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Um assento reservado no Inferno

Cada vez que eu vejo a lavagem cerebral de gente que chama o Putin de “carniceiro”, “louco”, “assassino” por sua invasão à Ucrânia eu fico pensando o quanto estas percepções são criadas e disseminadas pela gigantesca máquina de propaganda que controla nossas mentes. Longe de ser apoiador de um direitista autoritário como Putin, tudo o que eu gostaria é que o presidente eleito da Federação Russa fosse julgado com a mesma régua com a qual os presidentes americanos são avaliados.

Até 6 de maio de 2022 o número oficial de mortes de civis da Guerra na Ucrânia era de of 4.253 (1.617 homens, 1,064 mulheres, 100 meninas, and 105 meninos, assim como 67 crianças e 1.300 adultos cujo sexo é desconhecido) – e um número quase igual de feridos. Sim, nos primeiros 100 dias de guerra houve um número de mortes igual àquelas produzidas pelo trânsito brasileiro no mesmo período – que mata em média 32 pessoas por dia em nossas ruas e estradas. Podemos dizer que os soldados russos – treinados para matar e defender – são mais cuidadosos com a vida alheia que os nossos motoristas.

Algumas agências clamam que os números são bem maiores, mas não oferecem dados alternativos confiáveis e comprovados. Mesmo que fosse o dobro dos números oficiais, ainda assim seria uma guerra em que existe uma óbvia preocupação em não matar, não destruir e uma tentativa obsessiva em preservar vidas.

Agora analisem as invasões americanas na Síria e Iraque, apenas para citar guerras recentes provocadas pelo Império onde é evidente um sentimento xenófobo e islamofóbico. A maioria dos americanos – mas também nós, as colônias – não tem noção do massacre ocorrido lá e acham que morreram “dezenas de milhares”. Isso está muito longe da verdade, pois como disse o general Tommy Frank – general responsável pela operação inicial de invasão – “não contamos corpos”, exatamente porque os inimigos do Império são sempre desumanizados, deixam de ser gente, não passam de baratas. Um bom filme sobre isso é “Hearts and Minds”, um espetacular documentário de 1974 sobre a brutalidade da guerra e a “necessária” desumanização dos inimigos, no caso os vietnamitas.

Na primeira semana da invasão do Iraque, com o claro objetivo de buscar uma posição geopolítica favorável e roubar petróleo, algumas estimativas apontam que foram mortos 80.000 iraquianos, usando uma mentira disseminada pelas redes de TV sobre “armas de destruição em massa!!” contada ao vivo pelo Secretário da defesa americano Collin Powell. O total de mortes desse massacre imperialista – que destruiu o país de onde surgiu a civilização humana – chega a 2.4 milhões de pessoas. Alguém acha que Putin poderia estar na mesma turma de seres humanos perversos onde estão Bush (pai e filho), Obama, Trump e Biden? “They’re not in the same league“. Na Síria a destruição foi a mais violenta possível por parte das forças aliadas à OTAN. Mercados centenários, mesquitas e templos religiosos reduzidos a pó; imagens obtidas por satélite mostraram uma violenta destruição em 290 locais históricos de todo o país. A ONU alertou que a guerra na Síria já destruiu 24 áreas consideradas Patrimônio Cultural da Humanidade e 104 sofreram danos profundos desde que o conflito teve início em 2011.

É preciso um mínimo de senso de proporção quando colocamos de um lado um autocrata de direita protegendo suas fronteiras de ameaças da OTAN e do outro assassinos perversos no comando de um Império decadente.

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Paradoxo da Paz

“Desculpe, sou contra o Putin, um diabo medonho, e porque tenho horror a qualquer guerra. Não existe justificativa para elas. Ah, e dizem que o Putin é homofóbico”

É impressionante a dificuldade dessa esquerda liberal de entender que essa guerra não pode ser avaliada por critérios morais aplicados a seus personagens principais. Também parece difícil entenderem que a guerra já estava acontecendo há 8 anos mas, curiosamente, só quando a Rússia reagiu é que os “pacifistas” se escandalizaram. Lembra muito o horror que surge quando uma bombinha Palestina atinge Israel alertando os “pacifistas” – que saem as ruas vestindo branco e pedindo paz – mas são os mesmos que respondem com absoluta apatia quando ocorrem os repetidos massacres em Gaza (que os sionistas tratam como “mowing the lawn” – aparar a grama).

Pois agora aparecem oportunistas que são contra a Guerra da Ucrânia, mas sequer ficam com a cara vermelha ao apoiar nazistas “old school” – que sequer podem ser chamados de neonazis, porque de novo nada têm. Querem a paz, mas só a paz do domínio, da submissão e do silêncio.

