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Tensão e guerra

Escrevo estas notas enquanto o céu de Talabib se ilumina com as bombas que chegam do Irã. Era de se esperar que a República Islâmica do Irã, mais cedo ou mais tarde, iria fazer a sua necessária retaliação aos ataques sionistas. Entretanto, sabemos bem que a agressividade de Israel é a maior demonstração de sua fragilidade. Tanto no plano internacional quanto interno, o país está em frangalhos. É impossível esconder hoje, como foi feito durante quase oito décadas, as atrocidades e os crimes cometidos contra a população da Palestina.

A operação de 7 de outubro destruiu o projeto sionista de uma forma irrecuperável. Não há mais como sustentar a ideia racista e supremacista que se constitui na estrutura central de Israel, sua espinha dorsal. O genocídio, as matanças de crianças, a diretiva Hannibal, o bloqueio de ajuda, a destruição dos hospitais, a mortandade de 10% da população, em sua maioria mulheres e crianças, as torturas denunciadas nos calabouços israelenses, a morte de jornalistas, médicos, enfermeiras e toda a podridão do apartheid foram jogadas nas telas de TVs e celulares do mundo todo. Ao contrário dos massacres cotidianos dos últimos 77 anos, agora a Internet expõe de forma crua o sofrimento do povo palestino e a perversão homicida da sociedade israelense. Não há mais como desver o que testemunhamos, e não há mais como Israel se tornar uma nação entre as nações. Israel é um cadáver que apodrece à vista de todos, mas enquanto o corpo não é enterrado, somos obrigados a ver o horror de sua decomposição, enquanto o mundo inteiro testemunha o horror e o racismo que imperam na sociedade israelense. Ficou claro que esse ataque israelense ao Irã foi puro desespero do Império em decadência. Fica evidente que Israel está morrendo, se desfazendo, e esse ataque revela um corpo em decomposição. Não há mais como sustentar Israel, uma aberração supremacista e genocida, um enclave europeu fascista encravado no Oriente Médio.

A meu ver, esse país não tem mais muitos anos de vida. É sintomático que 10% da população já tenha abandonado o país, voltando para seus lugares de origem, e por certo muitos mais vão trilhar esse caminho. Essa guerra provocada – com a desculpa do enriquecimento de urânio – é o sintoma do fim de Israel. Fica claro que está se comportando como a Argentina dos anos 80, entrando em colapso e nos estertores da ditadura militar, provocando uma guerra contra a Inglaterra para unificar o país em torno de uma ameaça externa. De nada adiantou; o regime caiu de podre.

Este é um sintoma inquestionável do fim de um projeto racista e colonial. É evidente que por trás das decisões agressivas de Israel existe a conivência ou a explícita cooperação americana, basta ver que os mísseis que atingiram Teerã partiram do Iraque, enclave imperialista no Crescente Fértil. A esperança de Israel é que os Estados Unidos mantenham a decisão de bancar o conflito, entrem na “guerra santa” e ajudem seu protegido.

Entretanto, isso não é certo, porque a situação interna dos americanos é caótica, com tropas nas ruas, motins, manifestações populares e um presidente fragilizado. Será difícil convencer a opinião pública americana a fazer sacrifícios e enviar tropas em nome de Israel. Principalmente agora, no momento em que o apoio a este país atingiu seus níveis mais baixos na história americana – sem falar do rechaço internacional. Alguém crê que mais uma vez veremos jovens americanos morrendo em uma guerra estúpida? Colocar os Estados Unidos em guerra contra um país distante, que não ameaçou diretamente os Estados Unidos, e com o risco de colocar o comércio de petróleo do mundo em colapso? Serão eles tolos o suficiente para produzir um novo Vietnã?

A situação é desesperadora para a velha ordem. Enquanto o mundo multipolar não se configura como a força hegemônica no planeta, viveremos a tensão, o medo e as guerras.

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Arquivado em Causa Operária, Palestina

Leo Lins

O comediante Leo Lins foi condenado a 8 anos de prisão e 300 mil reais em multas por fazer piadas consideradas desrespeitosas com minorias, debochando de velhos, gays, crianças com deformidades físicas, etc. An questão não é se as piadas que ele conta são adequadas, boas, edificantes ou até respeitosas, mas se o Estado tem o direito de determinar que tipo de piadas podem ser contadas. A meu ver, e para muitas pessoas que não se deixaram seduzir pelo discurso identitário, ser preso por contar piadas é o fundo do poço da justiça autoritária brasileira. Parece certo que Juca Chaves tinha mais liberdade criativa durante a ditadura militar dos anos 60 do que um comediante atualmente.

