Arquivo do mês: dezembro 2020

Divergências

Tem uma tese que corre solta por aí que diz: “Quando eu era pequeno tomava todas as vacinas de boa e não perguntava o que tinha dentro e nem de onde vinham. Agora estamos todos metidos a cientistas de vacina”.

Bem, é certo que comportamentos paranoicos não ajudam a formular uma conduta sensata. Negar-se a usar um produto por puro preconceito com sua origem é quase sempre uma estupidez; deixar de usar algo baseando-se em memes ou fake news do WhatsApp também.

Porém, quando eu era pequeno, meu pai passava “Flit” pela casa para matar mosquitos e ninguém perguntava nada; todo mundo confiava nas empresas americanas que produziam esse veneno mortal. A gente tomava litros de anilina e glicose nos K-Sucos e achava apenas gostoso. A comida era cheia de aditivos e todo mundo comia de boa. A agricultura usava todos os tipos de defensivos tóxicos e todo mundo comprava sem perguntar nada. Quando uma nova indústria abria a gente comemorava, e nem ligava para a poluição. Quando o governo inaugurava uma estrada ninguém se importava com a destruição do meio ambiente; o mesmo com barragens e hidrelétricas. No tempo do meu pai matar passarinho era diversão.

Só os impertinentes reclamavam; só os inconvenientes escreviam textões em revistas que ninguém lia. Vozes diminutas…

As notícias da TV passavam pelo crivo de SEIS famílias, que controlavam TUDO que você poderia saber, e ninguém achava estranho. A gente comia embutidos, conservantes, saborizantes e muito açúcar e não havia muitas vozes para nos alertar dos perigos. A maioria iniciava o cigarro aos 14-15 anos como ritual de passagem, e poucas eram as vozes para alertar para o perigo do tabagismo. Na minha infância a gente dava leite de vaca para crianças pequenas e as tirava do peito, produzindo uma geração de sequelados que foram privados de leite (e afeto) materno, e ainda assim fazíamos concurso de beleza para bebês (obesos) tratados com fórmula artificial.

Só nos livramos dessas toxinas através de gente MUITO CHATA que apontava o dedo para os erros e para os equívocos e que chamavam a atenção para os desvios genocidas do nosso comportamento. Foi preciso escutar as vozes dissonantes para corrigir os erros e traçar novas rotas. Também foi necessário que milhões morressem para que a nossa indignação se transformasse em ação.

Não posso acreditar que abolir a consciência sobre os riscos do que ingerimos e injetamos possa ser errado. Criticar TUDO – inclusive as vacinas – é uma VIRTUDE do mundo contemporâneo. Por certo que muitos exageros vão ocorrer; é previsível que uma postura crítica possa descambar para a pensamentos persecutórios, “Nova Ordem”, “Illuminati”, paranoia “comunista”, “Globalistas”, “Ordem do Sião” e tanto mais; é o risco que temos que correr para disseminar o contraditório e encontrar soluções. Todavia, não é possível admitir que “pensar menos” sobre um tema e aceitar acriticamente determinações vindas de grandes corporações (também elas com seus interesses específicos) possa ser a saída para os dilemas que estamos agora enfrentando.

A única fórmula que reconhecidamente funciona para bloquear desinformação é produzir MAIS informação, isenta e de qualidade, e não criticando as divergências – naturais e benéficas – ou desacreditando sistematicamente tudo o que se contrapõe à narrativa hegemônica.

Não será obstaculizando a crítica que construiremos uma sociedade mais equilibrada e saudável.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Bombas de Tempo

Esta é uma história dos meus tempos de estudante.

Uma paciente chegou ao hospital com intensas dores abdominais. Vinha do interior trazida pelo marido e tinha entre 60-65 anos. O abdome era muito volumoso e reagia ao toque. Todo ele era timpânico e o som lembrava os atabaques africanos. “Tum, tum, tum”. Os exames de sangue estavam normais, mas o raio x foi definitivo: bolhas gasosas enormes por todo o intestino. Fechado o diagnóstico: obstrução intestinal aguda, por volvo (intussuscepcão) ou torção. O famoso “nó nas tripas”.