Em nome de uma russofobia e um ódio infantil à “pessoa do Putin” (e não sua política nacionalista e seu governo de direita) aceitam de bom grado passar pano para fascistas e assassinos, que queimaram mais de 50 pessoas vivas em um sindicato em Odessa, construíram laboratórios para guerra química, amarram cidadãos em postes, espancam ciganos e aniquilaram – através de suas brigadas de ultradireita – mais de 14 mil cidadãos em Donetsk e Lugansk desde o golpe de 2014

Por que apenas agora a guerra se tornou inaceitável? Por que admitiram até então que um país dominado por nazistas se juntasse à OTAN e se armasse com bombas atômicas ao mesmo tempo em que rasgavam o acordo de Minsk? Por que se negaram a perceber que uma ogiva nuclear em Kiev leva 4 minutos para atingir Moscou e estaria sendo colocado em uma cabeça de ponte da OTAN na Europa Oriental? Qual país no mundo inteiro aceitaria essa ameaça no seu vizinho? Por certo que o Império americano não, visto que a crise dos mísseis de Cuba em 1963 teve a mesma motivação.

É impossível não se indignar quando vemos xenofobia e desrespeito à todas as pessoas que defendem a Rússia e que cometem o “crime” de refletir com conhecimento de causa e sensatez, fugindo da propaganda imperialista massacrante, entreguista e oportunista que nos invade. A mesma imprensa corporativa que, em nome dos interesses do sistema financeiro internacional, emporcalha redações e redes de TV com mentiras que transformam nazistas declarados em “nacionalistas” e “forças da resistência”.

Estar contra o Putin (que é um direitista, autoritário, anticomunista e, talvez, homofóbico – who cares??) significa cerrar fileiras com a OTAN e a barbárie maligna e genocida do Império americano. Putin, por mais defeitos que tenha, está do nosso lado, lutando por um mundo multipolar, contra o Imperialismo corrupto e racista. Muitos ainda confundem a paz com a falta de reação e a apatia diante da violência imposta. Muitos mais acreditam numa “pax americana”, onde o imperialismo reinaria sem reação. Esta é uma visão ingênua e paradoxalmente violenta, pois condena muito mais pessoas à opressão e à morte.

Ninguém que se diga de esquerda pode estar ao lado dos golpistas ucranianos e do Império Americano. Uma improvável vitória dos nazistas da Ucrânia poderia determinar as bases irreversíveis para uma terceira guerra mundial. Aí reside o maior paradoxo: os pacifistas pró imperialismo e defensores da OTAN esperam como resultado desse conflito algo que inevitavelmente levaria a uma guerra de proporções catastróficas.

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De novo o imperialismo…

An American cartoonist in 1888 depicted John Bull (England) as the octopus of imperialism, grabbing land on every continent.

Sem querer ser ofensivo….

De onde a esquerda liberal tirou a ideia de “Imperialismo russo”? As repúblicas TODAS da URSS se desmembraram sem disparar um tiro sequer quando ocorreu a queda da União Soviética. Que imperialismo é tão mansinho assim? Pergunta se o Havaí ou Porto Rico poderiam fazer o mesmo, caso seus movimentos separatistas tomassem corpo. Que imperialismo é esse que nunca invade ninguém desde os anos 50 na guerra fria, e por razões meramente de política local? Que expansionismo russo é esse? Pois parece o dinheiro “roubado pelo Lula” que não aparece em lugar nenhum…

Que imperialismo é esse sem domínio econômico, político, cultural e militar e que não tem NENHUMA influência econômica fora do raio de ação dos seus vizinhos (como o Brasil ou Argentina). Está no DNA dos russos a ideia de que o Ocidente vai invadir, e eles sabem que precisam eternamente se defender. Foi assim com Napoleão, depois na guerra civil e por fim com o Führer. Em todas o povo russo unido se defendeu. Eles sabem que qualquer desatenção pode ser a última. Não consigo entender como esse mito proliferou, em especial na esquerda liberal…

Como disse bem Mário Berlese:

“Não se pode usar aleatoriamente a definição de “imperialismo” através de um arsenal de senso comum sem ter a mínima noção do conceito. Em primeiro lugar, a “anexação territorial” não é um elemento definidor do conceito de imperialismo, mas um fator de conjuntura específica, quando países de economias monopolistas altamente desenvolvidas entram em choque por áreas de influência. O que nem de longe pode ser considerado o caso da Rússia. A ideia central que Lênin expõe em “Imperialismo, fase superior do capitalismo” é que um país só pode ser considerado imperialista se sua economia for desenvolvida a tal ponto que sua espinha dorsal será sustentada pela exportação monopolista de capital financeiro, tendo em vista que o alto desenvolvimento de seu capital interno concentrado não mais o permite crescer dentro dos seus limites territoriais, o que força tais países a se lançarem desenfreadamente à imposição predatória e parasitária contra países de economias atrasadas. O que, definitivamente, está MUITO LONGE de ser o caso da Rússia. A guerra da Rússia contra a Ucrânia não tem rigorosamente nada a ver com o expansionismo do capital financeiro, pois economia do russa é subdesenvolvida, seu sistema especulativo é atrasado e sua base de sustentação é o extrativismo – o que é uma característica típica de países retardatários, explorados pelo imperialismo. Ao contrário dos Estados Unidos, Inglaterra e França, a Rússia não possui nenhum tipo de relação colonial contra nenhum país do mundo. “Rússia imperialista” é a terra plana do marxismo. Ninguém leva a sério.”

