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Oportunismo

Caetano Veloso, em recente show, segurou a bandeira da Palestina, numa demonstração de adesão à luta dos palestinos por liberdade e autonomia. Todavia, é importante voltar no tempo um pouco e lembrar que, antes da sua visita a Israel em 2015, numa apresentação para latinos e brasileiros moradores de Israel, os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil foram confrontados por Roger Waters para desistir da visita que fariam a Israel, cancelar seus shows e se unirem à causa pela Palestina. Caetano desconsiderou solenemente os pedidos de Roger e outros ativistas, debochou das palavras de Miko Peled, dançou e cantou com os sionistas de Tel Aviv e jamais se desculpou pela sua presença na Palestina ocupada, em concertos regiamente pagos pela nação invasora.

Gilberto Gil fez ainda pior: além de ganhar seu dinheirinho cheio do sangue das crianças palestinas, ainda assinou abaixo-assinado de apoio aos sionistas depois do 7 de outubro. Ambos são gênios da música, talentos indiscutíveis, mas ignorantes e reacionários, a ponto de se colocarem ao lado de uma ideologia nazista e genocida.

O mesmo se pode dizer de Jean Wyllys, figura que ruma celeremente para o mais absoluto esquecimento. Enquanto parlamentar, foi a Israel em um “trenzinho da alegria” e com boca livre, financiado pelas universidades israelenses – situadas em terras palestinas invadidas – com o claro intuito de fazer propaganda do regime de apartheid e reforçar a imagem de Israel como eterna vítima no cenário internacional. Foi escolhido a dedo por ser abertamente gay e ter uma postura francamente identitária, o que auxilia na conhecida estratégia de pinkwashing“, característica da “hasbara” (propaganda estatal de Israel). Esse também jamais pediu perdão por se postar ao lado do apartheid, do supremacismo, do abuso e do racismo mais asqueroso vigente em nossa época.

Sim, Caetano, Gil e Jean Wyllys não foram os únicos a se deixar encantar pelo dinheiro fácil que vem de Israel. No início desse ano ocorreu outro “trenzinho“, desta vez composto de profissionais da imprensa que visitaram Israel – com todas as despesas pagas (jabá) – para limpar a barra do sionismo. Entre eles estavam Pedro Doria, fundador e editor do Canal Meio; Tatiana Vasconcellos, âncora da Rádio CBN; Filipe Figueiredo, criador do podcast Xadrez Verbal; Leila Sterenberg, que atua semanalmente nos programas do canal do IBI; Janaina Figueiredo, repórter especial do jornal O Globo; e Marcos Guterman, diretor de Opinião no jornal O Estado de S. Paulo.

Entretanto, quando essa adesão ao sionismo vem de figuras públicas adoradas pela esquerda, eu acredito que a traição é mais dolorosa. Mesmo quando sabemos que não é justo confundir o autor com a obra, é inevitável a frustração. Caetano Veloso continua sendo um dos maiores gênios da cultura brasileira, um revolucionário da arte, criador do tropicalismo, músico e poeta da maior qualidade. Entretanto, como agente político, é um arrogante, um alienado e alguém que sempre se jogou para o lado que lhe pareceu pessoalmente mais favorável, mesmo que isso significasse apoiar os genocidas e canalhas mais abjetos. Todavia, sua genialidade não pode nos deixar cegos diante do seu oportunismo. Sua adesão tardia à luta pela libertação da Palestina não pode apagar de nossa memória sua posição de adesão franca ao sionismo.

Desculpe, Caetano… eu não sou cachorro, não.

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O Oportunismo dos Sionistas

Que curioso!!! Exatamente quando Israel promove um holocausto palestino, matando mais crianças mulheres por dia do que o próprio Adolf em seus dias de “glória”, surge uma série para glorificar os judeus mortos nos campos de concentração há quase um século atrás. A série, chamada “O Tatuador de Auschwitz”, foi realizada por Tali Shalom-Ezer e tem produção executiva de Claire Mundell. Não há dúvida que a estreia internacional vai coincidir com o maior desastre de relações públicas já ocorrido nos mais de 80 anos de vida de Israel. Universidades pelo mundo inteiro estão sendo ocupadas com estudantes que exigem o fim dos massacres sionistas contra crianças, mulheres e homens palestinos, assim como uma solução para a ocupação e o Apartheid que já perduram por mais de 70 anos. Esta “coincidência” nada mais é do que uma “manobra diversionista” e cumpre duas funções: trazer de volta a ideia gasta de que os judeus são as “eternas vítimas do mundo” – o que os autoriza a realizar todas as atrocidades que testemunhamos desde o Nakba em 1947 – e desviar a atenção da fantástica debacle mundial da imagem de Israel.

