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Revoluções

É forçoso lembrar que tudo, literalmente tudo que sabemos da Revolução Cubana é entregue a nós apenas após ter sido filtrado pelos sistemas de controle americanos. A credibilidade de relatos sobre a “ditadura cubana”, ou sobre os mortos da Revolução é zero. Quem as faz são os mesmos que pintavam a Revolução Russa como tendo “milhões” de mortos e onde as pessoas “comiam criancinhas”. Portanto, as descrições de violações de direitos humanos contra Cuba são suspeitas, em especial quando vem de países, como os Estados Unidos, que violam cotidianamente os direitos humanos dos países que invade.

Por outro lado, não há dúvida que existem exageros e verdadeiras violações de direitos humanos em países que realizam revoluções proletárias. Como bem disse Che Guevara, “matamos pouco; a população enfurecida queria muito mais”. Ou seja, o governo revolucionário teve que segurar a onda de justiçamentos contra os traidores, até para proteger aqueles vendidos ao imperialismo. O mesmo ocorreu na Rússia revolucionária (na guerra contra 14 países estrangeiros após a revolução), bem como no Vietnã, na Coreia Popular e na China. Não há como exigir que nos países que passaram pelo trauma de um processo dessa grandeza não haja nenhum tipo de exagero.

Aliás, essa queixa de violações sempre vem de países que cotidianamente matam milhões, seja para roubar terras e recursos, seja em guerras com este fim ou mesmo aplicando pena de morte em seus habitantes; ou quando seus cidadãos são atacados por serem da “raça errada”. Cuba vive um bloqueio indecente e imoral, que viola os direitos humanos há mais de 60 anos, mas o bloqueio quase não é citado como uma grave agressão à dignidade humana. Lá o povo é unido em sua paixão pela Revolução, e os traidores da pátria cubana não têm mesmo nenhuma simpatia. A morte de muitos desses traidores foi exigência do próprio povo.

As contradições são esperadas quando rupturas ocorrem, mas as pessoas que criticam fatos pontuais numa revolução como a cubana são os mesmos que se chocam com possíveis violações de direitos humanos no 7 de outubro sem se espantar com 76 anos de abusos, torturas, sequestros, assassinatos e opressão que ocorreram contra os palestinos antes da reação violenta que tiveram.

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Sanguinários

Quando escuto as tradicionais acusações dos direitistas e liberais aos “ditadores” comunistas (ou não) e suas listas de mortes – cujos números são sempre criados em “freestyle” ou usando dados do instituto TireyDoku – eu exijo que qualquer avaliação da história destes personagens não ceda às pressões do anacronismo e avaliem o contexto em que estas revoluções foram estabelecidas.

Olhem, como exemplo claro, a história da China e o “século de humilhações” pelo qual passou. Anos de exploração estrangeira, repletos de abusos e o confisco de suas riquezas. Pensem nas derrotas humilhantes nas Guerras do Ópio, a pobreza do seu povo, a espoliação produzida pelos colonizadores ingleses e ficará mais fácil compreender a necessária reação para a liberdade do povo chinês. Sem entender a realidade das múltiplas invasões estrangeiras e as lutas internas fica mais complicado colocar em contexto a libertação da China em 1949 através da guerra civil e a “grande marcha” de Mao Zedong. Entretanto, a ninguém seria lícito imaginar que a entrega da China aos chineses seria feita sem os tradicionais massacres que as nações imperialistas impõem como punição aos povos dominados. É necessário também lembrar o que era a China em meados do século XX e o quanto sofreu durante a invasão japonesa, a perda da Manchúria na segunda guerra mundial e os 14 milhões de mortos que sucumbiram nessa guerra brutal contra o domínio nipônico.

Como não lembrar a história da Coreia, a ocupação japonesa, a tentativa de extermínio de sua língua, de sua história e até dos seus patronímicos? A invasão americana na “Guerra da Coreia” (ou Guerra da Libertação, como é referida na Coreia Popular) exterminou 1/3 da população civil, mandando o país para a idade da pedra com a destruição de todas a sua infraestrutura (a exemplo do que se faz hoje em Gaza) e só quando estudamos a crueldade assassina das forças imperialistas é possível entender a história de Kim Jong-Un, seu pai, seu avô, sua gente e a luta por liberdade e autonomia do povo coreano. Não é justo esquecer o que a França fez com o Haiti e com a Argélia, uma história de dominação repleta de atos da mais absoluta selvageria e covardia. Como apagar a história brutal do Congo, e os 10 milhões de mortos sob o domínio da Bélgica do Rei Leopoldo. Portanto, seria de esperar que a resistência pela liberdade em resposta à esta brutalidade só poderia ser igualmente feroz.