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Nicarágua

Minha perspectiva sobre o apoio das esquerdas ao povo da Nicarágua…

Creio que o equívoco está em confundir o apoio à Nicarágua com “camaradagem internacionalista”, quando na verdade o que temos é uma luta sem tréguas contra o imperialismo. TODAS as alternativas oferecidas aos polos de luta contra o poder imperial – Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coreia do Norte – têm oferecido como solução aos possíveis desmandos das administrações locais a volta da submissão ao poder colonial, a abertura unidirecional de fronteiras, a adoção da democracia burguesa e o abraço ao neoliberalismo moribundo e infecto.

Tão importante é essa luta anti-imperialista que as esquerdas radicais de várias partes do mundo comemoraram a vitória de anticomunistas fascistas no Afeganistão porque a derrota do imperialismo naquele país seria a única maneira de fazer no futuro o socialismo prosperar na Ásia Central. Enquanto estivesse ocupado o Afeganistão jamais conseguiria organizar uma revolução socialista. Portanto, para a derrota do poder imperial – destruidor e asfixiante – até a vitória da direita contra os imperialistas pode ser contada como positiva.

A Nicarágua que resolva seus problemas internos, assim como o Brasil, sem a interferência do Império. Até porque, citar Nicarágua e não falar das matanças sistemáticas na Colômbia ou a falta de direitos humanos na península arábica nada mais é do que a hipocrisia escancarada da nossa sociedade.

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Democracias latinas

A imprensa corporativa brasileira adora colocar rótulos nos governos que se insurgem contra o domínio imperialista americano. Entretanto, quando aprofundamos mais a análise, observamos uma realidade inquestionável: nossas democracias republicanas acabam vítimas de sua própria tolerância com o imperialismo. Allende, Jango, Dilma, Lula, Evo, Cristina, Lugo, Juscelino e tantos outros foram vítimas de armações da CIA para a desestabilização das frágeis democracias na América Latina. Muitos deles foram defenestrados da condição de líderes nacionais por todo tipo de armação espúria. Aqui nossa última experiência golpista foi com a famigerada Lava Jato, mas cada país tem sua peculiaridade, determinada pelas circunstâncias históricas.

Entretanto, mesmo a esquerda reformista continua insistindo em rotular os países que resistem ao imperialismo yankee como “ditaduras”, mesmo quando o sistema eleitoral é translúcido e muito mais seguro do que o nosso próprio sistema eleitoral. Há muito sabemos que os pleitos na Venezuela são os mais vigiados do mundo e o sistema eleitoral de Cuba opera num circuito muito mais sociocrático do que democrático (portanto, superior, ao meu juízo). Aliás, em Cuba a política é uma atividade de voluntariado, sem proventos, e nenhum participante das decisões pode pertencer ao partido comunista. Por sua atitude de oposição aos ditames imperialistas todos estes países – Nicarágua, Venezuela e Cuba – sofrem há muitos anos risco de ruptura imediata de sua soberania, seja por grupos de traidores financiados pelos Estados Unidos, seja por invasão militar direta. Na Venezuela, há alguns poucos anos, houve um atentado por drone contra Maduro, intentonas fajutas lideradas por Guaidó e uma invasão por mar onde espiões foram capturados pelos pescadores armados das brigadas revolucionárias.

Em Cuba nem se fala (só Fidel sofreu mais de 60 atentados), pois há pouco tempos houve outra tentativa de um falso “movimento popular” que na verdade respondia a interesses de Miami. A Coreia do Norte, não fosse sua bomba nuclear, já teria sido varrida do mapa pelos americanos. Pergunto: qual país na iminência de uma invasão (inclusive anunciada por Trump, no caso da Venezuela) permitiria eleições livres correndo o risco de ocorrer a vitória de um candidato populista que colocaria a soberania duramente conquistada a perder? Se você responder “uma democracia europeia”, lembre que a Inglaterra suspendeu todas as eleições no período da guerra. E não foi só ela. Por quê?

Ora, pela clara ameaça à segurança nacional. Esta é a resposta que nicaraguenses, venezuelanos, cubanos, coreanos e ingleses dariam a essa pergunta. Por que então, em nome da segurança nacional, só os partidos que romperam com a dominação imperial são chamados de ditaduras? Enquanto isso, Cuba faz suas eleições livres há 60 anos. A Venezuela é o país com mais eleições com controle externo do mundo. A Coreia do Norte pouca gente sabe como funciona, mas ninguém daquele pequeno país esquece 1/3 de sua população foi morta pelos bombardeios americanos na guerra de independência. Uma eleição vale perder a soberania conquistada com a morte de uma terça parte do seu povo? Quem arriscaria ver um candidato oportunista colocar a segurança destes países – Cuba, Coreia e Inglaterra – em jogo durante um período de guerra??? Não gosto de ditaduras, mas nesse continente só os americanos gostam e as apoiam, pois que eles estimularam a imposição delas em toda a América durante décadas. Aceitar – em nome da democracia – que eles voltem a nos encabrestar é ingenuidade suicida.

