A chuva de fake News não para…. mas isso sinaliza o pânico das hostes bolsonaristas. Sabe o que é isso? Quando não há argumentos para atacar alguém a gente cria um espantalho, um inimigo falso, fajuto, fantasioso, criado à nossa própria semelhança, para que possa ser atacado com mais facilidade. Na falta de algo concreto para atacar sua honra e religiosidade, vamos inventar um Lula o mais parecido possível com… o próprio Bolsonaro.
Respondam: foi o Lula que planejou comer carne humana? Foi o Lula que admitiu zoofilia? Foi o Lula que tinha “apartamento pra comer gente”? Foi o Lula que assumir ter determinado à esposa abortar o 04 – Renan Gamer lobista? Foi o Lula que mediu negros em arrobas? Foi o Lula que disse que precisavam matar 30 mil – inocentes, inclusive? Foi Lula que declarou “sonegar tudo que pode”? Foi o Lula que disse preferir um filho morto a um filho gay? Foi o Lula que disse que espancar criança – dar um couro – conserta sua orientação sexual? Foi o Lula que disse que seus filhos eram educados e não namorariam uma negra? Foi o Lula que chamou a própria filha de “fraquejada”?
Foi o ex-presidente Lula quem comprou 107 imóveis, 51 deles em dinheiro vivo?
E vocês acham Bolsonaro …. cristão????
A gente não precisa espantalho; basta mostrar o que o próprio Bolsonaro declara.
Clark Gable e Vivien Leigh em “Gone with the Wind”….
Passei os últimos 27 anos viajando para o Centro do Império, em especial para o Texas, e sempre admirei muito a fabulosa máquina de propaganda que hipnotiza os americanos, tornando-os os cidadãos mais controlados e manipulados do mundo. Entretanto, percebi também que as pessoas de lá são iguais a todas as outras de qualquer lugar do mundo – quando observamos sua essência e os sentimentos que a todos nós pertencem.
Todavia, a capacidade de transformar seus pecados em virtudes para consumo interno é assombrosa. Poucos países são tão iludidos quanto a si mesmos quanto os gringos. E mais: para todos os desastres que protagonizam eles produzem arte, muitas vezes de alta qualidade, mas com o claro interesse de mascarar as atrocidades e crimes hediondos cometidos em nome da consolidação e manutenção do Império.
Assim, diante do fato de que a guerra civil americana matou 600.000 em uma disputa fratricida que tinha a garantia da mão de obra escrava como “leimotif“, eles revisaram a narrativa e fizeram “E o Vento Levou“. Depois da violência descomunal e o genocídio da “Corrida do Ouro“, que levou à morte mais de 18 milhões de indígenas, eles fizeram “Daniel Boone” e “Os Pioneiros“, limpando a barra dos invasores brancos que protagonizaram uma matança inédita em terras do novo mundo. Quando 1/3 da população civil da Coreia foi morta pelas bombas americanas -que jogaram mais bombas nos 3 anos de guerra lá do que em toda a II Guerra Mundial – e a infraestrutura do país ficou completamente destruída, eles fizeram “M*A*S*H” uma das comédias de TV de maior sucesso da história.
Um cidadão médio americano acredita piamente que o exército americano foi o responsável pela derrota nazista, uma guerra onde 400 mil americanos morreram, mas que matou mais de 20 milhões de soviéticos. E isso porque a sociedade americana é bombardeada por este tipo de informação falsa (a exemplo das “armas de destruição em massa”), que também chega via Hollywood e TV. Quem não lembra de “Guerra Sombra e Água Fresca” (Hogan’s Heroes), que pintava de comédia a ação americana na guerra e “Combate“, que mostrava os americanos como nobres e corajosos e os alemães como covardes e traiçoeiros? Como não acreditar que os heróis dessa guerra foram eles?
Desmerecer a força poderosa da informação e da propaganda – imaginando que “a verdade no fim prevalecerá” – é uma ingenuidade que a esquerda não pode aceitar. Combater todas estas informações mentirosas é fundamental para criar um mundo livre e que reconheça o valor da justiça social.
“Porque o ser humano não é programado para se exercitar, segundo cientista”.
