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Realidade paralela

É sempre curiosa a reação da direita sobre este tipo de notícia. Parece que, para as pessoas ligadas ao conservadorismo nacional, estes fatos escandalosos não fazem qualquer diferença para o conceito que guardam desses políticos. Na cabeça do direitista padrão, o feminicídio, a corrupção, o parlamentar abusador, o deputado que deu tiros na namorada, a incompetência, a tragédia por descuido com a coisa pública ou a simples falta de resultados positivos no governo são irrelevantes; parecem não causar qualquer efeito negativo. Aposto como o Governador Caiado, mesmo que seu braço direito esteja envolvido em um caso de tamanha gravidade, não vai sofrer queda na sua popularidade. Não importa o tamanho do escândalo; para os seguidores da direita o que conta é combater o comunismo, atacar falta de Jesus na esquerda, defender a família e questionar os banheiros neutros.

Ou seja, para esta franja à direita da própria direita, os resultados positivos do governo Lula são desimportantes – ou falsos. O que conta é sempre uma versão fantasiosa e moralista da realidade, onde os comunistas (ou seja, qualquer coisa que possa se encaixar nesse conceito) são sempre seres malignos que desejam destruir a estrutura da sociedade ocidental. A crítica, como sempre é moral, tenta atingir a honra e o caráter de qualquer sujeito à esquerda. Para estes moralistas uma realidade paralela é construída; neste mundo criado, qualquer ação social dos governos da esquerda (como o programa Pé de Meia, que objetiva manter as crianças na escola), existe sempre um interesse malévolo e maligno, cujo único interesse é criar currais eleitorais, comprar votos, ideologizar a escola, etc.

Com esse nível de irracionalidade, é impossível estabelecer qualquer debate decente. A pressão precisa vir da população, extirpando estes oportunistas do cenário político brasileiro.

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Inquisição

Acho triste e decepcionante ver gente da esquerda contrariada com o fim da censura explícita do Facebook. Para estas pessoas a mentira desapareceria como mágica ao silenciarmos os mentirosos, sem perceber que isso apenas garante a eles ainda mais força. Para um verdadeiro democrata, a liberdade de expressão não pode ter freios nem limites, pois sabe que a mentira só pode ser exterminada com o contraponto da verdade. Por que haveria de ser a censura solução para os enganos e a falsidade? Silenciar vozes que atrapalhavam seu projeto político é exatamente o que os militares faziam após o golpe de 64. Eu mesmo já fui banido dezenas de vezes, e sou repreendido todos os dias por denunciar os crimes sionistas na Palestina. Ou seja: a censura atinge preferencialmente aqueles que se contrapõem às normas sociais burguesas e os interesses do capitalismo global. A solução aventada há alguns anos foi a criação de agências de “checagem”, mas restava a pergunta: quem controla os controladores? O que se viu é que estas agências se tornaram braços do poder burguês, órgãos do Estado Americano e instituições financiadas por bilionários como Soros e Gates, e o resultado só poderia ser o travamento do discurso público. Neste campo, os identitários – adoradores da censura e do silenciamento – são os que estão mais furiosos, porque não conseguem verdades suficientes para contrapor as mentiras que julgam encontrar nas redes sociais. Porém, inobstante as boas intenções que algumas pessoas possam ter, a política do cancelamento e o silêncio imposto a quem expõe divergências é uma prática fascista, de quem tem medo de enfrentar a falsidade apresentando o contraditório da verdade.

Vocês não eram nascidos, mas nos anos 70 e 80 eu saí às ruas contra a censura e levei borracha no lombo por agir assim. Por esta razão dói minha alma ver a esquerda aplaudindo essa aberração. Entendam: não existe censura do bem!! Não existem silenciamentos e cancelamentos bem intencionados; o que estas ações escondem é o medo do debate, o pavor de ver ideias que não gostamos sendo espalhadas e conquistando mentes e corações.