Este país falso, roubado da comunidade Palestina que lá vivia há séculos, agora tornou-se mundialmente conhecido como o país do terror, do holocausto palestino, do genocídio, do massacre de crianças, do apartheid e da limpeza étnica. A data de 7 de outubro de 2024 marca um corte fundamental na história da Palestina, expondo as entranhas dos horrores e dos abusos da ocupação sionista e produzindo um estrago irrecuperável na forma como o mundo enxerga esse enclave europeu. Nunca antes a violência e o terrorismo de Israel estiveram tão evidentes quanto depois da ação da resistência armada do Hamas e outros grupos.

A história não vai retroceder, e o estrago já está feito. Israel, a partir daquele dia nos umbrais de outubro, teve sua real essência mostrada nas redes sociais para cada sujeito que segurava um smartphone no planeta. Nem Barbra, nem Spielberg, nem Seinfeld… nenhum deles será capaz de salvar Israel da maldição que vai se abater sobre os colonizadores brutais e perversos. Os crimes contra a humanidade cometidos até hoje não poderão ser apagados por estas manobras de propaganda descarada. O mundo inteiro acordou para a barbárie racista de Israel.

Apesar da obra ter seu valor, não é possível acreditar que o seu lançamento agora não seja uma clara ação oportunista para tentar limpar a imagem imunda do sionismo genocida de Israel. Os crimes contra a humanidade cometidos desde a brutalidade do Nakba não ficarão impunes. Não vão nos enganar com essa patifaria. Yasser Arafat, onde estiver, sorri para um porvir democrático e de paz em sua terra.

“Aprofundando as informações sobre a nova música que Barbra Streisand gravou para a minissérie “O Tatuador de Auschwitz”, esta será a primeira vez que um tema da diva judaica americana é usado para um programa de TV. Streisand disse que com a música procurou lembrar das vítimas do Holocausto.”

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Epidemia

É importante dizer que a epidemia de falsas acusações que assola o mundo todo – de Amber Heard às assediadas de Taubaté passando pelo golpe no jogador Neymar e pela menina no clube chique da facistolândia – é um fenômeno primo irmão da cultura do cancelamento. A lógica utilizada pelas supostas vítimas é simples: “Vamos atacar sua fé pública, sua honra, destroçar a sua respeitabilidade. E vamos fazê-lo do jeito que a gente sabe que dura a vida toda. Vamos chamar nosso antigo amigo de abusador, o pai dos nossos filhos de estuprador, nosso chefe de assediador. Não é preciso provar nada, basta jogar o nome deles na lama que as redes sociais fazem o resto. Quem ousaria desconfiar das vítimas?”

Estes são apenas exemplos de casos famosos, mas vai saber o que acontece nas varas de família pelo mundo afora como estratégia de vingança e de destruição moral. Quantas vítimas existem no mundo que sofreram por acusações falsas, destruindo toda a sua credibilidade? Quantos inocentes foram jogados na fogueira com a mesma crueldade que se jogavam bruxas nas fogueiras da inquisição? Quantas mulheres realmente vitimadas por seus parceiros(as) agora têm suas versões questionadas por estes casos ruidosos de acusações mentirosas e oportunistas?

O drama dessas mentiras socialmente apoiadas por gente que supostamente defende a causa (mas na verdade apenas descarregam nestes casos seus dramas pessoais), é que o problema do assédio e do estupro REALMENTE existe e temos visto seu crescimento nos últimos anos de dominância fascista, o qual deve ser combatido com toda a seriedade pelos governos e pela mídia. Por certo que a pandemia e o “lockdown” realizado têm influência no aumento dos conflitos domésticos, assim como a agudização da situação econômica das famílias durante a recessão mundial do Covid. Porém, para além dessa situação existe uma agressividade maior por parte das organizações fascistas, que combatem de forma aberta qualquer avanço contra conquistas femininas.

