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Cassação

Precisamos parar com essa mania de pedir cassação de parlamentares por qualquer motivo. Há que se respeitar a vontade do povo. Colocar a democracia nas mãos da justiça burguesa será sempre uma tragédia para a classe operária – mesmo que as vezes pareça nos favorecer. Para usar esse instituto (a mais grave das punições) é preciso provas contundentes de crimes gravíssimos, não o simples uso de perucas, palavrões ou o deboche. É inaceitável entregar o poder popular do voto para ser usado de forma arbitrária pelos membros do judiciário. Repito: quem paga por isso sempre serão os partidos populares e de esquerda. Não é necessário lembrar que a lei de ficha limpa, que parecia um avanço, foi manipulada até o limite e usada como instrumento para impedir a candidatura de Lula.

Os partidos da esquerda precisam aprender que pedir cassação dos inimigos todos os dias tentando aplicar censura da palavra sobre os adversários é um expediente que um dia se voltaria contra si mesmos. A esquerda precisa abandonar imediatamente a ideia de que censura e justiça burguesa podem resolver nossos problemas. Assumam a liberdade de expressão como princípio básico e combatam as mentiras com a devida responsabilização e com o contraponto da verdade.

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Assédio

Vou repetir o que já disse em outro lugares, mesmo sabendo que este tipo de defesa é uma trilha fácil para o cancelamento: O ator da Globo, Március Melhem, acusado de assédio por suas colegas de trabalho, é culpado de ser um amigo leal, um excelente profissional, um chefe justo, um parceiro de trabalho correto e um colega em quem se pode confiar. Digo isso depois de analisar pormenorizadamente as palavras das acusadoras e da advogada e de me deter em todas as respostas e provas apresentadas por Március em seu canal no Youtube.

Essas mulheres acreditavam que suas palavras poderiam suplantar os fatos, as provas e as evidências apresentadas. Pior, tinham fé no mito da “palavra sagrada”, ou seja, que qualquer acusação feita por mulheres tem valor de prova, e não precisa nenhuma evidência que a suporte. Esse julgamento público sobre a honra de um sujeito, se viesse a dar ganho de causa a estas oportunistas, geraria um caos jurídico insuportável, criando uma jurisprudência frontalmente inconstitucional que transformaria todo homem em cidadão de segunda categoria e as mulheres em seres acima da lei.

Maíra Cotta, a advogada das acusadoras, colocou essas mulheres – e a si mesma – em um caldeirão infernal do qual não podem mais sair. Estão presas em suas falas traiçoeiras, enredadas nas mais sórdidas mentiras e não tem mais como se livrar das amarras que elas mesmas criaram. Pergunto agora: quem, a partir de agora, poderá confiar nas mulheres que se comportarem dessa forma? Pense nisso… basta namorar uma mulher, apaixonar-se por ela, trocar mensagens de amor, fazer planos, trocar intimidades e, anos mais tarde, depois de uma ruptura amorosa, esta mesma mulher que lhe jurou amor e consideração poderá afirmar que “em verdade durante todo esse tempo fui assediada e abusada, mas na época não me dei conta”.

Ora, como suportar essa absurda insegurança jurídica?? Como aceitar que a palavra das mulheres pode ser mais valiosas do que as provas materiais? Como aceitar que o comportamento das mulheres nunca é responsabilizado, mas o dos homens sempre? Por que ninguém questiona o assédio profissional ao qual Március foi submetido por essas oportunistas? Pelo amor que temos às mulheres, e pela necessidade de proteger as mulheres que realmente sofrem abusos e assédios, este caso deve ser exemplar e emblemático, mostrando que o uso de mentiras e fraudes como ferramenta de vingança pessoal precisa ser duramente reprimido. Este caso, que oportunisticamente se confunde com a “causa” feminista, ao contrário do que pode parecer vai acrescentar mais uma barreira para a contratação de mulheres para as áreas artísticas.