“Ahhh, mas isso vai espalhar ideias fascistas; eles vão tomar conta das redes sociais”. Provavelmente, mas e daí? Precisamos criar um sistema de combate a este discurso através da apresentação de uma perspectiva justa da realidade, e não calando a boca dos opositores. Também é obvio que Mark Zuckerberg não tomou essa atitude por amor à verdade, mas por razões claramente econômicas. As redes sociais estavam se tornando insuportáveis. As milícias identitárias, que querem calar e processar a todos, tomaram conta das esquerdas, impedindo um debate aberto e franco. A patrulha do “politicamente correto” produziu uma geração de hipócritas que falam “é o que acho, mas você sabe que não posso dizer isso publicamente”. O Facebook estava perdendo clientes pelo nível absurdo de censura, e pela checagem fraudulenta que fazia.

A resposta só pode ser pela liberdade irrestrita para pensar e dizer, e não pela perspectiva fascista de censurar, calar e amordaçar os inconvenientes. Por acaso acham mesmo que censurar comentários estúpidos sobre sujeitos trans produz(iu) algum tipo de efeito positivo? Acham que censurar e prender os comunistas produziu o extermínio do ideário comunista? Por acaso testemunhamos o fim do comunismo ou, pelo contrário, ele saiu o fortalecido? Acreditam que censurar os fascistas vai gerar algum benefício? Os nazistas são proibidos na Alemanha e são o grupo que mais cresce!! Nazismo é proibido no Brasil e existem mais de 500 células nazistas à luz do dia. Impedir que as fascistas digam tolices sobre pessoas trans não faz – e nunca fez – nenhuma diferença. E se as razões do Zuckerberg e do Elon Musk são oportunistas e fascistas, nisso não há nenhuma novidade, mas – repito – a solução só poderá ser através do combate sistemático à perspectiva de mundo que eles defendem, e não apoiando a censura. Além disso, a censura no Facebook ataca naturalmente a esquerda, e apenas pontualmente a direita, até porque as agências de checagem são totalmente controladas pela burguesia.

Esse tipo de ingenuidade não tem mais sentido, e lamento que a esquerda embarque nesse erro de forma tão fácil. Aqueles que apoiam soluções de censura, cancelamento e silenciamento sobre opiniões a respeito de temas delicados estão sentados ao lado dos acusadores de Galileu Galilei em seu famoso julgamento em 1633. Aqueles que pagam o preço de escutar o que não querem por um debate franco e aberto em nome do progresso das ideias estarão ao lado do nobre cientista polonês, mesmo sabendo que isso poderá lhes custar prestígio e quiçá a própria vida.

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Embriões

No dia seguinte ao ataque das Torres Gêmeas, há exatos 22 anos, eu estava auxiliando uma cirurgia num hospital da cidade. Comentei com a minha colega cirurgiã que de tanto ver os Estados Unidos lançando bombas em outros países chegava a dar um certo prazer mórbido de vê-los sofrendo do mesmo mal que aplicavam no mundo inteiro. Por acaso houve consternação em solo americano quando um terço da população da Coreia Popular morreu nos escombros dos bombardeios americanos? Alguém teria se chocado nos Estados Unidos quando soube das ordens dadas aos combatentes para que destruíssem toda a infraestrutura – escolas, hospitais, rede elétrica, saneamento – coreana nos anos 50? E os vilarejos inteiros varridos pelas bombas de Napalm no Vietnã? E o que dizer sobre as 250 mil mortes instantâneas causadas pelas bombas nucleares lançadas sobre as populações civis em Hiroshima e Nagasaki? Quem lamentou por eles? Havia à época jornalistas chorando em frente às câmeras, tendo a fumaça das bombas como fundo de tela?

Imediatamente surgiu por detrás da cortina que separa os campos cirúrgicos a cabeça do anestesista. Intrometendo-se em nossa conversa, estava absolutamente irado. Em suas palavras me acusava de estimular o terrorismo, quando em verdade eu apenas denunciava o terrorismo de Estado praticado pelo imperialismo há décadas, desde o final da segunda guerra mundial – e até antes disso. Mas o anestesista não se conformou com minhas explicações. Passou a atacar o comunismo, a Coreia, depois a China e terminou (que surpresa!) em Cuba. Em poucos segundos completou o circuito dos reacionários, vociferando lugares-comuns, clichês anticomunistas e a favor da “liberdade”. Não faltou o famoso “quantos americanos se atiram ao mar em direção à Cuba” e nem a tradicional “socialismo nunca deu certo“.