Eu já assisti vídeos curtos das apresentações desse comediante e nunca gostei, e apenas por isso não assistirei a um show seu. Não gosto das piadas, acho apelativas e, acima de tudo, sem graça. Ou seja: não faço sobre elas uma análise moral, acho que lhes falta graça, humor. Entretanto, é óbvio que ninguém é obrigado assistir, muito menos gostar deste tipo de espetáculo, porém prender e multar alguém por contar piadas é absurdo, inaceitável, imoral e inconstitucional!! Conte a piada que quiser, só vai rir quem achar graça. Se acham inadequado, façam como eu: ignorem. Mais ainda: a ideia de tratar as minorias atingidas pelos chistes como “coitadinhos” que precisam ser protegidos de piadas não os ajuda. Esse é um modelo “maternal” que protege às custas da infantilização, e isso impede a conquista da maturidade. Quem deseja ser maduro deve renunciar às proteções excepcionais e fortalecer seu ego, ao invés de tentar impedir os gracejos alheios. Repito: essas proibições e criminalizações fazem mal aos grupos minoritários. Aqueles sujeitos ou grupos que desejam ascender à posição de protagonista necessitam abandonar a posição de vítimas (mesmo quando o são).

Creio ter deixado claro que a minha defesa é em tese. Eu já assisti vídeos desse humorista e percebi que no seu show ele força a barra. Tipo: vou contar uma piada de negro, gay, velho, mulher, deformidades físicas ou sobre lésbicas só para causar, para dizer que faço o que eu quiser, que brinco com qualquer coisa. Para mim soa falso e forçado; portanto, sem graça. Apesar disso, jamais aceitaria que esse tipo de piada fosse proibida, exatamente porque essa perspectiva proibicionista é comprovadamente inútil. As piadas do Juca Chaves (“comi muito a senhora sua mãe”) eram “proibidas” na minha juventude, mas na escola todos sabíamos de cor e salteado todas as “proibidonas”.

Tenho como uma regra de vida que nada pode criminalizar o humor. Nada mesmo. Pode fazer piada com qualquer coisa. Aliás, sobre assuntos delicados, o Ricky Gervais faz várias piadas em seu show; tudo depende do contexto. Estabelecer sacralidade sobre determinados assuntos é péssimo para ideias, propostas, a necessária transformação do mundo, as religiões, as personalidades, os grupos oprimidos e para as minorias. Proponho um exercício: imagine que seu filho Betinho chega no primeiro dia de escola, lugar onde as crianças exercitam tudo, inclusive a maldade. Todavia, seu filho nasceu com um problema: ele tem alopecia, é carequinha e não tem cabelo algum. Agora imagine a professora apresentando Betinho para a turma e dizendo “crianças, escutem: é proibido fazer piadas com o Betinho por ser careca”. Isso seria um desastre para o Betinho, pois seria excluído dos grupos e estaria sempre sendo visto como o protegido do sistema, infantilizado, sem desenvolver sistemas e estratégias de adaptação e proteção. O que a professora deveria fazer é não dar importância alguma para isso, reforçar sua autoestima, exaltar suas virtudes e ensiná-lo a se defender. Protegê-lo, como fazemos com as minorias por meio da lei, não ajuda esses grupos, muito menos o Betinho. Para muitos é difícil entender a perspectiva de quem diz que os grupos e os sujeitos – por si só – precisam desenvolver sistemas de proteção e defesa. Quem traduz o mundo pela visão materna terá sempre dificuldade para entender o mundo pela perspectiva da paternidade.

A proibição de gracejos sobre temas escolhidos (quem escolhe sobre o que se pode fazer piada?) seria a “lei seca” das piadas, que apenas as faz acontecer entre sussurros ou em locais fechados e seguros – e por esta razão mesmo elas se espalham. A sociedade não se move por decretos ou por proibições; só o que nos faz avançar é a lenta sedimentação de novos valores, que insidiosamente se espalham pela cultura. Proibir é mais do que inútil; isso amplifica a ação que se tenta combater. Por trás desse tipo de estratégia está a crença der que o judiciário pode modificar a cultura, quando a verdade é que ele apenas reflete os valores de determinadas culturas. A luta contra discriminações ou preconceitos não pode ser feita pelas leis, mas pela lenta sedimentação de valores na cultura. Compare este tipo de censura aplicada aos humoristas brasileiros com a liberdade dos comediantes de “stand up” como Ricky Gervais ou Dave Chappelle que fazem piada com tudo, literalmente qualquer coisa. Fazem até piada com abuso sexual(!!), mas sempre alertam para o cuidado especial com o contexto, o campo simbólico que envolve de significados qualquer anedota. Não gostar do tipo de piada é legítimo; proibir é abuso.

Minha discordância é que criar estas proibições, legislações e aumentar penas não defende as minorias, pois este tipo de ação jamais protegeu ninguém na história da humanidade. Repito: o que as proibições e as leis fizeram contra o nazismo, o álcool ou o comunismo? O que fará com o racismo? O que fará com o debate sobre o machismo? A resposta é clara: nada, pois o proibicionismo nunca produziu efeitos positivos na cultura. O que muitos pretendem é cercear a possibilidade de pensar, de expressar, de dizer piadas, mas é claro, só de alguns grupos. Não pode chamar de símio um grupo, mas pode chamar outro de gado.

E sobre as leis, acho que devem ser cumpridas. Quem desrespeitar as leis deve pagar sua dívida à sociedade. De toda maneira, sou contrário a qualquer lei que ataque a livre expressão de ideias e opiniões, por mais ofensivas que estas sejam, pela mesma razão que sou a favor de que qualquer partido tenha o direito de mostrar a cara e não se esconder em partidos de fachada.