O erro de Dilma no seu excesso de republicanismo não pode voltar a ocorrer. Neste aspecto, a luta pela soberania e pela autonomia valem mais do que responder às artimanhas retóricas do Império. Pense bem: não fosse a resposta dura dos insurgentes que fizeram a sua revolução e a China continuaria até hoje o bordel da Europa e uma produtora de matérias primas para seus patrões brancos europeus. Talvez estivesse fragmentada em 4 ou 5 países, divididos por questões menores (religiosas, linguísticas, etc.) controlados pelos poderes coloniais. Não fossem Fidel, Camilo Cienfuegos e Che, Cuba seria ainda hoje a ilha de Hemingway, cheia de puteiros e morenas do balacobaco, produzindo açúcar e miseráveis. Talvez produzisse alguns jogadores de beisebol, como a pobre República Dominicana, mas por certo faria parte dos miseráveis do Caribe, como Jamaica e Haiti. A Coreia do Norte seria como a do Sul: dinheiro e sucesso para poucos, uma legião de marginalizados – como pode ser visto em “Parasitas”- convivendo com a miséria dos trabalhadores explorados e batendo recordes de suicídio. Não fosse por uma luta heroica e corajosa contra o Império levada a cabo por estes revolucionários e estes países seriam o que o Brasil é hoje: o quintal dos gringos.

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Rin tin tin

A respeito das reivindicações dos povos nativos, vitimizados pelas invasões colonialistas.

As séries de TV dos anos 60-70 eram carregadas dos valores daquela época. Refletiam a euforia do capitalismo americano do pós guerra, a pujança e a opulência de sua classe média e o esplendoroso “American Way of Life”. Entretanto, pela perspectiva de hoje, passavam pano para o genocídio das populações indígenas, um massacre sem precedente na história das Américas.

Além de Rin Tin Tin – um garoto órfão cujos pais foram mortos (que surpresa!!) num ataque dos nativos e criado pelos soldados no “Forte Apache” – havia também “Daniel Boone” (e o mito do índio bom x índio ruim) e “Os Pioneiros” (o cristianismo e a família, contra a degradação pagã), que igualmente fizeram forte propaganda colonialista. Milhões de mortos foram esquecidos e uma parte importante da história americana foi apagada com esses programas que incentivavam a vilificação dos nativos enquanto produziam a exaltação do branco, cristão e “civilizado” que matava, destruía, destroçava e invadia as terras dos nativos.

Sim, enterrem o meu coração na curva do rio. Para a gente brincar de Forte Apache antes a limpeza étnica precisou rolar solta e sem freio.

O fato de aceitarmos estas propagandas descaradas naquela época, como quase todos nós (inclusive eu), não significa que precisamos continuar acreditando nesta perspectiva da história sem questioná-la de forma vigorosa. O mesmo se aplica a outros fatos da vida, em especial a falta de respeito com negros e homossexuais – algo corriqueiro na minha infância – mas que hoje não tem mais espaço na cultura. Se é possível contextualizar e entender que o “mundo era outro” também podemos reconhecer que estas séries eram propaganda explícita de supremacia branca, de movimentos racistas, colonialistas e imperialistas, e que hoje merecem uma avaliação mais apurada.

Mesmo de tendo acreditado nas mensagens supremacistas do passado, e sabendo o quanto nos divertimos com as histórias de aventura na juventude, isso não nos obriga a continuar repetindo tamanhas aberrações.

Todo mundo algum dia já acreditou em Papai Noel e não deveria se envergonhar de nenhuma festa de Natal que participou. Por outro lado, manter-se acreditando nesta fantasia hoje seria um atestado de alienação inaceitável. Continuar olhando propaganda racista sem uma necessária crítica significa aceitar seus pressupostos e sua perspectiva de mundo.

Para conhecer mais sobre o tema, veja aqui no post Enterrem o meu coração e Forte Apache.

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Colonialismo, início do fim?

Tem gente que, em pleno século XXI, acha que a autonomia de uma nação é algo negociável e, embriagados pela campanha imperialista, não conseguem enxergar as tragédias e a barbárie causadas pelos invasores nas terras conquistadas. São os mesmos que condenavam, até pouco tempo, a libertação da Argélia, de Angola, de Moçambique, do Vietnã, da Índia e tantas outras colônias massacradas pelos colonizadores europeus. Diziam que, apesar do tratamento “duro” dado aos “nativos” nada é tão importante como a língua oferecida, as ferrovias e alguns bons modos à mesa.