Entretanto, a ação dos ativistas que dão suporte às mentiras usadas contra homens com o argumento sexista de que um gênero (e nunca o outro) “jamais mentiria” acaba trazendo um total descrédito às queixas legítimas que aparecem – e que, infelizmente, ainda vão aparecer por muito tempo. As propostas de novas leis punitivistas e a criação de novos tipos legais têm sempre resultados pífios ou nulos. Na realidade, nunca se discutem as razões profundas das mazelas sociais como o tráfico de drogas e a violência doméstica, porque não parece de bom tom colocar o dedo na ferida do sistema desigual e cruel que estrutura nossa sociedade. Neste contexto vai aparecer o trabalho nefasto de algumas organizações identitárias que, para ressaltar seu corporativismo de gênero, encampam acusações frívolas ou mentirosas que acabam destruindo pessoas muitas vezes inocentes.

Pessoas que mentem por vingança ou oportunismo merecem punição severa, talvez recebendo uma pena tão violenta quanto o pretenso crime que levianamente inventaram. Para acabar de vez com a violência doméstica é preciso encontrar onde o mal nasce e destruir sua semente, sem perder tempo e recursos com visões moralistas sobre homens “bons” e homens “maus”, uma perspectiva que na verdade apenas encobre a perversidade do capitalismo e da sociedade de classes.

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Paixão pela mudança

Se a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor, como já dizia Paulo Freire. Se a gente não combate o abuso em si, mais cedo ou mais tarde todos iremos exigir nosso quinhão de opressão no mercado da violência. Se a luta contra o arbítrio só nos inflama quando toca nossos interesses – ou nossas feridas – então não é paixão pela mudança, é apenas oportunismo.

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Voto impresso

“Vamos discutir agora a questão seríssima do voto impre… digo auditável, para que as eleições de 2022 sejam limpas”

Cara, de uma vez por todas…. NÃO VAI TER VOTO IMPRESSO e por várias razões – entre elas a recusa do congresso. Todavia, a mais importante é que, mesmo que fosse algo necessário para a lisura das eleições, NÃO HAVERIA TEMPO para criar um modelo novo em tão pouco tempo. Não se muda a tecnologia usada há 25 anos – com pleno sucesso – em um ano e meio. Além disso, a mentira do Bolsonaro é de que os votos não são auditáveis – e são!!! Aécio Neves pediu auditoria em 2014 e ela foi feita. Sem falhas.

Pergunto: se houvesse fraude eleitoral por que Bolsonaro teria sido eleito? Por que Dilma foi reeleita? Por que Aécio perdeu, se ele era o candidato da gente do dinheiro e do “mercado”? Nada disso faz sentido.

Aliás, só uma coisa parece ser certa: Bolsonaro está pavimentado o caminho para dizer que perdeu as eleições por fraude, EXATAMENTE o mesmo roteiro que Trump, o outro bufão da extrema direita supremacista branca, tentou ativar nos Estados Unidos.

A derrota de Bolsonaro cada dia fica mais certa, e por isso mesmo ele cria o factoide de que existe fraude ou de que ela pode ser facilmente realizada. Quer convulsionar o país. Quer criar a ideia de que é “popular”, tem a preferência do povo e que – palavras suas – “não aceita nenhum resultado que não seja a sua reeleição”.

A quem serve essa patifaria? A quem serve exigir algo que não é possível realizar? A quem serve jogar o povo contra a justiça? A quem serve jogar o povo – SEM PROVA ALGUMA – contra o sistema eleitoral?

Bolsonaro tentará um autogolpe se nada mais funcionar e, como bom psicopata, não se importa com quantas mortes terá que lidar. Aviso apenas que Bolsonaro já tem 75% de pessoas contrárias à sua sanha autoritária e se ele resolver destruir a democracia neste pais o povo inevitavelmente sairá para as ruas

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Careca de Aço

Alguns articulistas da Imprensa de esquerda agora se derretem para a “coragem” do ministro Alexandre Moraes, o “careca de aço”.

Pois eu não poderia discordar mais desse entusiasmo. Não vejo bravura alguma, mas oportunismo com pinceladas de corporativismo. Aplaudir o judiciário – em especial o STF – quando faz pirotecnia para livrar o próprio r*bo é ingenuidade. Essa casa cassou o mandato de Dilma por inação e manteve Lula preso ao negar-lhe o Habeas corpus, e para isso contou com o voto calhorda deste Alexandre que agora chamam de “bravo”.

Corajoso??? Sério??

Quando foi para manter encarcerado Lula, sobre quem nunca houve prova de delito impedindo-o de concorrer, onde estavam a coragem e a bravura do Sr Alexandre? Pois não passa de um medroso de capa….