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Racismo e capitalismo

No universo literário, o que conta é o quanto o autor vai gerar de lucro para a empresa. Ponto. O resto é muito menos importante. Não acredito quer qualquer autor seja desmerecido apenas por ser “negro”, gay, asiático, trans, mulher, etc. Estes escritores são desmerecidos quando suas vendas não são do agrado de quem enxerga no livro a possibilidade de gerar dividendos; essa é a regra do sistema no qual estamos inseridos. Se isso não fosse verdade, jogadores de futebol, sambistas, porta-bandeiras, e demais posições sociais marcadamente ocupadas por negros seriam objeto de discriminação. O mesmo com estilistas de moda e cabeleireiros no mundo gay. Por que aqui o racismo e a homofobia não funcionam? Conseguem imaginar no Brasil a torcida de um clube de futebol se manifestando contra a contratação de um ídolo de pele escura?

Na verdade, estes personagens – jogadores, mulheres, cabeleireiros, sambistas – que pertencem às “minorias” até são discriminados nos campos em que atuam, mas com uma forma positiva de discriminação – até as mulheres. Em profissões historicamente femininas, como educadoras e enfermeiras, mulheres têm clara vantagem sobre os homens nas escolhas. Quando eu advoguei em nome do direito de homens serem “doulas” (auxiliares de mulheres durante o parto) fui duramente atacado por identitárias que acreditavam que o parto e seus cuidados eram um terreno restrito às mulheres. Sim, e fui cancelado duramente por falar em nome da …. diversidade. Desta forma, não acredito num racismo que se sobreponha os cânones do capitalismo; não faz sentido e não se observa na realidade à nossa volta. Por isso eu digo: o racismo – que realmente existe e machuca – é o filho dileto da sociedade de classes e da propriedade privada. Qualquer tentativa de atacar o racismo com mensagens moralistas ao estilo “somos todos iguais” se choca com o real da economia, onde as populações negras são condenadas a viver em uma sociedade que as excluiu em função da escravidão a que foram submetidas a algumas poucas décadas.

Vejo como justa a reclamação sobre as “panelas”, mas permitam que eu diga que não há absolutamente nada no universo da literatura que não exista em qualquer outro campo de ação humana. Durante mais de 40 anos transitei no ambiente da Medicina e posso lhe afirmar que pouca coisa é tão cheia de favorecimentos injustos e até ilícitos quanto as posições de poder conquistadas pelos médicos através dos hospitais, clínicas, Academia, corporações médicas e suas associações. Sempre que eu vejo uma pessoa do povo elogiando um profissional da Medicina dizendo ser ele “um grande médico” pode ter certeza que o doutor foi colocado nessa posição no imaginário popular por forças bastante distantes da qualidade do seu trabalho e dos resultados de sua ação. Como qualquer outra atividade humana, a rede de contatos, as facilidades de acesso, o sobrenome, os recursos financeiros, a sedução e as portas que são deixadas abertas são os mais valiosos elementos para garantir o sucesso; o talento pessoal, apesar de não ser desprezível, ocupa uma posição bastante tímida nesse contexto.

Por fim, acredito que a reclamação contra os preconceitos faz sentido; entretanto, a ideia de que existem preconceitos raciais, de gênero, de orientação sexual ou de origem que sejam tão ou mais importantes que o poder financeiro – a ponto de se tornarem superiores aos mandamentos primeiros do capitalismo – é um exagero. Nenhum editor recusaria as “Memórias do Neymar” ou se negaria a produzir um filme sobre “Liberace” baseado em suas posturas racistas ou homofóbicas. O que manda em nossa sociedade ainda é o dinheiro, e aqueles que o controlam. Inobstante carregarem seus preconceitos pessoais, se preocupam primeiramente em manter seus bolsos recheados, mesmo que às custas de explorar a arte e o talento de mulheres, negros, gays, etc.

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Contexto

A verdade de uma fala estará sempre na dependência do contexto onde foi dita. Sem isso não há como avaliar seu sentido, pois muitas vezes ela pode querer dizer exatamente o oposto do que está enunciado. Não quero com isso invalidar frases racistas, misóginas e homofóbicas, mas afirmo que é essencial que cada fala seja analisada em seu contexto para, só depois disso, fazermos um juízo. Como diria meu amigo Max, sem o contexto em nossas falas não somos mais que máquinas que falam, criaturas cujas palavras carecem de alma e simbolismo. Sem a linguagem nossas palavras viram meros símbolos operacionais, que apenas nos permitem comunicar como abelhas sinalizando o lugar das flores. Quer um exemplo?

– Quer tomar um sorvete?
– Capaz.

Digam: ela aceitou ou não? Quem é do Rio Grande do Sul sabe que não há como saber. Nosso falar sempre vai depender do contexto, o que inclui a entoação, o olhar e o jeito de dizer. Para formar um juízo sobre uma afirmação qualquer é fundamental saber onde ela está inserida. Vou dar como exemplo uma antiga fala do meu pai, sobre a qual escrevi um texto há mais de dez anos, na qual ele discorria sobre um técnico de futebol. Dizia ele:

– Ele é um excelente técnico, mas pesa contra ele o fato de ser negro.

