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Terroristas

Qualquer um que tenha lido não mais do que cinco minutos sobre a história do Nakba, sobre o Hamas e a respeito da luta de 76 anos pela libertação da Palestina não repetiria o que sionistas vomitam nas postagens pró-Israel É necessário compreender apenas que aqueles que lutaram pela libertação de Paris para tirar seu país das mãos dos nazistas, os que enfrentaram os ingleses para a independência americana, os que se rebelaram contra Portugal para conquistar a independência de Moçambique e Angola e os que expulsaram os franceses do norte da África para dar fim à opressão francesa na Argélia também foram chamados de “terroristas”, apenas porque as nações opressoras se arrogam o direito de colocar esse rótulo em quem luta contra a sua dominação.

Terrorista mesmo é Israel, até porque a própria criação desse enclave europeu e branco no território da Ásia Ocidental só foi possível a partir de atos de brutal terrorismo. O atual massacre covarde em Gaza não é o primeiro patrocinado pelos sionistas na Palestina e não será o último. Foi precedido por muitas tragédias conduzidas pelos monstros que controlam Israel, como o massacre de Deir Yaseen. Houve também massacres em Haifa em 1947 (nesta época foram mais de 20), e tantos outros, como a emblemática explosão do Hotel King David.

A explosão desse hotel foi um ataque ocorrido na cidade de Jerusalém em 22 de julho de 1946, durante o Mandato Britânico da Palestina, tendo como perpetradores os membros de uma organização armada sionista que lutava pela criação de um Estado racista e etnocrático, apenas para judeus, que viria a se chamar “Israel”. A milícia terrorista envolvida era denominada Irgun (diminutivo de Irgun Zvai Leumi, Organização Militar Nacional). O hotel servia de residência dos familiares de funcionários do governo britânico na Palestina e o ataque foi organizado por Menachem Begin, que seria mais tarde primeiro-ministro de Israel por dois mandatos. O ataque ao Hotel Rei Davi resultou na morte de 91 pessoas (28 britânicos, 41 árabes, 17 judeus e 5 outros mortos) e ferimentos graves em outras 45 pessoas. Aliás, também estavam lá os terroristas David Ben-Gurion, Menachem Begin e Yitzhak Shamir, que dirigiam, respectivamente, os grupos terroristas Haganah, o Irgun e o Bando Stern. Alguns anos depois, todos seriam primeiros-ministros de Israel, sem que qualquer um deles tenha jamais sido punido pelos atos hediondos e os crimes contra a humanidade por eles cometidos. Já pensou o que diríamos se o nosso presidente fosse um terrorista que um dia planejou a explosão de uma adutora para forçar o aumento dos salários de militares? Bem, não deveria ser nenhuma surpresa para nós…

Chega a ser estúpida qualquer afirmação de que a resistência armada de um povo, que vivia naquela região há milhares de anos, possa ser chamada de terrorista, enquanto os invasores da Europa sejam todos eles considerados como tendo um direito natural àquela terra. O Hamas nada mais é do que um grupo de bravos guerreiros que tentam há 7 décadas o reconhecimento de sua nação, combatendo o imperialismo e se defendendo dos massacres, as mortes, os sequestros de crianças, as torturas, os assassinatos e os abusos sexuais contra seu povo. Antes de chamar os palestinos de “terroristas” pense primeiro o que você faria se o seu pai fosse morto, sua irmã abusada, sua mãe morresse por falta de remédios e seus primos e tios estivessem em uma masmorra sionista pelo simples crime de serem palestinos. E se você acha exagero, aqui estão em ordem cronológica os principais massacres cometidos contra a população cristã e muçulmana da Palestina.

PALESTINA LIVRE!!!!

