quem cometeu delitos graves no passado. Ahh, e que fique claro que o holocausto sofrido na segunda guerra mundial contra a comunidade judaica da Europa também teria sido guiado pelas mesmas normas jurídicas punitivas celestiais. Crime e castigo.
Pois agora vejo os espíritas, que como eu estudaram na escola dominical estes personagens bíblicos, defendendo o direito sagrado dos judeus sobre a Palestina, tratando a população nativa – que habita a região há mais de 2 milênios – como invasores ilegais. Não sabem eles dos horrores que são cometidos em nome dessa ideologia abertamente racista e explicitamente fascista contra gerações de palestinos. Estes espíritas não têm noção do desprezo que os sionistas nutrem por eles e por todos os ditos cristãos, a quem consideram inferiores e subalternos. É tempo de acordar para a realidade perversa, racista, cruel e destrutiva do sionismo. Existem muitas provas da ideologia francamente racista que domina a mentalidade de Israel. Pensem, com sinceridade, se o mundo pode conviver com tamanha perversidade.
A narrativa que Israel e seus defensores tentam nos impor é de que antes de 7 de outubro de 2023, entre o Rio Jordão e o Mediterrâneo havia um país em paz, com equidade, justiça social e democracia. Tanto é verdade que uma festa para a juventude israelense ocorria poucas quadras distante dos muros do campo de concentração, onde estavam aprisionados “terroristas” perigosos – em sua maioria mulheres e crianças. Eis que, subitamente e sem qualquer motivo, um bando de “pessoas más”, árabes perversos e assassinos, fugiu da prisão de Gaza, matando e sequestrando inocentes. Por que razão fariam isso, se vivem num país que celebra há poucos metros a liberdade, a vida e a democracia? O mundo imediatamente se solidarizou com os pobres israelenses pegos de surpresa enquanto celebravam seu amor pela vida. Os relatos imediatos sobre “estupros”, bebês em fornos e crianças com suas “cabeças decepadas” foram disseminados largamente pela imprensa ocidental, e com o correr das semanas mostraram-se absolutamente falsos, mas a mídia continuava a oferecer a imagem de uma luta do bem (o ocidente) contra o mal (o oriente).
Para fazer prevalecer a perspectiva sionista era necessário dar a entender que o 7 de outubro era uma espécie de “big bang”, a explosão primordial de revolta árabe que deu início a uma reação intensa de vingança e retaliação. Com esta perspectiva, os israelenses – e 90% da imprensa corporativa ocidental – procuravam apagar o Nakba (a catástrofe de 1948) e o que se seguiu: 7 décadas de torturas, mortes, assassinatos, violências, massacres, despejos, desrespeito e a tentativa de eliminar o povo palestino de seus direitos, expulsando-o de sua própria terra. Para justificar suas ações retaliatórias desproporcionais, que atingem crianças e mulheres em sua maioria, desumanizam o povo palestino chamando-o de “animais”, e usam o termo “terrorista” para se referir aos combatentes do Hamas e outros grupos de resistência, rotulando negativamente os guerreiros que lutam há décadas, sem recursos e sem exército, pela dignidade do seu povo, resistindo à ocupação violenta e ilegal.
Todavia, as táticas de controle da narrativa e desinformação produzidas pela mídia corporativa não podem funcionar indefinidamente. Não é mais possível mentir para todos o tempo todo. A “carta do holocausto”, usada como salvo conduto para as atrocidades de Israel, não está mais funcionando, como já alertava Norman Finkelstein em seu livro “A Indústria do Holocausto”. Não há como justificar o morticínio palestino usando como desculpa algo que vitimou as comunidades judaicas na Europa há um século, e uma tragédia não pode oferecer ‘as suas vítimas um passe livre para toda sorte de perversidades. Inobstante o numero assustador de mortes e as crueldades cometidas pelo “exército mais covarde do mundo”, o povo palestino jamais desistirá de sua luta por liberdade, segurança e autonomia. A verdade já chegou ao mundo inteiro, e Israel está se encaminhando célere para a condição de pária internacional. Com o tempo, até os seus maiores apoiadores, os americanos – que consideram este país como seu maior porta aviões em uso – vão desistir de Israel, e aqueda dos governos racistas será inevitável.