Então? Essa fala é racista? Seria se o contexto fosse “negros não sabem comandar jogadores e não entendem de tática”. Todavia, o que meu pai estava dizendo era o oposto disso: sua intenção era afirmar que as críticas seriam sempre mais pesadas devido à sua cor. “O fato de ser negro vai fazer com que sofra preconceitos, e seu brilhantismo será eclipsado pela visão racista e retrógrada de parte da sociedade” Como eu sei a verdadeira interpretação? Pelo contexto, por estar presente e por conhecer a fundo o interlocutor. Portanto, uma frase que poderia ser interpretada como racista se fosse recortada e retirada de sua fala era, em verdade, uma crítica à falta de oportunidades para técnicos negros e uma queixa às injustiças com o trabalho das pessoas negras que ocupam estes cargos.

Espero ter sido claro…. (opss!)

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Racismo e Futebol

Antunes, em destaque, primeiro jogador negro a vestir a camisa do Gremio, em 1912

Escutei recentemente alguns torcedores do Internacional dizendo que o Grêmio tinha a torcida mais racista do Brasil. Eu creio que não há base alguma para esta afirmação. Na verdade, existem mais argumentos para afirmar que seu rival rubro seria mais racista, exatamente pela história documentada de ataques à comunidade negra. Para se convencer do que estou falando bastaria conhecer as razões pelas quais Lupicinio Rodrigues, um negro, se tornou gremista. Não apenas um torcedor como qualquer outro; ele é autor do hino do Grêmio. Um clube racista permitiria isso? O Internacional à época (final dos anos 40) negou-se a jogar o campeonato junto com os atletas da Liga dos Canelas Pretas, que reunia os jogadores negros. Com seu voto, o Internacional impediu a participação dos negros do Rio-grandense. Diante desse fato, o negro Lupicínio Rodrigues percebeu o racismo entranhado na direção e na torcida colorada e declarou seu amor eterno ao Grêmio, junto com seus companheiros negros que o seguiram.

Adão Lima, que jogou no Grêmio nos anos 20 e 30 do século passado

O slogan do Gremio é “Grêmio, um clube de todas as cores“, e isso demonstra a luta do clube – torcida e instituição – contra o racismo. Que pesquisa de “clube mais racista” do Brasil seria essa? Pois do Brasil eu não sei, mas o clube mais racista de Porto Alegre é muito provavelmente o time vermelho. Utilizo aqui alguns trechos do livro “Liga da Canela Preta“:

“A história do negro no futebol revela como as práticas de preconceito era comum a época e também como os negros se organizaram para criar espaços de resistência e até mesmo de ascensão social através do futebol. Um dos momentos escolhidos foi uma coluna assinada por Lupicínio Rodrigues que explica porque é torcedor do Grêmio, uma vez que se tratava de um time de elite que não permitia que negros jogassem no clube. Lupicínio relata que o Rio-grandense fez um pedido para se inscrever na Liga hegemônica da época, a liga de brancos, mas o Internacional não aceitou a inscrição, gerando assim um motivo para que os negros torcessem para o Grêmio. Assim ele diz”:

“Este sonho durou anos, mas no dia em que o Rio-Grandense pediu a inscrição na Liga, não foi aceito porque justamente o Internacional, que havia sido criado pelo “Zé Povo”, votou contra, e o Rio-Grandense não foi aceito. Isto magoou profundamente os mulatinhos, que resolveram torcer contra o Internacional, e o Grêmio, sendo o maior rival, foi o escolhido para tal.” (Santos, 92-93, 2019).

Vamos deixar claro que não existem torcidas mais ou menos racistas. Há poucos anos vimos a torcida do Botafogo fazer gestos racistas para jogadores do Flamengo, e nada me garante que toda a torcida tenha alguns torcedores que carregam esta chaga moral. Por isso que causa indignação chamar a torcida do Grêmio dessa forma. Como podem ver, a história do clube Internacional é marcada pela discriminação racial, fazendo muitos negros torcerem para o Grêmio. Por essa e outras razões a torcida do Grêmio é (muito) maior que a do coirmão inclusive na população negra, além de ser majoritária em todos os segmentos populacionais. Não só na questão do racismo, mas percebam também a primazia do Grêmio na questão da orientação sexual, tendo abrigado o primeira torcida LGBT reconhecida no Brasil. Conheçam a Coligay e o exemplo de diversidade dado pela torcida do Grêmio.

Mais um detalhe: citem o nome de um técnico negro do Internacional. Digam o nome de um presidente negro do colorado. Há alguns poucos anos o Inter não tinha nenhum conselheiro negro, enquanto seu rival tinha vários. Essa história de clube racista baseado na imagem deplorável de uma única torcedora – que realmente teve uma atitude condenável – é uma generalização criminosa. Lembre apenas desse fato que ocorreu na minha infância: nos anos 70 (1974) um vice presidente do Inter (que foi presidente depois disso), ao vivo em uma rádio gaúcha, chamou um árbitro negro (Luiz Louruz) de “macaco”. Ao vivo, para milhões ouvirem, e nada foi feito. O vice presidente do clube disse isso no microfone, como uma declaração!!! Esse dirigente é pai de um ex-presidente do clube que atuou há alguns anos.

