Arquivo do mês: maio 2017

Utopia

A esperança da direita era o juiz Barbosa, depois o Marcelo, depois o Leo Pinheiro, depois o Renato Duque e agora o Palocci. Em todos os depoimentos não apareceu nenhuma prova contra Lula ou Dilma. Aliás, Lula disse que se Palocci falar muita gente vai se incomodar, menos ele. Querem apostar? 37 anos perseguindo Lula sem provas e sempre achando que o próximo, esse sim, vai trazer o cheque, a gravação, o recibo, a conta, a Ferrari, a mansão, o avião…. mas eles nunca aparecem.

Acabar com Lula é a utopia dos fascistas.

Parece que não adianta mesmo, quanto mais procuram mais aparece a verdade que tantos se negam a aceitar. Lula é honesto porque nenhuma acusação tem materialidade. Lula é honesto como você ou eu, a não ser que alguém nos acuse com provas.  Lembrem apenas que Lula é investigado pelos seus próprios inimigos. Quem de nós sobreviveria a uma investigação neste nível?

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Passientes

Passientes

A forma como chamamos as pessoas a quem atendemos sempre foi motivo de debates porque sabemos que a maneira como as nominamos carrega valores simbólicos que inevitavelmente levam a atitudes e modulam relacionamentos, mesmo que inconscientes.

Algumas pessoas da área psi os chamam de “analisandos”, que poderia ser usado por psicanalistas, mas não por médicos. Outras formas foram propostas, como “interagentes”, mas nenhuma me seduziu. Sempre que eu era criticado por continuar usando a palavra paciente – que remeterá à passividade deste – eu respondia com um “me ofereça uma alternativa”.

Outra proposta surgida há tempos foi o uso da palavra “clientes” que para mim soava muito pior, pois mercantilizava a relação. Colocava a relação médico-paciente no “código do consumidor”, com todos os parefeitos que isso possa ocasionar.

Desta forma, enquanto não me oferecerem uma palavra melhor ficarei com a tradicional, tentando oferecer-lhe novos conceitos e entendimentos, e com a consciência de que, se a sua origem um dia nos remeteu a um olhar de atividade sobre uma alma passiva, é tempo de  subverter está esta lógica e colocá-lo como condutor de seu destino e sua saúde, questionando sua passividade, o que deve ser o objetivo de um cuidador consciente.

Por outro lado, “paciente” sempre me ofereceu a conexão possível com outra palavra latina: “passion“, e esta forma de ver aquele que nos busca me interessou e cativou.

Afinal o que é um “paciente” senão aquele que nos encontra para trazer à tona suas paixões? Como um tesouro, ele as entrega à nossa visão com-passiva, esperando que as trataremos com a devida consideração, carinho respeito e atenção.

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Autofagia

Eu li o pedido de desculpas da professora Elika e não li o texto do ano passado que gerou a celeuma. Entretanto, pela minha própria experiência, nem é preciso ler o texto inicial para saber que a violência contra ela é absurda e desmedida. Eu sei exatamente como estes grupos fazem linchamentos virtuais e por isso me solidarizo com Elika e todas as outras bruxas e bruxos queimados nas fogueiras da intolerância. Apenas deixo claro que o sucesso desses movimentos libertários e por justiça social não se dará apenas pelo enfrentamento com os adversários machistas, misóginos, racistas ou LGBTfóbicos, mas também através da dura tarefa de reconhecer e extirpar das entranhas do próprio movimento os fascistas que militam por estas causas.

Ninguém mais tem dúvidas do racismo e do machismo em nossa sociedade. Não é preciso avisar isso em todo texto como se fosse uma novidade. Não é mais esse o problema, e sim como combater de forma pedagógica e eficiente. O que eu penso é que o combate à estas duas feridas sociais não pode ser com a DESTRUIÇÃO de reputações, patrolando suas biografias e jogando toda uma militância do bem no lixo pela simples escolha errada de palavras. Esta é uma estratégia suicida. Alguém acha que os movimentos feministas, de esquerda ou anti racistas se beneficiaram com a “aposentadoria” da Elika no Facebook? Tenho certeza que nas fileiras adversárias é possível escutar o sorriso dos bolsonetes com a autofagia dos setores progressistas.