Sim, apenas 12 anos nos separavam da queda do Muro de Berlim e muitos no ocidente nutriam a convicção do fim da história. O socialismo havia sido derrotado, o neoliberalismo de Reagan e Thatcher haveria de se espalhar pelo planeta, os Estados seriam encolhidos ao limite do desaparecimento e o capitalismo era a força vitoriosa no embate das ideias. Mas foi o ódio incontido – e até o desrespeito – do anestesista para com a minha particular perspectiva geopolítica que me fez perceber que havia ocorrido apenas um “round” na luta entre estas propostas, e não o fim do combate. Aquela agressividade grosseira era a emergência de um sentimento que eu ainda não havia presenciado com tanta intensidade, mas que ficou evidente quando, apenas dois anos depois, Lula venceu as eleições, levando um partido de trabalhadores ao poder pela primeira vez neste país. O sucesso de Lula, em especial em seu segundo mandato, fez esse sentimento crescer ainda mais, produzindo, a partir da derrota de Aécio para Dilma, o surgimento dessa força de extrema direita pró imperialista, conservadora, de caráter fascista e – como depois constatamos – até golpista.

Há 22 anos eu conheci o bolsonarismo embrionário, o protofascismo que tão facilmente se alastrou entre a pequena burguesia e em especial na classe médica, a mesma que organizou um “corredor polonês” para constranger os médicos cubanos que chegavam ao país e que fez coro ao “Fora Dilma” apoiando seu impeachment fraudulento. Ali era possível ver o que estava se gestando nas estranhas da classe média ressentida, um rancor silente produzido pelos avanços civilizatórios da esquerda, que culminariam nos golpes, na prisão arbitrária de Lula e na eleição de um sociopata para a presidência da República. Gostaria de ter percebido, já naquele instante, o que estava por vir. Pensei se tratar tão somente da compreensível indignação pelo ataque contra civis no coração dos Estados Unidos, mas em verdade sua ira descontrolada estava expondo a extrema direita fascista que se preparava para renascer depois da sua derrota na segunda guerra mundial. Ao meu lado, naquela cirurgia, estava o embrião de extremismo de direita que produziu a direita do ódio. Hoje eu lamento não ter decifrado essa charada quando a vi por primeira vez.

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Argentina

Curioso como na Argentina os candidatos de esquerda e de direita se revezam sem que estas trocas venham (mesmo que minimamente) a melhorar o cenário econômico catastrófico do país. Depois de Cristina, Macri; depois deste Alberto. E agora o líder das pesquisas é o “Bolsonaro portenho”, o Milei – que inclusive já declarou seu apreço e admiração pelo nosso ex-presidente. Estes personagens se sucedem uns aos outros acusando os anteriores de terem “destruído a economia da Argentina”, sem perceberem que a esquerda liberal e a direita – mesmo a radical – são irmãs que brigam dentro do mesmo modelo capitalista.

Não haverá futuro sem que a esquerda aceite de forma corajosa e aberta a ruptura com a ideologia de concentração capitalista de riqueza. Teremos crises indefinidas, monótonas e repetitivas até que este circo de “esquerda liberal versus direita” venha a se desfazer pela percepção de que, no seu cerne, são iguais, irmanadas na ideologia capitalista decadente.

Eu acredito que coexistem dois fenômenos distintos no que se refere à gangorra eleitoral nos países satélites do capitalismo: o primeiro é a falta de uma esquerda radical, raiz, operária, anticapitalista, carência esta que muitos repetem cotidianamente, em especial os comunistas. O segundo, e mais importante, é que nas crises cíclicas do capitalismo o discurso de “acabar com tudissquitaí”, votando na estupidez e na potência fálica grotescas de líderes carismáticos e populares, acaba seduzindo as multidões, que as leva a acreditar que o problema são os políticos, a corrupção, a falta de pulso com o crime e não o próprio capitalismo claudicante.