Acham bizarro? Leia aqui, neste artigo do jornalista Claudio Dienstmann: “Em 1935, o Inter perdeu o Gre-Nal e o Conselho “afastou” o negro centroavante Tupan. Em 1974, após o jogo contra o Esportivo em Bento Gonçalves, descontente com a atuação do juiz da partida, o vice presidente do Inter, Gilberto Medeiros, chamou o árbitro Luiz Louruz de “crioulo sem-vergonha”, “ladrão”, “negro safado”, “desonesto”, “incompetente”, “irmão do Valmir”, “macaco”, “vagabundo”, “patife” e “comprado pelo Grêmio”. O assessor José Asmuz (que também viria a ser presidente mais tarde) acrescentou: “vendido” e “preto desgraçado”. Disseram isso enquanto dirigentes do clube!!!!!

Compare isso com uma torcedora anônima que teve o azar de ser filmada dizendo uma estupidez na hora em que um goleiro negro fazia “cera” – mas que não retira o caráter abominável de sua atitude. Mas pense: ela não estava ali representando o clube, sua direção e seu corpo de conselheiros, apenas a si mesma. Aliás, sem olhar no Google ninguém sabe seu nome. Aposto, entretanto, que não venceria uma eleição para presidente do clube mais amado do RS. Ahhh… e o técnico negro que dirigiu o Internacional (se você não lembra) foi o Valmir Louruz, em 1999. Seu irmão Luiz foi exatamente este que foi chamado por todos estes termos racistas pelos dirigentes do Internacional. Terá sido demitido depois por ser negro?

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Os Diferentes

A população negra dos Estados Unidos está por volta de 13%, que é muito menor do que aquela do Brasil, onde os não-brancos há muitos anos são a maioria. Segundo o censo de 2022, negros e pardos já são 55% da população brasileira; brancos são 43%. Curiosamente, eu nunca achei estranho visitar a sede do Império na perspectiva da diversidade racial, e hoje me dei conta das razões. Eu vivi a vida inteira no RS, onde predominam os descendentes (como eu) de imigrantes alemães, italianos e portugueses. Aqui no meu Estado, a porcentagem de não brancos (negros e pardos) é de apenas 16% da população. Ou seja, três vezes menor do que o resto do país, mas muito parecido com a diversidade racial dos Estados Unidos. Sei bem o que significa ser muito diferente do que o lugar onde estamos: ao visitar pequenas cidades na China percebi o impacto de parecer diferente cercado por curiosos na rua que me pediam selfies.

Certamente, caso eu fosse baiano, teria um choque estético ao chegar no Texas, um estado eminentemente WASP (White Anglo-Saxon Protestant). Além disso, parece evidente que o racismo americano, que sobreviveu no corpo das leis até meados dos anos 60(!!) tenha forjado uma sociedade muito mais dividida. Foi somente a partir da intensa pressão exercida pela campanha do Movimentos dos Direitos Civis que o presidente Lyndon Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis, que sepultou o sistema brutal de supremacia racial nos EUA. Do ponto de vista étnico o sul do Brasil é o mais branco entre todas as regiões do pais, e isso explica muita coisa, inclusive a paixão de alguns do sul pelo supremacismo nazi. Eu acredito que a educação de um sujeito passa pela confrontação com os diferentes e as diferenças, e o que nos falta aqui é uma presença mais forte dos diferentes, permitindo que incorporemos seus valores e suas perspectivas de mundo. Isso também explica que, ainda em 2024, tanta gente odeie os palestinos apenas porque, ilusoriamente, eles parecem diferentes de nós.

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A Banalidade do Preconceito

O treinador do Palmeiras há alguns dias fez, durante uma entrevista para os profissionais de imprensa, uma declaração que correu pelo Brasil: “Isso não é uma equipa de índios. Há uma organização, e dentro dessa organização há liberdade para eles criarem….

Sabe por que ele diz isso com tanta naturalidade? Porque o racismo e o etnocentrismo europeu são absolutamente naturalizados por lá; eles não possuem a carga que existe por aqui, onde pelo menos se criou uma consciência sobre a barbárie da escravidão e uma certa vergonha disseminada por esta prática. Em Portugal (assim como na França) o racismo se expressa como a “invasão” de alienígenas a fragilizar sua cultura. A propósito disso, me veio à lembrança uma senhora no comboio no caminho entre a cidade do Porto e Lisboa falando abertamente que não suportava os escurinhos da “mouraria”, referindo-se aos torcedores do Benfica, clube que fica em Lisboa às margens do Tejo e que, segundo muitos racistas do norte de Portugal, é contaminada pelo sangue dos mouros – um tipo de ser humano escuro e “inferior”. Uma comentário como esse, feito por um brasileiro (e mesmo um americano) teria uma reação imediata de todos os presentes, mas parece que alguns ainda acham justo “passar pano” para este tipo de manifestação supremacista. Portanto, não deveria causar espanto treinadores “europeus” usarem este mesmo tipo de discurso naturalizado. Mas não será surpresa se aparecer a versão de que foi um “deslize” de alguém não compreende bem a forma do brasileiro se expressar?