1. Haifa – Massacre – 6/3/1937, 6/7/1938, 25/7/1938, 26/7/1938, 27/3/1939, 19/6/1939, 20/6/1948
2. Jerusalém – Massacre -1/10/1937, 13/7/1938, 15/7/1938, 26/8/1938, 7/1/1948
3. Balad Al-Shaykh – Massacre – 12/6/1939
4. Al Abbasiyah – Massacre – 13/12/1947
5. Al-Khasas – Massacre – 18/12/1947
6. Jerusalem – Massacre – 29/12/1947
7. Jerusalem – Massacre – 30/12/1947
8. Balad Al-Shaykh – Massacre – 31/12/1947
9. Al-Sheikh Break – Massacre – 31/12/1947
10. Jaffa – Massacre – 4/1/1948
11. Al-Saraya – Massacre – 4/1/1948
12. Semiramis – Massacre – 5/1/1948
13. Lydda – Massacre 1948
14. Al-Saraya Al-Arabeya – Massacre – 8/1/1948
15. Ramla – Massacre – 15/1/1948
16. Yazur – Massacre – 22/1/1948
17. Haifa – Massacre – 28/12/1948
18. Tabra Tulkarem – Massacre – 10/2/1948
19. Sa’sa’ – Massacre – 14/2/1948
20. Jerusalem – Massacre – 20/2/1948
21. Haifa Masacre – 20/2/1948
22. Saliha – Massacre 1948
23. Al-Husayniyya – Massacre – 13/3/1948
24. Abu Kabir – Massacre – 31/3/1948
25. Cairo Train – Massacre, Haifa – 31/3/1948
26. Ramla – Massacre – 1/3/1948
27. Deir Yassin – Massacre – 9/4/1948
28. Qalunya – Massacre – 14/4/1948
29. Nasir al-Din – Massacre – 13/4/1948
30. Tiberias – Massacre – 19/4/1948
31. Haifa – Massacre – 22/4/1948
32. Ayn al-Zaytoun – Massacre – 4/5/1948
33. Safed – Massacre – 13/5/1948
34. Abu Shusha – Massacre – 14/5/1948
35. Beit Daras – Massacre – 21/5/1948
36. Al-Tantura – Massacre – 22/5/1948
37. Abu Shudha – Massacre 1948
38. Al-Dawayime – Massacre 1948
39. Khan Yunis – Massacre 1955
40. Jerusalem – Massacre 1967
41. Sabra and Shatila – Massacre 1982
42. Al-Aqsa – Massacre 1990
43. Ibrahimi Mosque – Massacre 1994
44. Jenin Refugee Camp April 2002
45. Gaza – Massacre 2008-09
46. Gaza – Massacre 2012
47. Gaza – Massacre 2014
48. Gaza – Massacre 2018-19 & 2021
49. Gaza Genocide 2023 em andamento

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Quem decide por nós?

No Brasil você é proibido de defender a legalização de um partido nazista; isso está na legislação. Entretanto, a gente sabe que nossa constituição é maleável; ela pode ser suplantada pelo simples desejo de um ministro do STF, bastando para isso que ele sinta ameaçada sua perspectiva burguesa e liberal. E vejam: não se trata sequer de defender um partido nazista ou sua plataforma racista, opressora e excludente, mas simplesmente reconhecer o direito de fascistas aparecerem à luz do dia e saírem do esgoto. Pois isso, para Alexandre de Moraes, já é motivo para perseguições. Monark, o menino ancap, está sendo perseguido por querer bancar o Voltaire em terra de Xandão (*).

Por outro lado, você pode criar um partido de inspiração e financiamento sionista no Brasil de forma absolutamente livre. O sionismo é uma ideologia supremacista e colonial que já matou milhões de palestinos, direta ou indiretamente, nos últimos 75 anos. Durante o Nakba, em 1948, expulsou 750 mil palestinos de suas casas e criou um país artificial, roubando a terra dos seus moradores originais. Israel se tornou a última colônia opressora ocidental, onde só uma identidade tem plenos direitos, em detrimento de todas as outras. Estabeleceu um regime explícito de Apartheid, separando os judeus do “resto”, em especial os árabes – a população nativa do local. No último massacre, ainda em vigor, mais de 30 mil pessoas, a maioria de mulheres e crianças foram mortas. Os crimes de guerra – ataque a hospitais, aos campos de refugiados, aos médicos, enfermeiras e jornalistas, etc. – são difundidos abertamente pela Internet e pela TV, crimes escancarados, vistos por milhões de pessoas no mundo inteiro. Cinicamente matam, prendem, humilham e abusam. Apesar disso, as redes de TV e os jornais podem defender abertamente esse regime, sem sofrer qualquer admoestação por parte das instituições jurídicas.