O fascismo tem sua própria agenda, não precisa do vácuo da esquerda. O fascismo sempre ascende para dar uma resposta às crises do capitalismo, e tira dos liberais de direita – a direita limpinha – suas vestes civilizatórias para que possam embarcar na aventura autoritária. Pois diante da miséria crescente e da concentração obscena de riqueza a estratégia é criar um inimigo a combater. É aqui que entram os judeus, os comunistas, os imigrantes, os ciganos e os petistas no nosso passado recente. Já “radicalizar” significa ir à raiz, e a raiz da esquerda é o movimento proletário. Radicalizar, portanto, não é bater de frente com a direita, mas aprofundar seus princípios mesmo que isso custe enfrentar de frente o fascismo.

Isso explica a ascensão de Adolf pós crise de 1929, e a de Mussolini na Itália na mesma época, assim como Trump e Bolsonaro após a crise de 2008. A inexistência de um contraponto da esquerda raiz é apenas um elemento menor – porém importante – em face da crise do capitalismo, modelo cujo desmoronamento estamos vendo ao vivo e à cores diante dos nossos olhos, como testemunhas da história. Mas, como sempre ocorre, essa queda só se dará através do horror e da miséria globais.

No mais, concordo que a esquerda ainda não entendeu o que Zizek falava há uma década: para combater uma direita fascista não se pode oferecer moderação ou capitulação ao centro, mas sim um radicalismo proletário e comunista.

E tenho dito…

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Os botes cubanos

Não se passa um dia sequer que eu não escute ou leia de um liberal a seguinte frase, normalmente dita ou escrita com sofisticada empáfia, digna da mais absoluta lacração:

“Nunca vi um americano pegando um bote e fugindo pra Cuba”.

Esse é o mantra dos direitistas, que enxergam apenas a superfície dos fatos, sem entender o que leva as pessoas a fazer esse movimento dramático de fuga de seu país. Dica: não é em busca de liberdade. Até porque o migrante que vai dividir um quarto de 3×3 com 16 pessoas, depois de atravessar um deserto ou se jogar em um mar cheio de tubarões e ratos americanos para quase morrer de sede, não está preocupado com sua liberdade pessoal. O que deseja é uma chance de ascender.

Acham mesmo que um americano pobre da periferia das grandes cidades, nas favelas de Detroit, que urina em banheiro químico, sem teto que mora numa tenda de lona no bairro Skid Row em Los Angeles, não tem dinheiro pra tratar os dentes, tem uma qualidade de vida subsaariana, mora num deserto alimentar, não tem SUS e só pode ser atendido por caridade, seus filhos não tem escola decente e morre de medo de ser espancado e morto por gangues – ou, pior ainda, pela polícia – não aceitaria fugir para um país onde segurança, educação, saúde e moradia são garantidas pelo Estado? Acha mesmo que eles se importam com uma noção idealista de “liberdade” quando a materialidade de suas vidas apresenta a prisão da miséria? E sabe por que eles não fazem isso? Porque são tão miseráveis no capitalismo que não teriam condições sequer de comprar um bote, e também porque a sociedade cubana não poderia suportar os milhões de americanos que fariam essa travessia.

Parece exagero? Olhem para o norte do México e verão cidades inteiras onde o inglês virou a língua mais falada. Existe uma crescente emigração de aposentados americanos para cidades como San Miguel de Allende para que possam viver uma vida com clima melhor e com saúde mais barata do que aquela do sistema privado americano. Nos Estados Unidos mais de 70% dos americanos desejam uma modelo único de saúde, mas isso nunca esteve mais distante do que hoje, pois os governantes sonegam dos cidadãos esse sistema por interesses econômicos, e porque as eleições americanas são uma farsa comandada pelo deep state, onde os presidentes são apenas os CEOs de uma empresa cujos donos são os capitalistas.