Ora, sendo ele português e vindo de uma cultura responsável pelo extermínio de milhões de indígenas, deveria ser mais cuidadoso. Que ao menos seja hipócrita, e deixe essas demonstrações confinadas à sua casa, seus filhos e sua família. Humildemente, peço encarecidamente que não emporcalhem o futebol brasileiro com manifestações racistas desta natureza. Vou mais além: é possível que quando ele se refere aos “índios” ele na verdade está falando de todos nós brasileiros, inobstante as raízes europeias que alguns carregam. Para um europeu racista típico, as antigas colônias – sejam nas Américas, África, Oceania ou Ásia – eram os lugares para mandar os ladrões, os bandidos e os degredados, e talvez seja essa a imagem que ainda hoje este treinador cultua do Brasil. Talvez para o senhor Abel, o Brasil seja um país para pegar nossas riquezas – antes o ouro, agora se aceita “cash”- e depois fugir de volta para a civilização, um lugar de gente branca, limpa e organizada – exatamente o que os seus antepassados fizeram durante quase 4 séculos.

Apesar de eu ser um defensor fanático da livre expressão, eu acredito que manifestações de caráter racista precisam receber o adequado contraponto. Um sujeito como este não pode dizer estas coisas e não receber respostas que o façam – no mínimo – vir a público pedir desculpas. Sim, passados alguns dias já o fez, mas imagino sua surpresa ao notar que tratar os indígenas com total desprezo foi considerado inadequado. De qualquer modo, não podemos aceitar que personagens do futebol usem de sua notoriedade para espalhar grosserias e ataques aos habitantes originais dessa terra. E aqui deixo minha homenagem a um dos maiores centroavante da história do Brasil dos anos 60: Alcindo Martha de Freitas – o Bugre – cuja ascendência indígena era explícita, motivo de orgulho para si e sua família, mas que jamais foi tratado por nenhum treinador como um “desorganizado” por sua ascendência “bugre”. Segundo seu Raimundo, pai do garoto Alcindo, sua força vinha do “leite materno” e do “sangue de índio”, o que mais tarde se traduziria em centenas de gols pelo tricolor gaúcho, levando-o a ser convocado para a copa de 1966 ao lado de Pelé.

Por fim, é possível ser acusado de “exagerado” neste episódio, até mesmo de não ser compreensivo com o “deslize” do treinador português, mas não acho justo reduzir as críticas à sua fala como se fossem apenas manifestações passionais, derivadas de uma perspectiva clubista. Aqui no sul do Brasil o meu time do coração é treinado por um bolsonarista inveterado da pior espécie e eu não tenho nenhuma condescendência com esse tipo de sujeitos. Todavia, há que se separar os profissionais – com bons ou maus trabalhos – dos cidadãos em suas relações sociais. Aos primeiros que façam seu trabalho de forma honesta, mas dos últimos não podemos aceitar este tipo de fala racista.

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Os Espíritas e a Palestina

É impressionante (mas não deveria surpreender) o número de espíritas evangélicos (os chamados “espíritas cristãos”) que apoiam de forma explícita as ações de Israel em Gaza. Inobstante as imagens dos massacres, as 16 mil crianças mortas, o ataque desproporcional, a clara intenção de limpeza étnica e a ação genocidária de Israel eles se mantém fiéis à luta contra o “terrorismo” e ao direito sagrado do “povo escolhido” de ter a posse daquela terra. Usam a bandeira deste país em suas mídias sociais como emblema de sua fidelidade à “terra de Jesus”. Outros ainda defendem a morte dos palestinos dizendo tratar-se de um “karma coletivo“.

Esse é um tema interessante, e quem transitou pelo espiritismo já se deparou com esse conceito. Ele basicamente estabelece que certos grupos sofrem punição coletiva por erros e atrocidades cometidas no passado. Assim, os aviadores nazistas teriam se reunido num voo que incendiou e caiu no oceano – mas nenhuma menção aos americanos que chacinaram 1/3 dos habitantes da Coreia do Norte na guerra de libertação daquele país. Claro, as punições “divinas” dependem do nosso julgamento. A mesma sentença foi aplicada aos soldados dos exércitos de Napoleão, Gengis Khan, etc, que pelos seus crimes foram punidos pela lei do Karma. Sim, na mente de muitos espíritas habita o velho Deus malévolo, vingativo e cruel dos hebreus. Por certo que não são todos os espíritas que assim pensam, mas uma parte considerável, em especial os grupos ligados à “religião espírita” e os mais conservadores.

No atual episódio, os palestinos teriam cometido atrocidades no passado, as quais seriam a causa do sofrimento atual. Assim, os sionistas nada mais são do que “instrumentos divinos” para aplicar a punição necessária a quem cometeu delitos graves no passado. Ahh, e que fique claro que o holocausto sofrido na segunda guerra mundial contra a comunidade judaica da Europa também teria sido guiado pelas mesmas normas jurídicas punitivas celestiais. Crime e castigo.