As pessoas que nos acusam de ficarmos felizes com a expulsão dos americanos do Afeganistão pelo Talibã e que por isso somos “machistas” aceitariam ser chamados de “genocidas” por sua conivência com as mortes de meninas e mulheres durante a ocupação americana? Aceitam o rótulo de neocolonialistas? Aceitariam a pecha de “bandeirantes da América”? Aceitam o meio milhão de mortos em sua conta? Aqueles que nos acusam de sermos “autoritários” por apoiarmos um “ditador” como Putin, em sua luta contra as ameaças constantes à integridade da Rússia, deveriam entender que a influência norte-americana no leste da Europa se expressa como um gigantesca sombra de opressão e de domínio, onde as liberdades civis dos povos ameaçados será uma das primeiros pratos no banquete do imperialismo.

O biscoitismo – em especial partindo de figuras públicas da Academia – é um cacoete terrível de intelectuais que se aventuram nas redes sociais. É preciso agradar em primeiro lugar ao seu “eleitorado”, e só depois fazer algumas concessões à realidade. O salário indireto recebido por estes personagens são os “likes” e os elogios rasgados ao seu idealismo – o qual não suporta 10 minutos de mergulho na verdade dos fatos. Quem, entre as pessoas horrorizadas com a vitória do Talibã – um grupo de reacionários e fascistas de direita muito parecidos com os bolsonaristas no Brasil – ocorrida há poucos meses lembrou das 500 crianças mortas pelos bombardeios americanos nos últimos 5 anos de ocupação do Iraque? Por acaso é possível comparar a porcaria reacionária do Talibã com as milhares de crianças explodidas pelas bombas imperialistas?

Portanto, as recentes decisões do governo brasileiro e chinês de negociar diretamente entre si usando suas moedas nacionais sem a intermediação do dólar me parecem mais um graveto que irá fomentar a grande fogueira que nos livrará do Imperialismo. Diante do importância que os povos do mundo precisam colocar na libertação do domínio exercido pelo Império estas iniciativas precisam ser encaradas com a devida seriedade, e demonstram que existe real interesse do governo americano em construir uma estrutura global mais equilibrada e mais justa para as nações. Nada mais adequado que Brasil e China – pelas suas dimensões e importância geopolítica – estejam à frente desta luta.

Há apenas alguns poucos dias (29/3), ambos governos anunciaram a criação de uma “Clearing House” (ou Câmara de compensação), uma instituição bancária que permite que negócios e concessões de empréstimos sejam realizadas entre os dois países sem a utilização da moeda americana como forma de viabilizar os negócios de caráter transnacional. O Banco Industrial e Comercial da China (IBC), será a instituição bancária que vai operar a “clearing house” aqui no Brasil, permitindo que os empresários locais tenham a possibilidade de realizar negociações e até empréstimos em yuan (RMB) ,e não apenas em dólar, como é a regra que impera para estas transações até agora. A adoção dessas medidas aproxima o Brasil do seu maior parceiro comercial – a China – e faz uma demonstração inequívoca de que o Brasil se afasta do decadente imperialismo para uma tentativa de multipolaridade, onde as relação entre os países se dará de forma menos autoritária e impositiva.

Para aqueles que viam o governo Lula como um “agente do imperialismo” este foi um duro golpe de realidade. Some-se a isso as decisões de não subscrever a declaração final da “Cúpula da Democracia”, por não concordar com o foro onde este debate está sendo realizado “O entendimento do Brasil, no entanto, é de que a guerra da Ucrânia deve ser tratada em foros específicos para o tema, como a Organização das Nações Unidas”, diz o comunicado Em outra oportunidade o governo de Lula chegou a votar a favor de uma resolução da Assembleia Geral da ONU que repudiava a invasão russa, dando a entender para alguns analistas de que o governo do presidente Luiz Inácio estaria se postando ao lado dos interesses do Imperialismo. A clara inclinação em direção à China mostra o contrário, o que só pode ser saudado como uma ação positiva por todos os partidos de orientação marxista.

Esperamos que estas iniciativas sejam as primeiras de outras grandes propostas para o fortalecimento dos BRICS e do sul global.

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Imperialistas

As pessoas que acusam aqueles que ficaram felizes (com a expulsão dos americanos do Afeganistão pelo Talibã) de serem “machistas” aceitam ser chamados de “genocidas” por sua conivência com as mortes de meninas e mulheres durante a ocupação americana? Aceitam o rótulo de neocolonialistas? Aceitam a pecha de “bandeirantes da América”?

Dizer que celebrar a derrota do Império no Afeganistão é saudar a misoginia do Talibã é o mesmo que afirmar que festejar a derrota de Trump significa se alegrar com a vitória dos democratas imperialistas e sua máquina de guerra. Com um pouco de esforço dá para entender que é possível desprezar tanto o imperialismo quanto o Talibã, mas acreditar que um precisa ser derrotado primeiro, até por ser a principal causa do outro.

