Creio que está certo; o amor romântico é tão somente um aspecto do amor, a sua face mais dramática, pois dele depende a manutenção da espécie. Mas ainda creio que os amores são todos derivados de um único ato primordial: o amor de uma mãe pelo seu filho, de onde todos os outros são derivados. Qualquer um deles pode ser traçado retrospectivamente até chegar nos momentos que se seguem nossa expulsão do útero onde, perdidos e desamparados, somos acolhidos pelas duas estrelas brilhantes dos olhos de nossa mãe. Ali surge toda a transcendência e toda a tragédia humana.
Philippe Adriel, “The unknown Realm of Love”, ed Priscas, pág 135
Philippe Adriel é um psicólogo belga, nascido em Bruges. em 1970. Escreveu vários livros sobre amor, sexualidade, relacionamentos e separações. Seu livro “A crise Monogâmica” vendeu mais de 1 milhão de cópias e foi traduzido para várias línguas. Outros títulos de sua autoria são “Perdendo tudo, inclusive o Medo”, “Pais separados”, “Fora do Mercado – guia para adultos divorciados”, “Cabo de Guerra – guarda compartilhada e criação de filhos” entre outros. Mora em Bruxelas com sua parceira Amy e seus filhos Marcel e Antoine.
Eu acho que o ódio às esquerdas (leia-se ódio à justiça social) é uma patologia digna de figurar no DSM – o código internacional de doenças. Claramente se manifesta pelo rechaço a tudo que é popular, que parte do povo, que tem cheiro de gente e que procura escutar o país como num todo, e não apenas os desejos de sua faixa média burguesa. Entre os sintomas dessa patologia está a classificação de todo líder emergente das faixas “inferiores” como “líder populista”, que seria um mentiroso, dissimulador, falso, mercenário e com uma agenda escusa de vantagens pessoais e corrupção. Um exemplo disso é a placa encontrada numa manifestação de direita onde se lia: “País sem corrupção é país onde rico manda, pois quem é rico não precisa roubar”. Claramente a ideia é de que um candidato do povo só poderia estar no poder para roubar…
Um sintoma dessa rejeição é a narrativa atual de que todos os que defendem Lula são “fanáticos”. Afinal, se ele é “ladrão”, só o fanatismo poderia nos fazer entender esse apoio. Entretanto, essa parcela da pequena burguesia hoje sente vergonha do profundo desastre ocorrido no governo Bolsonaro em todos os níveis: econômico, jurídico, ético e na imagem internacional do país. Em função disso, não aceitam Lula e seu odor de povo e também não querem se ligar ao horror anti civilizatório de Bolsonaro-Guedes.
É desse caldo que nasce o “nem Lula, nem Bolsonaro”, que nada mais é do que a “terceira via”, ou a viabilização de um candidato que burle essa dualidade não mudando nada na estrutura racista e classista da nação. Por isso a procura desesperada por um candidato que seja a cara do Centrão: homem, branco, burguês, rico e que guarde equidistância com PT e Bolsonaro, mas que seja bem visto pela elite exploradora e os militares oportunistas.
A terceira via, pela clara polarização e o clima de guerra que Bolsonaro sempre apostou como modus operandi da sua gestão, acabou por se inviabilizar e finalmente morrer de inanição. Não há como – agora – oferecer uma alternativa que impeça a eleição plebiscitária que teremos à frente. A terceira via morreu no primeiro dia do governo Bolsonaro, quando ele avisou que seu governo seria baseado no confronto, mas ainda há aqueles que tentam revivê-la gritando e chorando ao lado do seu corpo em decomposição.
Na minha perspectiva ocidental Xador, Amira e Hijab são praticamente iguais, mas depois aprendi que o Xador cobre o corpo inteiro, e a Amira não permite aparecer nenhuma parte do cabelo. Já o Hijab permite que se veja um pouco do cabelo frontal. Existe diferenças no formato para além da cor apresentada na imagem acima. Entre os mais conservadores a Arábia Saudita wahabista e (minha surpresa) o Paquistão.