Lula está certo em denunciar ao mundo que as práticas de Israel são as mesmas levadas a cabo por Adolf Hitler na guerra mundial de meados do século passado. A crítica de que o “holocausto judeu” não é comparável a nenhuma outra tragédia humanitária é, em si, um resumo do racismo sionista. Este mesmo sofrimento ocorreu diariamente nos 75 anos de ocupação da Palestina através da fome, da miséria, dos abusos, da segregação e da violência. A exigência de exclusividade do termo para o sofrimento do povo judeu é uma das marcas do sionismo. Por se julgarem especiais, o “povo escolhido”, acreditam que sua dor é única, como se não houvesse outras tragédias, inclusive aquelas que eles mesmo impuseram ao donos da terra que agora ocupam.
Por estas razões, Israel é um país destinado ao fracasso, da mesma forma como o racismo e o apartheid da África do Sul também estavam condenados a desaparecer. Não há como manter um modelo racista e um apartheid explícito sem que, com o tempo, o resto da comunidade das nações reconheça sua imoralidade. O mundo inteiro testemunha o massacre em Gaza, e a imagem internacional de Israel é de uma nação criminosa, sem qualquer respeito pela vida humana, comandada por psicopatas e genocidas e com o apoio de sua população. Nunca Israel teve suas entranhas tão escancaradas e pudemos ver suas vísceras apodrecidas, produzidas por arbítrio, abuso, intolerância e preconceito. O destino do racismo israelense só pode ser o desaparecimento, para que de suas cinzas possa nascer um país multinacional que congregue judeus, árabes, cristãos e palestinos de todas as raças, cores e credos, numa nação plural e democrática.
As redes sociais e o jornalismo independente destruíram em poucos anos a imagem falsa de Israel como “a cidade no meio da selva”, que durante décadas nos fez pensar que a “única democracia no Oriente Médio” era uma ilha de civilidade em meio à barbárie.
Não passavam de mentiras, narrativas falsas para nos afastar da dura realidade: Israel é um antro de perversidade, uma nação falsa e artificial criada pela expulsão dos seus moradores e controlada por fanáticos e assassinos genocidas, racistas da pior espécie, o que tornou a população de Israel a mais desprezível do planeta. Bastou que as informações viessem dos dois lados – mostrando a realidade dos palestinos – para que o mundo percebesse o horror da ocupação, a vergonha do Apartheid e a indignidade de um campo de concentração a céu aberto como é Gaza.
O exército sionista, por sua vez, recebe orientações claras para matar crianças, mulheres, jornalistas e o pessoal em serviço na atenção médica. Ficou claro que estas não são baixas colaterais, mas o objetivo principal das bombas sionistas. Já as pessoas por trás dessas ordens – os militares sionistas – são os piores seres humanos que jamais pisaram a Terra, conduzidos por uma ideologia segregacionista e supremacista, baseada em três pilares:
1- o mito do povo escolhido 2- o mito da eterna vítima das perseguições 3- a desumanização dos palestinos
Essa ideologia fascista oferece o suporte para as ações covardes, os ataques destrutivos, os assassinatos, a limpeza étnica, o desprezo pelas outras etnias e os massacres que se direcionam em especial às crianças. Por outro lado, a liberdade de expressão que ocorreu como efeito colateral das redes sociais acabou demonstrando que a narrativa sionista é produto de mentiras grosseiras, e que o “povo escolhido” nada mais é do que um grupo de abusadores e colonos racistas, cuja perspectiva de mundo é fundada no supremacismo racial e no uso da força bruta como forma de apropriação do que é, por direito, dos nativos da Palestina.
Não há povo mais bravo e resiliente que o palestino, que sacrifica sua própria vida em nome da liberdade e da autonomia. É impossível destruí-los porque não se destrói uma ideia. Já os sionistas, estes estão derrotados, seja na batalha direta contra os guerreiros palestinos da resistência ou seja pela mudança radical da opinião pública sobre os crimes de genocídio, limpeza étnica e racismo cometidos contra a população original da Palestina. Israel não sairá impune desse crime cometido contra toda a humanidade.