Ou seja, o problema não é a defesa de sistemas de poder fascistas, racistas e opressivos; isso podemos ver como acontece abertamente pela defesa de um país terrorista como Israel. O drama está em quem tem o poder de discriminar o que pode ou não ser proibido. Por certo que não é o povo brasileiro, mas uma elite jurídica que determina o que pode ou não ser visto por nós. No caso brasileiro, os ministros do STF concentram esse poder, atuando por cima de todos os outros poderes; a palavra de um Xandão vale mais do que a do presidente ou mesmo do Congresso Nacional inteiro – que ao contrário daquele, foram escolhidos diretamente pelo povo.

Assim, dá para entender as razões pelas quais a extrema direita autoritária e a extrema esquerda focam no mesmo ponto: o autoritarismo do STF é perigoso. A extrema direita fascista, por certo, por questões oportunistas: eles são as vítimas de hoje, uma vez que seus líderes estão a ponto de serem encarcerados pela ação do STF. Porém, seria uma suprema ingenuidade acreditar que a extrema direita preza valores como a liberdade, se estão sempre à frente das ditaduras que destroçaram a democracia no mundo inteiro. Já para a esquerda radical a questão é mais estrutural; entende que o mesmo Alexandre que deseja “limpar” as redes sociais foi o sujeito que apoiou o golpe contra Dilma, a prisão ilegal de Lula e rasga elogios ao traidor da pátria Michel Temer sempre que pode. Portanto, Xandão está longe de ser um legalista e alguém que defende a democracia e a constituição; ele é de fato um golpista e mais um árduo defensor dos poderes burgueses. Repetindo: é possível denunciar Alexandre de Moraes como um autoritário – um sujeito colocado no poder por um traidor e que abusa do seu poder – sem ser simpático ao bilionário, drogadito, ancap, golpista que estimula e patrocina golpes na América Latina.

(*) sim, eu sei que Voltaire não disse aquela famosa frase, mas se eu colocasse o nome de sua verdadeira autora – Evelyn Beatrice Hall, biógrafa de Voltaire – ninguém iria sacar a analogia.

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Netanyahu

A nova/velha tática de sionistas confrontados com imagens, relatos e depoimentos sobre o massacre de mulheres e crianças – além da morte de membros de uma ONG que levaria comida aos famintos de Gaza – é afirmar que estas verdades insofismáveis não são decorrentes da ideologia racista e supremacista que abraçam, mas do governo Netanyahu, que faz parte de uma extrema direita impopular e “extremista”. Esta é, aliás, a retórica mais preponderante entre os ditos “sionistas de esquerda”, um oximoro que ocupa posição de destaque na imprensa corporativa. Tentam retirar a culpa da estrutura que sustenta o Estado terrorista de Israel para colocá-la numa contingência eleitoral, como a presença de um radical de direita à frente do seu governo. Todavia, ao contrário do que os sionistas mais ufanistas acreditavam, Israel se mostrou incapaz de quebrar a resistência palestina. O apoio internacional à causa Palestina aumenta no mundo inteiro e o sionismo racista e supremacista se isola, restando apenas o apoio do Império Americano. Porém, mesmo no seio da América este suporte está enfraquecendo rapidamente, na medida em que as mentiras de Israel são reveladas e as pessoas aos poucos começam a conhecer a realidade da ocupação brutal de Israel. A Palestina vencerá porque o mundo não pode mais aceitar o racismo e a brutalidade fascista que são o coração do sionismo, porém, antes que isso aconteça, muitos sionistas tentarão oferecer a simples troca de um governo fascista por um personagem mais moderado como solução para o drama palestino. Todos sabemos o quanto isso é falso.

