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Hollywood e a Palestina

A indústria cinematográfica dos EUA está concentrada na mão de sionistas. A própria história da Meca do cinema americano se confunde com a integração da comunidade judaica no tecido social americano. Hollywood se tornou um centro de difusão dos valores americanos, o “american way”, e também de suporte ao sionismo e à criação violenta e cruel do Estado de Israel. Desde muito cedo houve o esforço de criar uma narrativa favorável ao colonialismo racista em Israel, através de diversos filmes, em especial nos últimos 70 anos.

Os atores de Hollywood sabem que uma postura abertamente favorável à causa Palestina significa portas fechadas, em muitas vezes, sem chance de retorno. Por esta razão, a decisão de alguns artistas de mostrar publicamente seu repúdio ao Estado genocida de Israel é um ato de coragem, que pode lhes custar a própria carreira. Há uma carta circulando de profissionais do cinema de claro apoio à Palestina e exigindo imediato cessar-fogo. Entre os signatários da carta a favor do cessar-fogo, temos nomes como Mark Ruffalo, Cate Blanchett, Jessica Chastain, Oscar Isaac, Rosario Dawson, Quinta Brunson, Joaquin Phoenix, Alia Shawkat, Channing Tatum, Andrew Garfield, America Ferrera, Kristen Stewart, Wanda Sykes e Shailene Woodley, entre outros.

Diante do poderio imenso dessas máquinas culturais é impressionante a coragem desses atores e atrizes, mostrando que, para alguns, a dignidade e a honra valem mais do que o brilho entorpecedor das luzes da ribalta. Vejam mais sobre o tema aqui. Ahh, e por certo que o melhor documentário de toda a história sobre o ataque de Hollywood ao oriente e, em especial, à Palestina é Reel Bad Arabs – How Hollywood Vilifies Arabs. Apenas imperdível.

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Falsa Democracia

Vejam como funciona a “única democracia do Oriente Médio“. Já pensou se o Irã fizesse isso? Como a imprensa mundial se comportaria se Putin mandasse apagar notícias dos jornais de oposição? Imagine Maduro mandando colocar tarjas pretas nos hospitais de Caracas!! A farsa da democracia liberal ocidental está cada vez mais escancarada. É preciso ultrapassar a ilusão do capitalismo e buscar uma sociedade com mais liberdade e democracia.

FREE PALESTINE!!!

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Jean Wyllys

Em dezembro passado em grupo de soldados israelenses explicitamente gays, depois de destruírem um bairro inteiro no norte de Gaza, realizaram uma “parada gay” na praia para comemorar sua vitória contra os civis palestinos. Em sua marcha de escárnio e horror, devem ter passado por cima de corpos mutilados e carbonizados de mulheres e crianças enterrados sob os escombros. A vitória do “ocidente branco” e cristão sobre os “bárbaros” do leste muçulmano se expressa através dos seus símbolos, e nada melhor do que os gays, veganos e trans serem nossos melhores representantes.

Essa festa é o que mais claramente representa a insanidade do identitarismo: a vitória da identidade sobre todos os outros valores, inclusive a vida e a condição humana dos inimigos. A festa de horror incluiu entre os participantes muitos veganos, para quem o amor aos animais os faz calçar botas feitas de PVC, para não serem obrigados a usar produtos de origem animal. Em sua perspectiva os animais que protegem valem muito mais do que as crianças palestinas que bombardeiam. Também os soldados trans estiveram representados, mostrando a plena diversidade entre aqueles que promovem a carnificina em Gaza. Esta comemoração macabra, porém pedagógica, está descrita no minuto 18:50 dessa entrevista de Max Blumenthal.

