Esta é uma metáfora antiga, e não sei qual sua origem exata. Talvez seja uma história do Lacan ou talvez do Contardo Caligaris contando a partir de um relato de Lacan, mas isso é menos importante.
Esta metáfora compara a relação sexual com um jogo de tênis entre duas pessoas unidas por um laço fantasmático de desejo. Entretanto, ao invés de uma rede a separá-los há uma parede sólida, a qual impede os jogadores de verem seus parceiros de jogo. Assim, cada um joga do seu lado do muro, atirando a bola contra ele e rebatendo… solitariamente.
Apesar da notável solidão, deixam-se guiar pelo som da bolinha que o parceiro joga contra a parede rígida e ambos dançam ao sabor dessa simetria sonora. Apesar de não se verem, reconhecem a existência do outro por detrás do muro, e jogam de acordo com o som que escutam e os movimentos que imaginam
Dessa forma, o que em verdade se constitui em dois jogos distintos e autônomos parece, ao observador desavisado, um jogo entre dois parceiros – concatenado e simétrico – de fina sintonia.
Eu escutei há muitos anos essa metáfora que explicava a “impossibilidade da relação sexual” mas que ao mesmo tempo ensinava ser a sustentação do desejo uma responsabilidade do próprio sujeito, a depender da sua capacidade de escutar a bolinha que bate na parede enquanto acompanha com seu jogo do lado de cá.
Não sei se essa narrativa é triste ou bonita, mas sempre acreditei ser profundamente pedagógica. Ela ensina que um encontro de amor é um encontro consigo mesmo, através do outro.
(A partir de uma conversa com Deia Moessa Coelho)