Pensem bem: quem contrataria uma mulher sabendo que ela pode, a qualquer momento, transformar as brincadeiras – que ela mesma propõe e executa – em assédio!!! Quem teria segurança de contratar Dani Calabresa? Quem poderia confiar numa mulher que brinca contigo, te “encoxa“, passa mão no teu peito, manda nudes, te convida para viajar e depois, de um instante para o outro, diz que tudo o que ela fazia há anos era mentira, dissimulação e encenação, porque tudo que sofria, na verdade, era abuso mascarado de intimidade, e que na época não falou porque tinha “medo”? Para estas acusadoras (e a advogada delas), as ações podem ser contraditórias e sem nexo causal algum, pois basta a suposta vítima dizer que se sentia coagida e constrangida (mesmo sem materialidade, como é o caso) para que suas queixas sejam aceitas como válidas. As ações paradoxais destas mulheres apontam o oposto – que elas participavam ativamente dos jogos sexuais e brincadeiras, as quais revelavam intimidade – mas mesmo assim a narrativa delas é levada em consideração, e o homem é mais uma vez colocado como culpado “até prova em contrário”.

Não é possível admitir um relato tão incoerente e oportunista quanto esse. E vejam bem: para criar culpa em Március é necessário acreditar que suas acusadoras são tolas, idiotas, infantis, incoerentes e têm uma sensibilidade de freiras carmelitas, horrorizadas com as “brincadeiras pornográficas” do chefe. Ora, a mensagens de WhatsApp destroem completamente essa perspectiva. Se há lascívia nessa história ela partiu delas, assim como partiu dessas moças o assédio praticado contra ele, claramente para obter vantagens profissionais com a proximidade que elas criavam. Não há dúvida que entre elas não há nenhuma noviça. Espero que a justiça venha, por fim, reconhecer a inocência de Március, em nome dos homens que amam suas mulheres, dos homens que desejam proteger o feminino e das mulheres que amam a verdade.

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O Surto

O Brasil se enche de medo diante do surgimento de mais um modismo americano importado pelas ações irresponsáveis do governo Bolsonaro: as chacinas em escolas. Recentemente houve uma na cidade de Blumenau – uma das regiões onde proliferam grupos nazistas – em que um sujeito matou várias crianças com golpes de machadinha. Imediatamente houve uma divisão entre aqueles que consideram a ação “maldade”, enquanto outros tratavam o fato como “surto”. Um surto psicótico pode ser entendido como um processo abrupto de desorganização psíquica e emocional, onde se observa principalmente a perda de noção da realidade, conjugado com um comportamento descompensado e psicótico (fora da realidade objetiva). Durante a emergência do surto psicótico a pessoa pode apresentar sinais como: confusão mental, delírios, alucinações, catatonia (paralisada, sem reação), discurso desorganizado ou incoerente, mudança de humor, perda da noção de tempo e outros.

É óbvio que, pela infinita variabilidade das respostas emocionais do ser humano, os surtos não são todos iguais, e não é justo nem adequado julgar o surto alheio. Se alguém dissesse “quando eu surto vou à luta, não fico chorando” todos concordaríamos que se trata de insensibilidade e falta de empatia com a maneira como reagimos aos nossos dramas. Portanto, dizer que existem “surtos aceitáveis” enquanto outros não o são é desprezar o próprio conceito de surto, qual seja, a emergência de conteúdos psíquicos incontroláveis pelos nossos processos internos de proteção e controle.

Eu não sei o que moveu o rapaz que cometeu a barbárie de Blumenau mas acredito que este tipo de ação dificilmente poderia ser explicada pela neurose. Desta forma, acredito que é lícito chamar esta ação de surto, até porque ela não cabe na nossa compreensão; ela atinge de forma brutal a concepção mais básica de respeito à vida. Em verdade, estes atos brutais que nos agridem de forma coletiva, são produzidos por mentes deformadas e enfermas, sem o que não haveria possibilidade de enfrentar os freios mentais que nos constituem e impedem a “passagem ao ato“. Entretanto, para que este tipo de manifestação possa aflorar na sociedade é também necessário que exista um ambiente cultural propício, produzido por um campo simbólico onde estas palavras circulem sem a devida interdição.

Aqui é que entra o Bolsonarismo com seu culto à morte e à destruição. Sem a “arminha”, as palavras de ordem, os slogans fascistas, o punitivismo, a divisão moral da sociedade – vagabundos x cidadãos de bem – as motociatas mussolinistas, a pulsão de morte pulsante e vigorosa, as bravatas e a corrupção pequena, gatuna e sorrateira, não haveria o caldo adequado para o aparecimento destas aberrações. O mesmo elemento se vê no acréscimo da violência doméstica machista ou nos crimes políticos, onde os agressores são quase todos aliados da extrema direita fascista. Agente e terreno propício produzem os resultados que testemunhamos, na construção dialética complexa que nos caracteriza.