“Ahh, mas os imigrantes nos Estados Unidos são atendidos através do Charity Care”. Sim, é verdade, porém é preciso entender que a caridade que eles recebem lhes transforma em cidadãos de segunda classe e que esse benefício recebido por eles é pago por toda a periferia do capitalismo que sustenta o império. Somos nós, o terceiro mundo, que garante – com seu trabalho e seus recursos – a opulência obscena dos países imperialistas. Acham mesmo que a qualidade de vida dos americanos – um modelo que vai esgotar os recursos do planeta em breve – é produzida pelo sistema capitalista concentrador de renda, que só é mantido através da violência e que condena milhões a não ter sequer o que comer, negando aos seus cidadãos abrigo e segurança? Não, isso é o resultado do imperialismo opressor, que condena a periferia ao servilismo.

Para quem acha o modelo socialista cubano ruim tenha ao menos a honestidade não o comparar com os países imperialistas, como o seu vizinho, os Estados Unidos – com seus 8 milhões de km2 e seus mais de 330 milhões de habitantes. Compare Cuba com o Haiti, com Honduras, com a Jamaica, com El Salvador ou a República Dominicana. Todos de origem étnica e história semelhantes; todos capitalistas e todos miseráveis – com exceção de Cuba, que ofereceu dignidade humana a quem mora lá. O Haiti, por exemplo, tem um PIB 10x menor que o de Cuba, e todos esses países capitalistas tem migrantes que fogem para os Estados Unidos, México e até mesmo para o Brasil.

Entendam… o socialismo tornou o país mais pobre da Europa – a Rússia – em uma potência nuclear e um player no debate político, econômico e cultural contemporâneo. O socialismo transformou o país mais pobre e mais explorado da Ásia – a China – em uma enorme potência econômica, industrial e tecnológica. Cuba se tornou um país melhor, sendo referência mundial em educação e saúde. Agora… tome 5 minutos para pensar como a ilha seria sem o embargo cruel dos americanos. Agora reserve outros 5 minutos para entender que o embargo é exatamente para que a ilha não possa florescer e mostrar ao mundo que um outro modelo político e outro estilo de vida é possível.

E por fim, não me venham falar de capitalismo e “liberdade”, pois que esse modelo se importa tão somente com a propriedade privada. Os capitalistas do mundo inteiro jamais se importaram que seu sistema abrigasse a escravidão, o apartheid e o jugo imperialista sobre outras nações. Por que se importariam com a real liberdade de seus cidadãos se ela representa o fim dos seus privilégios?

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Saindo do Armário

Eu acho o sentimento do ator gay cujo pai votou em Bolsonaro legítimo. É decepcionante ver alguém que admiramos e amamos votar em um sujeito que a gente despreza por sua conduta, suas ideias, sua postura, seus valores e sua história. Entretanto, acho que essa decepção é fruto de uma idealização exagerada.

Meu pai não votava há muitos anos, mas me disse que jamais votaria em Bolsonaro. Sofreu na ditadura de Vargas e tinha horror aos governos militares. Entretanto, era um conservador, um liberal tipo tucano, e jamais aceitou o comunismo. Ele era um produto perfeito do pós guerra, da Guerra Fria, dos mitos e mentiras sobre a União Soviética. Por essa estrutura psíquica, jamais me perdoou quando saí do armário e me declarei para a família…

– Pai, vou contar pra família algo que vocês já devem saber, mas eu preciso dizer. Prefiro que escutem de mim do que ouvindo fofoca de vizinhos: eu, eu, eu… sou comunista.

Ele respeitou minha decisão, mas nunca aceitou. Sempre se irritava quando falava de “luta de classes”. Dizia algo como “Para que lutar se podem se entender?”. Pior ainda se eu falava da “ditadura do proletariado” ou do “controle dos meios de produção”, “Lá vem você defender ditaduras!”. Acreditava nos mitos ao estilo “divide todo teu dinheiro com os pobres, então”, “ahh, socialistas de carro novo” e todas as fantasias criadas sobre o comunismo. Ele era um homem do seu tempo e seu estranhamento com o comunismo é semelhante ao estranhamento que um homem de 90 anos teria com a súbita popularidade da homossexualidade.