Pois vou mais adiante: nós brancos precisamos ser educados para a nova realidade. Sou da época em que era lícito contar piada de negros, claramente racistas, e fui amorosamente educado pelos meus amigos de que isso não tem graça. Quem quer imprimir uma nova realidade precisa entender e ter paciência para a adaptação. Isso não diminui nossa culpa, mas coloca todos os personagens sociais como responsáveis pela mudança.

Tanta gente acha errado espancar crianças quando elas agem errado, mas acham natural triturar publicamente a honra de quem cometeu erros. Lembre que o racismo – assim como o machismo – é tão naturalizado em nossa sociedade que muitas vezes agimos com estes preconceitos sem sequer percebermos. Erramos muitas vezes sem saber, como Elika errou com suas palavras…

Da mesma forma como as crianças erram também…

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Extremismos de Esquerda

Esse para mim é o pior problema: o surgimento de um pelotão de fascistas de esquerda, prontos para atacar com igual ou maior ferocidade do que os seus adversários da direita. Muito triste ver os progressistas se tornando tão nocivos quanto aqueles a quem criticam. Quando vejo jovens militantes de esquerda agredindo ou tentando calar bolsonetes eu sempre penso que um visitante estrangeiro, ao ver tal cena, teria imensas dificuldades em saber qual grupo representa melhor os fascistas.

Ina May Gaskin, ativista americana pelo parto humanizado, foi apenas mais uma vítima desses “pelotões de renegados” capazes de exercer tanta violência quanta aquela a que foram submetidos durante sua vida. É nesses momento que aparece mais luminosa ainda a fala de Paulo Freire:

“Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é se tornar opressor”.

Paulo Freire

As meninas que atacaram Ina não são da esquerda como a conhecemos no Brasil, mas são lutadoras por equidade racial, um pensamento e uma luta normalmente ligados à esquerda. Entretanto suas armas se tornam iguais às usadas pelos piores fascistas: a destruição da imagem pública de alguém cujas diferenças são infinitamente menores que as semelhanças no discurso e na prática. Isso precisa ser denunciado pelo bem da própria luta contra o racismo. Produzir mais racismo e mais perseguições não poderá trazer nenhum benefício aos negros e nem acabar com a opressão que sofrem. Não se constrói uma sociedade igualitária com violência. O que faltou a estas ativistas é a compreensão de que nós brancos precisamos ser educados para um novo mundo e não destruídos por sermos da cor “moralmente errada“. A insensatez dos ataques demonstra a incapacidade de suplantar o ciclo vicioso de violência. O que elas fizeram com Ina May foi usar a chibata midiática e humilhá-la publicamente, um sofrimento semelhante ao que historicamente tiveram. Que alternativa de mundo elas tem a oferecer se tudo que mostram é rancor e vingança?   O que digo serve para qualquer grupo, seja branco, preto, mulher, homem ou gay: o ódio jamais será ferramenta de transformação positiva. Não se trata de “colocar o negro no seu lugar“, mas colocar a todos nós em um modelo de fraternidade. A única coisa que este tipo de ação agressiva resulta é em atitudes defensivas. Acabamos pensando “ok, então é isso mesmo: seremos nós contra vocês.” Todo o simpatizante da causa negra (ou gay, feminista e indígena) acaba se afastando porque será sempre visto como “o inimigo a ser aniquilado“. Que tolice brutal!!!

Não vou dizer (não ousaria) como as feministas ou as negras ativistas americanas devem agir, mas a forma como agem vai resultar em me considerar aliado ou adversário. No momento, apesar de ser um ferrenho antirracista, me considero mais adversário desse movimento americano do que amigo. Até porque sei que, basta uma vírgula mal colocada, ou diferente da agenda destes grupos para ser literalmente linchado, destruído e jogado ao inferno. Infelizmente é um fato inquestionável de que os ex-aliados são sempre tratados com mais crueldade do que os inimigos declarados. Todavia, apesar das críticas à violência desses grupos, isso em hipótese alguma invalida a justiça da luta contra o racismo, porém nos alerta para que as armas usadas nesta luta não podem ser as mesmas do opressor. No eterno embate das ideias e dos projetos somos pedagogos de nossas propostas e nosso comportamento será sempre um reflexo do que verdadeiramente somos, por mais belas e sublimes que sejam estas propostas.

Minha mãe sempre dizia: “Cuida como vives; talvez sejas o único evangelho que teu irmão lê“. Acatar e absorver como prática a crueldade de nossos adversários apenas nos torna uma cópia mal feita daqueles a quem tanto combatemos.