Ao mesmo tempo em que este horror acontece em Gaza, Jean Wyllys, o sujeito cujo apoio a Israel causou uma onda de repúdio alguns anos atrás, agora decreta a aposentadoria de Lula, a posição subalterna do PT no cenário nacional e o lançamento de Simone Tebet como candidata à presidência, que deveria ser entusiasticamente apoiada pelo partido dos trabalhadores. Que ele um dia tenha sido ativista LGBT, e integrado o PSOL eu até entendo, pela sua postura identitária, mas ser aceito como filiado ao PT é um escárnio com a esquerda brasileira. Acho necessário que abandone o campo progressista e assuma sua posição na direita identitária, lugar que sempre foi o seu. Simone Tebet de presidente e Sílvio Almeida de vice foi a proposta de Jean Wyllys, e quando o entrevistador ficou abismado com a ideia de oferecer o protagonismo a uma representante da direita ruralista, Jean explicou: “Você pode dizer que ela é uma ruralista de direita, mas eu respondo que ela é uma mulher, e a gente precisa das mulheres no século XXI. Sílvio representa os antirracistas, que o mundo também necessita.” Eu fico impressionado como pudemos ser enganados por tanto tempo por este farsante. Jean é um ignorante político e uma fraude identitária.

Por outro lado, eu me senti de alma lavada. Essa fala atual mostrou que minhas falas anteriores contra Jean Wyllys – pela sua posição covarde e oportunista sobre Israel e o sionismo – estavam corretas e não foram exageradas. Jean Wyllys é o maior exemplo do estrago identitário nas esquerdas.

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Vitimismo sionista

O sionismo sempre inventou manobras mentirosas para escapar das críticas. Estamos vendo agora o que sempre aconteceu: “Estamos sendo perseguidos!!”, ou a “estamos testemunhando volta do antissemitismo no mundo”, “essa perseguição mostra a necessidade de uma nação judaica“, e blá, blá, blá. Pura balela. Aqui no Brasil, tanto quanto nos Estados Unidos, não há nenhum caso de ataque significativo de constrangimento ou desprezo pela comunidade judaica, comunidade essa muito rica, poderosa e absolutamente inserida na cultura brasileira. O que existe é uma crítica crescente e consistente ao sionismo, ideologia perversa, supremacista e racista de Israel, condenada pela comunidade internacional de nações e inclusive pelos judeus humanistas do mundo todo. Essa farsa vitimista dos sionistas está ruindo, de forma acelerada após o 7 de outubro, que permitiu a todos comprovarem que a “defesa de Israel” não passa de uma mentira construída com o único objetivo de promover genocídio e limpeza étnica na Palestina.

No sionismo brasileiro só vão sobrar os evangélicos bolsonaristas que estão esperando a “volta do Senhor dos Exércitos“, mas dessa turma não se pode esperar nada. Além disso, existe um novo fenômeno agora: um número recorde de israelenses solicitando emigração para países da Europa. O sonho dourado do apartheid, da escravização e do genocídio palestino aos poucos vai se apagando inclusive entre os próprios judeus que, agora, abandonam a terra santa em busca de…. paz. A destruição de Israel talvez ocorra dessa maneira: silenciosa, como um corpo que vai encolhendo e se deteriorando, até o momento que não tenha mais forças para se erguer. O racismo e o supremacismo sionista são a última carta do colonialismo, que está podre demais para se manter de pé.

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Islamofobia

Resolvi escrever sobre o tema porque vejo o trabalho intenso das identitárias atacando o Irã e fazendo o serviço sujo do imperialismo, o que vem ocorrendo com muita frequência na Internet. Para isso usam fotos retiradas de contexto para disseminar falsidades contra o islamismo, tratando-o como uma “religião do mal”, selvagem, brutal e ofensiva às mulheres. Fazem isso agora, ora atacando árabes, ora ofendendo os persas. Aliás, para estas ativistas, é tudo a mesma coisa.