Pois agora vejo os espíritas, que como eu estudaram na escola dominical estes personagens bíblicos, defendendo o direito sagrado dos judeus sobre a Palestina, tratando a população nativa – que habita a região há mais de 2 milênios – como invasores ilegais. Não sabem eles dos horrores que são cometidos em nome dessa ideologia abertamente racista e explicitamente fascista contra gerações de palestinos. Estes espíritas não têm noção do desprezo que os sionistas nutrem por eles e por todos os ditos cristãos, a quem consideram inferiores e subalternos. É tempo de acordar para a realidade perversa, racista, cruel e destrutiva do sionismo. Existem muitas provas da ideologia francamente racista que domina a mentalidade de Israel. Pensem, com sinceridade, se o mundo pode conviver com tamanha perversidade.

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Diversidade

Há 40 anos passados eu trabalhava como interno (estudante de medicina) em um pronto socorro privado da capital. Em uma oportunidade, enquanto conversava com a recepcionista em meio a um plantão monótono de fim de semana, vi um casal se aproximar da recepção trazendo uma criança ao colo.

– Meu filho está com febre. Preciso uma consulta. Vocês atendem pelo INPS?

O INPS é o antigo SUS. O casal e seu filho estavam vestidos de forma muito simples, algo pouco usual para um serviço privado em um bairro nobre da cidade. A secretária olhou para mim e sorriu com o canto da boca, como que a dizer “mais um daqueles”.

– Não atendemos pelo INPS, somente de forma particular. A consulta custa 5 mil cruzeiros.

O casal se olhou e sequer explicou que não teriam dinheiro. Resignados, limitaram-se a perguntar onde haveria um hospital público. A secretária apontou a direção e eles saíram com o filho febril nos braços.

– Todo sábado aparece um “cabeção” com esse tipo de pergunta, disse a secretária.

Cabeção, na gíria médica da época, representava o “sujeito pobre”. Alguns outros médicos tratavam esse personagem por “jacaré”, talvez por reclamarem muito, serem “boca grande”. Eu sempre recordo desse fragmento de história porque ele me ensinou algumas coisas relevantes, e a mais importante delas é a ilusão de pertencimento. Eu conhecia aquela secretária; ela era mãe de duas crianças e solteira. Ganhava um salário muito baixo e morava na periferia da cidade. Apesar disso, olhava com ares de superioridade para as pessoas do seu mesmo estrato social que apareciam inadvertidamente no ambulatório. Porém, por estar numa posição de relativo poder, e rodeada de profissionais da medicina, se considerava superior aos “cabeções” que, por ingenuidade ou desinformação, vinham procurar um serviço vedado à sua classe social. O fato de ser oriunda das classes populares não produzia a empatia que se poderia esperar; em verdade, muitas vezes esta condição produz o inverso: a identificação com o opressor.

Esta história se conecta com outras percepções que desenvolvi na minha vida. Uma delas é o meu repúdio às soluções cosméticas que jamais atingem a fonte dos problemas. Colocar uma pessoa das classes trabalhadoras em uma posição de relativo poder não significa garantir um atendimento mais empático, e a história está repleta de exemplos do quanto estas ações são apenas dissimulações para manter inalterada a estrutura social. Para alguns ainda é difícil entender porque a esquerda radical repudia o identitarismo, mas o veto ao cessar fogo em Gaza sendo dado, pela segunda vez, por um negro (representando um país majoritariamente branco) é mais um excelente exemplo. Diante da potência avassaladora do imperialismo, a cor da pele, a origem, os dramas compartilhados e as raízes são impiedosamente pulverizados. O sujeito, seja qual for sua identidade, será objeto de manipulação pelas forças reais que comandam a nação. A ideia de que negros, gays, trans, mulheres e quaisquer outros que se julguem oprimidos fariam a diferença pela sua representatividade é ingênua – no mínimo – mas é usada para dar a ideia de que sua escolha sinaliza as tão sonhadas equidade e diversidade na sociedade. Puro diversionismo macabro; na verdade os cordéis continuam sendo manejados pela elite exploradora; mudamos apenas a cor e a vestimenta dos marionetes. Nada muda, nada se transforma, mas oferecemos a suprema encenação para que os poderes sigam intocados.

Repito o que digo há décadas: se a representatividade tivesse valor neste nível, a entrada das mulheres na atenção ao parto – como ocorreu de forma marcante nas últimas décadas – teria um efeito revolucionário na assistência ao nascimento. Afinal, mulheres atendendo mulheres e criando entre elas uma sintonia fluida e natural, faria brotar a empatia redentora entre as cuidadoras e suas pacientes. A migração feminina para a obstetrícia deveria produzir uma marcada transformação no cuidado, diminuindo, até quase a extinção, qualquer resquício de violência obstétrica institucional. Essa era, para quem se lembra dos debates dos anos 90, a esperança compartilhada por muitos profissionais da nascente corrente da humanização do nascimento. Nada disso ocorreu. O que se viu na entrada do novo milênio foi que essa esperança era falsa, e a mudança simples no gênero dos atendentes não produziu nenhuma alteração perceptível nos níveis de abuso e violência no parto.

As taxas de violência e abusos praticadas por profissionais na atenção ao parto, sejam eles homens ou mulheres, são praticamente idênticas. O peso da medicina e a pressão corporativa são muito mais fortes que a identidade. O jaleco branco, a caneta “Parker” e o estetoscópio pendurado no pescoço são mais relevantes do que sua história, sua origem social ou sua identidade. Também por isso havia negros na polícia racista da África do Sul, árabes no exército sionista e pobres e negros nas forças de repressão brasileiras nos inúmeros massacres perpetrados contra a população negra e pobre das periferias brasileiras; a farda pesa mais do que a cor da pele.