Menos o surgimento de monstros como Bolsonaro e mais o apoio que recebe de uma imensa parcela idiotizada da população (10%!!!!) se relacionam com a imagem que é vendida à população por estes extremistas que se chamam esquerda, mas cuja postura e atitudes estão mais próximas do fascismo do que das históricas bandeiras de solidariedade e democracia que a esquerda carrega. Quando fui vitima de insultos e boicotes há alguns anos eu estava sozinho nessa luta. Era fácil agredir uma pessoa que pedia moderação e menos violência por parte de grupos historicamente oprimidos. Não acredito no ódio como solução, muito menos a vingança. Esta queixa agora explodiu ao mesmo tempo nos Estados Unidos e no Brasil, com Ina May e Elinka. Estamos cansados de radicalismos e não precisamos mais aguentar fascistas de esquerda que infestam partidos e universidades subvertendo a visão solidária e democrática do socialismo.   Não se trata de calar a voz de nenhum grupo; pelo contrário, é fazer a nossa voz ser respeitada por quem não admite contraditório ou crítica.

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Simplismos

A ideia simplista de que “O Problema” do Brasil é a corrupção – que alimenta tanto os sonhos da direita – é tão tosca que não suporta sequer o debate mais superficial. Bastaria para isso lembrar o discurso de Jânio Quadros e Collor, ou Carlos Lacerda contra Getúlio para ver como é velha a argumentação de que vamos “acabar com os corruptos”, “vamos passar uma vassoura”, “vamos limpar o mar de Lama” enquanto se mantinha o mesmo sistema político representativo baseado no dinheiro (limpo ou sujo) do empresariado. Tolice e perda de tempo, mas que serve aos interesses de pessoas que não querem enxergar que o drama é outro, mas permanecem procurando soluções simplórias e HISTORICAMENTE ERRADAS ao culpar um partido (o PT) ou uma comunidade específica (os judeus) ou mesmo os refugiados (sírios e islamitas) pelos problemas complexos de uma nação.

No fundo o que desejam é que continue TUDO COMO ESTÁ, mas que os trabalhadores organizados nunca tenham uma representação. Mas… achar que Moro representa o “novo”, a Batalha Final contra a corrupção, quando só tentar atingir Lula e jamais ataca o seu próprio partido? Ora, isso já é exagerar na fantasia…. Pense bem, porque ninguém mais acredita na Lava Jato? Por causa do subproduto que ela criou: procuradores alucinados e um juiz que deseja ser protagonista fazendo política partidária.

“As pessoas no mundo virtual acham que os “bandidos” condenados pelo tribunal da imprensa ou de suas próprias consciências não merecem defesa e nem mesmo alguém que escute sua versão dos fatos e os apoie, o advogado. Errei feio ao dizer que isso era medieval; na idade média já se tinha ideia da ampla defesa. O que se propõe é a volta à pré-história da humanidade, algo bem antes do início da civilização.”

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À Esquerda

Existem, sim, muitos médicos de esquerda no Brasil, em especial na medicina social, medicina de família, epidemiologia e … paramos por aí­. Entretanto, a gigantesca maioria dos médicos do Brasil é direitista, conservador e – em alguns casos – claramente fascista – como o “dignidade medica” acabou trazendo à tona.

Porém, como poderíamos imaginar algo diferente? Em uma fala que apresentei em 3 países diferentes (Estados Unidos, Escócia e China) mostrei que o estudante de medicina médio brasileiro é branco (87%), mora com pais que ganham 30 salários mínimos mensais (30%), 40% tem irmão ou pai médico, 75% tem pai com curso superior e 65% tem a mãe com ensino superior completo. Como esperar que esses estudantes, egressos da elite brasileira, não reproduzissem as atitudes e os valores do estrato social que os acolheu desde o nascimento? Seria uma brutal ingenuidade esperar da corporação médica algo que atingisse em cheio seus valores mais profundos. Não virá daí­ a linha de frente das reformas que esperamos.

Por esta razão, para mudar a face da medicina brasileira (especializada, elitista, burguesa, branca e conservadora) é essencial mudar a forma de ingresso. É preciso criar cursos populares de medicina voltados aos estudantes pobres e da periferia, com currículo de primeiro mundo, especializado em saúde primária e nos 4 campos fundamentais: pediatria, gineco-obstetrícia, clínica médica e cirurgia para inundar o Brasil de clínicos gerais e médicos de família.