Nesses países muçulmanos apenas 4% das mulheres não usam véu – mas no Líbano metade das mulheres já não o usam. Quase metade usarão Amira, mas a burca (tão condenada por nossas bandas) não passa de 2% das mulheres, e mesmo na Arábia Saudita mal passa de 10% de uso. Entretanto, recheamos nossas críticas ao mundo islâmico com esses estereótipos que estão longe de mostrar a diversidade do Oriente.
Às vezes – guardadas as proporções – vejo críticas ao islã que partem de generalizações miseráveis. Quando dizem que nos países muçulmanos as “mulheres são obrigadas a usar burca” eu imediatamente imagino um iraquiano olhando uma foto do Rio Grande do Sul e comentando “Pobres brasileiros, obrigados a usar bombacha. Deve ser horrível vestir isso na floresta amazônica”.
No passado recente – e com marcas até hoje em dia – a expectativa era que as mulheres se mantivessem casadas para garantir a estrutura da família (célula máter e blá, blá, blá) e o patrimônio. Não eram corajosas ou guerreiras, eram apenas vítimas de um silêncio (auto)imposto pela estrutura patriarcal da sociedade. Casamentos longos são fetiches dessa cultura, ligados ao mito do amor romântico.
Não vejo vantagem alguma em manter-se um casamento – ou qualquer outra sociedade – apenas para dar conta dessa união para a sociedade; se não houver mais nada de positivo a unir o casal, que se separem.
Talvez a única coisa que a taxa de divórcios pode mostrar em uma determinada cultura é a maior ou menor liberdade dos sujeitos para tomar decisões sobre a sua sexualidade.
Os botões coloridos na parede ao lado das portas de aço se apagaram, sinalizando a chegada do elevador. Apertei o 12, que era o meu andar, enquanto cantarolava mentalmente uma música que havia me contaminado desde a manhã ao acordar. Depois de um dia intenso de trabalho esperava chegar ao meu quarto de hotel, ligar para casa, tomar um banho e dormir o quanto fosse possível. Minha apresentação seria à tarde, mas queria assistir o trabalho dos colegas desde cedo. Segundos antes da porta metálica se fechar, minha colega Kathleen entrou mantendo a porta aberta com a mão esquerda, enquanto com a direita carregava a pasta da conferencia.
– Olá, Kathy. Tudo preparado? Que pensa desse seminário? Acha que será bom?
– Creio que sim, mas não é o que me preocupa agora
Kathleen era uma mulher grande, corpulenta, sensual e sempre fez um estilo sedutora, “femme fatale”. Na minha imaginação era “Jessica Rabbit”, capaz de deixar alguns homens tontos com sua presença. Não há como negar que desde que os conhecemos eu também senti atração por ela… quem não? Não apenas pelas suas curvas voluptuosas, mas por sua inteligência e sua imposição diante dos debates da nossa área. Física quântica não é um campo em que mulheres são frequentemente vistas como diretoras de institutos, muito menos como articulistas, escritoras e palestrantes reconhecidas. Por certo que a mistura de sua competência específica em nossa área e a presença física impositiva e voluptuosa mexiam com a imaginação de qualquer um de nós.
Kathleen acabara se tornando minha amiga quando da publicação do meu primeiro livro “A Física Tao qual a imaginamos“, que recebeu boas críticas dos colegas e uma indicação para o “Quantum Awards”. Por esta época acabamos nos tornando correspondentes e trocamos muitas ideias sobre a o decaimento radioativo, as quais acabaram sendo um enorme estímulo para a publicação do meu segundo livro “Afinal, qual é a do elétron?”, baseado nos trabalhos de Werner Heisenberg e Paul Dirac, dois gênios da física quântica que desenvolveram suas próprias estratégias para compreender o comportamento do elétron. Minha abordagem era, a exemplo deles, totalmente diferente daquela de Schrödinger, o qual desprezava a importância das ondas mesmo fornecendo resultados igualmente exatos. Por essa amizade e conexão que surgiu de nossas mútuas concordâncias profissionais, eu solicitei a ela que escrevesse a orelha do meu último livro, o que ela fez combinando uma espetacular capacidade de síntese com a sensualidade que expressava em cada palavra que saía de sua boca, inexoravelmente emoldurada por um batom carmim.