Racismo, nunca mais, Limpeza étnica, nunca mais, Sionismo, nunca mais, Imperialismo, nunca mais!!
A Palestina vive e respira por cada um de nós. Não deixe de falar sobre o massacre. Denuncie os racistas!! Boicote a todo e qualquer produto, serviço, artista ou acadêmico que represente o Estado Terrorista de Israel.
Não vamos esquecer o que Israel fez às crianças da Palestina. Jamais. Até comparar Israel com os adoradores de Adolf é injusto, porque o criminoso nazista nunca determinou que o alvo de seu ódio fossem especificamente as mulheres e crianças indefesas. Esta guerra – de um estado poderoso contra um povo – já foi perdida pelos sionistas, inobstante as mortes que ainda continuam a promover entre a população de Gaza e da Cisjordânia. Entretanto, depois de tanta violência, o mundo jamais verá Israel como outrora. Despida da capa de mentiras construída pela imprensa corporativa corrupta, agora todos podemos ver – quase sem censura – a obscenidade de sua essência perversa.
Nem todo judeu é sionista e a maioria dos sionistas sequer é composta por judeus; são cristãos sionistas, como Biden ou os bispos Malafaia e Edir Macedo, pragas surgidas respectivamente pelo israelismo da política americana ou pelo neopentecostalismo tupiniquim, que lucra milhões com suas viagens turísticas à Terra Santa. Portanto, qualquer confusão entre estes termos é oportunismo, serve como manobra diversionista, cujo único objetivo é evitar que apontemos os horrores da aventura colonial racista no Oriente Médio. Para qualquer sujeito intelectualmente honesto, não é difícil entender que atacar o nazismo não significa ser antialemão, assim como criticar o retrocesso civilizatório do bolsonarismo não é o mesmo que ser antibrasileiro. Da mesma forma, criticar a inquisição da idade média não é o mesmo do que atacar Cristo ou sua doutrina.
Passei anos sendo perseguido por sionistas da aldeia que acusavam minhas críticas veementes ao apartheid de Israel como sendo “racismo”, ataques injustificados aos judeus ou ações antissemitas. Muitas dessas pessoas me xingaram e usaram de violência verbal pelas minhas palavras duras, em especial durante e após as “operações especiais” realizadas em Gaza e nos territórios ocupados da Cisjordânia, que matavam centenas de crianças e mulheres, números que agora chegam aos milhares. Nunca me intimidei e desafiei aqueles que me contestavam para que respondessem perguntas simples sobre a vida em Gaza e na Cisjordânia, as quais demonstram sem sombra de dúvida a brutalidade da ocupação.
Para quem acompanha este debate há décadas, é simples de ver que a defesa de Israel é sempre recheada de mentiras. Desde “uma terra sem povo para um povo sem terra“ até as crianças “decepadas“, “estupros” ou “não atiramos em civis“, as mentiras são inexoravelmente imbricadas na narrativa sionista. São falsidades repetidas à exaustão, auxiliadas pela parcialidade criminosa das grandes plataformas digitais (Facebook, Instagram, Google) e a imprensa corporativa, toda ela nas mãos dos sionistas e dos senhores da guerra, que lucram bilhões quanto mais mortes aparecem nas capas dos jornais.
Já aqueles que defendem o povo palestino são, via de regra, pessoas que, como eu, acordaram para a realidade da geopolítica do Oriente Médio há muitos anos, o que só ocorre quando ousamos investigar o que existe por detrás das capas de enganação que são despejadas pelos telejornais há décadas. Nossas posições são essencialmente humanistas, pois que expõem a barbárie da ocupação, as mortes, a limpeza étnica, a indignidade do tratamento, os abusos, a prisão de crianças, as detenções administrativas que duram anos, as mortes e os processos kafkianos de violência jurídica. Por outro lado, o “whitewashing” (prática de selecionar informações, enfatizando ou omitindo, a fim de melhorar a imagem de uma pessoa ou de uma instituição frente à opinião pública) sempre foi a forma de apresentar Israel ao ocidente, e por isso era chamado de “a villa in the jungle” e, com o mesmo cinismo característico, difundem ideia de serem a “única democracia na região“ – uma mentira asquerosa – e usam a questão identitária (em especial de mulheres e gays) para vender a imagem de uma civilização justa, europeia, branca e semelhante à nossa. Por seu turno, todo e qualquer grupo que lutasse pela libertação do povo palestino era imediatamente rotulado de “terrorista”, da mesma forma como os presidentes anti-imperialistas de qualquer nação são automaticamente chamados de “ditadores”, inobstante serem democráticas as eleições que os tenham levado ao poder.