É preciso ter em mente que 14 nações invadiram a União Soviética durante a “guerra civil” (na verdade, guerra de independência) e isso facilita para entender a necessidade que havia de lutar de todas as formas possíveis, pois isso representava a única possibilidade de manter a unidade nacional. Que dizer dos 20 milhões de mortos da União Soviética na luta vitoriosa contra o nazismo de Adolf Hitler e o preço pago pelos soviéticos para que o mundo se livrasse do fascismo da Alemanha? Em Cuba a revolução se estabeleceu na luta contra um governo corrupto e burguês, que mantinha a ilha como um bordel americano e uma gigantesca fazenda de cana de açúcar, mantendo a população miserável, oprimida e subjugada pelos latifundiários e seu sistema semi-escravista. Por acaso estes poderosos, apoiados pelo governo americano, entregariam a soberania de Cuba para os cubanos sem luta e sem violência? Seria condenável a reação violenta de um povo que por séculos sofreu de forma desumana?

E o que falar sobre o Hamas, este partido politico e seu braço armado (a brigada Qassam) e os demais grupos de resistência palestina que lideram uma luta de 76 anos contra os canalhas sionistas, racistas e abusadores, terroristas da pior espécie, violadores e assassinos de crianças? Há como analisar suas ações, em especial o 7 de outubro de 2023, sem levar em consideração as humilhações impostas pelos invasores sionistas nas últimas sete décadas? Há como apagar uma parte da história e manter apenas aquela que nos interessa? Por acaso eram “terroristas” aqueles que atacaram a realeza na França na queda da Bastilha, criando as fundações do mundo burguês no qual hoje vivemos? Ou seriam eles tão somente os bravos lutadores que resistiram ao poder despótico e injusto da cleptocracia monárquica? E a resistência francesa que lutou contra os nazistas em Paris? Seriam terroristas aqueles que lideraram o levante do gueto de Varsóvia? Ou a história provou que eles eram lutadores pela liberdade de seus povos? Será mesmo que a independência dos Estados Unidos, libertando-se da Inglaterra, foi feita com abaixo-assinados, ou foi como todas as lutas libertárias – a ferro e fogo? Ora, não sejamos tolos e ingênuos.

Isso não significa que as guerras de libertação não contenham ações bárbaras violentas, abusivas e até criminosas. Porém, quando vejo críticas a estes eventos do passado é impossível não lembrar de Bertold Brecht: “Dos rios dizemos violentos, mas não dizemos violentas as margens que os oprimem”. Do Hamas reclamamos a fúria, mas fechamos os olhos diante dos 76 anos de massacres, torturas, assassinatos, sequestros, o extermínio de famílias inteiras, o apartheid e a dominação opressiva por parte do Estado terrorista de Israel. O mesmo se pode dizer de todos os grupos de resistência que se levantaram contra a opressão. É preciso aprender a história dos povos para entender suas lutas e seus dilemas. E por fim é fundamental conhecer os personagens que são criticados pelos reacionários para saber em qual contexto eles atuaram.

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Enfim , a barbárie

Em Israel os políticos de vários partidos e uma parte imensa da população debatem abertamente se a tortura e os abusos de prisioneiros políticos da Palestina devem ser legitimados e aceitos como práticas legítimas e até justas pelo sistema penitenciário. Os jornais e alguns ativistas tratam os torturadores como heróis, que não poderiam ser atingidos pela justiça. A desumanização dos palestinos chega a um nível em que suas vidas valem menos do que a dos bichos de estimação dos racistas e supremacistas do país. Se a simples existência desse debate já não é a demonstração cabal da total degenerescência de uma nação, então teremos que criar uma nova definição para a perversidade humana. Estamos à beira de um colapso ético no planeta, e se nada for feito pelas nações do mundo para barrar o terrorismo de Israel e os gravíssimos crimes contra a humanidade cometidos pelos israelenses, seremos todos cúmplices da barbárie lá instalada. Eu exijo do governo brasileiro a imediata ruptura de toda e qualquer conexão com Israel, tanto diplomática, comercial, acadêmica ou cultural. Se isso não for feito – em nome de uma fidelidade aos interesses americanos – então o governo brasileiro estará assinando um atestado de parceria com os crimes de lesa humanidade cometidos pelos fascistas sionistas.

