Arquivo do mês: agosto 2017

Activism

“The same kind of argument (that the activism for normal and physiologic birth is dangerous) is used against every social movement, like ecology, anti-racism, muslims, refugees etc. Why not attack the birth movement as well? The strategy is to use focal problems and to generalize, creating the idea that protecting gays, pregnant women, refugees, children and workers, in fact, hides a “terrible problem”, since activists are “fanatics” and “irresponsible human beings”.

Indeed, that’s what we should always expect when we witness the slow death the old paradigms.”

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Poder e Evidências

O Poder vale mais do que as evidências.

Esta visão do processo fisiológico do parto vai perdurar enquanto o parto for classificado pelos homens, e a partir de suas perspectivas. Mas quando vejo este tipo de protocolo eu lembro que eu me insurgia contra esta imposição há 30 anos, e eu já fazia isso baseado nas evidências da época, e não em visões românticas ou pessoais.

O que mais me impressiona é que passadas três décadas de profundas revoluções, em especial no terreno da disseminação de informação, ainda temos uma visão OFICIAL de parto, disseminada em serviços universitários, que já era velha há 30 anos.

O que acontece com os donos do parto, que se negam a ver as mudanças na própria ciência e mantém uma visão depreciativa da mulher e suas capacidades? Trinta anos se passaram e o mesmo modelo se mantém.

Em verdade o que se expressa nesse papel são os últimos suspiros do patriarcado, uma forma de controlar a mulher cerceando sua liberdade e controlando um dos aspectos mais fundamentais da sua sexualidade.

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Conhece-te a ti mesmo

Desconfie muito de todo aquele que afirma conhecer-se a si mesmo. Acho pouco provável que este sujeito tenha realmente a capacidade de desvendar-se. Quem muito se conhece jamais percebe o limite do seu saber-se. Pelo contrário; afirma categoricamente que pouco sabe de si mesmo, o que é absolutamente correto e justo, diante do gigantismo de um sujeito e os mistérios que guarda escondidos. Um sujeito que pensa se conhecer é como um peixe que, nascido em um aquário, de lá mesmo exclama: “não há nada no mundo que seja para mim desconhecido”. O (seu) mundo vai muito além dos limites que parece ter….

Jenny Higgins “The day Before Tomorrow”, Ed Caterpillar, pág 135

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O Discurso da Direita

Vejo duas características sobressaindo no discurso de direita, em especial naqueles mais “exaltados” ou cuja revolta os faz pensar em “intervenções”. Em primeiro lugar a ideia do gestor “apolítico”, o empresário sem filiação partidária (ou cujo nome seja maior que o do partido), o cara tão rico que nao precise roubar (minha fantasia predileta) e o sujeito acima das “divisões” ideológicas para assim insinuar figuras grotescas que adentram a coisa pública, como Dória, Berlusconi, Silvio Santos, Huck ou mesmo Bolsonaro (que é político, mas que em 26 anos nada fez além de esbravejar e disseminar ofensas). A via da administração “sem ideologia” – a exemplo da “escola sem partido” – é uma tentativa de consagrar a visão conservadora como a visão “correta” da sociedade, contra a qual se insurgem as outras, que desestabilizam a “ordem natural das coisas“.

A segunda característica é a fantasia de políticos impolutos e honestos eleitos por uma população que é famosa por dar “jeitinho” e em que a corrupção das pequenas coisas faz parte do seu cotidiano, sendo financiados por uma canalha empresarial escravagista, racista e elitista. Esse tipo de proposta nos leva ao cinismo e diretamente a um voto nas aparências. Quem mentir melhor, ganha. Falar de “franciscanos” no poder também me remete a um período em que a direita brasileira mais se identifica: a idade média. Fanáticos religiosos no poder, como o prefeito do Rio, é o mergulho mais certeiro na idade das trevas.

Essas propostas da direita se enquadram dentro de uma visão de combate à corrupção que é plantada na população toda vez que os partidos de esquerda obtém o poder e insinuam uma mudança nas classes sociais. Portanto, nada mais são do que cortinas de fumaça para afastar a todos da luta verdadeira: a justiça social e o combate à iniquidade.

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Nascer em Paz

“O nascimento em paz é uma força capaz de galvanizar energias transformadoras e produzir reverberações que atravessam gerações. Hoje já temos uma grande legião de pequenos que tiveram a oportunidade de vivenciar partos mais suaves e dignos e cuja vivência fará a diferença no futuro. Muito bom saber que existem obstetras, parteiras, doulas, pediatras e demais profissionais que conseguiram entender a amplitude e o significado dos primeiros instantes e dos primeiros anos para muito além da saúde física e do “silêncio dos órgãos”.