Essa foi a manchete da reportagem, que para mim produz uma grande confusão com o próprio conteúdo do estudo.
Através da simples observação de nossa anatomia, e estudando a história dos primórdios da humanidade, fica fácil entender que fomos programados para fazer exercícios. Nossa anatomia confirma isso; nossa estrutura hormonal e cerebral também. Por isso é lícito afirmar que nós não “envelhecemos”, apenas “enferrujamos”, exatamente por não termos na modernidade a quantidade adequada de exercício para o qual fomos programados.
Talvez seja verdade que não fomos programados para desejar os exercícios físicos, já que o cansaço e o esgotamento são desagradáveis e até dolorosos, mas isso é bem diferente de não estar programado para o esforço extenuante.
Aliás, nenhum animal é assim; se você oferecer a qualquer animal doméstico suficiente comida ele não vai sair e lutar para buscá-la. É exatamente por isso que nós temos cães dóceis, mas o avô de todos eles – o lobo – é bravo e violento; afinal, para este não havia ninguém para dar o alimento que só conseguia através do exercício.
Temos um corpo programado para caminhar 20 km por dia, fazer longos jejuns e carregar peso o dia inteiro. No início do neolítico a menarca (primeira menstruação) ocorria aos 15 anos e a vida sexual aos 18 anos de idade. Cada mulher paria 5,5 filhos, sua menopausa ocorria aos 47 anos, a dieta era pobre em gordura e a vida sexual bem ativa. A adolescência era curta. Em contrapartida trabalhávamos muito pouco e tínhamos muito tempo para diversão – conversas, canto, histórias, banhos de rio e jogos.
Essa é a programação que herdamos do paleolítico superior. Boa parte do nosso sofrimento diz respeito à falha da sociedade contemporânea de suprir o sujeito da carga de esforço para o qual foi genética e anatomicamente preparado por milhões de anos de processo adaptativo.
Por outro, é claro que o exercício na academia tenta se aproximar do trabalho produtivo que tínhamos no ambiente dinâmico de seleção natural de 100 mil anos passados. O problema é que um médico e um analista de sistemas jamais encontrarão em sua atividade profissional o tipo de esforço para o qual seus corpos foram preparados por milhares de anos de adaptação.
Por isso a academia – ou mesmo os jogos esportivos – são simulações das atividades que tínhamos no passado para a simples atividade de sobrevivência, como fugir, lutar ou buscar comida. Eles são usados para oferecer ao nosso corpo o quantum de sobrecarga para a qual somos preparados. Hoje em dia a ausência dessa parte importante da vida é um mal terrível das sociedades automatizadas e se chama “sedentarismo”, uma “enfermidade” que mata milhões todos os anos.
O estudo do Dr Lieberman vai na mesma direção da minha perspectiva. Entretanto, o título é mesmo extremamente infeliz, pois dá a entender que não somos preparados para esta atividade física, o que não é verdade. Entre tantas “velhas novidades” no meio do texto pode-se encontrar uma pérola.
“Os caçadores-coletores típicos se envolvem em apenas cerca de 2 ¼ horas por dia de atividade física moderada a vigorosa.”
“Apenas” 2h 15min por dia de atividade moderada e vigorosa? Só atletas e operários que vivem do trabalho físico pesado fazem isso hoje em dia. A imensa maioria das pessoas no mundo ocidental não faz nem um minuto de exercício diário. Sim, nossa vida no paleolítico era muito difícil, laboriosa e dura, mas realmente ninguém era musculoso, basta ver um caçador coletor San ou Kung! do Kalahari. Nesta época (e para eles, ainda hoje) éramos pequenos, fortes, magros e resistentes.
Concluo que somos programados e preparados fisicamente para exercícios vigorosos e constantes, mas também psicologicamente condicionados a evitá-los quando possível, para estocar energia e usá-la em atividades relevantes.
Eu confesso que torci pelo Biden na última eleição presidencial americana. Sei que a vitória de Trump poderia significar um estreitamento da relação entre o genocida daqui e o idiota de lá, então atirei no Trump para acertar no Bolsonaro. Entretanto, nada mais elucidativo do funcionamento do Imperialismo do que a vitória de Biden. Para quem, como nós, observa de fora, é impossível perceber qualquer diferença significativa entre a administração destes dois presidentes, mas se houver alguma, será no sentido de desmerecer o atual governante.