Apenas imaginem se as torturas nas prisões de Ketziof, Nafha e Ramon estivessem ocorrendo na Coreia do Norte, em Cuba ou na Rússia de Putin. Como a mídia ocidental estaria descrevendo os horrores dos prisioneiros torturados? Ora, bem sabemos como seria. No Iraque, na prisão de Abu Ghraib, as torturas contra os prisioneiros capturados pelo exército eram sistemáticas e, pelas fotos vazadas à imprensa, pudemos ver que eram fonte de diversão para os soldados americanos. O mesmo aconteceu no Vietnã e antes na Coreia, mas por certo que foram frequentes em todos os lugares invadidos pelo imperialismo nos últimos 100 anos. Entretanto, a imprensa só se manifestou de forma tímida, e apenas depois do vazamentos de imagens das masmorras destes lugares; não fosse por isso e ainda não saberíamos o inferno que os soldados imperialistas produziram por lá. A brutalidade nas prisões israelenses apenas reflete o padrão de desumanização produzida pelo Império, da qual conhecemos apenas a ponta do Iceberg pois, como bem sabemos, a história sempre é contada pelos vitoriosos.

É preciso criar um muro de proteção da civilização contra a barbárie, e ele precisa usar as armas possíveis: Boicote a todos os bens e serviços que venham de países como Israel, onde a tortura é celebrada pela população nas ruas. Desinvestimento de qualquer negócio que inclua parceiros com Israel e, por último e talvez mais importante, aplicação de sanções comerciais para estrangular o nazisionismo de forma a impedir que a selvageria racista venha a se expandir, contaminando todas as nações do mundo com o discurso extremista e segregacionista. Não há espaço mais para negociações; com torturadores e fascistas a conversa é outra. É preciso ser firme no combate à obscenidade que se estabeleceu na Palestina pelos invasores, se é que ainda sonhamos com a paz.

Veja mais aqui.

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Pax Capitalista

Existem personagens no universo das redes sociais – em especial no zoológico dos comentários que brotam abaixo de qualquer notícia – que ainda pensam que o PT é um partido “socialista”. Por certo que muitas dessas manifestações são pura estratégia do “espantalho”: chamam o partido de socialista (ou comunista) para poder colocar no inimigo um rótulo que agrega boa parte da direita mais raivosa e violenta. Da mesma forma chamam um partido de direita, como os democratas dos Estados Unidos, de “esquerdistas”, apenas para confundir a “teologia dos costumes” com o ideário socialista. Tudo mentira, usada para fazer fumaça e não questionar o capitalismo decadente e a necessária luta de classes.

É importante o esforço esclarecer todos aqueles que ainda estão mal informados sobre os partidos no atual cenário nacional. Quando olhamos o leque de alternativas que vai da direita fascista até a esquerda revolucionária, o PT se situa numa posição de centro-esquerda, de caráter abertamente reformista e inserido no modelo capitalista. Os verdadeiros socialistas do PT saíram há muito tempo e entraram em partidos da esquerda revolucionária, como o PCO, o PSOL, a UP, etc, ou então se adaptaram a posições de comando, imaginando mudar a política sem questionar a estrutura da democracia liberal. Para os socialistas “raiz”, da esquerda revolucionária e marxista, o PT no governo representa acima de tudo o alívio de não ter um ladrão de galinhas genocida comandando o país. Mesmo sendo um partido progressista e de raiz operária, o PT não representa os ideais anticapitalistas que animam a franja esquerda do espectro político do nosso país. Por isso os socialistas acreditam que não há erro algum em reclamar do PT; aliás, existem críticas bem merecidas. Porém, não cabe à esquerda fazer coro com os fascistas cujo interesse não é a crítica ao governo de Lula, mas sua destruição, para dar lugar ao seu projeto neoliberal e imperialista. Além disso, para criticar o socialismo é necessário entender o que esta proposta significa.

Desconfiem dos conceitos que os ricos e os “coaches” do individualismo vendem pra você, como “eles vão tomar sua casa“, ou “divida seu dinheiro com os pobres” e até o famoso “o socialismo nunca deu certo“. Este último parte da ideia de que o “socialismo não funcionou” quando comparado às sociedades capitalistas da Europa e da América do Norte, mas nestas análises apenas se referem à perspectiva da classe média, escondendo a iniquidade, a criminalidade e a crescente pobreza que por lá existe. Essa visão também se choca com a realidade que observamos. Hoje vemos China, Vietnã, Rússia, Coreia Popular e até Cuba como “players” no cenário internacional, posição que o Brasil – com muito mais riquezas que todos esses países – jamais ocupou. A Rússia saiu do arado manual para colocar o primeiro astronauta girando em torno da Terra em 50 anos. Hoje já é a 4ª economia do mundo e continua crescendo, apesar dos embargos do imperialismo, muito graças ao socialismo que vicejou no país por 70 anos. A China bate recordes de produtividade, é líder de alta tecnologia, cresce mais de 5% ao ano (mas já cresceu 14%!!!) e será em breve a primeira economia do mundo. O Vietnã é o líder mundial na produção de café e com a ajuda da China vai se tornando um polo de tecnologia de informação. Cuba, apesar do boicote insano, oferece dignidade aos seus cidadãos.