Da mesma forma dá para combater Trump e Biden, por que são diferentes apenas em nível interno, mas iguais no seu pendor imperialista.

O biscoitismo – em especial partindo de figuras públicas da Academia na capital brasileira – é um cacoete terrível de intelectuais que se aventuram nas redes sociais. É preciso agradar em primeiro lugar ao seu eleitorado, e só depois fazer algumas concessões à realidade. O salário são os “likes” e os elogios rasgados ao seu idealismo que não suporta 10 minutos de mergulho da verdade dos fatos.

Quem, entre as pessoas horrorizadas com a entrada do Talibã – um grupo de reacionários e fascistas de direita muito parecidos com os bolsonaristas no Brasil – lembrou das 500 crianças mortas pelos bombardeios americanos SÓ ESSE ANO? Por acaso dá para comparar a PORCARIA REACIONÁRIA do Talibã com 500 crianças explodidas pelas bombas imperialistas?

Qual a dificuldade de entender que a entrada dos Talibãs e a expulsão dos americanos é um mal menor diante do DESASTRE GENOCIDA do Império em qualquer lugar do mundo????

Em suma, ressaltar a importância da derrota do Império não é o mesmo que passar pano para os abusos do Talibã, mas reconhecer que só com o fim do imperialismo a cultura misógina do Talibã poderá ser atacada. Assim como no século XIX, o colonialismo eurocêntrico não é a resposta, pois com ele vem abusos, mortes e torturas – em especial com os mais frágeis, as mulheres e as crianças.

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Talibãs e as mulheres

Acho curiosa essa manifestação de condenação à retomada do Afeganistão pelas tropas talibãs, especialmente quando a gente sabe que morreram MUITO mais mulheres e crianças pela invasão americana do que pela ação dos talibãs durante toda a sua história…

Tortura pelas tropas americanas na prisão iraquiana de Abu Ghrabi

“Pobres afegãs”, dizem agora aqueles que analisam o fenômeno no conforto de suas casas há milhares de quilômetros de distância das atrocidades da guerra, como se as tropas americanas não tivessem alta tecnologia em subjugar através de estupro e tortura, inclusive de mulheres e crianças. Acaso esquecemos tão facilmente assim Mi Lay e mais recentemente Abu Ghraib? Acaso será necessário aguardar mais um documentário horroroso da ocupação do Afeganistão para – DE NOVO – comprovar as atrocidades americanas cometidas contra os “povos inferiores”, cucarachas e moreninhos?

Proponho então um exercício simples… (baseado em antigas conversas com minha mãe, uma gringófila confessa)

Imaginem que os Estados Unidos invadiram o Brasil. Mataram nossos soldados, destruíram o exército, expulsaram o presidente, desembarcam milhares de soldados, controlaram as TVs e a Internet (ops, isso já fazem) e tomaram as ruas com seus marines, canhões e tanques.

No dia seguinte à vitória o “Comandante em Chefe” do Governo de Ocupação entra em cadeia de rádio, TV e Internet e explica para o país que a invasão se deu em função da destruição da Amazônia, as fraudes nas eleições e um genocídio em curso. Claro, prometendo proteger as mulheres, a fauna, a flora e as minorias. A tomada do poder se deu como recuso heroico para restabelecer valores democráticos e salvar a floresta. Era, afinal, uma intervenção humanitária para auxiliar os brasileiros e, porque não, ajudar o mundo.

Uma combatente americana posa ao lado de um iraquiano carbonizado pelas armas de guerra imperialistas

Depois disso, como aconteceu na Líbia, no Iraque, na Síria – e aconteceria na Venezuela – empresas americanas iniciam prospecção e retirada de petróleo do pré-sal, ferro, ouro, bauxita, madeira, soja e até o famoso nióbio. Agem como se aqui fosse o seu quintal, brincando de desenterrar tesouros escondidos. Todavia cumprem a promessa de cuidar da Amazônia; ou pelo menos assim o dizem, pois como controlam a imprensa não informam nada que nos faria vê-los de forma negativa. De tudo fazem para mostrar que só praticam o bem para todo o mundo e que os antigos donos do país eram cruéis e covardes, os verdadeiros assassinos e genocidas. Possuem em suas mãos a mais potente de todas as armas da guerra híbrida: o controle da informação e da propaganda, a ponto de transformar verdades em mentiras, fracassos retumbantes em vitórias gloriosas – e vice-versa, se assim for conveniente.

Um soldado americano se diverte com o horror de um prisioneiro no Iraque.

Pergunto: qual o preço que se suporta pagar pela liberdade e pela autonomia? E se o povo brasileiro decidisse que a eliminação da extrema direita era tarefa nossa, de acordo com nossas propostas e nossos valores, e não pelas escolhas de invasores estrangeiros? E se o projeto de expulsão dos bandoleiros americanos – assassinos cruéis como em toda parte do mundo onde estiveram – fosse liderada pelas milícias bolsonaristas, deveríamos saudar ou lamentar nossa libertação? Seríamos a favor da manutenção da ocupação genocida e exploradora dos nossos recursos ou marcharíamos ao lado dos milicianos?