Que isso nos sirva de lição na luta contra os preconceitos e a exclusão: a luta precisa ser compartilhada, sem diversionismo. A grande revolução será em torno da luta de classes, não das cores, dos gêneros e dos jeitos de ser. Não existe emancipação de mulheres, negros, gays, etc. que não passe pela revolução contra o capitalismo, atingindo a sociedade de classes e eliminando as barreiras sociais.

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Guerra e Opinião Pública

Nos últimos dias apareceram duas manobras da grande imprensa corporativa manobras claramente farsescas para tentar mudar a opinião pública sobre a guerra de Israel contra os palestina. A primeira foi uma operação da Polícia Federal contra supostos agentes do Hezbollah que estariam agindo no Brasil e planejando ataques “terroristas”. Imaginar que este partido libanês estaria desejando promover ataques contra um país que tem a maior colônia libanesa do mundo por si só não faz sentido. O caso fica ainda mais obscuro quando o Mossad – uma verdadeira organização terrorista de caráter internacional – diz que ajudou a polícia brasileira e aplaude a ação dos policiais brasileiros. Toda a acusação é muito frágil, sem evidências claras, e parece mesmo uma peça de publicidade para criar a narrativa batida de uma luta da “civilidade” ocidental contra o “fanatismo terrorista” do oriente. O outro caso foi a aparição de Bolsonaro com o embaixador de Israel no Brasil, tentando angariar frutos eleitorais para a direita brasileira ao vincular este encontro com uma possível liberação dos reféns brasileiros do sionismo israelense. Mais uma estratégia de propaganda descarada para que Israel fortaleça seus vínculos com a extrema direita fascista brasileira.

Talvez a pressa em mudar a narrativa se deva ao fato de que o mundo inteiro começa a mudar sua opinião e seu apoio à causa de Israel. Os ataques covardes, a morte de crianças, a destruição de hospitais, médico e ambulâncias mostram as verdadeiras intenções genocidas de Israel, mas a cortina de fumaça de imprensa ocidental – totalmente vendida para o imperialismo – começa a se dissipar pela avalanche de depoimentos e comprovações em contrário. Uma pesquisa nos Estados Unidos aponta que, no que concerne à posição de Biden sobre a guerra contra o povo Palestino, ele tem apenas 10% de aprovação no grupo de 18 a 35 anos. Ou seja, a juventude americana , aquela que vai morrer no caso de uma guerra aberta, é absolutamente contrária ao conflito. A imensa maioria do povo americano se opõe ao suporte americano para o estado terrorista de Israel. É notório que os impostos americanos financiam as bombas que matam crianças na Palestina, e isso começa a pesar na opinião pública americana. As últimas manifestações, ocorridas em diversas cidades americanas, deixam bem claro para que lado o povo americano está se dirigindo. A posição do sionismo e sua ação genocida na Palestina não consegue mais se sustentar, por mais que fortes poderes e quantidades imensas de dinheiro tenham comprado a mídia corporativa americana para favorecer o colonialismo racista de Israel.

Na verdade, se olharmos para o conjunto das nações do planeta, apenas Estados Unidos, seus vassalos europeus, Japão e Austrália apoiam Israel nesse enfrentamento. Por certo que nesse grupo há dinheiro e poder, mas o grosso da população está ao lado da Palestina. Se somarmos China, Índia, Bangladesh, Paquistão, Brasil, Indonésia, Nigéria temos apenas nesses 7 países quase a maioria absoluta da população mundial. A opinião pública do planeta, as marchas, os debates na Internet, a derrota da retórica sionista, as manifestações de chefes de governo, tudo isso está mudando a trajetória desse conflito. Isso fez com que a esperada “invasão de Gaza” não tenha ocorrido.

Além das questões relacionadas ao rechaço mundial à postura criminosa de Israel há outro fator importante sobre o fracasso (até agora) da invasão por terra. Os especialistas são claros: o exército de Israel é formado majoritariamente por um contingente não profissional, “garotos de apartamento”, sem preparo, sem condições físicas para suportar um combate em cada rua, cada viela, cada beco, no corpo-a-corpo, de forma desgastante (moral e fisicamente), com a morte espreitando em cada esquina e num terreno cheio de túneis que apenas os habitantes de Gaza dominam. Há o temor por parte dos sionistas de que Gaza possa se tornar o novo Vietnã, com baixas gigantescas de combatentes sionistas, um cemitério de jovens sionistas, o que dará ao imperialismo um novo fracasso retumbante, como o foram o Vietnã, a Síria e o Afeganistão.

As cartas estão na mesa. O sionismo está com seus dias contados, e seu fim será determinado pela comunidade internacional, a exemplo do que ocorreu com o Apartheid da África do Sul. Exatamente pela ação corajosa do Hamas, desafiando a arrogância militar de Israel, pela primeira vez em décadas existe uma uma luz no fim do túnel, e como todos sabemos, só quando Israel se sentir acuado poderemos ter uma real esperança de paz na região.

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