Cabe a nós não retroceder na exposição, cada vez mais intensa, das contradições do sionismo. Não é mais possível aceitar o colonialismo genocida a controlar com mão de ferro a Palestina, e cada um de nós é responsável por espalhar a necessidade de democracia na região. E “cada um de nós” inclui os nobres irmãos judeus que na Palestina, no Oriente, na Oceania, na América e na Europa se levantam contra o sionismo e seu modelo supremacista e excludente. Judeus estarão lado a lado com os palestinos na luta pela liberdade, do rio ao mar.
Não fiquem bravos comigo: a libertação da Palestina é o grande clamor civilizatório da nossa época. Não há como me calar diante da necessidade de apoiar a grande luta libertária do século XXI.
Não me perguntem se eu aceito os ataques do Hamas às bases militares sionistas situadas ao lado de Gaza. Sim…. eu aceito as bombas, os foguetes, os ataques e as emboscadas, sim. Por mais que sejam inaceitáveis e injustificáveis a violência e a brutalidade, há que aceitar a motivação de tais ações heroicas. Entendo perfeitamente que aos palestinos, depois de sete décadas de massacres e humilhações, só restava a possibilidade do ataque militar aos fascistas de Israel. Acreditar que depois de 75 anos de massacres haveria consideração e interesse de debater a questão palestina por parte dos invasores é uma ingenuidade que os palestinos não se permitirão nunca mais.
Ou por acaso a liberdade dos povos se consegue com abaixo-assinados? Por acaso o fim da monarquia na França e a ascensão da burguesia ao poder na Revolução Francesa se deu por uma petição no Avaz? Os americanos venceram os ingleses e conquistaram sua independência através do diálogo? A liberdade da Argélia do jugo horrendo da França se deu numa mesa de bar? E o que houve com todas as colônias em África que se libertaram do colonialismo? Por acaso sua liberdade ocorreu numa sala acarpetada na ONU?
Seria justo pedir moderação a quem sofre a barbárie racista e colonial há décadas? A estratégia do consenso e da diplomacia funcionaria agora, depois de jamais ter produzido resultados? O que houve com Camp David? Qual o resultado dos acordos de Oslo? E por que exigimos diálogo por parte dos Palestinos, mas jamais exigimos isso dos brancos europeus invasores sionistas? Por que os passos para a paz são exigidos apenas de quem é oprimido, mas não da parte opressora? Porque nós (as vitimas do imperialismo) somos pressionados a dialogar, esperar, aceitar, suportar e nos resignarmos, enquanto aos invasores é oferecido tudo: aviões, armas, foguetes, canhões, tanques, o controle da narrativa e ainda por cima uma máquina gigantesca e mortífera de propaganda?
Se a guerra é necessária que seja aceita, lutada e vencida. Chega de abuso, chega de racismo e apartheid. Chega de opressão e morte. Os povos de todo o planeta exigem: Palestina livre!!!
Os fatos atuais, que mostram de forma explícita e inequívoca a barbárie do colonialismo racista de Israel, tornaram ainda mais vergonhosas as visitas de Caetano, Gil e Jean Wyllys à Palestina há poucos anos. A visita destes ocorreu mesmo depois dos avisos reiterados – inclusive de Roger Waters – para não visitarem um país que tinha uma imensa ficha corrida de abusos e violações de direitos humanos contra a população original daquela terra.