“Para vocês, que sempre desejaram dar uma voltinha à bordo de um elétron, embarquem nessa viagem emocionante ao lado de Ray Olson, e eu garanto que a travessia será excitante e absolutamente inesquecível.”
Para muitos, a frase da orelha do livro seria suficiente para fechar a questão. “Ela está a fim de você, garoto. Não seja tolo”, muitos (e muitas) me disseram. Não nego que, nas conversas no meio da madrugada – enquanto eu escrevia textos e corrigia provas, e ela preparava seminários para seus alunos na Faculdade de Física – rolou sedução nas conversas, mas de uma forma quase juvenil. Não há dúvida que, para um homem mais velho, ser elogiado por uma colega mais jovem e brilhante, é sempre algo capaz de envaidecer. Entretanto, essas coisas para mim têm um limite bem claro; não me aventuro a procurar o fim do buraco do coelho exatamente porque reconheço que não terei como achar o caminho de volta. E, por certo, meu casamento com Jill tinha finalmente encontrando um platô de serenidade após vários anos. Depois de turbulências e desencontros, muito em função da morte de Laura, nossa filha recém nascida, finalmente havíamos encontrado um pouco de tranquilidade a ponto de até nos aventurarmos a reencontrar uma intimidade quase perdida. Mas, inobstante estes sentimentos, houve durante esse tempo de conversas a curiosidade de saber se a admiração de Kathy estava restrita aos aspectos intelectuais ou se, por baixo daquele cabelo comprido e das unhas vermelhas havia um corpo com algum interesse erótico em mim.
– E qual seria essa sua preocupação? perguntei, enquanto a porta do elevador lentamente se fechava.
Sua resposta foi seguida de um movimento brusco em minha direção.
– Você…
Dizendo isso segurou minha com a mão cabeça e beijou meu lábios com força, e os percebi serem abertos com a voracidade de sua língua quente e ágil. Sem saber o que dizer – como se fosse possível – cedi momentaneamente aos seus avanços até perceber que eu estava na posição da donzela surpreendida pelos avanços do homem vigoroso de atos impulsivos. Essa reversão de papéis me chocou de forma imediata, mas com surpresa me senti na pele de milhares de mulheres de quem beijos foram roubados, distâncias foram rompidas com energia e cujos corpos foram envolvidos por mãos ávidas e sorrateiras.
O elevador fez um clique ao passar pelo segundo andar e pude ver com o canto do olho a bolinha vermelha subindo no painel ao lado da porta. Nesse fragmento de segundo olhei para cima com medo de encontrar uma câmera, mas antes que fosse possível encontrá-la minhas mãos afastaram Kathy de mim, como um ato reflexo de proteção.
– Desculpe, Kathy, mas eu creio que você está confundindo as coisas. Eu…
Imediatamente a frase ecoou em minha cabeça, e nas suas várias versões que a escutei só o que apareceu foi o mais manjado dos clichês sexuais da história da humanidade. Pior: por quantas vezes eu não pensei que esta frase poderia servir tão somente como um aperitivo para o que estava para acontecer, um anteparo momentâneo, tão falso quanto convidativo, para o mergulho nas dimensões mais desabridas da luxúria. Entretanto, essa era a verdade do que eu sentia, e ninguém melhor do que eu para pressentir que seguir com aquela cena poderia me levar a um lugar conhecido chamado “pesadelo”.
O elevador fez um novo clique e percebi que havíamos passado pelo quinto andar. Kathy me olhou nos olhos, ainda sorrindo, sem se dar por vencida.
– Você não pode negar que também quer. Tem o mesmo “problema” que eu. Não pode esconder que pensou em mim e que naquelas madrugadas fantasiou, como eu, este encontro. Não minta para você mesmo.