Pense nisso: há 30 anos o PIB do Brasil era igual ao da China. Responda: o que o socialismo da China fez lá que não fizemos aqui nas últimas 3 décadas?

Por fim, um socialista é o sujeito que estudou algo de teoria econômica e principalmente história. Não há como ser marxista sem entender o materialismo histórico e dialético e também a geopolítica do capitalismo. Sem que adquira uma noção das contradições insolúveis do capitalismo, e sem uma visão fraterna e internacionalista, será difícil entender esta perspectiva. Que muitos achem que os socialistas são “burros” ou “iludidos” não me surpreende; a imensa maioria parece incapaz de entender o que significa esse modelo, e por esta razão continuam apoiando os banqueiros, os rentistas, o imperialismo e os barões do sistema financeiro, que sugam toda a riqueza que nós produzimos. A lavagem cerebral a que todos somos submetidos através da propaganda imperialista incessante impede que se possa enxergar a real essência da nossa alienação. Entretanto, um dia estes mesmos que agora apoiam a submissão aos valores do capitalismo vão adquirir consciência de classe e entenderão as razões pelas quais os trabalhadores merecem usufruir da riqueza que eles mesmo produzem. Enquanto isso tentarão nos fazer acreditar, através dos múltiplos partidos de esquerda revisionistas, na possibilidade de uma “conciliação de classes”, que na verdade não passa de uma “pax capitalista“, onde a ilusão do equilíbrio só é conseguida pelo silêncio dos oprimidos.

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Atlantíades

O Estado Sionista de Israel voltou a violar o cessar-fogo e atacou Gaza mais uma vez, levando ao assombro um total de zero pessoas. Ora, este país é conhecido por desrespeitar todas as normas internacionais, invadindo, destruindo, aprisionando menores de idade, usando armas proibidas e matando crianças e mulheres (68% dos mortos em Gaza nos atuais ataques), sem qualquer preocupação com as consequências, por saber que sempre receberá respaldo do imperialismo americano. E faz essas barbaridades com a desculpa de estar tentando atingir o Hamas. Em face de tantas atrocidades, torna-se evidente que Israel é o maior risco à segurança da comunidade judaica em todo o mundo. Por esta razão, deveria partir dos próprios judeus – como já o faz o Jewish Voices for Peace (JVP) – a linha de frente nas críticas severas às ações genocidas do governo de Israel. Mais ainda, seria essencial ver a comunidade judaica unida na luta contra o fascismo sionista, até pela sua histórica vinculação com os movimentos socialistas do século passado. É importante desfazer a ideia de que todo judeu é apoiador dessa carnificina e sempre lembrar que nem todo judeu é sionista e a maioria dos sionistas não são judeus – como são os evangélicos fundamentalistas.

Outro aspecto importante é o crescimento vertiginoso das manifestações populares contra Israel em todo o mundo. Há poucos dias mais de 100 mil manifestantes lotaram as ruas de Glasgow na Escócia. Londres também teve novas passeatas, enchendo as ruas da cidade com palavras de ordem pela liberdade da Palestina. O Iêmen está bloqueando navios com bandeira israelense que passam pela sua costa e trabalhadores dos portos em várias partes do mundo boicotam o carregamento de armas para Israel. O mundo inteiro se insurge contra o morticínio dos opressores na Terra Santa.

Aqui no Brasil é necessário incrementar a participação popular nas ruas. É na rua que faremos pressão, não em gabinetes ou através dos lentos e intrincados corredores frios da diplomacia. É com o calor e a voz do povo nas avenidas, exigindo ações do governo Lula, que romperemos relações diplomáticas com Israel, dando início a uma reação de indignação internacional em cadeia que, por fim, levará ao isolamento total de Israel, tornando-o um país pária na comunidade das nações.

Guardadas as proporções e diferenças geopolíticas, foi através das ações de bloqueio e sanções internacionais que o Apartheid sucumbiu na África do Sul. Também foi pelas manifestações de rua que os Estados Unidos se retiraram da Guerra do Vietnã. Israel precisa sofrer boicote total nos esportes, no mundo acadêmico, no comércio internacional e na ciência. Desta forma, é absolutamente inaceitável que Israel venha a participar de qualquer atividade esportiva no âmbito mundial, como serão as Olimpíadas em Paris em 2024. Se um país que bombardeia escolas e hospitais, mata crianças e destrói uma cidade inteira vier a participar das próximas Olimpíadas (onde a Rússia será vetada) então não haverá legitimidade alguma nessa competição. Melhor chamar de “Atlantíades“, a competição exclusivamente “otanista” e subserviente aos interesses imperialistas.