A foto de cima foi postada em vários sites dizendo se tratar de casamentos em grupo de crianças no Irã. Quem postou foi uma mulher que se diz de esquerda, afirmando que estes países são criminosos e protegem a pedofilia. Quando analisamos a foto e buscamos sua origem (por busca reversa) percebemos que não é no Irã, mas em Gaza e sequer é recente: é uma foto de 2009. E não são noivas na imagem, mas “damas de honra”, um costume milenar que também ocorre no ocidente. São meninas vestidas com o mesmo estilo das noivas para simbolizar a função precípua das mulheres – do presente e do futuro – como guardiãs da vida.

Por certo que esta visão da mulher na sociedade pode ser questionada. Nada nos impede de analisar criticamente costumes sedimentados. Cerimônias, costumes e mitos são transitórios nas culturas; eles refletem os valores sociais e os disseminam. A própria cerimônia de casamento é um reforço dos valores patriarcais, uma celebração da mulher como elemento central da sociedade. No ritual do casamento ela é o centro das atenções e das homenagens, sendo o marido sempre um personagem secundário. Entretanto, ali se estabelece um compromisso deste com aquela, o que forma a base do patriarcado.

Hoje os casamentos são bem diferentes daqueles do início do século passado e antes. Os casais são muito mais velhos, a cerimônia mais curta, a pergunta infame “se alguém souber de algo…” desapareceu e os vestidos são muito mais diversificados. Essas diferenças refletem a mudança de valores: a virgindade não é mais tabu, a submissão da mulher não é explícita, os casais tem múltiplas obrigações, os compromissos e responsabilidades são mais bem divididos, etc.

Todo mundo tem uma antepassada que pariu antes dos 15 anos. Para populações envolvidas em mortes precoces, pestes, guerras e fome não havia como esperar muito; este era um imperativo social, e assim o foi por milênios. O adequado entendimento dos significados e importância da infância nos mostrou que adentrar na maternidade com tão pouca idade era um prejuízo terrível e irrecuperável, em especial para as meninas. Com o tempo fomos abolindo essa prática, até os dias de hoje onde este costume se tornou proibido e até criminalizado.

Os países árabes e os persas também tem essa consciência, apesar de muito dos valores patriarcais mais ultrapassados ainda existirem por lá. Hoje não há como defender a prática de casamentos que envolvem menores de idade, e essa prática precisa ser combatida no mundo todo através da conscientização e da educação. Entretanto, o número de casos de gestação na adolescência no Brasil e nos Estados Unidos (e em todo o ocidente) mostra que este não é um problema exclusivo do Oriente e da Ásia. Nos Estados Unidos, como exemplo, 300 mil crianças menores de idade se casaram entre os anos 2000 e 2018, a maioria delas consistindo de meninas menores de idade casando com homens adultos.

De acordo com a organização Girls not Brides, mais de 2,2 milhões de menores de idade são casadas no Brasil ou vivem numa união estável – cerca de 36% da população feminina brasileira menor de 18 anos. O Brasil é o quinto país do mundo em números absolutos de casamento infantil. Na América Latina, o México fica em segundo lugar, com 1,42 milhão de meninas menores de 18 anos casadas ou vivendo em união estável. Essa situação atinge 26% da população feminina mexicana menor de idade.” (veja mais aqui)

A imagem da festa em Gaza mostra apenas uma cerimônia com meninas fazendo o papel de acompanhantes das noivas, mas o identitarismo busca nesta imagem tratar o Oriente como um lugar onde o abuso é exaltado. Essas imagens são maldosas e oportunistas e seriam tão mentirosas quanto as imagens aqui ao lado, se fossem apresentadas no Irã como o “casamento de crianças no Brasil”, sem apresentar o contexto da cerimônia, onde as crianças ocidentais são apenas “aias” e estão fazendo o mesmo papel das meninas em Gaza. Sobre a foto na Palestina, resta a explicação de quem organizou o casamento coletivo:

“Ahmed Jarbour, o oficial do Hamas em Gaza responsável pela realização da atividade, disse à WND que a garota mais nova a se casar na cerimônia tinha 16 anos. Disse também que a maioria das noivas eram maiores de 18 anos de idade. Jarbour, assim como dois outros oficiais de alto escalão contatados pela WND, se sentiu ofendido pela sugestão de que o Hamas estava financiando o casamento de crianças. Ele explicou que as menores vistas faziam parte da família do noivo ou da noiva. Ele disse que se trata de uma tradição as menores se vestirem de vestidos semelhantes aos das noivas. Disse que as meninas que aparecem no vídeo descendo um corredor com os noivos são membros da família do noivo ou da noiva. Em múltiplas ligações realizadas para os palestinos que participaram do casamento os mesmos afirmaram que as garotinhas não eram elas mesmas as noivas. O Hamas, entretanto, celebrou o casamento como uma vitória. “Nós estamos dizendo ao mundo e à América que eles não podem nos negar a alegria e a felicidade”, Mahmoud al-Zahar, Chefe do Hamas em Gaza, disse aos noivos no evento.”

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Distorções

Alguém seria capaz de discordar do fato de que, não estivessem as redes de informação – jornais, TV, Internet, mídias sociais, rádios, etc. – além do sistema financeiro, nas mãos dos sionistas e estaríamos vendo as ações atuais de Israel com os mesmos olhos que analisamos o nazismo dos anos 30-40 do século passado? Não fosse uma mídia a proteger cotidianamente Israel com seu vasto poder econômico, estaríamos ainda aceitando as atrocidades cometidas contra o povo Palestino? Não fossem as igrejas evangélicas – que lucram com o sionismo, através das excursões caça-níqueis dos seus pastores – ainda haveria apoiadores do colonialismo nefasto branco e europeu no Oriente Médio? Não fosse o dinheiro no capitalismo internacional estar nas mãos de sionistas, ainda haveria dúvidas sobre o genocídio e a limpeza étnica captados pelas câmeras em Gaza e na Cisjordânia?

O fenômeno da blindagem aos crimes contra a humanidade perpetrados por Israel, que ocorre nas grandes empresas de mídia mundo afora, ocorre de forma semelhante no Brasil, onde a realidade da cobertura da imprensa sobre Israel é igualmente deprimente. Temos uma mídia controlada por apenas cinco famílias, que sozinhas detém 50% de toda a veiculação de notícias no país. Uma delas é controlada pelo herdeiro de uma linhagem de ricos comerciantes judeus; outra é propriedade de uma Igreja Evangélica Neopentecostal, e estes empreendimentos religiosos são os maiores difusores da ideologia sionista cristã no Brasil, a ponto de construir o maior templo de sua igreja e denominá-la “Templo de Salomão“. Assim, apesar de termos uma população de origem judaica pequena no Brasil, que não passa de 150 mil pessoas (quando comparada aos quase 6 milhões nos Estados Unidos), vemos que ela exerce uma influência muito forte entre a burguesia brasileira, e isso se traduz em apoio ao Estado de Israel, mesmo que a conexão entre judaísmo e sionismo seja questionada, inclusive entre os próprios judeus.

Ou seja: a realidade que ora presenciamos é dramaticamente similar aos horrores do III Reich, bastando para isso trocar as vítimas de antes – os judeus, ciganos e gays – pelos palestinos confinados em um gueto chamado Gaza. Já os oprimidos apenas trocaram de lado, pois como dizia Paulo Freire “Se a educação não é inclusiva, o sonho do oprimido é se tornar opressor”. O que o mestre queria dizer é que, se a experiência de dor não é incorporada como aprendizado profundo, só resta a vingança e o ódio para quem passou por tais sofrimentos. Entretanto, mesmo com similaridades tão gritantes a nos oferecer um paralelo entre os horrores do holocausto e o massacre que agora testemunhamos em Gaza, a imprensa corporativa se esforça para esconder a realidade, mesmo que seja necessário mentir – como o New York Times e o caso dos “bebês decepados” – ou com os convites realizados para que sionistas tenham uma voz de destaque nas coberturas jornalísticas. Desta forma, o que presenciamos é uma interpretação dos fatos mediada pelo grande filtro midiático e financeiro, o qual não permite que nos horrorizemos com a morte de milhares de mulheres e crianças palestinas com a mesma intensidade com a qual sofremos ao ver os esquálidos judeus vítimas do holocausto.