Portanto, se é verdadeiro que a alma deteriorada do sujeito é a semente que faz germinar a brutalidade de suas ações, também é certo que o terreno fértil de uma sociedade doente pelo fascismo é fundamental para que a erva daninha dos crimes absurdos e inaceitáveis possa crescer e se espalhar. De nada adianta eliminar estas sementes sem cuidar do terreno; além disso, arrancar o inço não resolve o problema, já que a sociedade desequilibrada e perversa os produz de forma incessante. A perspectiva punitivista serve apenas para fomentar a sensação de vingança, mas em nada modifica a estrutura social viciosa que estimula e promove o crime.

Resumindo, para deixar bem clara a minha posição: a frase “não chamem de surto o que é pura maldade” está no mesmo nível de “não chame de doente quem é bêbado, nele existe apenas falta de caráter”. O preconceito com a doença mental continua vivo e forte, manifesto no discurso cotidiano, tanto o popular quanto aquele mais rebuscado. Todavia, também é verdade que a expressão dessas condições na cultura ocorre na vigência de contextos sociais que os incentivam ou reprimem. Se é adequado tratar o sujeito enfermo é igualmente justo e necessário cuidar da sociedade doente.

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Mentiras

Já eu penso que a mentira é a essência da civilização. A vida sem mentiras seria insuportável, pois a mentira é o coração da linguagem. Sem a mentira seríamos bestas condenadas a viver eternamente na barbárie. A mentira precisa de todas as homenagens, pois que só ela garante nossa convivência. Convido a assistir “A Invenção da Mentira”, de Rick Gervais.

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Mentiras

Afinal, o que é uma mentira?

O conhecido aforismo de Friedrich Nietzsche, em um fragmento de 1887, onde afirma que “não existem fatos, apenas interpretações”, deve ser entendido como a submissão do real ao simbólico, a ideia de que a verdade não existe como um ente absoluto e positivo e, acima de tudo, como um alerta crítico de que a verdade não é definitiva, muito menos imutável, e que o que consideramos verdade hoje merece ser criticado e sofrer o devido contraditório. Muitas vezes estas verdades sólidas se desmancham no ar, necessitando para isso apenas a passagem do tempo. Afinal, o que é uma mentira? Se houvesse uma Verdade Absoluta – e portanto mentiras definitivas – quem decide sua essência e como ela se configura? Quem são os vestais, acima do bem e do mal, que podem objetivamente decidir o que é verdadeiro e o que não é?

É disso que se trata agora, quando tantos afirmam serem favoráveis à censura para barrar as mentiras disseminadas pelas redes sociais. Quanto mais você retira essa decisão do povo e a coloca sob o escrutínio das instituições do Estado burguês – um sistema de poder criado para calar as ambições populares – mais a esquerda será penalizada, mesmo que circunstancialmente a extrema direita possa estar sofrendo seu ataque.

A censura sempre vai favorecer os poderosos, e negar isso significa não compreender a origem e a estrutura da própria democracia liberal. Estimular a censura (mesmo quando maquiada de democracia e até quando bem intencionada) é uma estratégia conservadora, que fatalmente acaba se voltando contra as aspirações do povo. A lei anti terror, a lei da ficha limpa, a lei contra fake News…. todas elas foram aparentemente bem intencionadas e chegaram até ser usadas para punir membros da direita, mas todas – mais cedo ou mais tarde – acabaram sendo usadas para atacar as forças políticas populares e de esquerda. Lula, por exemplo, foi atacado, punido e impedido de concorrer às eleições de 2018 pela lei da ficha limpa. Poderíamos pensar que, talvez, desde o início ela foi pensada para, eventualmente, ser usada contra a esquerda em uma situação limite – como a volta de um líder popular ao governo do Brasil.

Não podemos ser vítimas dessa farsa… mais uma vez.

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Nossos comerciais, por favor

Clark Gable e Vivien Leigh em “Gone with the Wind”….