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Pânico no Império

Só quem sofreu lavagem cerebral não entende porque estamos vivenciando um forte e consistente surto de propaganda contra os BRICS nos últimos tempos. Os ataques à Rússia e à China estão cada vez mais frequentes, mas é importante entender a razão dessa violência – recheada de mentiras e fake news – contra as duas principais potências que enfrentam o imperialismo.

A Rússia era o país mais miserável da Europa na primeira década do século XX, sendo governada por um Czar assassino e um modelo feudal de produção. Bastaram 50 anos da revolução socialista para a União Soviética colocar um homem em órbita na Terra, ainda antes dos americanos. E isso depois de perder 20 milhões dos seus habitantes na guerra que venceu por todos nós. Hoje a Rússia é o terceiro país do mundo por paridade de consumo, graças ao que sobrou de socialismo àquele país e às alianças formadas com a China. Já a China foi invadida, saqueada e roubada pelos europeus (em especial o Império Britânico) até quando promoveu sua revolução em 1949. Foi destruída e subjugada pelo exército japonês durante a segunda guerra mundial e hoje é a economia mais forte e pujante do mundo – em pouco tempo ultrapassará os Estados Unidos.

A China em 30 anos tirou 800 milhões de pessoas da fome, mais que o dobro da população americana. Vietnã é um estado próspero e superou o Brasil na produção de Café. Cuba é socialista e independente do imperialismo, e apesar de ser pobre, tem um PIB 10x superior ao seus vizinhos capitalistas como El Salvador, Rep Dominicana, Haiti, Belize, Honduras etc. E ainda sofre bloqueios terríveis há 60 anos que interrompem seu crescimento. É triste lembrar que até 1997 a China tinha um PIB menor que o do Brasil. O que houve com eles que não ocorreu conosco?

Quem não se importa com a pobreza é quem a produz: a exploração capitalista, sua ética do lucro e a exploração infinita através da escravização dos povos. O discurso antissocialista, pró capitalista e de suporte ao imperialismo só viceja naqueles cujas mentes foram lavadas e escovadas pela propaganda imperialista durante décadas, gente que trabalha para comer e sobreviver apenas para que os donos do poder possam continuar milionários.

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Lula e o imperialismo

A chegada do Sergey Lavrov ao Brasil acendeu as sirenes de alerta da direita e daqueles comprometidos com a influência americana no “sul global”. Entretanto, sobraram também algumas críticas da esquerda às declarações “salomônicas” de Lula sobre a guerra na Ucrânia. A declaração de Lula de que “A decisão da guerra foi tomada por dois países” se insere em uma postura diplomática bem clara e evidente dos representantes brasileiros. Por certo que a Rússia, ao invadir a Ucrânia para salvar os russos étnicos do massacre programado no Donbass pelo Batalhão Azov, tem 1% da culpa nessa guerra (que já estava acontecendo há pelo menos oito anos, desde o Euromaidan, e contabilizando já inúmeras vítimas). Os outros 99% da culpa cabem à OTAN, a Zelensky e ao naziterrorismo ucraniano, em especial às milícias do Pravyi Sektor e do Azov. Todavia, mesmo que desgoste os mais afoitos, Lula tem plena razão em se colocar à equidistante nesse conflito. Sua posição de condenar a invasão da Ucrânia pelas tropas russas é protocolar: visa demonstrar sua filiação às normativas mestras da ONU, as quais condenam as invasões de espaço territorial de outros países. Sem essa postura da nossa diplomacia, como criticar as demais ações imperialistas – como as invasões atlantistas no Oriente Médio? Por outro lado, todas as suas atitudes posteriores estão alinhadas com os parceiros dos BRICS e a perspectiva da criação de um novo bloco, que detém 25% do PIB do planeta e 40% de sua população, o que significa um mercado gigantesco e uma perspectiva de crescimento inédita. Também a fala posterior, onde Lula questiona a supremacia do dólar, e mais ainda a eleição de Dilma Rousseff como presidente do banco dos BRICS, desempenham um importante passo no sentido dessa integração e um afastamento significativo dos interesses do FMI e do imperialismo.