Esse é um dos caminhos – ou um dos mais desafiadores – para sepultar de vez uma medicina burguesa e que atende aos interesses das elites e dos grandes conglomerados hospitalares e farmacêuticos.

Ninguém duvida de que é importante ter um ensino médio de qualidade, mas por que devemos achar que apenas os alunos de periferia e mais pobres precisam disso para cursarem Medicina? Qual a relevância disso para universalizar o ensino da medicina? Minha tese é de que devemos democratizar o ensino para que tenhamos pessoas de todas as classes atendendo a população, e não apenas aqueles produzidas nas camadas mais abastadas e brancas da população.

Não vejo também qualquer problema em treinar alunos em universidades públicas, privadas ou populares para a realização de procedimentos de alta complexidade? Porém, tenhamos em mente que “cirurgias robóticas” ou o uso de tecnologias caras e sofisticadas tem impacto zero na saúde da população; é uma estratégia para auxiliar um número extremamente restrito de pacientes. Pensemos do ponto de vista do incremento de saúde após a introdução de uma técnica médica qualquer (Rx, ultrassom, aspirina, cirurgia robótica, antibióticos, tomografias, quimioterápicos, etc…) e entenderemos que adicionar açúcar a uma solução salina tem muito mais impacto na saúde das populações do que tecnologias sofisticadas e caras como ecografia, MRI e tantas outras.

Estas atitudes – muitas vezes simples e baratas – melhoraram a vida de milhões de pessoas, e não apenas de alguns poucos. Muito mais importante, para qualquer país do mundo – desenvolvido ou não – é uma excelente atenção básica à saúde, com recursos adequados e de forma preventiva e não intervencionista. O que precisamos deixar para trás é um paradigma médico ultrapassado e mercantil, baseada na sofisticação, no dinheiro, no mercado e para a atenção de pouquíssimas pessoas, quando o que precisamos é de uma visão de medicina que seja útil e adequada para todos.

Falta Ivan Illich nas faculdades de Medicina…

“Vidros nas janelas e cuecas limpas fizeram mais pela saúde do mundo do que todos os remédios jamais produzidos pela indústria”

Ivan Illich

Podemos ainda aceitar que o paradigma americano é adequado para o mundo? Pois tenhamos em mente que os Estados Unidos é o 50o país em mortalidade materna e o 52o em mortalidade neonatal, e tem resultados piores do que qualquer país europeu – incluindo aí Albânia, Grécia e Ucrânia. Os Estados Unidos é um dos poucos países (5 apenas) em que a mortalidade materna aumenta!! É o mesmo país onde se pode fazer “cirurgias robóticas”, mas a assistência é restrita a quem pode pagar, pois não é um direito básico. Além disso, são cirurgias “espetaculares”, geram encantamento e deslumbramento, mas na prática não são capazes de modificar o perfil de saúde de nenhuma população. Aqui, onde estou, só a classe média abastada consegue ter médicos na família, pois os custos são estratosféricos. Esse é um dos piores modelos de saúde do mundo e está desmoronando (leiam as notícias daqui!). É possível acreditar que ele pode ser paradigma para alguma coisa apenas porque tem sofisticação tecnológica para poucos, mesmo quando fica claro que não soluciona os problemas de saúde da  gigantesca maioria da população??

Pensemos bem; precisamos romper o preconceito sobre os alunos de periferia que ingressam na universidade, principalmente fazer uma crítica aos argumentos que batem na velha tecla do “perfil de entrada“, a mesma queixa que se mostrou falha na questão das cotas. Os alunos cotistas pobres tem desempenho igual ou superior ao dos outros alunos, e isso é uma realidade já bem conhecida. O que os argumentos anti-cotistas insinuam é que alunos pobres ou de periferia não teriam condições de exercer uma medicina sofisticada, o que é muito arriscado de dizer, já que todas as evidências apontam para a direção oposta.

Quanto à qualidade de vida, alguém ainda acredita que isso é conseguido com cirurgias de alta complexidade? Não, esta é uma visão que está redondamente equivocada. Isso se consegue com educação para a saúde. Comida, emprego, qualidade de relacionamentos, medicamentos simples e saneamento básico. São os engenheiros e os políticos que geram saúde, não os médicos. Somos muito bons para tratar doenças, mas pouco sabemos sobre promover saúde. Aliás… saúde não dá dinheiro, só doenças dão. Essas cirurgias e intervenções dispendiosas, por mais que tenham, SIM, espaço na medicina contemporânea, não são a solução para a saúde da população, mas apenas para poucos casos selecionados. Por certo que devemos ter médicos preparados para seu uso, mas jamais acreditar que é a utilização dessas técnicas que fará a diferença na qualidade de vida de todos.