Passei os últimos 27 anos viajando para o Centro do Império, em especial para o Texas, e sempre admirei muito a fabulosa máquina de propaganda que hipnotiza os americanos, tornando-os os cidadãos mais controlados e manipulados do mundo. Entretanto, percebi também que as pessoas de lá são iguais a todas as outras de qualquer lugar do mundo – quando observamos sua essência e os sentimentos que a todos nós pertencem.

Todavia, a capacidade de transformar seus pecados em virtudes para consumo interno é assombrosa. Poucos países são tão iludidos quanto a si mesmos quanto os gringos. E mais: para todos os desastres que protagonizam eles produzem arte, muitas vezes de alta qualidade, mas com o claro interesse de mascarar as atrocidades e crimes hediondos cometidos em nome da consolidação e manutenção do Império.

Assim, diante do fato de que a guerra civil americana matou 600.000 em uma disputa fratricida que tinha a garantia da mão de obra escrava como “leimotif“, eles revisaram a narrativa e fizeram “E o Vento Levou“. Depois da violência descomunal e o genocídio da “Corrida do Ouro“, que levou à morte mais de 18 milhões de indígenas, eles fizeram “Daniel Boone” e “Os Pioneiros“, limpando a barra dos invasores brancos que protagonizaram uma matança inédita em terras do novo mundo. Quando 1/3 da população civil da Coreia foi morta pelas bombas americanas -que jogaram mais bombas nos 3 anos de guerra lá do que em toda a II Guerra Mundial – e a infraestrutura do país ficou completamente destruída, eles fizeram “M*A*S*H” uma das comédias de TV de maior sucesso da história.

Um cidadão médio americano acredita piamente que o exército americano foi o responsável pela derrota nazista, uma guerra onde 400 mil americanos morreram, mas que matou mais de 20 milhões de soviéticos. E isso porque a sociedade americana é bombardeada por este tipo de informação falsa (a exemplo das “armas de destruição em massa”), que também chega via Hollywood e TV. Quem não lembra de “Guerra Sombra e Água Fresca” (Hogan’s Heroes), que pintava de comédia a ação americana na guerra e “Combate“, que mostrava os americanos como nobres e corajosos e os alemães como covardes e traiçoeiros? Como não acreditar que os heróis dessa guerra foram eles?

Desmerecer a força poderosa da informação e da propaganda – imaginando que “a verdade no fim prevalecerá” – é uma ingenuidade que a esquerda não pode aceitar. Combater todas estas informações mentirosas é fundamental para criar um mundo livre e que reconheça o valor da justiça social.

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As dores silenciosas e as tragédias mudas

Eu passei 40 anos escutando a perspectiva feminina do mundo, com suas dores, dramas, tragédias, gozos e prazeres. Sempre me senti ao lado delas, tentando entender o mundo pela sua perspectiva, olhando as cores da vida com seus olhos Houve um tempo em que eu até me vi e me entendi como feminista; afinal, por que não seria, já que acredito nos valores da equidade de gêneros e na grandiosidade do ser feminino?

Vários fatores me fizeram abandonar esta ilusão. Sim, ilusão porque por mais que eu pudesse me considerar assim, as mulheres jamais aceitaram minha condição; no máximo me trataram de forma derrogatória, com o termo “feministo“, depreciativo e desvirilizante, para depois me tratar como “esquerdomacho” diante do primeiro – mesmo que sutil – deslize. Com o tempo desisti de conformar meu pensamento ao que elas esperavam de mim. Hoje eu digo que o feminismo é “um movimento de mulheres para mulheres”. Mas, repito a pergunta do vídeo: se tal movimento pretende mudar a sociedade como um todo, por que escutamos apenas um lado?

Um fator que me fez abandonar qualquer proximidade com o feminismo identitário foi o caso que já foi até exposto aqui: o caso da garota Mariana, que teria sido vítima de um estupro num clube em Santa Catarina. Durante meses vi a campanha das feministas colocando o rosto do jovem acusado (que, de tanta exposição, eu lembro do nome: André) como o abusador, mesmo antes de finalizado o processo. Fotos nas redes sociais, manifestações, passeatas. Aqui em Porto Alegre houve uma, no parque Farroupilha.