Então imagine-se agora no Afeganistão….

Mulheres e crianças sendo abusadas pelas tropas americanas no Vietnã

Nesta foto ao lado pode-se perceber a angústia das mulheres sob o controle das tropas americanas em Mi Lay, e o exército americano atuando em “favor das mulheres”, da sua liberdade, de sua autonomia, etc. Melhor nem contar o que existe por trás dessa imagem. Sério…. eu fico enlouquecido de ver as pessoas diminuindo – ou relativizando – a importância da luta contra o imperialismo. E se o Talibã não tinha no horizonte a luta anti-imperialista (o que é uma afirmação cheia de preconceito com as lutas alheias, pois pressupõe que só as nossas lutas tem valor, as dos outros são interesseiras) o resultado objetivo é a DERROTA do império, e isso é, por si só, uma vitória para a autonomia dos povos.

Não é por outra razão que Venezuela e Cuba, que se ergueram contra o Império americano, são alvo de boicotes, ameaças, agressões e tantas outras violências. Se houvesse tanta ardor feminista estariam todos agora lamentando o salafismo da Arábia Saudita, APOIADO pelos gringos, ao invés de atacar uma luta de liberdade que já dura 20 anos e MATOU milhares de mulheres em sua esteira de exploração e destruição.

E posso acrescentar: eu DETESTO a perspectiva de mundo talibã. Odeio profundamente o machismo e a colocação das mulheres em um patamar social inferior, mas não posso aceitar que a solução para isso seja reviver o colonialismo. Quem sabe, então, voltamos de novo para a África para catequizar aqueles “machistas e ignorantes”?

Não tenho nenhuma resistência ao feminismo, que apoio, e reconheço o risco de retrocessos, em especial no que diz respeito aos direitos das mulheres. Porém, sou contrário aos identitarismos, o que é bem diferente. A crítica ao Talibã – que eu mesmo faço de forma incansável – não me impede de ver que a derrocada do imperialismo é um processo MUITO MAIS IMPORTANTE do que a simples proteção do estudo das meninas afegãs, ou do uso de burcas, até porque uma menina ter a oportunidade (ou a garantia) de frequentar a escola depois de ver seus pais mortos pelas bombas americanas não vai aumentar sua qualidade de aprendizado.

Defender a revolução talibã não significa aceitar seus pressupostos, mas também digo o mesmo em relação às revoluções anticoloniais da Argélia, do Congo, de Angola, de Moçambique e do Vietnã. Nem mesmo da Índia colonial ou da China sob o tacão britânico. Entretanto, a luta contra o IMPERIALISMO está acima dos valores de grupos específicos, por mais que estes valores me sejam caros.

Não esqueçam do “pinkwashing” que Isr*el usa para criticar a pretensa homofobia dos palestinos, como se isso pudesse justificar a ocupação da Palestina. A comparação com a Arábia Saudita é perfeita. Lamentamos a ascensão dos Talibãs mas sacudimos os ombros para a dominação dos salafitas sobre as mulheres sauditas. Por que nunca ouço lamentos sobre isso????

Não acho justo que ocorra uma comemoração para a volta do Talibã, mas pela queda do Império, e de onde veio sua derrocada é algo menos importante – apesar de ser essencial manter a crítica à forma como os Talibãs encaram o feminino, assim como fiscalizar os acordos assinados que garantem uma postura respeitosa com as mulheres.

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Imperialismo na TV

Faço parte de um grupo no Facebook que se reuniu para conversar sobre séries antigas de TV. As informações, fotos de bastidores, imagens originais, história dos atores, cenários são sempre muito interessantes e nos fazem viajar um pouco para nossa época de infância e entrada na adolescência. É sempre bom reviver o passado compartilhando com as pessoas da nossa geração as emoções que tivemos com a nascente TV no Brasil

É evidente que um resultado natural seria o “saudosismo” que, ao contrário da saudade – que nos lembra de momentos felizes do passado – produz uma exaltação acrítica e fantasiosa dos acontecimentos, como uma fábula onde escondemos os aspectos ruins e colocamos um holofote irreal sobre aqueles fatos e contextos que gostamos. Em verdade, as lembranças da infância trazem sempre essa marca de irrealidade: somos programados para esquecer as coisas ruins e ressaltar as boas, e só por isso continuamos a crer que a “infância é a fase mais linda da vida”. Nada poderia estar mais longe da verdade.

A ideia que mais aparece nos debates é de que nos anos 60 e 70 a TV não tinha a crueldade, a malícia e a “pornografia” de hoje. Tudo era muito mais puro, e as famílias podiam assistir os programas sem temor de constrangimentos. Não havia drogas, adultérios, sexo desvairado, promiscuidade e muito menos a atual “campanha contra a família e os costumes”.