Foi levada com rapidez ao bloco cirúrgico onde foi preparada a sala para a cirurgia. Quando fui pintar sua enorme “pança” com solução degermante pude ver a longa cicatriz longitudinal que nascia acima do púbis, desviava do umbigo e se aproximava do osso externo. Por certo não era a primeira vez que ela enfrentava um bisturi, e rezei para que desta vez tivesse sucesso como das outras vezes.

Tão logo o cirurgião passou a lâmina do escalpelo abrindo o abdômen as alças intestinais pularam para fora, como balões de hélio de uma festa surpresa liberados de uma caixa. A tarefa agora era percorrer sua longa extensão até encontrar o ponto obstruído.

Era uma torção. No emaranhado das “tripas” havia inúmeros filamentos brancos entre cada volta do intestino, que faziam as suas paredes externas aderirem umas às outras, tornando a limpeza difícil e a investigação demorada.

Breubas“, falou o cirurgião. “Muitas breubas. Foi por isso que ela torceu esta alça“, disse ele mostrando o ponto exato em que o intestino estava colapsado.

Breuba” era o apelido dado às aderências internas do abdômen, relacionadas aos processos inflamatórios prévios e criadas pelo organismo como elementos de reparação. São as “cicatrizes internas”, filamentos de fibrose que se grudam nas alças do intestino dificultando a cirurgia.

Depois de desfeita a torção terminamos a cirurgia com sucesso. No dia seguinte fui visitar a nossa paciente no quarto e lhe perguntei qual a razão da cicatriz antiga que ela tinha no abdômen. Estava na ficha, mas eu não tinha acesso a ela.

– Ahn doutor, aquela é a cicatriz das cesarianas. Tive quatro delas há muitos anos na minha cidade. Os bebês ou estavam enforcados no cordão ou então a placenta estava muito velha. Nunca consegui ter filho de parto normal.

Sorri das velhas desculpas furadas para as cesarianas mas me chamaram a atenção as circunstâncias do caso. Aquela senhora chegou em mau estado ao hospital, na iminência de uma ruptura das alças intestinais. A causa dessa emergência foi um abdome cheio de cicatrizes internas fibróticas que prejudicavam o trânsito intestinal e produziram, por fim, uma torção quase fatal das alças. Na origem do seu quadro estavam antigas cirurgias provavelmente mal indicadas (a se crer no relato da senhora), feitas apenas por conveniência do cirurgião e por um genuíno desprezo pelo processo fisiológico de parir. Intervenções feitas há mais de três décadas – e sem real necessidade – foram as causadoras dessa emergência, que poderia ter custado a vida da paciente.

Muitas de nossas ações médicas tem efeitos em longo prazo. O dietilbestrol causa câncer de células claras de fundo vaginal em adolescentes cujas mães o utilizaram na gravidez; mais de 10 anos de distância separavam a causa do efeito. A ingestão de algumas drogas e muitos procedimentos são “bombas de tempo”, cujas manifestações ocorrem até décadas mais tarde. O mesmo se pode dizer dos eventos psíquicos que, surgidos na idade pré-verbal, produzem manifestações para além da vida adulta. Portanto, para afirmar que uma intervenção é segura não basta apenas sobreviver a ela pois suas repercussões podem levar muitos anos para serem percebidas, e muitas vezes sequer conseguimos reconhecer seu fino laço de causalidade.

Mas é certo que, caso a nossa intervenção não tivesse sucesso, ninguém teria coragem para colocar a verdade no atestado de óbito de uma sexagenária:

“Causa da morte: cesarianas.”

Deixe um comentário

Arquivado em Histórias Pessoais

Paulo, o Falsário

Esta é a ideia que eu faço de Paulo, como foi brilhantemente descrita em seu diálogo com Cristo no livro de Níkos Kazantzákis vertido para o cinema por Martin Scorcese – “A Última tentação de Cristo”. Em última análise, Paulo é a razão por sermos cristãos. Foi dele a genialidade de vender a mensagem crística para o Império. Ele foi o vendedor de uma obra cuja suprema genialidade estava na esperança para os pobres e os desvalidos, garantido a felicidade para o “outro mundo”, conforme expresso no “Sermão da Montanha”, a grande síntese da mensagem de Jesus.