Não aplaudo arrependidos de última hora como Bonner, Alexandre Frota, ou mesmo Joice, também não vou exaltar um STF acadelado, que foi incapaz de lutar pela democracia quando o beneficiado era Lula. Por que deveríamos aplaudir um ato do STF que ocorreu apenas quando a água do fascismo bateu-lhes na bunda???

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Desfile

Quando fiz o curso de preparação para os oficiais R2 da aeronáutica, há mais de 3 décadas, eu fui o segundo colocado da turma. O primeiro lugar ficou com um anestesista que gabaritou a prova e que desejava seguir a carreira militar. Já eu queria apenas um emprego e um lugar para colocar em prática algumas ideias revolucionárias sobre parto normal fisiológico. Entretanto, não há como negar que essa condição de segundo mais “antigo” (graduado) da turma me garantia uma série de pequenas prerrogativas, mas que as vezes eram muito bem vindas. Eu nunca quis ser militar e rejeitei todos os convites para ingressar na vida militar ativa. Sempre tive com o militarismo uma postura critica e desconfortável. A ideia de hierarquia e disciplina para um sujeito caótico como eu, e que tem profunda aversão à prepotência, tornava a minha estada numa instalação militar um exercício diário de adaptação forçada. lembro bem que não era fácil.

Lembrei hoje de uma passagem quando estávamos nos aproximando do desfile de 7 de setembro e quando percebi, com absoluto horror, que me caberia – pela escala – comandar o pelotão de saúde do hospital durante o desfile. Entrei em pânico. Comandar um batalhão demanda conhecer a ritualística dos toques de corneta e dos comandos para os soldados e sargentos da tropa. Precisa ainda outro elemento: coordenação motora, outro atributo que não veio no meu pacote vital básico. Que fazer? Eu certamente cometeria uma série de pequenos vexames durante o desfile. Pensei em ficar doente, provocar um acidente, me internar no hospital por diarreia aguda. Estava sem saída. Foi quando passei pelo saguão do prédio do hospital e escutei a conversa de dois coronéis a respeito do suporte de ambulâncias para o desfile.

– Precisamos de alguém da equipe médica que se “voluntarie” para ficar ao lado da ambulância durante o desfile. Mas, já sei de antemão ninguém vai querer pegar essa bomba, porque precisa ficar até o fim do desfile.

Bastou escutar esse fragmento de conversa para imediatamente me apresentar ao coronel.

– Coronel, eu me voluntario para ficar ao lado da ambulância. Posso ajudar, pois sei que é uma posição que as pessoas evitam. Eu não me importo, ficarei feliz em ajudar.

– Então já coloco agora seu nome na convocação. Obrigado, tenente.

Saí do saguão do comando exultante e ainda ouvi o coronel falando para seu colega “É desse tipo de oficial que precisamos. Nem foi preciso mandar, pois ele se apresentou para ajudar”. No dia seguinte, vi afixada a escala para o desfile, e notei meu nome riscado do comando da tropa e colocado como o responsável pela ambulância. Pude ainda, no dia do desfile, desfrutar da sensação de ser uma estrela, vendo os familiares dos soldados pedirem para tirar fotografias comigo. Eu sinto culpa até hoje por ter dado àquelas pessoas a falsa ideia de que eu estava tentando ajudar quando, em verdade, estava agindo pelo mais egoístico dos motivos. Tenho certeza que os deuses responsáveis pelos desfiles militares me entenderão e me deixarão entrar marchando – descoordenadamente – no céu.

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Felipe Neto

Vejo as reações ao Felipe “Repaginado” Neto situando-se entre o entusiasmo – afinal ele coloca Bolsonaro e Malafaia no mesmo caldeirão diabólico do fascismo – e o ressentimento – a mesma prateleira onde colocamos Lobão, Joice, Moro, Janaína, etc., aquelas figuras patéticas da história recente que montaram a festa do golpe e agora choram porque o vizinho chamou a polícia.

Sem querer inventar a roda, creio que é possível situar-se com equidistância destas posições. Sim, é verdade que é muito bom que ele cerre fileiras contra o fascismo e o atraso representados por Bolsonaro e Malafaia. Sim é bom que esteja do nosso lado, reconheça seu erro e queira ajudar. Entretanto, de bons moços já estamos saturados. Collor já fez este papel; Huck está tentando ocupar este espaço. Representantes limpinhos da burguesia sempre jogam desta forma: colocam-se como “novidade”, impolutos, sinceros, apolíticos, enojados com o “mar de lama”, etc.