Não, eu não podia negar. Entretanto eu sabia que vida não pode ser vivida como a simples realização de fantasias. Talvez não exista caminho mais seguro para a loucura do que a possibilidade de levar adiante todas as que criamos. Elas, por mais convidativas e prazerosas que sejam, esbarram na realidade, no outro, nos limites, no interdito. Romper essa rede de obstáculos pode ser – e frequentemente é – o primeiro passo para grandes tragédias.
– Não se trata disso Kathy. Eu, eu… entenda, não faz sentido. Somos colegas e amigos. E além disso…
Eu ia falar de Jill, mas tive medo do que Kathy diria. Talvez ela usasse uma estratégia que conheço bem pela voz dos homens, que nada mais propõe do que minimizar os significados culposos da cena, “seguir o fluxo”, “permitir-se”, “viver o momento”, “aproveitar o clima” e curtir as oportunidades que o destino graciosamente nos oferece. Nada dessa conversa era novidade, mas causava estranhamento porque a equação, desde o princípio, estava com o sinal trocado. Os olhos de Kathy diziam isso, e por mais que eu tentasse não conseguia imaginar o que ela enxergava enquanto me olhava.
O elevador anuncia a passagem pelo nono andar. Sei bem que, de minha parte, não era falta de vontade. Seu corpo por muitas vezes estivera presentes em devaneios, sonhos e fantasias. Kathy era uma mulher bonita, madura, livre e provocante, mas a posição de “objeto de desejo” em que ela me colocou foi demasiado brutal para os meus preconceitos patriarcais. Confesso que eu estava despreparado para a reversão das expectativas e fiquei sem saber o que fazer ou dizer. A perfeita imagem de um garoto sem chão.
Fui salvo pelo gongo. O elevador bateu no 12o andar e a porta se abriu. Ela saiu primeiro e eu a segui. Por instantes desejei que seu quarto estivesse em um corredor diferente, mas ela parecia ir para o mesmo lado que eu. Enquanto caminhava ela parecia ter certeza que era questão de tempo a minha rendição. Fiquei em absoluto silêncio enquanto permitia que suas nádegas me guiassem pelo corredor escuro do hotel. Seus saltos batiam no chão em sincronia com as batidas do meu coração e era possível sentir o perfume que ela exalava ao passar. Finalmente, ao chegar na porta do seu quarto, ela parou e deu meia volta, ainda com um sorriso confiante no rosto. Seu quarto era exatamente em frente ao meu e, por instantes, ela ficou em silêncio me olhando, com um sorriso enigmático nos olhos e segurando a maçaneta do quarto com a mão.
– Olhe Kathy, eu gostaria de lhe explicar que…
Ela sorriu enquanto pressionava a maçaneta para baixo abrindo a porta dos aposentos.
– Não precisa dizer nada, Ray. Eu já entendi tudo. Tenha uma boa noite.
Entrei no meu quarto ainda com o coração apressado. Tomei um banho rápido e me deitei. Liguei para casa e falei com Jill sobre banalidades, a conta do gás, o homem da TV a cabo, a escola das crianças e que horas ela me buscaria no aeroporto. Fiquei olhando programas tolos na televisão até pegar no sono. Pela manhã cheguei ao restaurante do hotel e lá estava Kathy sozinha em uma mesa. Sentei com ela e tentei iniciar uma conversa sobre o que havia acontecido. Ela me interrompeu educadamente e disse apenas “não se preocupe, eu entendi tudo”. Deixou sua xícara manchada de batom com café pela metade e despediu-se dizendo que precisava preparar sua conferência.
Na hora de sua palestra eu estava lá, na primeira fila. Com a desenvoltura habitual, e os slides confusos como marca registrada, ela discorreu sobre o seu – o nosso – tema de forma fluida e correta. Mas não pude deixar de notar que no último quadro de sua apresentação mostrou um gráfico retirado do meu livro, onde meu nome apareceu com a grafia incorreta. Parecia ali um sinal, o aviso de que um vaso delicado havia trincado e que não haveria mais como consertá-lo.