Depois de meses de agressões infinitas nas redes sociais veio o veredito: inocente. E a sentença foi ratificada pela segunda instância, por unanimidade. O caso tomou notoriedade pela forma bruta e grosseira como a “vítima” teria sido tratada pelo advogado de defesa de André, e isso fez com que tanto juiz quanto advogado fossem chamados à atenção pelos órgãos correcionais. Em verdade tratava-se da exaltação de profunda indignação contra uma menina que de todas as formas tentou destruir a vida desse rapaz.

A verdade é que este caso está repleto de provas que absolvem o garoto. Desde o circuito interno de TV no clube e na rua, até suas conversas de Whatsapp, o depoimento das suas próprias amigas, do motorista do Uber e do porteiro do prédio. Os exames toxicológicos negativos, o desaparecimento do vestido, a tentativa de incriminar o filho de um milionário da Rede Globo, etc. Tudo apontando para uma relação consensual, passageira e seguida de culpa e arrependimento por parte da moça.

Não vou debater suas motivações e suas falhas morais por que não quero me ocupar dela, mas da disparidade desse caso. Não me interesso pela figura dela e seu erro, mas pela pessoa esquecida: a real vítima, o rapaz que teve a vida destruída por uma acusação falsa.

Não há dúvida alguma de que o estupro é um crime horroroso que merece punição. Por certo que ainda existem milhares ocorrendo de forma vergonhosa, sem que as mulheres possam se defender. Todavia, a existência dessa chaga social não pode justificar o linchamento covarde de um sujeito em nome de um problema que é cultural. Não se pode prender um russo com falsas acusações apenas porque a Rússia está em guerra e não gostamos deles. Não se pode prender um negro inocente porque outros negros cometeram crimes e não se pode desgraçar um jovem rapaz porque outros garotos cometeram esse delito.

De todas as mulheres que eu vi publicando cartazes acusatórios com o nome do rapaz não vi NENHUMA reconhecendo seu erro e se desculpando. Vale a lógica “Ok, esse não era, mas apanhou pelos outros”. Ninguém veio a público – na minha bolha – se desculpar pelo julgamento acusatório e pela falsidade que disseminou. Eu pergunto: e se fosse seu filho, seu pai, seu irmão? Como você se sentiria? Manteria sua fidelidade à revanche feminina ou teria cuidado para não acusar alguém inocente?

Por isso me emocionou o depoimento da cineasta feminista que passou um ano entrevistando jovens do Movimento dos Direitos Masculinos. A virada que esta escuta produziu em sua perspectiva de mundo é emocionante. Quando ela fala das “falsas acusações de estupro e pedofilia” que se tornaram corriqueiras eu lembrei do sofrimento desse rapaz. Todos se emocionam (com justiça) com a dor de uma mulher vítima de abuso sexual, mas por que ninguém diz uma palavra sobre a dor de um garoto que sofreu uma campanha de linchamento gigantesca pelo crime de transar com uma menina em uma festa, com pleno consentimento?

Por que apenas as dores dela deveriam ter voz?

Quem puder, assista esse depoimento. Vale a pena. Eu achei a palestra do TED e os comentários desse Youtuber realmente valiosos.”

Texto de Sergei Ustalov

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Lula

O que me causa espanto (não deveria) é que a tropa de choque defendendo Guedes é mesma turma que chamava Lula de “ladrão” sem JAMAIS mostrar um fato, uma prova, os carros importados, as mansões suntuosas, uma loja de chocolate, uma rachadinha, uma conta no exterior, joias, contas milionárias, apartamento em Paris – na Avenue Foche, uma mudança no padrão de vida, família rica, promissórias e imóveis. Nunca fotografaram Lula ostentando qualquer aparência externa de riqueza.

O mistério do “ladrão” que rouba, mas só por diversão, porque JAMAIS gastou um tostão para si ou sua família…

Continuaram chamando Lula de ladrão sem provar nenhum roubo mesmo depois que se descobriu a corrupção de Moro e Dalanhol COM PROVAS materiais, gravações, áudios, a comprovação do grampo de advogados, escuta criminosa da presidente e tortura sistemática de delatores. E muita coisa existe ainda a revelar nos “processos de mentira” contra tanta gente.

Mas quando Guedes é pego com milhões fora do Brasil em paraísos fiscais a mesma turma passa pano, diz que é “legal” e se nega a reconhecer a imoralidade de ter essas contas no exterior e LUCRAR com o empobrecimento do Brasil.