O anúncio das tensões crescentes na Ucrânia nos demonstra que qualquer presidente americano terá como objetivo principal o incremento do poder imperialista sobre o planeta, tanto quanto qualquer um dos seus antecessores – igualmente violentos. Não importa a quantidade de cadáveres de gente de língua estranha e de pele mais escura; o importante é manter a hegemonia, esta mesma que determina o “american way of life”. Não é possível notar diferença significativa na política externa, nas guerras e golpes, inobstante o vencedor das eleições americanas ser qualquer uma das sublegendas do imperialismo, a “direita A” ou a “direita B“. O mesmo ocorre há 70 anos em Israel: não importa quem vença as eleições por lá, a política de massacre e limpeza étnica dos palestinos será igual; o sionismo não é projeto de governo, mas uma política de Estado.
Existem coisas que fazem parte da essência do país, como o imperialismo e o sionismo. Da mesma forma, não faz diferença onde o capitalismo se instale; sua essência é o empobrecimento da população, a concentração de renda, a destruição do meio ambiente e a tendência à formação de grandes oligopólios e monopólios. Depois disso, uma máquina absurda de propaganda e a instalação de um Estado policial de brutalidade crescente será institucionalizada, para desta forma manter a classe operária comportada e satisfeita com as migalhas recebidas.
Assim como a paz mundial não será decidida pelas eleições americanas e o futuro da Palestina não estará nas cadeiras conquistadas no Knesset, o desenvolvimento das potencialidades humanas, a divisão equânime das riquezas e a solidariedade entre os povos deste planeta jamais chegará através do modelo capitalista, pois que o caráter predatório do capitalismo está entranhado inexoravelmente em sua essência mais profunda. Não será fazendo concessões à classe burguesa que conquistaremos a justiça e o equilíbrio.
E lembrando: também não haverá humanização do nascimento e respeito à fisiologia das mulheres enquanto o parto for controlado por cirurgiões. Afinal, intervir sobre os corpos está na essência destes profissionais. Como seria possível que agissem contra suas mais profundas inclinações? Uma política de “reformismo” e a manutenção do sistema de poderes nos levou a situação de agora. Desta forma, por que deveríamos continuar numa rota que jamais nos levou a mudanças consistentes?
Eu fico impressionado com a quantidade de amigos que compartilham o meu DNA (data de nascimento antiga) que justificam seu voto no Cramulhão por causa do “comunismo”, da “Coreia do Norte”, medo de virar uma “Venezuela” ou para não perderem a “liberdade” do capitalismo, usando os mesmos discursos macartistas dos anos 50.
Mais assustador é que, depois de 5 minutos de conversa, fica evidente que eles não conhecem absolutamente nada da organização política (menos ainda da história) dos países que citam, e seus conceitos de democracia e liberdade são absolutamente primários.
Mais 5 minutos de conversa e os argumentos se tornam morais, absolutamente descolados dos conceitos de socialismo ou comunismo, e aí aparecem os clichês do kit gay, de ensinar masturbação para crianças, roubalheira, petralhas, mortadelas, etc.
O que será que assusta tanto essas pessoas? Por que a simples ameaça de justiça social é capaz de produzir pânico entre estes senhores e senhoras? Por que mesmo sendo da geração que sofreu com a ditadura eles continuam apoiando regimes de força, militarismo, punitivismo e medidas contrárias à organizações dos trabalhadores?
Esta semana a direção da UDV, União do Vegetal – uma seita cristã criada por Mestre Irineu usando plantas (Mariri e Chacrona) para fazer um chá usado de forma iniciática, declarou apoio ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Do pouco que conheci do perfil dos frequentadores desta religião (eu mesmo já escrevi sobre o tema e já participei de um encontro), eu tive um nível zero de surpresa com essa declaração de voto. A mesma sensação que tive ao testemunhar o bolsonarismo dos espíritas. Percebam; há um padrão de conexão entre as religiões dos países imperialistas com os valores conservadores. Por esta razão a UDV, os evangélicos, os espíritas cristãos, muitos católicos e outros estão todos ligados pelos fios invisíveis do conservadorismo brasileiro, uma estrutura social que namora com o fascismo. Creio que já escrevi muito sobre minha desilusão com os religiosos, e ainda lembrei com dos amigos de infância que se tornaram bolsonaristas, defensores do Jesus com arma na cintura, desconsiderando as falas racistas, violentas, misóginas, homofóbicas e genocidas do líder. Para mim ainda é inacreditável que, aqueles mesmos que falavam do Jesus que oferece a outra face, justificam abertamente as ações racistas, homofóbicas e terroristas do atual presidente.