Sim, ele por certo modificou a história daquele nazareno que tentou desafiar o Império Romano falando de judaísmo para judeus e pregando a liberdade de seu povo. Entretanto, é muito provável que as palavras do “Cristo real” jamais ultrapassassem as barreiras do Jordão ou do Mediterrâneo. Afinal, quem daria atenção a um Messias fracassado, incapaz de libertar seu povo do jugo romano – conforme determinavam as escrituras – e que morreu humilhado e sozinho, apoiado apenas por uma dúzia de fanáticos? Quem lhe daria ouvidos quando sua voz estava misturada àquela de 4 centenas de outros autoproclamados “Messias” que pereceram sob a espada de Roma?

Ora… talvez Paulo tenha visto o que os outros não viram, nem mesmo o Cristo. Paulo percebeu a profundeza e o sentido político das palavras expressas no Sermão feito no Monte das Oliveiras. Ele entendeu que o Império Romano se aproximava de seu ocaso e que os povos, um após o outro, precisariam de uma mensagem e, porque não, uma religião que os conduzisse em direção aos seus ideais libertários.

Paulo de Tarso foi ao coração do poder para vender sua mensagem aos pobres, aos coxos, aos desamparados e aos desvalidos, e por isso- e não pelo caráter revolucionário de Jesus se enfrentando com o poder local – sua mensagem ganhou o mundo e sobrevive entre nós até hoje. Se Paulo era um falsário, um arrogante, mentiroso e dissimulador não tenho como contestar. Entretanto, é forçoso reconhecer que é dele a responsabilidade pela existência do cristianismo.

Lembro por fim da frase espirituosa sobre o valor das obras: “Qualquer um de nós pinta um quadro de um milhão de dólares, mas é preciso ser um gênio para vendê-lo por esta quantia”.

Deixe um comentário

Arquivado em Religião

Liberais

Há alguns anos eu conversava com o pediatra e epidemiologista Marsden Wagner (já falecido) enquanto tomávamos café no intervalo de uma conferência. Mostrei a ele a manifestação de um professor da Faculdade de Medicina da minha cidade sobre parto humanizado, cheia de críticas vulgares e posturas sem embasamento.

– Um “liberal”, disse ele. Estes são sempre os mais perigosos.

Pedi que me explicasse o que queria dizer com isso.

– Vou descrevê-lo, mesmo sem tê-lo visto jamais. Ele é sério, educado, afirma que mudanças são necessárias, que os médicos realmente abusam das cesarianas, que é preciso melhorar o ensino de obstetrícia, que os médicos de hoje não querem mais atender partos, que a arte obstétrica está acabando e que os médicos atuais “atrofiaram” suas habilidades de atender partos pélvicos e gemelares. Ele se posiciona contra condutas baseadas em “autoridade” e cita com frequência estudos e metanálises, em especial a Biblioteca Cochrane.

– Exatamente, disse eu. Você o descreveu muito bem.

Marsden continuou.

– Eles são os liberais da medicina, Ric. Acreditam que é possível “ajustar” o modelo hegemônico, sem mudar sua essência opressiva. Acham que as falhas encontradas (como o abuso de cesarianas, violência obstétrica, etc) não são devidas a um paradigma equivocado, mas relacionadas ao mau uso do modelo atual. Por isso eles falam em melhorar o atendimento, mas não aceitam sua reformulação. Aposto como ele combate os 3 pontos nevrálgicos do modelo de parteria:

1- Atendimento por parteiras profissionais aos partos de risco habitual,
2- Casas de Parto e
3- Parto Domiciliar.


– Acertei?

– Sim, este é exatamente seu discurso. Sempre fez de tudo para boicotar o atendimento ao parto realizado pela enfermagem no hospital escola, além de combater todas as formas de parto extra-hospitalar.