Nada me orgulha e estimula mais em “Lula III – o Retorno” do que sua posição anti-imperialista. O apoio aos Brics, em especial às posições de Putin, é o melhor exemplo da postura de enfrentamento ao Império. A formação de um bloco independente da ação predatória do imperialismo nos países satélites passa pelo apoio ao presidente Putin, por mais que sejamos contrários a algumas de suas posições em território russo. A posição legítima e precípua de esquerda é pela autonomia dos países, algo contrário aos interesses da OTAN e dos Estados Unidos. Porém, é assombroso testemunhar que muitos ainda apoiam a posição ucraniana, mesmo à esquerda no espectro político. Ao comprarem a versão do “Putin malvadão” e da “Rússia expansionista” – duas peças descaradas de propaganda imperialista – não tiveram nenhum pudor em oferecer total apoio (ou virar o rosto para não ver) os nazistas da Ucrânia, o Pravyi Sektor, o Batalhão Azov, a exaltação do nazista e antissemita Stefan Bandera, o massacre dos russos étnicos no Donbass, os 14 mil mortos no conflito em Donetsk e Lugansk, o assassinato dos 42 ativistas e sindicalistas (muitos deles queimados vivos) em Odessa e as ameaças da utilização da Ucrânia como base de mísseis contra Moscou pelos nazistas que chegaram ao poder na Ucrânia após o golpe do Euromaidan. Quem, ainda hoje, consegue aceitar a posição da Ucrânia e da OTAN e condenar a ação russa de proteção de sua integridade territorial?

Mais ainda: enquanto aceitam como válidas as críticas contra Putin permitem que os maiores invasores do mundo – os Estados Unidos – venham a pregar “moral de cuecas”. Ver americanos acusando russos de “expansionistas” é mais do que ridículo; é produto de lavagem cerebral, um trabalho produzidos por décadas de invasão nos países do terceiro mundo, produzindo o conhecido “excepcionalismo americano”, que permite que este país realize exatamente o que critica e combate nos outros. Lula percebeu a russofobia que permeia esta guerra e também percebeu o quanto apostar no imperialismo seria contrário aos reais interesses do Brasil, no que diz respeito à sua industrialização, autonomia e na produção de um planeta multilateral. Na verdade, a posição de Lula é quase irretocável, algo característico da sua genialidade política. Acreditar no risco de invasões russas na região é ignorar que a Crimeia não foi anexada, ela votou pelo retorno à Rússia, com mais de 95% de votos favoráveis. A Rússia tão somente protegeu a vontade soberana do povo da Crimeia – uma região historicamente ligada à Rússia, e onde ocorreu a conhecida “Guerra da Crimeia” que envolveu a Rússia czarista contra uma coalisão de países europeus e o Império Otomano. Da mesma maneira, o povo do Donbass também votou de forma massiva, quase 90% de votos, em sua independência da Ucrânia, posteriormente transformada em reunificação com a Rússia.

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Divisões

Em termos políticos e sociológicos, dividir para conquistar (ou dividir para reinar) consiste em ganhar e manter o controle de uma determinada região por meio da fragmentação das maiores concentrações de poder, impedindo sua unidade e força. Esse conceito foi utilizado pelo governante romano César (divide et impera), Filipe II da Macedônia e o imperador francês Napoleão (divide ut regnes). Maquiavel cita uma estratégia semelhante em “A Arte da Guerra” (Dell’arte della guerra), dizendo da importância imperiosa em fragmentar as forças inimigas. Divisões sempre foram o maior interesse do Imperialismo. O sonho do Império Atlantista – ou Otanistão – liderado pelos Estados Unidos, era uma Iugoslávia dividida, e para isso fomentou a guerra fratricida do Kosovo, destruindo o sonho de Tito de uma nação eslava forte e unida. O desejo americano sempre foi uma Alemanha dividida, o que conseguiu por um certo tempo. O interesse do Império sempre foi dividir o Vietnã, a Coreia e a Rússia, assim como tentou com a China durante todo o século XIX. Para a América Latina – como bem cantou Pablo Milanés – ocorreu uma divisão artificial produzida pelo Império Britânico, contrária aos sonhos de Simón Bolivar. Mais modernamente, o Sudão foi dividido arbitrariamente com esta mesma lógica, claramente estimulado pelas nações colonialistas.

Até hoje se estimulam rivalidades e até guerras regionais na América Latina, como os ataques a Cuba, Nicarágua e Venezuela, não por acaso os três países que se impuseram orgulhosamente contra as determinações do Império Americano e, por isto, sofrem boicotes, ataques, sanções, atentados e golpes frequentes, todos eles financiados pelo grande capital internacional.