Para finalizar, a ideia de que há uma necessidade para que a medicina se mantenha com o perfil aristocrático e elitista que eu apontei precisa ser criticada. Não acredito que avançaremos com médicos tão divorciados da realidade brasileira, onde o fosso que os separa da população é tão grande a ponto de não reconhecerem seus idiomas. Os estudantes de medicina oriundos das classes populares deverão ter seus custos pagos pelo Estados e terão o compromisso de dedicação exclusiva aos seus estudos. As necessidades sociais que eles tem não podem ser usadas contra eles, mas como um desafio que a sociedade como um todo precisa transpor.

Além disso, as universidades que preparam estes médicos aos poucos deverão se preparar para a medicina do século XXI, que não vai apostar na sofisticação tecnológica e no mercantilismo, mas na racionalidade dos recursos (leia sobre “slow medicine“, a nova onda, e sobre Saúde Baseada em Evidências!!!) para a atenção da população. Isso sim vai gerar uma onda positiva de saúde, e não apenas o enriquecimento perverso das máquinas de doença geradas pela busca insana de lucro através do sofrimento.

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The Pain of the Oppressed

For Ina May Gaskin

I received with surprise an online petition against one of the most important fighters for the humanization of childbirth in the world, Ina May Gaskin, in which the petitioners accuse her of racism. The words they use are harsh, violent and cruel, and offered me the opportunity to reflect on the existence of such cruelty, in life and especially in the virtual world. It was only after talking to some friends that I could understand the context, and combine them with circumstances of the contemporary American political moment—this made a lot of difference in my perspective on the problem.

There is great dissatisfaction with the fact that the birth movement in the United States was created and led by mostly white and middle-class women. From my perspective, nothing could be more natural than this if we take into account the obvious characteristics of this social class: more money, more time to devote to unpaid tasks/volunteer work, more access to cultural advantages, higher education and so many other class and race privileges that we know so well. Add to that the fact that the American black community constitutes no more than 10% of the population in this country, and it is little wonder that the birth movement has been driven primarily by white middle-class women, and that African-American women feel marginalized in the birth movement as well as in the wider society. However, what could be seen as an aid to the privileged people to the unprivileged – and an effort to decrease the distances between them–is instead seen by a group of activists-black feminists as an invasion and an attempt to undermine the protagonism of the disadvantaged non-white women in America. This subject goes back and forth and one needs to understand the whole context to deal with this kind of resentment.

When I read the statements of these activists and compared them to the actual character of my friend Ina May, I was astonished at the absurd moral penalties to which she was subjected. It is like someone stealing a bag of cookies at the grocery store and being sentenced to death. The condemnation of the activists, in turn, was not directed at her ideas, her propositions, her narrative or the phrase – politically incorrect or not – they say she used. No, the penalty is supposed to destroy her morale and her honor, and rewrite her personal history. It is not something like “We disagree with you for your phrase, which can add a further burden to American black women, victims of a racist society.” No, the petition makes it clear that the people who wrote it believe that this person, this long-time pioneer and heroine of the birth movement, is a “racist,” a “white supremacist,” Ku Kux Klan type, and it is because of “people like her” that there is racism in women’s care in the United States.

Yet it would take only five minutes of conversation with Ina May to discover the nonsense of such aggression. As another birth activist said to me, “There is not a single racist bone in her body.” This made it clear to me that the petition says much more about the hatred, frustration, and long-held resentments against white society emanating from these people than from any flaws committed by my friend and activist. It is a tragedy that they have chosen Ina May as their current focal point for revenge.

Immediately I realized that the petition was part of a strategy of attacking historical activists who fought for the humanization of birth. I re-read Ina May’s statement—the one that got her into so much trouble—and I could not perceive any racism in it, but rather a phrase that could be interpreted in a number of different ways. I remembered what my father said about a black guy in Brazil who was becoming a football coach. Said my father, having a coffee with me at the mall: “Against him weighs the fact of being black.” When you take that phrase out of context it seems that your intention was to say that “being black” is a defect for someone who wants to be a football coach. What he meant, however, is that being black would make him suffer many prejudices and encounter tremendous barriers that never occur against whites pursuing the same position. The same sentence can be read in two different ways, according to the desire of the one who reads it; it can be considered racist by people who prefer to attack all who mention race, but can mean the opposite if you understand the context and realize that the phrase was said by a known combatant in the fight against racism.