– Eles são iguais no mundo todo, meu caro. São gentis, estudiosos, avançados e se diferenciam da “velha guarda” dos professores. Entretanto, acreditam que é possível mudar a assistência deixando as pacientes atreladas ao velho paradigma – que garante aos profissionais relevância e importância social – mantendo gestantes coisificadas, tratadas como objetos e não como sujeitos de seus partos. Para eles o protagonismo reservado ao médico é o limite. Avançar para além disso seria uma perda inaceitável de controle, além de um sério risco de ver desaparecer toda a respeitabilidade conquistada.

Lembrei disso hoje ao debater sobre os liberais de esquerda, aqueles que acreditam na possibilidade de “domesticar o capitalismo”, humanizando-o e eliminando seus “exageros”, sem reconhecer que é da essência do capitalismo a divisão em classes e a exploração de uma pela outra.

O mesmo ocorre com os liberais da atenção ao parto e nascimento, os quais acreditam ser possível produzir avanços e melhorias mantendo a mesma lógica da assistência, a mesma hierarquia rígida e o mesmo sistema de poderes centrado no médico. Todavia, sem a garantia do protagonismo à mulher conquistaremos apenas a “sofisticação” da tutela sobre elas exercida há milênios pelo patriarcado. A verdadeira mudança profunda será possível com esta garantia e o entendimento que o nascimento só poderá ser verdadeiramente seguro se for com autonomia e em liberdade.

Deixe um comentário

Arquivado em Histórias Pessoais

Bolhas

Cena 1: Meu avô morreu aos 94 anos na casa do meu pai. Estava cansado e tinha problemas respiratórios crônicos. Morreu de gripe. Acordou pela manhã e avisou o meu pai que era seu último dia. Distribuiu seus pertences – entre verdadeiros e imaginários – para os filhos e netos. No meio da tarde, e com muita dificuldade respiratória, chamou meu pai e disse “Deu…”. Fechou os olhos, expirou pela última vez e foi encontrar minha avó no outro plano.

Até pouco antes de morrer mantinha o hábito de tomar whisky “on the rocks” todas as tardes. Um dia uma parente notou o copo servido ao seu lado e tentou retirá-lo discretamente. Quando viu, meu avô puxou o copo para si e disse “não mexa no meu scotch!!”, ao que ela falou “não faz bem para você tomar isso todos os dias”. Ele respondeu com aquela cara vermelha e mau humorada dos ingleses: “Tenho mais de 90 anos e vou partir em breve. Deixe-me ao menos morrer feliz”.

Cena 2: Trabalhei muitos anos com pacientes renais em uma clínica de diálise. Os pacientes tinham dietas severas, com ausência quase total de sal, o que torna a comida sem sabor algum. Havia entre eles um garoto de 20 anos que morava na periferia da minha cidade. Era dependente químico, tinha um bebê recém nascido e os rins destruídos. Sobrevivia pela hemodiálise que fazia duas vezes por semana. Mais de uma vez fui buscá-lo no banheiro onde se escondia para comer pó de K-Suco. Uma segunda-feira sua esposa ligou para a clínica dizendo que ele não viria fazer a diálise. Montou uma festa em casa no fim de semana onde bebeu, comeu de tudo e avisou que seria seu último dia de vida. Disse “não quero mais viver uma vida sem gosto”. Morreu no domingo à noite.

Cena 3: o Garoto da Bolha, filme com John Travolta e baseado em fatos reais. Ausência de funcionalidade do sistema imunológico, o que o obrigava a viver dentro de uma bolha. O filme inteiro é sobre a vida insuportável e solitária do garoto, preso em seu mundo de plástico. A cena final do filme é sua fuga da bolha e o contato com o mundo de verdade.

Essas histórias me vem à memória quando acusam de irresponsáveis (com razão) as pessoas que resolvem fazer festa, abraçar, beijar, transar, ir à praia e fazer compras. Talvez o pensamento simplista delas seja “de que vale a vida sem poder vivê-la de verdade?”.