Digo isso porque eu acho que é possível ter um filho gay e mesmo assim votar num sujeito da extrema direita e que tem desprezo por homossexuais – apesar de obviamente não concordar com isso. Creio que o voto do pai do ator não foi relacionado à pauta moral, mas a um rechaço ao PT, à “corrupção” (fabricada diuturnamente pela Globo), à lava jato e à crença de que Bolsonaro poderia livrar o Brasil da “ameaça comunista”. O pai desse rapaz provavelmente tem esse tipo de visão de mundo – com a qual não concordo e até combato – mas isso não o torna necessariamente um homofóbico. Ele votou nessas pautas APESAR de Bolsonaro não respeitar os gays e a diversidade o quanto deveria.

Meu pai votaria em sujeitos como Aécio ou Alckmin, mas pelas suas crenças no liberalismo econômico e suas propostas por um capitalismo “domesticado”. Entretanto, a vinculação desses personagens com a Opus Dei ou o uso de drogas não teria nenhuma influência em sua escolha; ele votaria neles apesar dessas falhas pessoais.

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Socialismo

O socialismo é uma ideia muito antiga na história da humanidade, que tem como base a eliminação das divisão da sociedade em classes sociais, e suas origens podem ser encontradas nos primeiros grupamentos humanos que surgiram após a revolução do neolítico. Apesar dos inequívocos avanços decorrentes da revolução burguesa do final do século XVIII, manteve-se a divisão de classes baseada no capital, reminiscência nefasta que se manteve com a passagem do feudalismo para as monarquias absolutistas e destas para a sociedade burguesa. Apesar de não serem seus criadores, o socialismo teve um impulso fundamental com os trabalhos de Karl Marx e Friedrich Engels, pensadores alemães que assinam o “Manifesto Comunista”, que pode ser entendido como o pontapé inicial em um grande movimento de massas para a derrubada dos governos burgueses e a ascensão política da classe proletária.

As bases ideológicas do marxismo – como passou a ser chamado – influenciaram os movimentos revolucionários russos que acabaram depondo o governo liderado pelo Czar Nicolau II e a instauração do governo socialista bolchevique em 1917. Seus principais líderes, Lênin e Trotsky, se guiaram pelas teorias econômicas de Karl Marx na forma como deixou escrito em sua majestosa obra “O Capital”.

A revolução russa foi a primeira das grandes revoluções do proletariado, seguida pela revolução chinesa de Mao Zedong, logo após a expulsão dos japoneses em 1949. Após o fim da guerra civil e durante os primeiros anos da revolução, a Rússia experimentou um crescimento vertiginoso de sua economia, na chamada NEP. Um dos estados nacionais mais pobres da Europa em 1917, a Rússia foi a responsável direta pela derrota de Hitler na segunda guerra mundial. Seu avanço tecnológico permitiu que, duas décadas após o fim desta guerra –  que vitimou entre 7 e 15 milhões de russos – colocasse Yuri Gagarin como o primeiro humano em órbita, mostrando a pujança dos ideais, da técnica e da economia soviéticas.

Entretanto, nos anos 50 do século XX, uma série de contradições na então União Soviética se tornaram aparentes a partir da morte do georgiano Josef Stálin, que havia sucedido o grande líder Lênin. A ascensão de Nikita Krushov aos poucos foi desvelando ao mundo os crimes do líder anterior. No final dos anos 80 a economia soviética estava prestes a entrar em colapso quando assumiu o controvertido presidente Mikhail Gorbachev, que instituiu a “Glasnost” (transparência) seguindo-se da “Perestroika” (restauração). Estas novas perspectivas, combinadas com a queda do muro de Berlim – que separava por um muro a capital da Alemanha invadida – e a eleição de Bóris Yeltsin como presidente da Rússia decretaram o fim do “socialismo real” que desaparecia junto com a “União Soviética”, posteriormente esfacelada em suas múltiplas repúblicas.