O próprio identitarismo parte da mesma percepção de mundo, e a través da estratégia de estímulo ao divisionismo como forma de enfraquecer a reação ao domínio. Uma sociedade pulverizada por identidades regradas por identidade sexual, raça, orientação sexual, etnias – onde um negro miserável se sente inimigo do branco explorado e pobre, a quem chama de “opressor” – também foi uma estratégia de sucesso do capitalismo americano, através do “leftismo” do partido democrata que, ao invés de abraçar as pautas socialistas e progressistas (eliminação da miséria, fim dos sem teto, sistema único de saúde, estímulo à reindustrialização), se entregou à defesa das minorias oprimidas, fragmentadas e divididas, assim como da “diversidade”, colocando operários e trabalhadores uns contra os outros como se a cor de sua pele ou sua sexualidade fossem reais barreiras para a integração, mais importantes do que a sua condição de classe.

É curioso que agora tantos falem no Brasil que “eles querem impor a divisão”. A frase é verdadeira, desde que se defina quem são eles. Falta a estes, que agora atacam os nordestinos pelo seu maciço apoio à candidatura de Lula, a percepção geopolítica de que “eles” se refere ao IMPERIALISMO, força que aqui no Brasil está ligada à extrema direita – Bolsonaro e seus seguidores. Quem realmente aposta na união nacional são os partidos da esquerda revolucionária e internacionalista, os quais reconhecem a importância da união dos povos em torno das pautas de apoio e de fortalecimento do operariado. É importante também, em meio a tantos ataques xenofóbicos contra o nordeste, entender o significado desta região para a construção do que hoje entendemos como Brasil. Nossa mensagem deve ir direto ao coração do eleitorado do sul e sudeste, este que deram seus votos a um racista declarado – Bolsonaro – e que agora depreciam o nordeste tratando esta parte do Brasil como subdesenvolvida e atrasada.

Os nordestinos salvaram o Brasil do fascismo que está presente em toda a história e as ações de Bolsonaro e – também por isso – seremos desta região eternamente devedores.

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1984 é aqui

No clássico “1984” do escritor George Orwell – nascido em Motihari, na Índia britânica em 1903 – Winston, o herói da trama futurista, trabalha no Ministério da Verdade, um importante setor governamental que lidava com notícias, entretenimento, educação e cultura e era responsável por falsear documentos, livros, escritos e até a própria literatura, desde que pudessem se referir ao passado de uma forma que desagradasse o governo. A ideia das mudanças nesses escritos era fazer com que tudo correspondesse sempre ao que o poder central trazia como verdade. Assim, o Ministério da Verdade estava encarregado de alterar a história passada para conformá-la com a vontade de quem estivesse no poder. Uma forma de fazer isso era mudar o significado de palavras, através de uma linguagem e uma tática de atualização de significado chamada “Novilíngua”.

O que parecia um futurismo macabro hoje em dia é o que chamamos de “atualidade”. O que vemos na guerra da Ucrânia segue exatamente esse roteiro que o genial escritor britânico nos deixou como profecia há mais de seis décadas. O que vemos agora uma tentativa sistemática de apagamento da história, fazendo com que os inimigos de outrora sejam hoje amigos, e trazendo elementos linguísticos diferenciados para descrever o que antes era tratado de forma diversa.

Assim, os nazistas da Ucrânia agora são chamados “nacionalistas”; as derrotas – como a vergonhosa rendição em Mariupol – de “atos heroicos”, as esposas chorosas dos nazistas feitos prisioneiros de “pobres esposas pedindo pela vida dos maridos” – em verdade elas próprias orgulhosas militantes nazistas (vide clip abaixo do canal “The Dive” de 17/05/2022 ). A imprensa corporativa ocidental tenta desesperadamente converter as derrotas sucessivas em vitórias, manipulando consciências e fabricando consensos. Uma das mais ridículas tentativas foi o esforço de comparar os covardes nazistas que se esconderam na fábrica de Azovstal com os “300 de Esparta”, como se os fascistas que levaram a cabo o massacre no Donbass pudessem ter sua ficha passada a limpo com estes golpes de propaganda.

Foram necessárias poucas décadas da publicação do livro seminal de Orwell para nos darmos conta que os poderosos não tem memória – tem apenas interesses, que mudam o passado conforme sua vontade e suas necessidades de domínio crescente. O fato de a Ucrânia ter se nazificado, ter dado um golpe de Estado e ter colocado no poder um fantoche dos americanos e da OTAN em nada incomoda esses senhores da guerra. Se for necessário criar estátuas não apenas para Stepan Bandera e tantos outros colaboracionistas do nazismo, mas para o próprio Führer, haverá de lhes ocorrer uma maneira de limpar a imagem desses personagens para que a imensa massa de manobra do mundo ocidental passe a considerá-los como “combatentes valiosos” contra a “ameaça comunista” (e o fato da Rússia não ser mais comunista certamente não será impeditivo para quem pretende transformar nazistas confessos em cordeirinhos). Pior ainda é o tratamento dispensado ao comediante fantoche americano Zelensky, como se fosse um estadista, mesmo quando sabemos que sua ascensão ao poder veio na esteira dos golpes de estado da praça Maidan.