After my conversations with other birth activists about the petition being circulated against Ina May, I was able to understand that she is the victim of a process that is not happening only now. It is being used by a “race patrol” who tries to attack the movement of humanization for its white and middle-class roots as if the guilt should fall on the few white activists who have decided to bring up the idea of dignifying and spiritualizing birth.

My first reaction was to think “I do not want to argue with fanatics, people who believe in hatred and revenge as elements of positive transformation and who do not mind dividing a movement that is already small and suffering attacks from the powerful forces all the time.

After a few minutes, a little calmer, I thought that there is a huge need to narrow the differences between social classes and races in our society, in America and in my own country, Brazil. Both countries have many disparities and black women are at the bottom of our social strata. The struggle of these black women is fair and noble, and the importance of their ideas cannot be sacrificed because of their misuse by these bitter activists. The fact that they are bearers of hatred and negativity cannot lead me to disregard their struggle – as well as the struggles against chauvinism, oppression, inequity, sexual rights of minorities and many others. If their message seems to me – and many others – to be full of hatred, our response must not be of despair—rather it has to be necessarily guided by respect and consideration for their pains, sorrows and wounds.

The sad reality is that, in fact, drug overuse IS one of the major causes of maternal and infant mortality in the United States among both white women and women of color:

“The biggest killers during and after pregnancy are cardiac problems and overdoses involving prescription opioids and illegal drugs. (“America’s Shocking Maternal Deaths” by the Editorial Board of the New York Times Sunday Review https://nyti.ms/2civjl3)”

“Overdosing is the second-biggest cause of maternal mortality in Texas. Another is racism: In Texas [the state with the highest maternal mortality rate in the US] black women are 11.4% of all pregnant women and a whopping 29% of those who die. Texas is one of 19 states that have refused to expand Medicaid under the Affordable Care Act. . . Help with drug abuse is scarce, as is maternal health care. (Katha Pollitt, “The Story behind the Maternal Mortality Rate in Texas Is Even Sadder Than We Realize”, Sept. 8, 2016, www.thenation.com/login/)”

The important thing is not to blame women who overdose, black or white, which Ina May did not, but rather to understand the racial, social, and economic stratifications that push them into drug abuse to cope with lives often too hard to bear, through no fault of their own.

I am sure that my friend, Ina May Gaskin, does not deserve the unworthy treatment she is now receiving daily. The attacks directed at her affect all those who care about human birth and its repercussions in society. Ina May is an example of woman, mother, grandmother, activist and women’s fighter of any color, religion or social stratum. I will be with her always because she is one of the most enlightened, loving, egalitarian human beings I have ever had the honor of knowing.

Ric Jones
ReHuNa
Brazil

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Cristãos e a opressão

Dos rios dizemos violentos mas não dizemos violentas às margens que os oprimem“. Brecht

Esta é a face mais triste das religiões: transformar os fiéis em cordeiros manipuláveis pela mídia e pelo capital, fazer com que acreditem que a resistência à opressão não é legítima ou digna, tornando cada cidadão em um servo robotizado carregando um crucifixo para que ele mesmo seja, por fim, pendurado. Talvez seja um pagamento justo para sua alienação. Não esqueçam que este Cristo a quem tanto adoram era um revolucionário que deu a vida pela libertação de seu povo, e não um babaca conformista que baixava a cabeça para os poderosos.

Seja cristão e combata a opressão!!! O cristianismo, via de regra, acaba com o senso crítico, a visão política e a cidadania em nome de uma teleologia de direita, alienante, aristocrática e sem uma visão coletiva. Essa é a parte mais triste das religiões: imaginar que a luta pelos direitos deve estar subjugada a uma falsa visão pacífica de Cristo, quando em verdade sua vida foi uma luta constante contra a opressão.

“Não se faz uma revolução com tapinhas nas costas”, como dizia Sheila Kitzinger. Se algumas pioneiras não fossem suficientemente ousadas, quebrassem padrões morais e estéticos e botassem “pra quebrar” as mulheres estariam ainda hoje indo à missa, bordando e conversando sobre receitas.