A justificativa? O fantasma comunismo, por certo, que serve como um “homem do saco” para adultos. Mas também se encontra com frequência a associação de Lula com “ditaduras”, como a Venezuela, Cuba e a Coreia Popular (um trio que é tanto usado pela direita quanto desconhecido por ela), em especial no que diz respeito ao envio de dinheiro para estas “ditaduras”, assim como a “ladroagem de Lula” (que só não foi condenado porque houve um erro no CEP – uma tecnicalidade). Todavia, estes mesmos moralistas desconversam quando questionados sobre as fotos do presidente Bolsonaro com o Sheik da Arábia Saudita, este sim um ditador sanguinário e cruel, ou os inúmeros casos de corrupção no seu governo.
Entre estes aficionados do capitão encontramos gente educada, estudiosa, com curso superior, pais de família, diretores de Centros Espíritas, pastores, padres, crentes de todo tipo; todos irmanados em uma luta contra os “vermelhos”, os vagabundos dos sindicatos, os invasores de terra, os ativistas do MST (que mal sabem usar uma enxada) e os indefectíveis “socialistas de IPhone”.
“Vai pra Cuba”, “Empacote tudo que você tem e distribua para os pobres”, “Ahh, reclama do capitalismo mas usa luz elétrica(??), celular(??) e computador(??)”. “Quer ficar como a Venezuela? Na Coreia do Norte é proibido cortar o cabelo igual ao Kim, e na China você é condenado à morte em 30 dias e a família ainda precisa pagar a bala. Quer isso no nosso país?”
Somos bombardeados todos os dias por uma avalanche impressionate de propaganda via redes sociais, que em muitos causa uma profunda lavagem cerebral. “Credo quia absurdum“, como diria Agostinho, “acredito nas fake News porque são absurdas, e isso prova minha fé e o meu engajamento”. São 80 anos de propaganda anticomunista diária subliminar, insidiosa, camuflada, sub-reptícia e constante. Não importa o quão ridículas são as fake news sobre “comunistas que comem criancinhas“, ou “Na Coreia Popular mentem que a seleção venceu o Brasil na Copa do Mundo“. Todo santo dia, martelando na cabeça, criando ficções ridículas (como estas acima), produzindo narrativas baseadas em delações falsas, estrangulado as economias socialistas com boicotes, sanções e bloqueios. Condenando quem denuncia os crimes do Imperialismo – como foi feito com Edward Snowden, Chelsea Manning e Julian Assange – atacando (e matando) líderes dos direitos humanos (como na Colômbia) e usando religião como um escudo, uma identidade que precisa ser preservada dos ataques insanos dos depravados, gayzistas, abortistas e ateus, tudo pelo bem dos nossos valores e do santo nome de nosso senhor Jesus Cristo, amém.
