Arquivo da tag: Violência

Clubismo insano

A página de um influencer gremista fez uma postagem com essa foto conclamando torcedores a se unir a Israel e condenar os grupos de resistência Palestina que sequestraram estes soldados. Apela para o amor clubista para que nos associemos no clamor pela soltura dos soldados presos pelo Hamas.

É inacreditável essa postagem pró sionista. Parece que Israel não matou mais de 50 mil pessoas, 70% delas crianças e mulheres, além de destruir todas as casas e impor fome para uma população inteira, submetida a crimes de guerra continuados. É uma vergonha ver o nome do Grêmio envolvido com a exaltação de canalhas racistas que estão cometendo os crimes mais atrozes do século XXI.

Pois eu respondo que os sionistas devem parar de matar crianças palestinas antes de pedir pela libertação de seus soldados. A vida desses dois não é mais valiosa do que as 20 mil crianças mortas pelos terroristas de Israel. Nossas preces pela paz e pela liberdade devem ser para todos, e não somente para dois sionistas que estavam fazendo uma festa ao lado de um campo de concentração ao ar livre, não se importando com a vida miserável imposta aos prisioneiros de Gaza. Sim, espero que eles sejam libertos, mesmo que representem o sionismo, a ideologia mais racista e supremacista já criada pela humanidade, mas só depois de Israel cumprir os acordos de libertação dos prisioneiros palestinos, torturados cotidianamente nas masmorras de Israel.

O fato de usar a camisa do Grêmio não transforma um soldado israelense – ensinado desde o berço a desumanizar e matar palestinos – em uma boa pessoa. Não esqueçam que muitos assassinos confessos são presos usando camisetas de clube, e nem por isso seus crimes se tornam aceitáveis. O Grêmio não apoia Israel, o Grêmio não é um clube racista e o tricolor não se associa ao terror de Estado imposto pelo sionismo racista de Israel.

Deixe um comentário

Arquivado em Palestina

A Realidade da Educação: Entre a Severidade e a Permissividade

“Eu achava que meus pais eram muito rígidos, mas vendo essa geração de hoje eu acho que eles me salvaram”.

Uma afirmação no mínimo arriscada. Se a “rigidez” se refere a firmeza de princípios, então estamos juntos. Caso ela esteja lançando uma tese saudosista sobre os castigos e o uso dos “corretivos”, que eram comuns na minha época, então estamos bem distantes. Talvez os pais de ontem – que agora são bisavós – pensem desta forma, exaltando a educação dura que receberam, mas eu creio que esta postura serve como uma excelente desculpa para espancamentos, surras e demonstrações de violência que ocorriam em tempos passados. Tipo “Sim, bati nos meus filhos e dei a eles castigos degradantes e humilhantes, mas os salvei do destino terrível da permissividade”. Fácil, não?

Não há dúvida que existe um clima de “laisser faire” na educação, e uma crença de que os filhos são máquinas de desejo a quem não convém frustrar. Por certo que existe um enfraquecimento da figura paterna, tanto pela ausência física dos pais em função da fragilidade dos casamentos, quanto por uma cobrança crescente e intensa sobre a severidade e a brutalidade dos métodos de educação aplicados pelos pais do passado. Entretanto, o questionamento sobre os métodos “frouxos” de educação doméstica não pode permitir a crença de que o modelo de surras e castigos seja justo ou adequado. Se existem crianças “sem limites” e abusivas também é verdade que os traumas causados pelas práticas violentas de outrora não podem ser negligenciados. Temos uma legião de homens e mulheres velhos cuja infância foi marcada pela violência doméstica, socialmente validada, mas que causa neles sintomas tanto visíveis quanto silenciosos até hoje.

Não devemos cair na sedução fácil de um falso dilema. “Ahh, no meu tempo é que era bom!!”, normalmente é uma frase dita por alguém que não entendeu como foi terrível a criação das crianças no passado. “Apanhei, mas sobrevivi”, o que é verdade, mas a que preço? O que dizer dos medos, das angústias, da falta de confiança e das mágoas que até agora lhe atormentam? Portanto, é razoável imaginar que ambos os modelos são ruins, e que não é necessário escolher entre duas perspectivas – violência ou permissividade – como se fossem as únicas alternativas possíveis. Não; é possível educar os filhos com firmeza e autoridade sem cair na tentação fácil da violência física e moral que oferece respostas imediatas, mas que deixa marcas indeléveis na alma das crianças.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Violência

Você achou justa a ação do Hamas em 7 de outubro?

Essa é uma das perguntas mais prevalentes nos últimos tempos, mas serve como régua moral para classificar aqueles que se posicionam sobre o drama da Palestina. Em primeiro lugar, nada é “justificável” numa guerra, mas tudo que nas guerras ocorre precisa ser colocado em contexto. Não podemos nos perder em armadilhas lógicas. Os mais de 75 anos de massacres não poderiam ser interrompidos com abaixo-assinados ou ações nos tribunais, até porque Israel sempre desprezou as decisões da ONU. Além disso, é preciso reconhecer que se não fosse pela violência não haveria sequer a revolução francesa burguesa de 1789, que acabou com quase todas as monarquias europeias; sem a tomada violenta dos revolucionários Franceses e hoje seriam ainda súditos do Rei, e a democracia apenas um sonho e uma utopia. Culpar a violência reativa do Hamas e nada dizer sobre o holocausto palestino continuado é a narrativa racista e supremacista do sionismo.