A estas pessoas – que ousaram olhar o parto com cuidado e delicadeza, rompendo a fronteira do “cuidado com as doenças” e olhando para cada gesto e cada palavra com responsabilidade – o meu profundo agradecimento. Estes profissionais estão ajudando na construção de uma nova humanidade, cujo imprint inicial será o do amor e do afeto, e não mais o da violência e do abandono.”

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Medicina Defensiva

A chamada “Medicina defensiva” não é necessariamente uma atitude antiética, mas, dependendo da situação (quando a autodefesa se sobrepõe ao cuidado) pode vir a ser. Fazer uma cesariana por ser mais segura para o médico, arriscando o bem estar de mães e bebês, é um exemplo clássico e fácil de entender. Medicina defensiva é apenas a doença da Medicina, uma forma de relação terapêutica em que cuidador e paciente não se conectam, não confiam um no outro, não se relacionam no nível pessoal – apenas técnico – e tem medo recíproco.

Essa relação é assentada sobre a desconfiança mútua, regida pelo signo do medo e fomentada pela indústria da judicialização. Diante da deterioração de uma relação tão antiga quanto a própria humanidade, e que deveria se fundar pela confiança e pelo afeto entre cuidadores e pacientes, não é de se admirar que ambos tentem se defender de possíveis agressões assumindo uma posição acuada, amedrontada e defensiva.

Ingrid Levine, “From Healer to Hell”, Ed Printemps, pág. 135

Ingrid Levine é um médico epidemiologista canadense, nascido em Ottawa em 1945. Escreve sobre relação médico-paciente, epidemiologia, saúde da mulher, medicina quaternária,

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A América vestiu-se de Azul

Hoje completam 33 anos em que a América foi pintada de azul. Eu fui testemunha. Assisti o jogo ao lado do meu primo Cesar Blumm. Os ingressos já se haviam esgotado há semanas mas entrei no estádio de uma maneira insólita e impensável nos dia de hoje. Desesperado para assistir o jogo resolvi dar a última cartada possível, apenas uma hora antes da bola rolar. Com a cara de pau que Deus me deu bati no portão de ferro da entrada de serviço da social do estádio Olímpico e avisei ao porteiro que eu era o médico escalado para o plantão do estádio.

Na época eu tinha 23 anos e cara de 18. O porteiro – um senhor de idade – a princípio ficou confuso, mas deixou que eu entrasse por medo de alguma represália. Imagina se ocorre um acidente e ele impediu o médico de entrar? Ao lado do portão de ferro ficava o posto de emergência. Entrei ali para disfarçar e, quando o médico “de verdade” me perguntou o que eu queria, pedi para verificarem a minha pressão. 120 x 90. Aguardei uns minutos e saí de fininho, para o porteiro não se dar conta da minha malandragem

Depois de um tempo procurando na multidão que se aglomerava encontrei meu primo e assistimos o jogo quase sem respirar. Pela primeira vez um time do Rio Grande do Sul conquistava a Taca Libertadores, mas o fez ganhando do campeão da América e do mundo da época. Seria como vencer uma Libertadores ganhando do Real Madri. Foi épico, um momento inesquecível. Um jogo de pura raça Charrua. Os dois maiores copeiros da América em campo, isso antes da triste decadência econômica do futebol uruguaio.

O jogo foi pauleira pura. Nada do que se viu naquela partida sobrevive nos dias de hoje. Carrinho por cima da bola, sopapos, jogador sangrando em campo, repórter entrevistando o goleiro no tiro de meta, Renato Gaúcho debochando do adversário ao ser expulso mostrando nos dedos o placar do jogo. Tita e De Leon banhados em sangue. Torcida pulando o fosso e invadindo o gramado para comemorar. Nunca mais, nunca mais…

O futebol contemporâneo, civilizado mas asséptico, perdeu a efervescência testosterônica dos gramados. Trocamos gladiadores por barbies milionárias e sem amor pelos clubes que defendem. As arenas modernas aviltam a paixão do torcedor tanto quanto os salários estratosféricos agridem a pureza bravia do futebol. Esse dia de glória para o futebol poderei contar aos meus bisnetos. Sim, há mais de 3 décadas vovô Ric estava presente quando o pavilhão tricolor subiu mais alto entre todos aqueles da América de Simon Bolívar.

https://www.facebook.com/gremio.democratico/videos/1144739005571668

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Os Gurus

Uma verdade que aprendi muito cedo, mas a duras penas: a mão que afaga é a mesma que apedreja, do famoso poema de Augusto dos Anjos. Todo aquele que oferecer o seu amor cobrará uma contrapartida, e caso esta não seja devidamente paga, torna-se inevitável a emergência do ódio e do ranger de dentes.

Sim…. é uma espécie de amor. É o amor do fã, do torcedor e do admirador pelo seu ídolo. É o amor do sujeito que grita “goze por mim, já que eu sou tão pequeno“, e essa paixão terá sempre um (alto) preço. Quando ele não é plenamente correspondido – o que, por definição, nunca é – sobrevém o ressentimento e, muitas vezes, o ódio mortal.