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Netanyahu

A nova/velha tática de sionistas confrontados com imagens, relatos e depoimentos sobre o massacre de mulheres e crianças – além da morte de membros de uma ONG que levaria comida aos famintos de Gaza – é afirmar que estas verdades insofismáveis não são decorrentes da ideologia racista e supremacista que abraçam, mas do governo Netanyahu, que faz parte de uma extrema direita impopular e “extremista”. Esta é, aliás, a retórica mais preponderante entre os ditos “sionistas de esquerda”, um oximoro que ocupa posição de destaque na imprensa corporativa. Tentam retirar a culpa da estrutura que sustenta o Estado terrorista de Israel para colocá-la numa contingência eleitoral, como a presença de um radical de direita à frente do seu governo. Todavia, ao contrário do que os sionistas mais ufanistas acreditavam, Israel se mostrou incapaz de quebrar a resistência palestina. O apoio internacional à causa Palestina aumenta no mundo inteiro e o sionismo racista e supremacista se isola, restando apenas o apoio do Império Americano. Porém, mesmo no seio da América este suporte está enfraquecendo rapidamente, na medida em que as mentiras de Israel são reveladas e as pessoas aos poucos começam a conhecer a realidade da ocupação brutal de Israel. A Palestina vencerá porque o mundo não pode mais aceitar o racismo e a brutalidade fascista que são o coração do sionismo, porém, antes que isso aconteça, muitos sionistas tentarão oferecer a simples troca de um governo fascista por um personagem mais moderado como solução para o drama palestino. Todos sabemos o quanto isso é falso.

Ora, todos sabemos que a imensa maioria da população de Israel apoia os massacres aplicados à população palestina. Os descontentes que saem às ruas contra o governo atual clamam por ações mais enérgicas (ou seja, mais mortes) para o resgate dos reféns e pelo fim do governo corrupto de Netanyahu. Não são movidos por interesses humanitários, por certo. Também é fácil perceber que, entre a elite política de Israel, Netanyahu é visto como moderado; por mais bizarro que possa parecer, os chacais ao seu redor são ainda mais radicais no uso da violência. A possível troca de Netanyahu por Benny Gantz ou Yair Lapid – seus principais opositores – produziria mais radicalismo, pois que suas posições são ainda mais virulentas, racistas e genocidas que as utilizadas até agora.

A sociedade israelense foi se deteriorando com o passar dos anos, radicalizando-se no arbítrio e na opressão, mergulhada no fascismo mais abjeto, em um nível e em que o desprezo pelos árabes, a postura supremacista, o excepcionalismo e a desumanização do povo palestino permitem que o massacre cruel e abjeto seja a cola social que unifica seu povo. Não há diferença alguma em suas práticas que os diferencie dos seguidores de Adolf.

Por outro lado, é certo que esta “solução” – a queda e a prisão do primeiro ministro Netanyahu – mais cedo ou mais tarde poderá ser aventada, mas não nos enganemos; caso venha a correr a proposta terá como objetivo “mudar para não mudar”. Ou seja, “oferecemos a cabeça de Netanyahu em uma bandeja para o ocidente para que nossa proposta de extermínio da Palestina siga intocada”. A população da Palestina, que de forma intensa apoia as medidas dos grupos de defesa e de resistência armada, não vai aceitar a queda de um político corrupto como sinal de paz ou como solução para o colonialismo e a ocupação. Este truque também poderá ser utilizado na nossa questão doméstica: a prisão de Bolsonaro. Ao mesmo tempo em que coloca um criminoso na prisão esta ação pode manter vivo o bolsonarismo, deixando protegido o radicalismo fascista de extrema direita.