Ora, todos sabemos que a imensa maioria da população de Israel apoia os massacres aplicados à população palestina. Os descontentes que saem às ruas contra o governo atual clamam por ações mais enérgicas (ou seja, mais mortes) para o resgate dos reféns e pelo fim do governo corrupto de Netanyahu. Não são movidos por interesses humanitários, por certo. Também é fácil perceber que, entre a elite política de Israel, Netanyahu é visto como moderado; por mais bizarro que possa parecer, os chacais ao seu redor são ainda mais radicais no uso da violência. A possível troca de Netanyahu por Benny Gantz ou Yair Lapid – seus principais opositores – produziria mais radicalismo, pois que suas posições são ainda mais virulentas, racistas e genocidas que as utilizadas até agora.

A sociedade israelense foi se deteriorando com o passar dos anos, radicalizando-se no arbítrio e na opressão, mergulhada no fascismo mais abjeto, em um nível e em que o desprezo pelos árabes, a postura supremacista, o excepcionalismo e a desumanização do povo palestino permitem que o massacre cruel e abjeto seja a cola social que unifica seu povo. Não há diferença alguma em suas práticas que os diferencie dos seguidores de Adolf.

Por outro lado, é certo que esta “solução” – a queda e a prisão do primeiro ministro Netanyahu – mais cedo ou mais tarde poderá ser aventada, mas não nos enganemos; caso venha a correr a proposta terá como objetivo “mudar para não mudar”. Ou seja, “oferecemos a cabeça de Netanyahu em uma bandeja para o ocidente para que nossa proposta de extermínio da Palestina siga intocada”. A população da Palestina, que de forma intensa apoia as medidas dos grupos de defesa e de resistência armada, não vai aceitar a queda de um político corrupto como sinal de paz ou como solução para o colonialismo e a ocupação. Este truque também poderá ser utilizado na nossa questão doméstica: a prisão de Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que coloca um criminoso na prisão esta ação pode manter vivo o bolsonarismo, deixando protegido o radicalismo fascista de extrema direita.

É preciso entender a delicadeza da situação na Palestina para não se deixar aprisionar pelo emocionalismo. O ataque ao sionismo e sua ideologia fascista precisa muito mais de cérebro e paciência do que pressa e ações apaixonadas. É necessário ser frio e entender que a luta de 75 anos pela Palestina livre não vai terminar da noite para o dia e muito menos vai se dar por ações atabalhoadas e midiáticas.

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Empatia

Ficamos naturalmente horrorizados com o holocausto judeu na segunda guerra mundial ou com as circunstâncias terríveis para os habitantes da Ucrânia na atualidade. Para quem tem mais idade, os horrores causados pelos nazistas contra a população de judeus, ciganos, homossexuais etc. ainda estão em nossa memória, mostrando o poço profundo de maldade e miséria humana em que a humanidade é capaz de se envolver em busca de poder. Imagens desses desastres humanos, quando mostradas, ainda hoje causam imediata reação. É simples e natural sentir em nós mesmos o sofrimento a que foram (ou ainda são) submetidos aqueles que sofreram a perversidade de uma guerra. Entretanto, se houver uma consciência mais ampla das razões que nos fazem sofrer pela dor alheia, é forçoso considerar que tais dores são consideradas indignas e insuportáveis apenas porque as vítimas são brancas, falam nossas línguas e parecem muito conosco. É esse este espelho de nós mesmos que torna possível estabelecer uma conexão com elas. A semelhança permite que nos vejamos dentro de suas peles claras e europeias.