A ideia dos ativistas pela Palestina era reforçar o bloqueio cultural à Israel como parte do esforço para isolar um país que tem o supremacismo étnico e a invasão de terras palestinas como cimento cultural. Apesar dos avisos, estes personagens, identificados com a esquerda brasileira, foram a Israel, fizeram shows e palestras de cunho identitário e tiraram fotos com notórios terroristas – como Shimon Perez. Cabe também dizer que outro queridinho da esquerda liberal festiva do Brasil, Gregório Duvivier, também proferiu palestras a convite de Israel em sua campanha de propaganda e “whitewashing” do colonialismo. Esses convites “boca livre” de Israel são tradicionais para a compra de mentalidades na América Latina. Há poucos dias uma nova leva de influencers (como Rogério Vilela e André Lajst) foi para Israel receber uma versão distorcida e mentirosa para o ataque do Hamas em 7 de outubro.
As imagens de Jean Wyllys na universidade sionista e dos músicos brasileiros ao lado do ex-presidente de Israel são as mais chocantes – e das mais difíceis de engolir. Quanto ao político israelense, Shimon Peres, nasceu na Polônia em 1923, em Wiszniew, Polônia (hoje Vishnyeva, Bielorrússia) e seu nome original era Szymon Perski. Ele foi um os fundadores de Israel, mas também de sua milícia terrorista mais cruel, chamada Haganah. Este comando terrorista se ocupava em exterminar e expulsar palestinos de seu território com o suporte das forças imperialistas para criar uma grande base militar no Oriente Médio. Anos após, foi Shimon Peres quem negociou o apoio imperialista para que Israel tivesse armas atômicas.
Shimon Peres foi também primeiro ministro e presidente de Israel – parte de uma longa lista de terroristas que se tornaram políticos de destaque naquele país. Nesta condição é responsável direto pelas violências, abusos, massacres, bombardeios, execuções extrajudiciais e múltiplas violações dos direitos humanos aplicados ao povo palestino durante mais de sete décadas. Peres foi ideólogo do terrorismo israelense em sua mais clara manifestação. Ele é responsável pela nomeação de Ariel Sharon, que o sucedeu, para o comando das tropas que invadiram o Líbano, as mesmas que posteriormente estiveram presentes no massacre de Sabra e Shatila. Não por acaso, Shimon Peres foi parceiro dos mais sanguinários ditadores genocidas latino americanos, como Pinochet, Videla e Hugo Banzer.
Não deveria causar surpresa que Shimon Peres (que faleceu em 2011) pertencia à esquerda israelense, do partido trabalhista, porque para Israel a esquerda e a extrema direita são visceralmente unidas no etnocentrismo racista que sustenta a ideologia sionista.
A culpa que estas personalidades da cultura brasileira carregam eu não gostaria de ter sobre as minhas costas. Não há justificativa para ser fotografado ao lado de reconhecidos genocidas ou para posar sorridente à frente de uma universidade erguida sobre terra Palestina furtada pelo estado terrorista que a controla. Todavia, espero que eles tenham a capacidade de rever suas posições (algo que até agora não ocorreu de forma clara), reconhecer seus erros e, enquanto ainda houver tempo para limpar suas biografias desta nódoa, colocar suas vozes a favor da independência, da autonomia e da liberdade do povo da Palestina.
Durante muitos anos eu achei que Robert Kennedy Jr, por atacar de forma muito dura a indústria farmacêutica – um empreendimento maior que o PIB de inúmeros países – e por ser um defensor do meio ambiente, poderia ser uma esperança para o comando dos Estados Unidos, fugindo da dualidade entre os “elefantes” e os “asnos”. Ele parecia a muitos ser uma esperança de renovação e uma forma de garantir um contraponto ao poder imenso das grandes corporações que controlam o “deep state“: indústria farmacêutica, indústria bélica e as big techs do vale do silício.