É preciso entender a delicadeza da situação na Palestina para não se deixar aprisionar pelo emocionalismo. O ataque ao sionismo e sua ideologia fascista precisa muito mais de cérebro e paciência do que pressa e ações apaixonadas. É necessário ser frio e entender que a luta de 75 anos pela Palestina livre não vai terminar da noite para o dia e muito menos vai se dar por ações atabalhoadas e midiáticas.

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Contra o sionismo

O jornalista Breno Altman tem feito um périplo pelo Brasil – e até pelo exterior – para a divulgação do seu livro “Contra o Sionismo”, e está obtendo um enorme sucesso. Um grupo crescente de pessoas começa a se interessar nas questões da Palestina, porque ela concentra de forma muito didática as grandes questões dos últimos 100 anos: colonialismo e imperialismo. Ele tem se tornado a mais importante voz da esquerda na luta contra os massacres do governo fascista de Israel na Faixa de Gaza, em especial pela sua condição de judeu antissionista. Pois, para surpresa apenas daqueles menos avisados, Breno teve sua presença contestada na Universidade Federal de Santa Catarina pela pró-reitoria de “Ações Afirmativas e Equidade” desta universidade, que recomendou a retirada do apoio à sua palestra por seu conteúdo “antissemita”.

Todos sabemos do interesse de grupos ligados à Israel em fomentar a confusão oportunista e mentirosa entre antissemitismo (que deploramos) e antissionismo (que é o tema da palestra e foco da nossa luta). Por que então o repúdio desse setor da Universidade ao evento? Quem está por trás da condenação a esta conferência? Quem se opõe ao debate que vai se seguir e a quem interessa censurar as vozes que denunciam o holocausto palestino? Ora, a pró-reitora responsável por este repúdio à luta anticolonial chama-se Leslie Sedrez Chaves, uma mulher negra, feminista, acadêmica e reconhecida pela sua luta antirracista. Todavia, cabe perguntar: se ela tem todos esses predicados, por que se posiciona na contramão da luta antirracista na Palestina? Por que se coloca a favor de Israel e da opressão do povo Palestino? Por que vira as costas ao clamor de milhões que, no mundo inteiro, condenam o fascismo, o Apartheid, a violência desmedida e a morte de crianças e mulheres, que já ultrapassam os 30 mil? Para entender esta dinâmica é necessário aclarar vários pontos:

  1. O identitarismo é uma força conservadora, individualista e à direita no espectro politico. É uma corrente de pensamento surgida dos think tanks do partido democrata americano para obstaculizar as perspectivas revolucionárias e a luta de classes. Não possui uma visão abrangente da sociedade e seu foco é a visão fragmentada desta, entendendo as identidades como recorte estanques sobre os quais é possível agir sem agir em toda a complexidade social,
  2. Ser mulher, negra, feminista e antirracista não garante uma postura progressista e em defesa das lutas de classe e em favor dos outros povos que sofrem opressão e são vítimas das forças imperialistas. A negativa em apoiar a Palestina em sua luta anti-imperialista é um exemplo claro dessa visão tubular da sociedade, ignorando a dinâmica econômica que a controla, muito mais do que os gêneros, cores de pele ou orientações sexuais.
  3. O lobby sionista, que age através de ONGs imperialistas (StandWithUs e aqui no Brasil a CONIB), tem uma enorme pervasividade, atingindo todos os setores da sociedade. Estas instituições se ocupam em atacar a oposição crescente das sociedades do mundo inteiro aos desmandos e crimes contra a humanidade perpetrados por Israel com a conivência e apoio dos Estados Unidos. Esta adesão aos pressupostos identitários e a favor do sionismo corrói a consciência de classe que lentamente estamos construindo. O mesmo processo que ocorre na luta antirracista ocorre também na luta feminista, no movimento LGBT e até na humanização do nascimento. 