Para mim é fácil apontar o dedo para essa gente, já que tenho os genes da fobia social e vou passar o resto da minha vida isolado e solitário, mas o que dizer das “pessoas das pessoas”, os extrovertidos, os amorosos, os carentes e os amantes? É justo acusá-los de exigirem o direito de viver uma vida feliz, ao lado de quem amam?

Sim, eu sei. A pandemia, o afastamento, o vírus, a segurança dos OUTROS e não apenas a sua, etc. Tudo isso é verdade é não há como discordar. Eu apenas acho errado condenar ao inferno as pessoas que se rebelam contra uma vida infeliz e encarcerada. Se podemos condenar as atitudes que negligenciam a epidemia também acho que é justo entender quem apenas sonha com uma vida miseravelmente normal.

1 comentário

Arquivado em Histórias Pessoais, Pensamentos

Dom Quixote

Acho que, no lado das esquerdas, serei sempre visto como um Dom Quixote por não me furtar de fazer duros questionamentos à Big Pharma. Todavia, hoje em dia parece obrigatório ao campo democrático e progressista vestir a camiseta das vacinas, e qualquer crítica mais séria sobre este tema é vista como uma “traição”.

Tudo isso porque o tema “vacinas” se tornou um tabu alicerçado no desespero das pessoas diante do inimigo invisível – mas com resultados dramáticos e visíveis. Com isso se permitem inúmeros deslizes éticos (vide fundação Gates em África) com a desculpa de que os fins (salvar a humanidade) justificam os meios (abusos, coerções, danos irreversíveis, mortes, etc).

Pior…. tudo isso ocorre sob o rótulo de “Ciência”, como se a ciência fosse uma entidade mítica e monolítica, e não uma medusa com milhares de cabeças, cada uma delas com suas pesquisas conflitantes e contraditórias. E isso que não estamos citando a corrupção evidente na ciência inserida no capitalismo, que faz com que o pesquisador Peter Gotzsche (Fundador da Cochrane Library) não tenha pruridos para chamar a indústria farmacêutica de “Máfia” e Márcia Angel (editora durante duas décadas do New England Journal of Medicine) se permita dizer que é impossível acreditar em estudos e pesquisas contemporâneas.

Mas… questionar – a ética, os custos, a segurança, a aplicabilidade, a eficácia, etc – das vacinas ainda é tratado como bolsonarismo e terraplanismo. Na verdade esta postura não passa da aplicação de um dos princípios mais importantes da ciência: o saudável ceticismo. Aliás, o mesmo que nos fez desconfiar da Cloroquina como “bala de prata” e panaceia universal.

Deixe um comentário

Arquivado em Ativismo, Medicina

Tonto

Todos os posts

“A esquerda tem dessas coisas… para proteger uma mulher que sofreu abuso não se esquiva de fazer ataques ao homem negro que o cometeu, no limite tênue que separa a justa indignação do racismo deslavado. Muitos no afã de defender a “ciência” contra o obscurantismo também não se importam de se aliar às corporações mais violentas e mafiosas do mundo capitalista, como as farmacêuticas, para se distanciarem do irracionalismo anticientífico e paranoico. Quem quer pensar com a própria cabeça acaba ficando tonto…”

Deixe um comentário

Arquivado em Medicina, Política

Academias

Nunca me interessei pela vida acadêmica apesar do profundo respeito que tenho por esta forma de produção de conhecimento e pela disputa de ideias que se estimula no ambiente universitário. Entretanto, sempre considerei curiosa a maneira como algumas pessoas deste mundo defendem a forma como “deveriam” ser chamadas. Hoje em dia quando chamam um médico (ou um advogado) de “doutor” (pela tradição) isso passa a ser visto como uma contravenção. “Como ousam usar este nome que só a nós pertence?”