Alguns anos depois envolveu-se comigo em um debate sobre tunelamento quântico em um canal para pesquisadores sênior. Tratou-me a princípio com absoluta frieza, como um mero desconhecido e, na medida que as posições se tornavam mais claras e mais radicais, colocou-se no polo contrário ao meu, apesar do fato de que já havíamos discutido esse aspecto da teoria e estivéramos de acordo com a proposta de que “qualquer lugar em que a função de onda tenha alguma amplitude será aí um lugar onde o elétron poderá estar“. Portanto, nada mais óbvio que seu posicionamento de agora só poderia ser uma resposta rancorosa, vingativa e puramente emocional. Para piorar, não havia nada que eu pudesse fazer ou dizer, até porque não existem argumentos racionais capazes de abalar uma posição construída de forma irracional. No dia seguinte ela me bloqueou nas Redes Sociais. Meses depois escreveu um texto violento – mesmo sem citar meu nome – dizendo que não pretendia voltar a conversar com pessoas que defendiam posturas tão retrógradas e que, acima de tudo, não eram eticamente confiáveis. Por certo que não respondi, apenas deixei que as páginas da vida encerrassem esse capítulo.
Até hoje me pergunto o que teria acontecido se eu tivesse feito outra escolha. Poderia ter deixado o vento me levar para onde ele estava soprando, mas respondi com medo e pudor. Agora colho os frutos do desprezo, mas talvez estivesse agora colhendo as vinhas amargas de uma tragédia anunciada.
Gregor O´Sullivan, “O Ensaio”, ed. Parkland, pág 135
Gregor O´Sullivan é um cronista, jornalista, escritor e crítico literário, nascido em Belfast na Irlanda em 1954. Completou seus estudos de jornalismo em sua cidade natal e posteriormente fez carreira em Londres. Atualmente se dedica a escrever no “Daily Mail” em uma coluna semanal sobre política Irlandesa. “The Essay” (O Ensaio) é seu único livro de ficção, onde descreve as desventuras de um homem em crise de meia idade chamado Ray Olson e sua trajetória na Academia nos meses que antecederam sua indicação prêmio Nobel de física. O pai de Gregor foi Seamus O´Sullivan, um renomado estudioso da física que escreveu vários livros sobre o tema, tendo participado do círculo de grandes nomes da química e da física ocidentais como Ernest Rutherford e Erwin Schrödinger. O personagem é baseado na história e na perspectiva de mundo do seu pai. Mora em Londres com sua esposa Saoirse e seu gato…. Schrödinger.
Tem gente que, em pleno século XXI, acha que a autonomia de uma nação é algo negociável e, embriagados pela campanha imperialista, não conseguem enxergar as tragédias e a barbárie causadas pelos invasores nas terras conquistadas. São os mesmos que condenavam, até pouco tempo, a libertação da Argélia, de Angola, de Moçambique, do Vietnã, da Índia e tantas outras colônias massacradas pelos colonizadores europeus. Diziam que, apesar do tratamento “duro” dado aos “nativos” nada é tão importante como a língua oferecida, as ferrovias e alguns bons modos à mesa.
As pessoas que nos acusam de ficarmos felizes com a expulsão dos americanos do Afeganistão pelo Talibã e que por isso somos “machistas” aceitariam ser chamados de “genocidas” por sua conivência com as mortes de meninas e mulheres durante a ocupação americana? Aceitam o rótulo de neocolonialistas? Aceitariam a pecha de “bandeirantes da América”? Aceitam o meio milhão de mortos em sua conta? Aqueles que nos acusam de sermos “autoritários” por apoiarmos um “ditador” como Putin, em sua luta contra as ameaças constantes à integridade da Rússia, deveriam entender que a influência norte-americana no leste da Europa se expressa como um gigantesca sombra de opressão e de domínio, onde as liberdades civis dos povos ameaçados será uma das primeiros pratos no banquete do imperialismo.