Esta Pró-Reitoria não tem capacidade de veto, muito menos de impedir a palestra do camarada, porém sua postura reacionária deve aumentar ainda mais o interesse pela conferência de Breno Altman, marcada para o dia 3 de abril 2024 no auditório central da Universidade. Cabe a todos nós darmos a resposta a esta tentativa de calar as vozes que lutam contra a chacina contra o povo palestino.

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Jornalismo isento

Uma conhecida jornalista, da maior rede de televisão brasileira, ao prestar homenagem ao dia das mulheres, apontou solenemente seus dedos para as “mortes de mulheres israelenses cometidas pelo Hamas”, sem que uma palavra sequer fosse dita sobre as milhares de mulheres mortas pela fúria assassina sionista que ocorre agora em Gaza, no primeiro genocídio televisionado pela humanidade. Também não fez referência ao fato de que as mulheres palestinas são executadas há décadas, e números de mortes seriam ainda mais tétricos se acrescentarmos aquelas que pereceram nos 75 anos de ocupação brutal de Israel, que se iniciou no Nakba e perdura até hoje. Mas é claro que sabemos o quanto de blindagem se produz sobre jornalistas de grandes emissoras. Não há como criticá-las publicamente sem pagar um alto preço, pois é fácil ser acusado de misoginia e/ou racismo – pelo menos na perspectiva dos identitários. Aliás, está é uma das razões (além da qualidade profissional) para as empresas jornalísticas apostarem no identitarismo, pois esta estratégia cria uma barreira bem sólida contra as notícias enviesadas que veiculam.

A mesma estratégia ocorre na representatividade política onde as ações mais brutais e destrutivas do imperialismo são comunicadas por negros (ou “afro-americanos”), basta lembrar a recente negativa de cessar fogo comunicada pela embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, uma diplomata negra que afirmou que o veto americano à proposta ocorreu por este não citar o “direito de Israel de se defender”, sem explicar que, pelas leis internacionais, apenas o país ocupado tem o direito de se defender das agressões dos invasores. É evidente que esta desculpa esfarrapada tem o claro intuito de manter viva a guerra, levando adiante a limpeza étnica sobre a palestina e tornando realidade a “solução final” que a mesma diplomata acabou citando – em um curioso e horrendo “lapso” – algumas semanas depois.

“Ahhh, mas eles apenas cumprem ordens. Eles somente reproduzem o que os seus superiores lhes determinam”. Estes argumentos que isentam de culpa os jornalistas que oferecem seu rosto às notícias ou os representantes políticos que comunicam atrocidades se baseiam, por um lado, na tese da neutralidade da imprensa, que seria apenas um veículo imparcial dos fatos e por outro lado na cadeia de responsabilidades que coloca os representantes como apenas aqueles que comunicam as decisões. Sabemos da impossibilidade de uma imprensa positivista, baseada em fatos concretos e sem qualquer viés; não existe jornalista sem lado que apenas “cumpre ordens”. Também não há embaixadores sem opinião e sem valores morais. Usar como defesa a impossibilidade de se insubordinarem às determinações dos seus superiores é inaceitável. Os jornalistas que representam uma empresa francamente engajada nos interesses americanos e com evidentes interesses de proteger Israel, o sionismo e o apartheid na Palestina, assim como os representantes legais deste poder transnacional são responsáveis pelas atrocidades que escondem e pelas ações de terror que disseminam.

Ora, essa desculpa não pode mais ser aceita. Um policial que só prendesse negros dizendo estar cumprindo ordens também é responsável pelo racismo de suas ações. Ninguém é obrigado a cumprir ordens ilegais ou que ferem a decência. Qualquer sujeito a quem fosse exigido veicular mentiras ou narrativas sectárias poderia se negar a cumprir estas ordens, por um mecanismo de “escusa de consciência”. Sua condição de empregados não pode levar ao extremo aceitar e reproduzir qualquer mentira ou desinformação como se não fosse dono de sua consciência, como que transformado em um mero megafone humano das ideias de quem representa.