Você não silencia quem lhe ama. Inegável o brilho nos olhos de quem escuta um afago no ego. Pelo contrário: embevecido pelo canto da sereia você ingenuamente acredita nos elogios e se julga merecedor de todos eles. “Todas essas pessoas não podem estar erradas“, pensa, sem se dar conta que existe uma piada sobre isso que envolve moscas e dejetos. O bloqueio só vem quando chega a conta a ser paga. Aí é que você percebe que vinha recebendo um salário de afetos sem ter sequer solicitado, mas que mesmo assim o usufruía. Aí é tarde para negociar as cláusulas; uma parte já foi paga, agora só resta aceitar a indignação do consumidor irritado.

A saída? Nunca aceite a posição de guru. Fuja da posição delicada de porta-voz dos desejos alheios na qual lhe colocam. Não aceite os elogios honrosos e exagerados que lhe fazem e, acima de tudo, “sê fiel a ti mesmo”, e não tenha medo de desagradar quem outrora tanto lhe amou. Cultive uma parcela fiel de inimigos: são eles que vão lhe avisar dos seus piores defeitos. Não ceda aos seus princípios por vaidade, dinheiro ou amor…. mas aprenda a adaptar os caminhos justos ao tamanho dos passos da jornada. Seja apenas você mesmo e pague o preço de ser o que é.

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Desimportância

Ninguém está suficientemente preparado para a desimportância. Entretanto, mais cedo ou mais tarde, ela chega. Na maioria das vezes ela aparece de forma insidiosa e silente. Entretanto, em outras vezes, a mudança é tão brusca que você dorme sendo necessário e desperta descartável, com a mesma surpresa de quando acorda e descobre que perdeu as meias no meio da madrugada.

Algumas pessoas, como as mulheres – cuja importância na vida de um filho significou durante milênios a diferença entre sua sobrevivência ou desaparição – sentem essa desimportância lenta e paulatina como uma dor aguda e angustiante, à medida em que os filhos ganham asas.

Preparar-se para deixar de ser necessário é uma das tarefas mais duras da vida. Calar-se para que as vozes novas sejam ouvidas é uma forma de se maturar para o desenlace inevitável. Resignar-se com o destino de todos diante da imensidão do universo é prova de sabedoria.

Rabindranat Gupta, “Saadhu Kee Talavaar” (A Espada do Monge), Ed Ganges, pág 135

Rabindranat Gupt nasceu em Hyderabad, na Índia, em 1929. Fez seus estudos iniciais em sua cidade até que se mudou para Bangalore por ocasião do processo de libertação da Índia, em 1947. Em Bangalore estudou direito e filosofia, e começou a trabalhar com as populações carentes de sua região oferecendo suporte legal para as demandas populares. Escreveu “A Espada do Monge” em 1970, e nesse livro descreve sua luta contra as autoridades governamentais em Bangalore para defender comunidades miseráveis do despejo “higiênico” determinado pela municipalidade. Morreu em 2002 de infarto em Delhi.

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Fantasia

No brilhante documentário “Pervert´s Guide to Cinema“, de Slavoj Zizec o excêntrico psicanalista e marxista esloveno pergunta: “por que afinal precisamos da ficção?“. Por qual razão nossa imaginação cria universos paralelos, conta histórias, relata fantasias e se refugia na literatura, no teatro e na última das artes, o cinema? Por que o desenvolvimento da nossa espécie não poderia se fixar na vida real, concreta, física, deixando de lado as complexas elaborações do simbólico?

A resposta talvez seja porque a ficção nos oferece um relaxamento para a crueza do real, assim como o sonho – a ficção subjetiva de cada noite – nos oferece uma forma de apaziguar as tensões da vida conflituosa que surge com o nascer de cada dia.

A fixação das crianças pelas histórias é algo impressionante. Mais do que apenas escutar as narrativas, elas as criam cotidianamente. No mundo em que vivem elas apenas esporadicamente visitam a realidade palpável, enquanto passam a maior parte do tempo imersas em suas fantasias. Para elas estas histórias são instrumentos que utilizam para dar conta da infinidade de decisões complexas que precisam tomar todos os dias. Mais do que o alívio para seus temores e medos, o mundo das fantasias é uma grande escola onde encontram as ferramentas para lidar com os monstros que enfrentam na dura tarefa de amadurecer.

– Mas, ela poderia se atirar do alto da torre, pois lá em baixo os ursos a segurariam. Como Sophia tem poderes, ela jogaria lá de baixo uma corda mágica e salvaria seus amigos. Pode ser vovô?

E por que não? Se assim o desejas, que assim se faça.

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