Sobre esta ligação dos religiosos em geral com o conservadorismo e a propaganda anticomunista acho que o sobrinho de Freud, Edward Louis Bernays, tem mais a dizer do que Hippolyte Rivail, o filósofo de Lyon. Edward Bernays dizia que “somos controlados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos são formadas e nossas ideias são sugestionadas”. Ele foi quem primeiro entendeu a importância da propaganda na criação do que passou a ser chamado de “Consenso Manufaturado”, um conceito primeiramente criado por Walter Lippmann em 1922 e posteriormente disseminado pelo intelectual americano Noam Chomsky. . Não se pode desprezar décadas de propaganda violenta que, junto com os aparatos de repressão do Estado, tentam evitar a explosão inevitável da barragem produzida pelas lágrimas de milhões que são excluídos pelos privilegiados do capitalismo. Propaganda e Estado policial. Publicidade e Forças armadas a serviço do Império. Salve-nos Luke Skywalker…
Praticamente todas as religiões derivadas do cristianismo – enquanto fenômeno social, não como doutrina – replicam uma visão individualista do progresso onde cada um, através da penitência, da fé, da “reforma intima”, do sacrifício, da dedicação à Igreja e o pagamento do dízimo, será responsável pela evolução espiritual do planeta, um conceito que se adapta maravilhosamente à meritocracia do nosso modelo capitalista. Assim, as mudanças vão ocorrer na dependência de ações individuais, inobstante os modelos sociais a que estamos submetidos. Outro fator é o pacifismo alienante de muitos religiosos, um idealismo paralisante que os impede de aceitar a sociedade de classes como o resultado inexorável do capitalismo, a qual só será derrubada através da luta de classes e do enfrentamento.
Quando eu vejo o “cristão mediano”, frequentador da sua Igreja, que toma passes, faz comunhão, se confessa, toma hóstia ou água fluida e entoa os cânticos não consigo perceber nenhuma diferença substancial entre todas as modalidades de fé cristã. Todos eles reproduzem condicionamentos sobre costumes e política, da mesma forma como qualquer um que tenha sido intoxicado por oito décadas de violenta propaganda contra a luta organizada dos trabalhadores. Espíritas, católicos, protestantes em suas diversas denominações são semelhantes demais aos “crentes” e os neopentecostais nesse terreno para que se perceba qualquer diferença. A religião, no dizer de Hegel em “Crítica da Filosofia do Direito, , é o “Ópio do Povo” (Die Religion … Sie ist das Opium des Volkes), canalizando a energia de milhões para a contemplação e a aceitação das mazelas, ao invés de seguir as palavras de Cristo e agir objetivamente para diminuir a iniquidade no planeta e a dor de seus semelhantes.
Meu irmão Roger Jones caminhava hoje pelo centro de Happy Harbor voltando para o trabalho após o almoço quando notou que o cadarço do seu tênis estava solto. Próximo à Rua da Praia agachou-se para amarrá-lo quando escutou um tiro. Sentiu um baque surdo no seu braço direito e caiu ao solo.
Ainda assustado e desnorteado, viu uma pequena multidão aproximar-se, enquanto ele tentava entender o que havia acontecido. Passou a mão no braço e notou um pequeno ferimento, mas quase não havia sangue. O tiro havia passado de raspão. Imediatamente se deu conta que o cadarço solto havia salvado sua vida.
Os transeuntes apontavam para o carro tentando anotar a placa, mas ele disparou em alta velocidade. No volante dois terroristas ainda não identificados provavelmente lamentavam o erro. No mundo do terrorismo internacional não se admitem erros, e cabeças rolariam, por certo
Pela graça concedida ao meu irmão, que Deus seja louvado.
PS: na realidade um carro passou por cima de uma pedra e a lançou em direção ao Roger. O pedregulho raspou no seu braço enquanto estava agachado amarrando o cadarço. O som realmente foi semelhante a um tiro, e esta foi sua primeira impressão, que apenas foi desfeita quando ele, e os demais transeuntes, repararam a pequena rocha ao seu lado. Esta é a verdade; entretanto acredito que a minha versão da história acabou sendo muito mais interessante.
Eu conheci o nordeste muito tarde em minha vida. Já tinha conhecido os Estados Unidos e a Europa antes de ser convidado para uma consultoria em Humanização do Nascimento em um hospital da periferia de Recife (divisa com Olinda) cuja diretora era uma médica filiada ao PCdoB e com ideias muito avançadas para a época. O ano era 2001, o primeiro ano do resto da minha vida.
Minha perspectiva do Nordeste era …. Tieta do Agreste. Sim, eu olhava o nordeste como um americano médio olha para um país chamado “África” sem saber que este continente abriga países, culturas e tipos físicos tão distintos quanto um khoikhoi, um hamer e um tuareg. O nordeste, em minha imagem mental, era negro como na Bahia e…. pobre e atrasado. E todos falavam como os atores globais nas novelas.