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Mentiras em 3D

Ultrassom 3D ou 4D(?) se refere a estas imagens que parecem moldes de cera com formato de feto dentro do útero, e são uma produção virtual cibernética e criativa que brota desse imenso campo das fantasias humanas.

Vou usar uma comparação tosca, mas que poderá servir de analogia.

Uma vez uma paciente me contou de um acidente terrível de automóvel que resultou na morte de uma criança de sua família. Depois de alguns meses a família enlutada procurou uma sensitiva, uma médium, que poderia trazer a palavra da criança já no plano espiritual. A paciente contou então do alívio provocado pela narrativa, ao saberem que a criança estava bem e que sua estada na terra foi abreviada um função de dívidas emocionais contraídas em outras encarnações. Estava feliz e tinha já encontrado o tio X, a vó Z e estava se recuperando do trauma de sua partida inesperada.

Não me cabe discutir a veracidade desse relato, e nem tem relevância aqui, mas apenas entender do que se constitui a mensagem da médium.

Diante do encontro com essa criança desencanada os fatos narrados por ela poderiam ser de dois tipos básicos: ela poderia contar uma história de superação, de otimismo, de positividade e de esperança, como de fato foi o relato que ela reproduziu à família. Por outro lado haveria outra possibilidade: ela poderia ter falado do seu sofrimento, da raiva, do ódio que ainda sentia e do ressentimento de ter sido expulsa dessa vida de forma tão abrupta. Poderia estar no “umbral”, sofrendo, consumida pelo ódio e pelo rancor, em especial contra as pessoas que não a protegeram ou que causaram sua partida precoce.

Pergunto: tendo diante de si uma família pesarosa, culposa, arrasada emocionalmente e destruída afetivamente quem diante desse quadro contaria a verdade, caso tivesse escutado da alma da criança a segunda versão? Conseguiria ser plenamente verdadeiro e fiel às palavras da menina ou mentiria, sabendo que esta mentira acalmaria seus corações e lhes traria a paz tão desejada, enquanto a verdade dura jogaria mais profundamente a todos no abismo de suas dores?

Eu acho que, inobstante a veracidade desses relatos, os videntes “mentem” (ou adocicam a dureza da verdade) para satisfazer aqueles que os procuram, pois sabem exatamente o que eles desejam – ou precisam – ouvir. É preciso ser movido por uma enorme crueldade para ser honesto e verdadeiro diante de tanta dor.

Nas ultrassonografias o programa “mente”, suaviza as bordas, preenche de forma automática as lacunas e falhas que o ultrassom não capta, acrescenta um colorido que os sons não reconhecem, oferecendo uma mentira que a todos agrada e satisfaz, além de aliviar as angústias e fantasias dos pais. Criamos um método baseado no falseamento das formas e na homogeneização dos contornos, mas curtimos essa mentira na medida que ela nos alivia a alma e diminui o peso das nossas ansiedades.

E nós todos caímos, claro, porque a angústia do desconhecido é mais poderosa do que as evidências e a própria verdade.

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Estigmas

“Ele não passa de um alcoólatra”.

A propósito, modernize-se. A palavra “alcoólatra” caiu em desuso nos anos 80, pois antes disso se considerava o vício em bebida como um problema moral. As palavras certas hoje em dia para descrever este transtorno são “alcoolista” e “alcoolismo”, porque esta adição é considerada pela OMS uma doença e desta forma deve ser encarada e tratada.

Mas, nao é à toa que esta ofensa ainda é usada, em especial contra sujeitos que emergem das classes populares. Chamar pobre de “bêbado” é uma atitude antiga das classes dominantes para criar um estigma de falha moral entre aqueles que surgem do proletariado.

Pobre é bêbado, vagabundo e relaxado. Lula é “alcoólatra”, “bebum” e está sempre sob o efeito de álcool. A burguesia repete essas ofensas para reforçar o estigma e deixá-lo colado à pobreza. Desta forma mantém-se a fantasia de que os proletários, os pobres e os operários jamais poderão conduzir uma nação já que são prisioneiros do vício na bebida.

Manter essas mentiras é um ato criminoso, tão grave quanto o racismo ou a corrupção. Elas só servem à narrativa racista de uma burguesia canalha que se locupleta mantendo o povo controlado por factoides e mentiras deslavadas.

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