Entretanto, quando vi sua última entrevista a respeito da Palestina, ficou evidente que sua posição é tão ou mais imperialista que a dos outros candidatos. Diante da evidência dos massacres, da morte das crianças, dos ataques a civis, da humilhação constante dos palestinos e dos ataques à Cisjordânia, tratou o conflito da forma mais maniqueísta possível, usando os mesmos clichés que são distribuídos nos balcões da propaganda racista de Israel. Chamou o Hamas de “terrorista”, criticou a resistência palestina, tratou de forma condescendente o horror dos bombardeios aos hospitais e mostrou enorme amor pelo estado racista de Israel.
Ou seja: seja quem for o próximo presidente a sentar naquela cadeira em 2024 continuará a política genocida e imperialista do país, pois o imperialismo está para os americanos como o sionismo está para os israelenses: religiões que cimentam a coesão social de ambos os países. É ingenuidade imaginar que algum mandatário americano trairia a visão de “polícia do mundo” e o excepcionalismo americano.
Não há esperança alguma com qualquer dos políticos que tenham o interesse de assumir esta posição. O dinheiro do sionismo compra todas as mentes.
Faça um simples exercício de imaginação e pense como reagiríamos se a China comunista tivesse esmagado uma rebelião no Tibete e, através de um bombardeio incessante sobre regiões densamente habitadas e houvesse matado mais de 15 mil civis, entre estes 8700 crianças tibetanas – até agora. Diante de tamanha matança, como seriam as manchetes nos principais meios de comunicação do ocidente? Como seriam tratados os chineses e suas autoridades? Que país europeu estaria apoiando a China e sua carnificina com slogans “I Stand with China”?
Por que a diferença no tratamento destes dois episódios desumanos e brutais? O que está por trás desse horror que não sejam os interesses capitalistas, o racismo e a perversidade mais explícita? Qual a diferença entre os campos de concentração nazi e o campo de concentração de Gaza? Por que aceitamos as desculpas cretinas dos apoiadores de Israel, aceitando haver razão para matar 1000 crianças para atingir um único combatente do Hamas? A resposta é óbvia: Israel é uma ponta de lança do imperialismo cravada no Oriente Médio, às custas da liberdade e da autonomia da Palestina. Além disso, Israel, através do AIPAC, financia a maioria dos políticos americanos, em especial do partido Democrata. Fica fácil entender porque tanto amor devotado a esta colônia europeia branca entre os países árabes.
Acrescento a estes questionamentos, perguntas direcionadas à imprensa: por que insistimos em chamar o Hamas de terrorista, e não chamamos de terroristas os brancos e europeus que roubaram suas terras, os humilharam e torturaram a ponto de não restar nenhuma alternativa além da reação violenta e feroz? Qual a razão para acreditarmos como aceitáveis as milhares de violências cotidianas cometidas contra a população palestina, mas nos escandalizamos quando aqueles que sofrem os abusos durante décadas finalmente reagem às agressões? Por qual motivo aceitamos o Apartheid declarado e explícito que impede o acesso dos palestinos à plena cidadania? “Dos rios dizemos violentos, mas não chamamos violentas as margens que os oprimem”. (Bertold Brecht)
Não é possível calar-se diante do apoio necessário à Palestina. É necessário que as denúncias se mantenham; é preciso expressar cotidianamente nossa inconformidade. Precisamos deixar claro o lado da história em que nos colocamos, apresentando a todos, e a todo momento, a realidade desumana do sionismo. Não permita que normalizem o racismo, a exclusão e o preconceito contra a coletividade Palestina. Peço para cada um que olhe para a foto desse texto e se imagine correndo com um filho nos braços, recém retirado dos escombros de sua casa, covardemente destruída pelas bombas sionistas. Difícil? Se esta identificação é complicada, então imagine que é uma criança loira e de olhos azuis atacada por nazistas no gueto de Varsóvia; talvez com esta pequena alteração na cor da pele fique mais fácil criar esta identificação. Miko Peled, ativista israelense pela palestina, filho de um general israelense que atuou na Guerra dos 6 dias, afirma que é “impossível vencer os palestinos”. Em uma postagem recente, deixa claro que a guerra contra Gaza é a guerra contra a paz. A imaginária vitória de Israel nessa guerra genocida significaria a vitória do racismo, da exclusão, da brutalidade e do abuso. Por isso somos todos Palestina Livre.