Família Robinson e Dr. Zachary Smith

Por certo que a TV era mais comedida nesses temas (vivemos boa parte da infância sob uma ditadura militar), mas a verdadeira pornografia se fazia presente de forma insidiosa e dissimulada: ela vinha através da padronização da mentalidade ocidental. Era a época de consolidação da hegemonia do Império Americano. Para alcançar essa hegemonia estética Hollywood foi uma das mais importantes ferramentas. As séries que eu mais gostava na infância eram do genial produtor Irwin Allen. Foi dele a ideia desses três grandes sucessos: “Perdidos no Espaço“, “Viagem ao Fundo do Mar” e “Terra de Gigantes“. A primeira versava sobre a conquista do espaço, que estava no seu auge com a disputa entre americanos e soviéticos. A segunda tratava dos mistérios do mar e o último sobre o encontro de navegantes perdidos com uma civilização de alienígenas gigantes.

Almirante Nelson e Capitão Crane

Minha perspectiva é que o fio de conexão entre elas é o imperialismo americano que, se não nasceu no pós guerra, teve ali seu grande impulso por ser a América o único parque industrial intocado – toda a Europa e a Ásia se encontravam destruídas – e ainda aquecido pelo esforço de guerra. Todas estas séries descrevem o encontro da civilização cristã, branca e ocidental com o estranho, o diferente, o alienígena. Assim como o expansionismo americano através do Império, esse encontro sempre gerava conflito e disputa, mas sempre terminava com a vitória moral do Ocidente, seja pela família Robinson e a Júpiter II num planeta inóspito e desértico, com o submarino SeaView e sua tripulação corajosa ou com o grupo de americanos perdidos em um planeta distante cercados por gigantes ameaçadores.

Equipe completa de Terra de Gigantes

A mensagem onipresente era sempre a da conversão. Como jesuítas modernos, eles levavam a palavra do capitalismo e do Império para outros planetas e civilizações, assim como também para as profundezas do mar, com suas criaturas exóticas e indômitas. A moral que emergia dessas histórias era a da resistência aos ataques de fora na tarefa de entregar a “boa nova”, o evangelho capitalista e, a superioridade moral do ocidente aos “selvagens”.

Todas essas séries podem ser ligadas ao grande filme de ficção científica dos anos 50: “O dia em que a Terra parou” (1951). Nesse filme os alienígenas é que assumem a postura imperialista, ameaçando os homens do nosso planeta. Em sua palavras afirmam que, caso não se comportem, serão destruídos. Por esta razão, o alienígena Klaatu é mostrado como um homem branco, ocidental, justo, sábio e nobre, enquanto os terráqueos são mostrados como indiferentes, egoístas e brutos. Nada descreveria melhor o imperialismo americano e sua busca de hegemonia através da aceitação pacífica por parte dos conquistados dos valores cristãos ocidentais, em lugares tão díspares quanto Japão, a Alemanha derrotada, Brasil, Oriente Médio e Coreia.

O discurso final de Klaatu, para uma plateia de terráqueos impassíveis, é uma pérola do discurso Imperialista, a “Pax Americana”. Lá estão o viajante interplanetário prateado, a plateia de boca aberta escutando sua sabedoria e até o cientista que imita descaradamente a figura de Albert Einstein. Sua palavras foram:

“O resultado é que nós vivemos em paz, sem armas ou exércitos,
seguros por saber que nós somos livres de agressão e guerra,
livres para buscar mais negócios lucrativos.
Não pensamos ter atingido a perfeição,

mas nós temos um sistema, e ele funciona.

Eu vim aqui para lhe dar esses fatos.
Não é de nossa conta como vocês dirigem seu planeta,
entretanto, caso vocês ameacem estender sua violência,
essa sua Terra será reduzida a cinzas.

Sua escolha é simples. Junte-se a nós e vivam em paz,
ou persistam no seu caminho atual e irão encontrar sua total aniquilação.
Estamos esperando sua resposta. A decisão está em suas mãos.”
(os grifos são meus)

Nada poderia ser mais ameaçador e mais terrível do que um alienígena com poder inimaginável dizendo o que podemos ou não fazer, e isso com a nobre desculpa de estarmos “protegendo o universo da ameaça que vocês representam”. E nada descreve melhor o imperialismo americano em todo o planeta do que a ameaça do belo, magro e branco alien, cheio de belas palavras e propósitos.

Não faço críticas anacrônicas destas obras. Elas eram espetaculares e divertidas para a época em que nós as assistimos. Creio apenas que é possível lembrar com saudade dos Shows de TV de outrora sem desconsiderar os seus sentidos mais profundos e sua impregnação cultural, usada como veículo de uma mensagem mais profunda. É absolutamente compatível uma leitura mais superficial que exalta a aventura, a tensão, o suspense e a “vitória do bem” e ao mesmo tempo reconhecer o ideário imperialista que pode ser visto como um subtexto que permeia todas estas produções dos anos 60 em diante.

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