Por outro lado, para nós é fácil produzir uma capa de proteção contra o horror da opressão criando um isolamento emocional. Basta para isso que os martirizados sejam os congoleses – destruídos pelo Rei Leopoldo – quando são os milhões de chineses as vítimas – massacrados pelos japoneses – ou quando quem sofre são os vietnamitas, os coreanos, os afegãos e os sírios destruídos pelo Império americano, composto por brancos cristãos e tementes a Deus – como nós. Essa é a razão que nos faz chorar por uma falsa agressão contra mulheres israelenses mas não nos faz pegar em armas ao ver a brutalidade do holocausto palestino, a morte de milhares de mulheres e crianças, o bombardeio de hospitais, a morte de médicos, enfermeiras e jornalistas e a fome e a sede produzidas pelo sionismo.

Nossa empatia é por semelhança; temos afeto por golfinhos – que parecem sentir e agir como humanos – mas não por atuns, que vivem no mar e são tão grandes e bonitos quanto os golfinhos. Nossa simpatia é seletiva, e parece ser despertada apenas com gente parecida com a gente e por esta razão, para que a paixão de Cristo fosse dolorida em nossa própria carne, era preciso construir um Jesus loiro, caucasiano e de olhos azuis. Pouca importância seria dada a um preto revolucionário, anti-imperialista, revisionista judeu, se sua pele fosse morena e seu cabelo preto e enrolado. Foi preciso ocidentalizar o Cristo, torná-lo palatável para, só assim, ser consumido pelos consumidores europeus. . Isso pode ser visto de forma muito simples nas coberturas de guerra, tanto nos conflitos da Ucrânia, ode os jornalistas deixavam claro que as mortes aconteciam com “gente loira e de olhos azuis” e que por isso deveriam ser repudiadas, ao mesmo tempo em que mortes de israelenses ganham muito mais atenção – e impacto – do que as milhares de mortes que ocorrem há mais de sete décadas na Palestina, e que agora atingem sua face genocida mais explícita.

Enquanto nossa empatia for pela cor da pele – qualquer uma – e não pelo que existe de humano que habita em cada um de nós, não poderemos receber o nome de “humanidade”

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Birthright

Lembrei hoje de um colega da escola médica porque na época da faculdade ele fez a conhecida viagem de “intercâmbio” de jovens para Israel – chamada de Taglit, ou Birthright Israel – que muitos, se não todos, judeus de classe média faziam ainda quando bem jovens. Quando voltou estava transformado, com incontido patriotismo por Israel. Perguntei a ele, por curiosidade, qual sua opinião sobre a região, o país, as guerras, a construção da nação e sua experiência com o povo de lá. Ele me descreveu detalhadamente sua perspectiva sobre o “conflito” na Palestina, trazendo uma visão totalmente enviesada, que é exatamente para o que servem estas viagens com a juventude judaica: produzir uma lavagem cerebral profunda, para introduzi-los na narrativa sionista.

Na sua explicação escutei todos os clichés que me acostumei a ouvir a partir de então sobre “um povo sem terra para uma terra sem povo”, “a guerra dos bárbaros árabes contra os bravos judeus”, “os heróis da independência”, “a villa in the jungle”, “a única democracia entre ditaduras sangrentas” etc. Outra coisa que me chamou a atenção foi sua visão sobre “Sabra e Chatila“. Ele estava em Israel exatamente na época da invasão e ocupação do sul do Líbano, quando ocorreu o massacre do campo de refugiados palestinos por milícias cristãs libanesas. Na madrugada do dia 15 de setembro de 1982, o Exército de Israel ocupou Beirute Ocidental, mesmo depois de se comprometer a não fazê-lo, tendo como contrapartida a saída da OLP para a Tunísia. “Tão logo a ocupação foi concluída, as tropas israelenses – comandadas por Ariel Sharon – cercaram os campos de refugiados de Sabra e Chatila. No dia 16 de setembro, o alto comando israelense autorizou às tropas falangistas cristãs, sedentas de sangue, a entrarem nesses dois campos de refugiados para realizar uma chacina contra a população civil que ali vivia, concretizando a vingança pela morte do ultradireitista Bachir Gemayel, presidente do Líbano ocupado”. (Breno Altman, vide mais aqui). Um filme muito interessante sobre este massacre patrocinado por Israel (entre tantas outras atrocidades) é a animação “Valsa para Bashir“. 