Aliás, “eu só cumpria ordens” foi o que mais se ouviu em Nuremberg, mas ninguém se tornou inocente usando esta estratégia. Caso um oficial alemão oferecesse como justificativa as ordens recebidas de seus superiores, ficando sem alternativa para desobedecê-las, não foi aceita a possibilidade de absolvição, mas apenas de redução de pena. Da mesma forma, um jornalista que aceita narrativas enviesadas na condução de um noticiário torna-se responsável pelos danos a que elas estiverem vinculadas. A responsabilidade do jornalista ocorrerá sempre que ele foi fonte ou veículo de uma notícia ou opinião.

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Horror e Culpa

Na segunda guerra mundial é dito que as câmaras de gás foram criadas porque os fuzilamento de inimigos carregavam dois graves problemas: o uso de uma munição cada vez mais escassa em não combatentes e as graves repercussões psíquica nos soldados a quem era dada a tarefa de matar com tiros na nuca jovens, mulheres e até crianças. Não raro, os soldados nazistas tiravam a própria vida como forma desesperada de escapar do martírio de culpa e dor diante da barbárie de seus atos. Com o tempo, apenas os psicopatas mais renitentes suportavam as execuções. Diante de tamanho custo, uma forma mais asséptica de assassínio coletivo foi elaborada.

Na campanha genocida de Gaza, um fenômeno semelhante começa a acontecer. Incapazes de justificar os massacres, o assassinato de mulheres e crianças indefesas pelos bombardeios de seus modernos aviões, Israel começa a ver crescer um enorme contingente de soldados transtornados por suas ações criminosas. Da mesma forma como ocorreu com os nazistas, os recrutas e aviadores agora tomam consciência plena do que significa bombardear uma mesquita, uma igreja, um hospital, matando tudo e a todos sem qualquer respeito pela vida de um povo. Não há como manter a sanidade diante de tantas atrocidades, algo que o filme “Corações e Mentes” já denunciava quando avaliou a repercussão da guerra do Vietnã na saúde psíquica dos soldados americanos que retornavam para casa.

Em Israel, muitos são os soldados que se recusam a atuar na Palestina. Em um caso famoso de 2014, um grupo de elite do exército sionista que atuava na Cisjordânia negou-se a compactuar com a opressão sistemática exercida sobre os habitantes palestinos das cidades ocupadas. Para estes militares, serem os agentes de uma brutal opressão sobre uma população oprimida e sem recursos tornou-se um fardo moral demasiado pesado para carregarem. A questão moral passou a se tornar um elemento crucial na coesão do exército sionista, deteriorando sua união e ameaçando as hierarquias. Assim como era impossível passar pelo charco das execuções nazistas sem enlamear suas botas, também agora é impossível cometer todos os crimes de guerra até hoje catalogados e não se sentir participante de um holocausto racista e desumano. Os próprios recrutas – jovens de diferentes nacionalidades e culturas – aos poucos perceberão o quão destrutivas são – para si mesmos – suas ações contra um grupo humano desarmado e indefeso. Não há como manter a sanidade mental quando se adentra o inferno de uma guerra racista e genocida.

No filme “Valsa com Bashir” toda a narrativa é construída sobre o sentimento de culpa obliterante de um jovem judeu que participou do massacre de Sabra e Chatila. Seu esquecimento dos acontecimentos daquela madrugada de 16 de setembro de 1982 estava relacionado com sua vã tentativa de apagar da memória os fatos e cenas terríveis que protagonizou ao lado de seus amigos soldados no sul do Líbano. Como o filme deixa claro, não há recalque que se mantenha para sempre; um dia “o retorno do recalcado” há de cobrar de cada um de nós a responsabilidade pelos eventos que constroem nossa subjetividade. Não pode ser diferente para estes que, agora, participam do horror e dos massacres em terras palestinas; mais cedo ou mais tarde haverá uma cobrança, seja ela social e jurídica, ou pela culpa mortífera que, por fim, destruirá o sujeito por dentro.

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