Minha primeira visita foi a convite da Universidade, e os meus contatos foram com os médicos do hospital. Foram, por certo, encontros muito ricos para a minha compreensão do significado político do movimento do Parto Humanizado, mas tenho certeza que minha presença como consultor teve um impacto pífio no desempenho do hospital. Revoluções não se fazem com forasteiros munidos de belas ideias; elas são construídas lentamente de baixo para cima através da lenta sedimentação de conceitos e pela consciência de classe. Talvez uma semente, não muito mais do que isso. A transformação do Parto não se fará com ideias, mas com ações e lutas.
No hospital militar onde trabalhei havia um colega que tinha servido no hospital da FAB em Natal – RN. Um dia ele me contou que a frase “Doutor, tenho dor!!” poderia ser dita de forma muito distinta por cada um dos habitantes dos estados nordestinos. Depois me disse a frase com o sotaque de cada um deles e, pela primeira vez na vida, eu pude perceber a imensa diferença entre a forma de falar de um pernambucano e um baiano, um alagoano e um cearense.
A partir desse primeiro contato, ocorrido há mais de 20 anos, se iniciou minha verdadeira imersão no nordeste. Passei a viajar com regularidade para cursos, aulas, palestras, seminários e congressos. Visitei diversas vezes Natal, Campina Grande, Fortaleza, Recife, Salvador e Maceió para encontrar ativistas e levar o evangelho da Humanização. A partir desses encontros passei a ter uma admiração mesclada com uma real paixão pelo povo, a cultura, a comida, o idioma e a alma nordestinas. Fiz amigos, conheci lugares incríveis e aprofundei minha visão de Brasil. Acima de tudo, abandonei uma perspectiva branca, europeia, sulista e preconceituosa em relação ao nordeste, trocando esse sentimento primitivo por uma verdadeira paixão por tudo que essa região representa para o país.
Meu pai pernambucano sempre dizia que “a primeira regra da vida é viver; a segunda é conviver”. Conviver com as pessoas que nos parecem estranhas – ou diferentes em seus jeitos e valores – é a maior e melhor forma de reconhecer nelas similitudes e parecências, encontrando nelas a mesma humanidade que habita em nós. Por esse contato constante, minha trajetória nas últimas duas décadas pelas terras nordestinas me ensinou muito sobre brasilidade, acolhimento, calor humano e diversidades múltiplas.
Por esta razão repudio todo e qualquer preconceito com os nordestinos, pois sei que o nordeste é a máquina propulsora das mudanças profundas que este país precisará passar em um futuro próximo. Deixo aqui expresso meu profundo amor pelo povo nordestino e o imenso orgulho de ser filho de um homem dessa terra.
Eu creio que todos nós acreditamos que o amor que oferecemos é um bem muito precioso. E é mesmo; mas não é um ativo sobre o qual se possa exigir reciprocidade. Uma mulher abandonada vai dizer “e o amor, a dedicação, os filhos, os cuidados da casa, os sonhos compartilhados, a minha fidelidade? Vou ficar sem nada?” Cobram por essa carga enorme de afeto que foi por elas entregue, mas por certo esperando o retorno de quem um dia amaram.
Os homens da mesma forma vão falar do dinheiro, do tempo investido, do cuidado, do amor, da atenção e tudo que dedicaram à mulher a quem amaram – ou ainda amam.
Amores homoafetivos também não tem razão para serem diferentes. Quem é abandonado cobra a parte que lhe faltou na economia do amor. Essa é uma reação humana à mais antiga das dores – a dor crua e dilacerante do desamor.
Eu era um garoto de 9 anos (a idade atual do meu neto Oliver) quando assisti pela TV a chegada do homem à lua. A missão Apolo 11 levava 3 astronautas: Armstrong, Aldrin e Collins. Os dois primeiros pisaram na lua, enquanto Collins ficou dando a volta na quadra esperando eles terminarem as compras.
Armstrong e Aldrin tinham 39 anos quando viajaram à lua; Collins era 2 anos mais jovem. Quando meu pai (que na data tinha exatamente essa idade) me contou esse detalhe, ainda com o olhar grudado na TV, eu imediatamente perguntei:
– Por que levaram gente tão velha para uma missão tão importante?