Essa queda do sonho socialista fez com que muitos países da Europa repensassem o seu ideário socialista, formando-se grandes partidos chamados “reformistas”, que se contentavam em ajustar os desvios do capitalismo – em especial sua doença de concentração de renda e esgotamento de recursos naturais – sem combater a sociedade de classes. Surgia assim, no mundo inteiro, a “Social Democracia”, que mescla ideais do sistema de “bem-estar social” do socialismo com a observância das regras e partidos da democracia burguesa.

Enganam-se, entretanto, como fez Francis Fukuyama, que se tratava do “Fim da História”. Em verdade, o socialismo está cada dia mais vibrante, seja na sua vertente social democrata quanto na “revolucionária”. Existem inúmeros partidos da “nova esquerda” que rezam pela cartilha social liberal, mas os partidos de estrutura revolucionária sobrevivem em várias partes do mundo. No Brasil os partidos de centro esquerda são o PT, o PSOL, o PCdoB e outros, que se configuram como partidos eleitorais regulares. O PCO – Partido da Causa Operária – é o mais importante partido comunista revolucionário da atualidade no país.

A história do socialismo está longe do fim. Sua meta principal é a socialização dos meios de produção, o respeito à ecologia e à diversidade, o fim do racismo e do machismo, o extermínio da sociedade de classes e a ditadura do proletariado.

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Socialista de IPhone

Vamos parar de repetir clichês da guerra fria?

iPhone é um produto feito por socialistas proletários chineses. Uma máxima marxista famosa é “Se o proletariado tudo produz a ele tudo pertence”. Portanto, “socialista de iPhone” é EXATAMENTE o que uma revolução proletária propõe.

Por outro lado, o que os capitalistas pretendem é que o iPhone seja exclusivo dos ricos, de quem explora a força de trabalho alheia, sendo assim inacessível para quem efetivamente o produz. Poucas coisas são mais perversas no capitalismo do que impedir o trabalhador de usufruir os benefícios do seu próprio trabalho.

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Ninguém deseja Cuba

Ahh, mas eu nunca vejo gente que quer se mudar para Cuba ou Venezuela. Estes esquerdistas todos vão para a França, Japão ou Estados Unidos. Por que isso? Afinal, Cuba socialista não é o paraíso na terra? Meus amigos todos viajam pelo mundo inteiro, alguns até decidem viver no Brasil, mas porque ninguém quer viver em Cuba?

Que legal…. Mas o que essa declaração tem a ver com Cuba e a democratização das riquezas produzidas em um país? Fica a pergunta: o que para você significa a liberdade e qual o preço de oferecer a uma classe um valor que nega à outra?

Você pelo menos se deu conta que seus amigos são pequenos burgueses, classe média, e que esta sociedade lhes dá o direito de viajarem para onde querem? Por outro lado, você percebeu que você não tem amigos entre os entregadores de pizza, marceneiros, pedreiros, motoristas de ônibus, lixeiros? Percebeu que sua noção de “liberdade” – o direito de viajar para qualquer país do mundo – está conectada a essa estreita faixa de amigos de classe média ou mais abastados? Você é capaz de vislumbrar a gigantesca multidão de pessoas que se obrigam a trabalhar sem o direito de usufruir uma vida de “liberdade” e viagens como você e seus amigos?

Agora pense em Cuba, uma ilha linda e cheia de encantos, cuja principal fonte de renda é o turismo, o que explica as dificuldades econômicas terríveis pela qual passa em função da pandemia. Apesar de ser um país muito pobre (se fosse no Brasil teria um PIB como o Piauí) é riquíssimo em música, dança, cultura, medicina e tem saúde públicas invejável. A China (curioso não falarem mais tanto da China) tem tudo isso e hoje já é um país riquíssimo. Só para lembrar, em Fortaleza existem edifícios na beira da praia onde só moram imigrantes chineses.