O biscoitismo – em especial partindo de figuras públicas da Academia – é um cacoete terrível de intelectuais que se aventuram nas redes sociais. É preciso agradar em primeiro lugar ao seu “eleitorado”, e só depois fazer algumas concessões à realidade. O salário indireto recebido por estes personagens são os “likes” e os elogios rasgados ao seu idealismo – o qual não suporta 10 minutos de mergulho na verdade dos fatos. Quem, entre as pessoas horrorizadas com a vitória do Talibã – um grupo de reacionários e fascistas de direita muito parecidos com os bolsonaristas no Brasil – ocorrida há poucos meses lembrou das 500 crianças mortas pelos bombardeios americanos nos últimos 5 anos de ocupação do Iraque? Por acaso é possível comparar a porcaria reacionária do Talibã com as milhares de crianças explodidas pelas bombas imperialistas?
Portanto, as recentes decisões do governo brasileiro e chinês de negociar diretamente entre si usando suas moedas nacionais sem a intermediação do dólar me parecem mais um graveto que irá fomentar a grande fogueira que nos livrará do Imperialismo. Diante do importância que os povos do mundo precisam colocar na libertação do domínio exercido pelo Império estas iniciativas precisam ser encaradas com a devida seriedade, e demonstram que existe real interesse do governo americano em construir uma estrutura global mais equilibrada e mais justa para as nações. Nada mais adequado que Brasil e China – pelas suas dimensões e importância geopolítica – estejam à frente desta luta.
Há apenas alguns poucos dias (29/3), ambos governos anunciaram a criação de uma “Clearing House” (ou Câmara de compensação), uma instituição bancária que permite que negócios e concessões de empréstimos sejam realizadas entre os dois países sem a utilização da moeda americana como forma de viabilizar os negócios de caráter transnacional. O Banco Industrial e Comercial da China (IBC), será a instituição bancária que vai operar a “clearing house” aqui no Brasil, permitindo que os empresários locais tenham a possibilidade de realizar negociações e até empréstimos em yuan (RMB) ,e não apenas em dólar, como é a regra que impera para estas transações até agora. A adoção dessas medidas aproxima o Brasil do seu maior parceiro comercial – a China – e faz uma demonstração inequívoca de que o Brasil se afasta do decadente imperialismo para uma tentativa de multipolaridade, onde as relação entre os países se dará de forma menos autoritária e impositiva.
Para aqueles que viam o governo Lula como um “agente do imperialismo” este foi um duro golpe de realidade. Some-se a isso as decisões de não subscrever a declaração final da “Cúpula da Democracia”, por não concordar com o foro onde este debate está sendo realizado “O entendimento do Brasil, no entanto, é de que a guerra da Ucrânia deve ser tratada em foros específicos para o tema, como a Organização das Nações Unidas”, diz o comunicado Em outra oportunidade o governo de Lula chegou a votar a favor de uma resolução da Assembleia Geral da ONU que repudiava a invasão russa, dando a entender para alguns analistas de que o governo do presidente Luiz Inácio estaria se postando ao lado dos interesses do Imperialismo. A clara inclinação em direção à China mostra o contrário, o que só pode ser saudado como uma ação positiva por todos os partidos de orientação marxista.
Esperamos que estas iniciativas sejam as primeiras de outras grandes propostas para o fortalecimento dos BRICS e do sul global.
O Facebook está cheio de gente que usa a rede para fazer propaganda de si mesmo, do seu saber, do seu conhecimento de vinhos, filmes e literatura. Esse exibicionismo é uma praga muito disseminada, em especial entre membros da Academia, mas por si só não é algo detestável; ao meu ver é apenas um mau costume, tão (des)importante quando tirar fotos de si mesmo várias vezes e todos os dias com roupas, penteados ou unhas diferentes.
O problema é que estas torres de vaidade não suportam contradição. Basta que você discorde de uma das posições expostas, mesmo que de forma absolutamente respeitosa, para o sujeito partir para os impropérios. E se você insistir no seu ponto de vista – que poderia ser interpretado como “resistência à prisão” dos seus argumentos – a solução é o bloqueio, o que produz duas vantagens: faz desaparecer um sujeito que contesta suas verdades absolutas ao mesmo tempo que apaga da sua página a argumentação usada para contrapor suas ideias.