Tão logo voltou ao Brasil, sua explicação sobre o massacre que ocorreu tão próximo de si, está em plena sintonia com as narrativas sionistas que percorrem o campo simbólico até hoje. “Permitimos que dois inimigos nossos – libaneses e palestinos – se matassem mutuamente. Onde está a falha ética? Eles que se entendam”, explicou-me, de forma altiva. Na época eu nada sabia sobre a causa Palestina, o Nakba, e a resistência da OLP. Também acreditava que Yasser Arafat era um “terrorista”, que os árabes eram selvagens e que os sionistas desejavam a paz; por ignorar tantos aspectos importantes do conflito, lembro com vergonha de ter concordado com vários dos seus argumentos. Afinal, como poderia contestar, quando toda informação sobre a região na época era filtrada por uma imprensa claramente imperialista e favorável ao colonialismo?

Hoje resolvi olhar no seu Facebook para saber o que ele pensava sobre o massacre de agora, os 30 mil palestinos mortos, as crianças amputadas, o horror do genocídio contra a população civil, a limpeza étnica e, sem surpresa, percebi que ele se mantém aferrado ao preconceito sionista, usando palavras de ordem que vão desde “os palestinos não existem”, “vamos destruir o Hamas”, “eles morrem porque usam crianças como escudos humanos” e até “é imoral comparar o holocausto com essa guerra”. E, claro… não poderiam faltar os ataques a Chomsky, todos os judeus que apoiam a Palestina e os indefectíveis ataques ao presidente Lula e à esquerda, pelo crime de se posicionarem contra o mais brutal massacre contra civis do século XXI. O Birthright cumpriu seu objetivo, e manteve um sujeito prisioneiro de uma ideologia racista e supremacista desde a juventude até quase a velhice. Não há como não reconhecer a potência de um modelo que engessa mentes utilizando o holocausto como fonte de inspiração e identidade.

Com tristeza percebi que a faculdade de Medicina não é capaz de criar profissionais capazes de um olhar crítico sobre a sociedade, prontos para enxergar esta profissão de uma forma mais abrangente e complexa do que as simples tarefas operacionais de classificar, diagnosticar doenças e aplicar sobre os pacientes as drogas que nos ensinaram a prescrever. Acabamos sendo o sustentáculo de uma sociedade capitalista e patriarcal, sem perceber o quanto disso se reflete nas próprias doenças que tentamos tratar. Meus contemporâneos do tempo de escola médica, com raríssimas exceções – acreditem, ser de esquerda na Medicina é uma posição muito solitária – se tornaram conservadores em sua grande maioria, sendo alguns deles despudoradamente reacionários e fascistas, cuja paixão pela humanidade – a arte de curar e o questionamento das razões últimas que produzem as doenças – foi esquecida no banco de uma sala de aula da faculdade, durante uma classe de fisiologia, há muitas décadas.

Só me cabe agora lamentar…

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Direita israelense

“Isso é culpa da extrema direita judaica”

Até quando vamos aceitar esse tipo de confusão proposital, que tenta nos dizer que a culpa pelos ataques sistemáticos à população palestina é de uma “direita israelense” de caráter fascista e racista? Este tipo de informação quer nos fazer acreditar que a “esquerda judaica” seria progressista e pró Palestina, e que a culpa das arbitrariedades e da limpeza étnica na Palestina é da direita – o que é claramente um absurdo que pode ser comprovado analisando a própria história do Estado Sionista de Israel. É preciso, abandonar essa confusão criada pela “esquerda sionista”, da mesma forma como já está na hora de acabar com a velha conversa de que este grupo “apoia a população palestina e desejam uma solução de dois Estados”, algo que sempre existiu apenas como recurso retórico e diversionismo durante décadas. Jamais houve, por parte de Israel, o interesse de produzir uma solução negociada com os palestinos, pois que eles sabem que o futuro de Israel está vinculado ao desaparecimento dos palestinos. Tanto os governos de esquerda quanto os de direita boicotaram todas as tentativas de uma negociação justa, porque uma solução que reconheça os palestinos e um Estado Palestino soberano não lhes interessa.