Todavia, alguém que se situa entre “Amoedo e Ciro” não parece ter condições para falar em nome da esquerda, ou mesmo das forças progressistas do país. Ele parece bem sincero, mas está longe de ser um personagem inédito.

Por outro lado, um cara com quase 40 milhões de seguidores não deve ser desprezado, e fico muito feliz que um sujeito com a sua influência no mundo cibernético tenha acordado para o risco que Bolsonaro representa para o país e a nossa democracia.

Gosto dessa atitude, mas não acho ser possível nutrir muitas esperanças por um “nouveau riche” com crise de consciência.

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Monstros

É claro que não gostei da indicação do novo Ministro da Saúde, o Dr. Nelson Teich, e tenho várias queixas à sua postura ética diante dos dilemas da medicina. Entretanto, a publicação de uma entrevista com a filha de uma ex paciente sua – que faleceu de câncer – chamando-o de “monstro” é a pior forma de jornalismo que existe. Oportunista, desonesta e sensacionalista. A imprensa independente deveria ser o exemplo de ética jornalística e não repetir o erros do jornalismo corporativo.

Esse tipo de entrevista com familiares de pacientes terminais é pura desonestidade. A morte de um ente querido – e as emoções que a envolvem – nos fazem perder a noção adequada da realidade. Os médicos que lidam com essas situações – em especial os oncologistas e médicos de UTI – jamais dirão as palavras que os pacientes querem ouvir. Se ele for positivo e otimista será acusado de “enganar a família com falsas esperanças”. Se ele disser o que está ocorrendo com frieza e realismo será chamado de “monstro insensível”. Minha experiência com essa questão é de que não há saída. O médico pode controlar o que vai falar em uma situação trágica como a morte de um paciente, mas jamais poderá controlar como o familiar recebe a mensagem e nem como vai reagir diante de seus próprios sentimentos diante dessa perda.

Em momentos de dor o sentimento preponderante é a culpa. Culpa por não ter sido bom marido, bom filho, boa esposa, bom amigo, etc. Observe: as pessoas mais agressivas e fora de controle num enterro são os parentes mais distantes e com a relação mais conflituosa com o falecido. São essas pessoas que frequentemente desviam suas culpas – reais ou imaginárias – para a figura do médico, imaginando assim diminuir a sua carga. Por essa razão as declarações de parentes de pacientes são envolvidas em paixões e carecem de racionalidade e valor absoluto. Não há dúvidas que existem falhas, por vezes grosseiras, por parte dos médicos atendentes, mas essa culpa jamais será estabelecida escutando apenas a voz de uma familiar diretamente envolvida.

Publicar esses depoimento carregados de mágoa é desonesto, um ataque baixo e que demonstra uma falha ética do veículo de imprensa.

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Ética

Eu me acostumei a ouvir a acusação de “radical” por muitos anos. Na verdade este radicalismo que tanto eu ouvia como ofensa e com dedos rígidos apontados se resumia apenas a… cumprir a lei. Chamar de radical é uma forma usual de acusar o outro para desobrigar-se de fazer o que é certo. Assim quando você acha uma carteira na rua e se esforça para achar o dono e alguém lhe diz, constrangido pela sua atitude: “Ora, não precisa ser tão radical; achado não é roubado”...

… é sim; não existe “meia-ética”, e jamais será abusivo tratar com respeito aqueles com quem se divide essa curta estrada chamada vida.

Mary Lemont Ashcroft, “Pictures in Exhibition”, Ed. ELP, pág. 135

Mary Lemon Ashcroft é uma professora de direito em Yale Nasceu em Siracusa, USA e durante muitos anos exerceu sua profissão na famosa banca de advogados Cohen, Weisberg and Ashcrof. Nestes anos dedicou-se a muitas causas sociais, como o movimento “pro-choice” – pelo direito ao aborto legal – pelos direitos dos negros e o “Black Lives Matter” e igualmente pela defesa das pessoas trans. Suas experiências com os movimentos sociais americanos a estimularam a escrever “Pictures in Exhibition”, que mostra um mapa do preconceito sexual, étnico e de orientação sexual nos Estados Unidos através das inúmeras histórias reais retratadas no livro. É casada com Peter Ascroft, igualmente advogado e que serviu como consultor do governo democrata de Bill Clinton. Mora em Siracusa e tem dois filhos.

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