Alguém aí acha que as conquistas dos trabalhadores surgiram através de abaixo assinados ou conversas amigáveis com os patrões? Claro que não. Direito não se ganha, se conquista. Se tiver que ser incendiando carro que seja. Trabalhadores bem comportados vão para o céu; os corajosos vão à luta!

Apenas para lembrar a necessidade de lutar:

Não precisa lei trabalhista, ora, basta negociar. No circo romano onde estava escrito que era o leão que comia as pessoas? Podia ser o contrário, por que não? Havia espaço para livre negociação, e se esta não ocorria era por culpa do radicalismo das pessoas e não pela força superior ou ferocidade dos felinos“.

A propósito, uma realidade chocante: recente pesquisa nos Estados Unidos (!!) revela que 43% dos entrevistados tem uma visão positiva do socialismo e apenas 32% do capitalismo. É aqui, no centro mundial da ideologia capitalista, onde a queda do sistema será mais ruidosa.

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Iconoclastas

Não é impressionante o fato de aparecerem textos descrevendo Belchior como um péssimo pai e com terríveis defeitos em sua vida pessoal. Em verdade é da natureza humana destruir seus velhos ídolos como parte de uma “lei de destruição”, para que novos ícones não sejam bloqueados pela memória dos que se foram. é um fenômeno natural. E ele não é ruim em essência, pois isso humaniza os ídolos, sejam eles quem forem. O “sujeito perfeito” se desmancha mantendo apenas seu trabalho imaterial: suas ideias e suas obras. Eu apenas peço que esse processo natural de “humanização pela destruição” aguarde um período razoável de luto.

para além desse respeito a quem acabou de deixar este mundo, concordo totalmente com a ideia que diz ser fundamental separar a obra do autor. Caso contrário acabamos caindo num debate cercado de infantilidades, como algumas que escutei no quartel: “Marx era realmente um homem muito inteligente, mas foi um péssimo pai de família“, onde a ênfase era colocada na segunda parte da frase. Precisamos mesmo deste tipo de perspectiva?

Portanto, eu pediria um pouco de paciência. O corpo do Belchior ainda está quente e acredito que para este exercício de iconoclastia seria gentil com a família esperar pelo menos que os vermes deem conta de sua carne (fraca). A velocidade para a destruição de um homem diz menos dos seus defeitos do que das fraquezas dos seus algozes.

Se uma pessoa da sua família tivesse morrido ainda ontem e alguém escrevesse uma crítica mordaz sobre ela enquanto seus entes queridos ainda estão devastados pela perda, como você sentiria isso? Teria mesmo essa postura altiva de dizer “ninguém pode calar nenhuma crítica”, ou “cada um sabe do seu sofrimento”? Não, você não aceitaria isso pois existe um código de civilidade para a morte: Respeito e silêncio. Foi o que permitiu Lula receber Temer no velório de Marisa. Ali não era a HORA e o local para este tipo de rancores. Romper com esse pacto civilizatório (o respeito à  dor por uma perda), que ocorre até entre inimigos declarados, é um passo em direção à  barbárie e à perversão, pois sinaliza a incapacidade de estabelecer uma relação empática com o outro, forçando no sentido de desumanizá-lo. Como a afirmar “não acredito em tua dor, só a minha tem razão de ser“.

Para mim o melhor exemplo de respeito à  dor alheia vem de Salatino, grande herói árabe (ele era curdo) na conquista de Jerusalém. Depois de findas as batalhas, e tendo derrotado seu oponente Ricardo III, ele foi pessoalmente ao encontro do seu inimigo e o convidou para entrar na Terra Santa, para que sua dor pela derrota fosse mitigada com uma visita aos locais sagrados. A compreensão desse homem e o respeito pela dor do inimigo são exemplos de dignidade e integridade até com os que combatem contra nós. Como eu disse anteriormente, nada contra a iconoclastia, desde que não seja seletiva. Vamos criticar Freud, Marx, Darwin, Belchior e até Simone de Beauvoir pelos crimes cometidos contra a humanidade, mas pelo menos tenhamos a humanidade de aguardar um tempo para que as pessoas que os amaram possam superar esta perda.

Eu não tenho a menor dúvida de que meus inúmeros inimigos não vão esperar sequer meu último suspiro para me detonar; vão começar a me espinafrar ainda na UTI. E eu vou fingir estar comatoso só pra me divertir com a decomposição ainda antes dos micróbios saprófitos fazerem seu serviço.

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