Parece justo, mas funciona muito mais como sintoma do que como um reconhecimento honorífico. Os títulos falam de um processo de formação, mas não garantem a qualidade de uma assertiva. Galilei Galilei abandonou os estudos de medicina para dar aulas. Descartes formou-se em Direito e nunca exerceu a advocacia – seus trabalhos mais brilhantes os fez enquanto militar, Entre 1619 e 1620, em uma cidade próxima de Ulm ou Neuberg, no Danúbio, é onde provavelmente teve a intuição da Geometria Analítica e de um novo método para a organização de uma filosofia. Nietzsche publicou suas principais obras após abandonar a universidade. Charles Darwin também desistiu da medicina e, como Nietzsche, desejava seguir a carreira eclesiástica. Assim como Freud e os demais, nunca se interessou pela vida Acadêmica.

Digo isso apenas para afirmar que a exaltação exagerada dessas conquistas acadêmicas – apesar de valorosas e significativas – por vezes escondem uma autoestima frágil. Quando os valores de uma proposta se estabelecem mais na forma e menos no conteúdo isso significa que há falhas evidentes neste, o que explica a inflação daquela.

“Ninguém é rico pelas vestes que usa nem pobre pelos farrapos que põe sobre o corpo. A riqueza e a pobreza estão na honestidade com a qual se cobrem e no egoísmo do qual se despem”. (Isófanes de Pérgamo)

______________________________________

“So I’m going to go on record of having both not liked the title “dr” and not having used it for years.

Its a degree. No one calls anyone Bachelor Sandy or Masters Emma. Or plumbers of 25 years of experience Plumber John. So why does graduation with any other degree entitle you other than an inappropriate power model? It is not a sign of respect or those other people would also have titles of respect for their calling. Midwives of 35+ yrs of study and practice are not less deserving of respect than ones who graduated this year. And on and on.

Its outdated, archaic, and a holdover from a bygone era.

I didn’t read the OpEd but I’m tired of seeing the “sign of respect” nonsense online.”

Written by Shannon Mitchel

Deixe um comentário

Arquivado em Ficção, Pensamentos

CPFs “cancelados”

Nada me fará pensar diferente: uma sociedade está muito doente quando celebramos a morte de quem quer que seja.

Eu entendo a indignação com os assaltantes e outros criminosos. Ninguém é obrigado a ficar impassível diante da violência. Entretanto, a solução NUNCA será o extermínio simples. Para cada criminoso morto outros mais surgem para ocupar essa vaga. A sociedade não fica mais segura apenas porque matamos estas pessoas. Vivemos em uma sociedade que PRODUZ criminosos de forma industrial por causa de um modelo econômico excludente e cruel. Matar gente, usando uma lógica higienista, não produz benefício algum.

Isso explica porque um país rico e excludente como os Estados Unidos têm mais de 2 milhões de pessoas presas enquanto a Suécia – inclusiva e igualitária – está fechando suas prisões por falta de demanda. Isso também fica óbvio ao vermos que a aceleração do encarceramento promovida nos últimos governos não foi capaz de diminuir a criminalidade e nem a sensação de insegurança.

Criar um estado policial – mortal e matador – só piora a indignação e o ressentimento dos excluídos. E não esqueça… quem morre é SEMPRE o pessoal preto e pobre das vilas e periferias, e nunca o branco criminoso de sapatênis dos bairros ricos.

Nosso sistema jurídico faz parte desse apartheid social que criminaliza e extermina os pobres

1 comentário

Arquivado em Pensamentos

Vitamina poderosa

Acordei esta manhã ainda com o som da piada que Zeza me contou no sonho. Ela estava na cozinha preparando uma “batida” com várias frutas e ervas quando me aproximei e perguntei para o que servia.

– Essa é a mais poderosa mistura desintoxicante que existe para o organismo feminino, mas tão forte que só pode tomar duas doses. A primeira limpa todas as impurezas do intestino. A segunda – e última – limpa os resíduos tóxicos do fígado e dos rins.

– E o que acontece se tomar mais uma?

Ela se aproximou de mim e sussurrou:

– Não pode, é muito forte. Se tomar a terceira dose o marido vai embora.

Eu me auto trolei em sonho. Pode?

Deixe um comentário

Arquivado em Histórias Pessoais