Pergunto de novo: quantos dos seus amigos da classe média brasileira escolheriam a Burquina Faso capitalista para morar? Quantos escolheriam Moçambique? Quantos optariam por morar na Colômbia? Por que então escolheriam Cuba? Seus amigos pequeno burgueses escolhem países mais ricos, onde o capitalismo explora os pobres e oferece aos burgueses uma vida mais fácil. Se eles fossem à Cuba teriam que trabalhar como todos os cubanos e não seriam considerados de “outra classe”, como você tanto admira.

Resumindo: como é bom ter a liberdade de escolher onde viver sabendo que qualquer lugar vai recebê-lo como pertencente à classe superior. E além disso, como é mais simples analisar o mundo como se ele fosse composto apenas desses 10% de classe média que o compõe.

O comunismo, por seu lado, olha para todos sem exceção, e procura enxerga neles a igualdade que o capitalismo lhes sonega. Essa é a diferença das nossas perspectivas. Para você o mundo será bom se os seus amigos puderem fazer escolhas livres e boas. Para mim – e para todos os comunistas – ele será adequado e justo apenas quando nenhuma criança mais passar fome ou dormir ao relento.]

Para os admiradores dos Estados Unidos – e críticos de um comunismo que só existe em suas cabeças – entendam que este país se tornou um Império brutal e assassino, e todo o “American Way of Life” que exibem na TV é construído pela morte, destruição e expropriação de recursos de outros países. Para que exista a opulência americana é preciso que uma centena de países trabalhem incansavelmente para garantir a eles esta prosperidade.

Seus amigos que viajam pelo mundo só tem dinheiro para estas aventuras porque essa sociedade é construída sobre valores que os beneficiam. Muita gente tem que morrer e se sacrificar para que essa “liberdade” seja usufruída.

O capitalismo é construído dessa forma. Pessoas “livres” caminhando sobre cadáveres.

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Fuga para o Paraíso

Acha mesmo que as pessoas fogem do “comunismo”? Explique porque o tetra campeão Olímpico de luta Greco-romana por Cuba não o fez. Você acredita mesmo que apenas o luxo e os valores materiais movem os desígnios da humanidade? Não acredita que a solidariedade possa ser um valor a moldar nossa ação em sociedade?

Explique porque as pessoas fogem do capitalismo brasileiro para ir aos Estados Unidos. Se o capitalismo já havia aqui, qual a razão da troca? Explique porque durante décadas as pessoas saíam do Brasil capitalista em direção à…. Europa capitalista, mas no século XIX o fluxo era o inverso. Explique porque pessoas fogem do Haiti “capitalista de livre mercado” para os Estados Unidos. Explique porque na União Soviética comunista havia milhares de imigrantes turcos e asiáticos, vindo de países capitalistas.

As pessoas não fogem do comunismo, fogem da pobreza e procuram melhores condições, e para isso vão para a sede do Império. Para muitos bolsonaristas os Estados Unidos são bons e Cuba é ruim, mas você certamente não assistiu “Breaking Bad”, uma série que só poderia ser feita tendo como pano de fundo o descalabro do sistema médico americano. Também não assistiu “Sicko”.

É justo viver na opulência sabendo que sua vida saborosa e doce precisa do amargor e do sofrimento de milhões que a sustentam? Muitos curtem os Estados Unidos porque não estão em Skid Row, em Los Angeles, dormindo na rua e mijando em canteiros. São estes mesmo que não se importam em viver numa sociedade desnivelada onde gente miserável morre sem atendimento médico – como nos Estados Unidos – para que uma burguesia hedonista possa se entupir de Iphones, carros novos e passeios de astronauta às custas da exploração do resto do mundo.

Lembre: para manter a dominação e o controle do trabalho de suas colônias o Império precisa que pessoas comuns acreditem que o capitalismo é bom e justo e que a fome, a opressão e a miséria que ele inexoravelmente produz são causados pela “preguiça” ou falta de “empenho” – nada mais do que mentiras criadas para manter a hipnose da subserviência.

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