Ao tentar reeditar a história, o poder de comunicação do Império Americano mostra, mais uma vez, o caráter autoritário das ações em relação ao resto do mundo. Seguindo o roteiro orwelliano, este “ministério da verdade” que se ocupa de modificar a história pregressa para que se adapte ao gosto dos poderosos da OTAN, nada mais é do que a grande máquina de propaganda da Imprensa ocidental corporativa, corrupta, suja, dependente dos financiamentos dos grande conglomerados financeiros, das indústrias farmacêuticas, do Vale do Silício e da máquina de Guerra. Como se pode facilmente constatar, o livro de George Orwell é bem mais do que uma simples publicação, mas uma fonte encadernada de predições e profecias do que seria o futuro próximo. Um livro profundamente atual.

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Fragmentação e Unidade

Ah, mas a Rússia de hoje – e a União Soviética antes dela – é uma nação violenta e que só se importa com armas e guerra

Lembrem que se não fosse por uma preocupação obsessiva com a guerra e a defesa a Rússia não existiria, e estaria hoje dividida em múltiplas pequenas nações, frágeis e independentes umas das outras, mas subservientes ao poder das nações imperialistas. Seriam orientadas pelo controle central do Império a se odiarem de morte, soterrando suas semelhanças em nome de diferenças ridículas e desprezíveis. E sobre armar-se, em quantos dias a Coreia do Norte seria varrida do mapa não fosse por seu arsenal nuclear? As suas bombas continuam sendo a garantia de sobrevivência. Em quantas pequenas nações seria dividida a China, não fosse a revolução socialista de 1949 que criou o estado gigantesco e poderoso de hoje? As suas bombas continuam sendo a garantia de sobrevivência.

A intenção do imperialismo sempre foi dividir para enfraquecer, e desta forma facilitar a dominação. A guerra da Bósnia, no início deste século, foi o capítulo final da fragmentação da Iugoslávia, uma nação diversa, com uma cultura rica e multiétnica. O país era composto por seis repúblicas regionais e duas províncias autônomas, e estava dividido de acordo com os grupos étnicos que as compunham e que, após a morte do Presidente Tito na década de 1990, separou-se em vários nações autônomas. Estas oito unidades federais passaram a ser seis repúblicas: Sérvia, Macedônia, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro e as duas províncias autônomas ficaram com a Sérvia: Kosovo e Vojvodina. A guerra do Kosovo levou à perda desta região para os combatentes do ELK (Exército de Libertação do Kosovo – combatentes de etnia albanesa) após 79 dias consecutivos de intenso bombardeio da OTAN contra a Sérvia, destroçando a economia do país e provocando, posteriormente, a deposição do presidente Slobodan Milosevic. Mas na base destas ações no final do século passado e início deste estavam os interesses imperialistas de enfraquecer a região para mais facilmente controlá-la, incorporando as nações dissidentes à frente bélica da OTAN.

Existe um claro interesse do imperialismo em dividir as nações, torná-las minúsculas, facilmente controladas pela centralidade do Império, assim como foi feito pelos grandes impérios durante toda a história da humanidade. Após fragmentada a nação inimiga torna-se muito mais fácil colocar um títere qualquer no comando e comandá-lo com os cordões invisíveis da subserviência, do endividamento e do colonialismo.

É evidente que estas sempre foram as intenções das grandes potencias imperialistas em relação à Rússia. Um país gigante, com uma cultura poderosa, multiétnico, rico em recursos naturais que sempre despertou o interesse de seus vizinhos, de Napoleão a Hitler, mas que se mantém unida e cada vez mais forte em função de uma ideologia nacionalista de fortalecer a união de seu povo em torno da grande “Mãe Rússia”.

Também a multi fragmentação africana pelo colonialismo objetivava enfraquecer os antigos reinos e etnias que compunham a África pré-colonial. Mas não é necessário irmos tão longe: basta olhar para a América Latina fragmentada e perceber que sua divisão e o incentivo às disputas locais sempre foi do interesse do imperialismo para nos manter separados. As desavenças entre Chile e Argentina, Bolívia e Chile, Colômbia e Venezuela sempre estiveram na pauta do Império, estimulando desavenças para impedir uma real união contra as forças exteriores que nos exploram.

Qué pagará este pesar
Del tiempo que se perdió.
De las vidas que costó,
De las que puede costar.
Lo pagará la unidad
De los pueblos en cuestión,
Y al que niegue esta razón
La Historia condenará.”
(Canción por la Unidad Latinoamericama – Pablo Milanés)

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