Vamos assumir que o culpado para as tensões infinitas e crescentes na Palestina atende pelo nome de sionismo. Esse modelo etnocrático e excludente de colonialismo é uma questão de Estado, não de governo. O sionismo é a força unificadora de Israel, inobstante o partido no comando. Por exemplo; o Ha-Avoda é um dos grandes partidos do país, de centro-esquerda. É um partido social-democrata e sionista, membro da Internacional Socialista. Ou seja, até a esquerda israelense é sionista, portanto luta por um Estado judeu exclusivo, que visa a expulsão dos palestinos – ou os considera cidadãos de segunda classe.

Os massacres contra os palestinos não se relacionam com a direita ou a esquerda israelense, mas com o núcleo ideológico sionista que mantém a coesão do país. No último grande massacre em Gaza em 2014 foram mortos 2500 palestinos, dos quais 500 crianças. Ao se realizar uma pesquisa em Israel durante os ataques 95% da população apoiou abertamente os bombardeios contra a cidade sitiada. Pergunto: havia 95% de fanáticos de extrema direita em Israel? Não… porém 95% dos habitantes daquele lugar não aceitam a existência da Palestina e de seu povo. A ideia de que os problemas de direitos humanos contra Palestinos é por causa da direita israelense não passa de um mito. Não convém esquecer que Israel foi criado por socialistas ateus.

E sobre a grande supremacia da direita em Israel…. a direita sempre se evidencia nas crises. Israel está em eterna crise desde o Nakba em 1948, a qual jamais acabará. A tendência é o crescimento das contradições e um lento abandono do suporte internacional à Israel, em especial dos sionistas evangélicos do “Bible Belt” americano. Aí recai toda a esperança das futuras gerações de palestinos.

“Uniforme nazi? Não pode, manda prender. O contexto não interessa”.

Quanto aos ataques a Roger Waters, acusando-o de ser antissemita, esta é uma tática antiga. Qualquer um que critique a política de Israel – em especial sobre os direitos humanos de palestinos – receberá este rótulo, com o claro objetivo de desqualificar todos que ousem criticar os desmandos de Israel. Assim, se não é possível atingir a mensagem, que se ataque o mensageiro, chamando-o de “racista”, ou antissemita – o que o aproxima dos executores do holocausto. A mesma estratégia foi usada para o líder trabalhista inglês Jeremy Corbyn e qualquer outro que coloque o dedo na ferida viva da Palestina. Portanto, nenhuma novidade nas acusações contra o músico Roger Waters – ex Pink Floyd – mas já podem ser observadas grandes diferenças, pois que hoje se observa um grande apoio ao músico que chegam da comunidade artística internacional e de todos aqueles que desejam a paz no Oriente Médio.

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Massacres

O atirador da semana no Texas, que matou 26 pessoas ontem, era professor de estudos bíblicos na sua Igreja, o que nos indica que a religião – qualquer uma – não torna ninguém melhor ou mais pacífico. A chance de um psicopata ser ou não religioso e devoto é aleatória. Não é segredo que entre os mais fervorosos adeptos de religiões cristãs estão apoiadores da pena de morte, da diminuição da maioridade penal e do deputado genocida e misógino Bolso*.

A religião não tem o poder de mudar ninguém. Se pode mudar as aparências e (por algum tempo) o comportamento ela é incapaz de transformar a essência do sujeito. Ela serve como um refúgio de ilusórias certezas em um mundo de dúvidas e inconstâncias.

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