Podem ter certeza que esse tipo de acadêmico, por mais que tenha algumas ideias arejadas, não é um verdadeiro democrata. Qualquer contestação ao seu pensamento é vista como ameaça à sua autoproclamada importância mas, diante de tamanha fragilidade, não é mais possível aceitar suas verdades, que passam a perder autoridade na medida em que não suportam o crivo do contraditório.
É essa esquerda biscoiteira acadêmica que precisamos questionar…
Quando vi essa imagem na página de uma amiga no Facebook todas as interpretações que passaram pela minha cabeça eram de caráter sexista. Tipo…
“os homens controlam as mulheres no sexo enquanto elas controlam suas mentes“, ou “as mulheres tem a chave para a razão masculina e os homens a chave para a sexualidade delas“.
Essas perspectivas podem ser facilmente interpretadas como essencialistas e/ou sexistas; portanto, anacrônicas. A imagem, por isso, me incomodou, mas me oportunizou pensar sobre ela, acima de tudo porque colocam no gênero especificidades que não são encontradas em todos e todas, mas que surgem tão somente como construções sociais, deterioráveis com o tempo e variáveis na geografia.
Todavia, a partir de um ponto de vista mais subjetivo e ligado às conexões que ligam mente-corpo-sexualidade a imagem poderá adquirir um novo sentido.
Olhando-se de maneira alternativa não se trata de determinar de quem é a chave ou a fechadura – que foi a minha leitura inicial – mas ao fato de que a sexualidade está intrinsecamente ligada à planos mentais e espirituais mais profundos, onde muitas vezes a chave de um abre as portas do outro.
Assim, a sexualidade expressa e livre poderia aclarar estados mentais enquanto um pensamento claro e racional poderá fazer desanuviar transtornos da eroticidade, como no caso de um vaginismo, tumores, alergias ou uma irritação vaginal banal causada pelo medo de aventurar-se em uma nova dimensão de afeto com alguém.
Por essa leitura, a imagem pode apenas significar que, na dimensão humana, os afetos permeiam o sexo e são por ele envolvidos.
Os termos “Falta de dilatação” e “falta de leite” são duas faces da mesma moeda, diagnósticos corriqueiros no ciclo gravido-puerperal que servem para desvalorizar o trabalho feminino e jogar as gestantes e mães nas mãos dos técnicos e dos especialistas.
Triste saber que a maior parte desses transtornos nada tem a ver com uma falha na fisiologia materna, mas pela crença na defectividade essencial das mulheres e na incapacidade do sistema de assistência de reconhecer e trabalhar com os aspectos psicológicos, afetivos, emocionais, sociais e espirituais de cada mulher que está a gestar e parir.
Gestação, parto e amamentação são fenômenos sociais e culturais que ocorrem no corpo de uma mulher. Não há como conceber o nascimento apartado do contexto em que ele ocorre. A forma como atendemos este ciclo vital é, em verdade, um espelho muito nítido da sociedade onde ele está inserido.
Para mim é esse o maior e mais grave subproduto cultural da pandemia: que a população, por causa das vacinas, passe a acreditar que as grandes farmacêuticas – empresas mafiosas e verdadeiros organizações criminosas organizadas em nível global – serão capazes de salvar a humanidade e, da noite para o dia, se tornarão indústrias corretas, angelicais e éticas.
Não acredito nessa possibilidade. Dentro do modelo capitalista o objetivo é sempre o lucro e, se para consegui-lo for necessário deixar o mundo mais doente, assim será feito pela BigPharma. É esta não é mais uma teoria conspiratória. A criação de diagnósticos fantasmas para justificar a venda de drogas ou tratamentos faz parte da história dessa indústria, basta uma rápida pesquisa.
Acreditar que a cura dos nossos males possa estar nas mãos de quem lucra com eles é a mais suprema e inaceitável das ingenuidades.
O transcurso da pandemia pode ser encurtado pelas vacinas, e esta é minha perspectiva hoje. Todavia, a solução deste dilema não se dará sem suplantar o capitalismo e sua lógica de crescimento desconectado da equidade e da justiça social, que é a marca do neoliberalismo em nível mundial.