Sim, acho que o combatentes reunidos da resistência palestina agiram de forma justa, mesmo que eu seja um proponente da paz. Achar que o Hamas é um grupo terrorista – como faz a imprensa burguesa – é jogar o jogo do imperialismo. O Hamas lutou com as armas que eram possíveis. Aliás, a sua ação no 7 de outubro será descrita no futuro como uma das maiores ações de guerra da história moderna. Esta ação, apesar das vítimas produzidas pelo exército fajuto de Israel, era o único caminho possível para a paz, pois a libertação de um povo subjugado há mais de 70 anos jamais se faria com tapinhas nas costas. O próprio Nakba – a expulsão forçada de 750 mil palestinos de suas casas – só aconteceu através de ações de terrorismo e de massacres por parte do nascente estado de Israel, as quais se mantém até hoje. Assim sendo, a resposta Palestina só poderia ser violenta, até porque todas as tentativas pacíficas falharam escandalosamente. Todos os acordos tentados com os sionistas foram descumpridos por Israel, porque jamais houve qualquer interesse na paz ou na criação de dois estados independentes e soberanos. Criticar a reação palestina às sete décadas de assassinatos, abusos, torturas, prisões arbitrárias, limpeza étnica e estupros é aceitar a narrativa do Império e o discurso vitimista do sionismo. O Hamas apenas agiu de acordo com as regras de violência que os próprios sionistas estabeleceram ao roubar as terras palestinas.

Para manter a ocupação de Israel e a brutalidade desumana como sempre foi praticada foi necessário controlar a opinião mundial através do uso da imprensa burguesa. Essa é a razão pela qual os massacres do Nakba só há pouco foram descobertos pelas pessoas do mundo inteiro. Hoje em dia, com a proliferação de smartphones, ficou impossível esconder a realidade do genocídio que está sendo cometido contra as populações oprimidas. Por esta razão, desde o princípio dos massacres Israel procura atingir a imprensa. Eles sabem que é preciso impedir a realidade chegar à todos no planeta. Quando o mundo inteiro puder saber a verdade, o racismo e a essência pútrida do sionismo supremacista acabarão imediatamente. Exterminar o modelo opressor de Israel é uma tarefa de todo o cidadão do mundo. A Palestina somos todos nós. Ao mesmo tempo em que os jornalistas são alvos preferenciais dos genocidas sionistas, canalhas mequetrefes de Hollywood se empenharam para impedir que a jovem e premiada jornalista palestina Bisan Owda concorresse ao Emmy, entre elas Selma Blair e Debra Messing, duas conhecidas sionistas que apoiam o massacre de crianças e a morte indiscriminada de palestinos. Felizmente para a parte saudável do planeta, esses monstros não conseguiram levar adiante seu projeto de silenciamento e It’s Bisan from Gaza and I’m Still Alive, – Aqui é Bisan de Gaza, e ainda estou viva – venceu o Emmy como melhor documentário.

Portanto, essa crítica ao “terrorismo” do Hamas – como se o Estado de Israel não fosse uma entidade ilegal e terrorista por excelência – é tosca e historicamente injusta, além de ser mentirosa, mas apenas sobreviveu por tantos anos porque existe um controle imenso sobre a imprensa internacional. Os mesmos jornais que acusam a Rússia de ser “anti-LGBT”, ter invadido a Ucrânia sem razão, ou que chamam Maduro e Xi Jinping de “ditadores” acusam os guerreiros que lutam pela liberdade da palestina de terroristas, sem mencionar o terror de Estado que é praticado pela potência de ocupação há mais de 7 décadas. Esqueceram de noticiar o que agora é conhecimento oficial: a maior parte das mortes no ataque de 7 de outubro 2023 foram causadas pelos helicópteros israelenses, usando a “Diretiva Aníbal”. E as mortes causadas pelo Hamas – que por certo ocorreram – foram atos de resistência à uma opressão obscena e continuada, violenta e indigna. Agiram a exemplo dos “freedom fighters” da Argélia, da Resistência Francesa, dos Vietcongs, dos russos em Leningrado e dos coreanos na ocupação japonesa e americana. Em verdade, “Terrorismo” é a forma como os opressores chamam aqueles que resistem aos seus abusos, mas eles são os guerreiros da liberdade do seu povo, e usam as ferramentas possíveis para empreender esta luta.

Aqueles que falam das “vidas inocentes” que foram perdidas na ação de resistência do Hamas respondam estas perguntas simples: digam até que ponto aguentariam o abuso dos colonos israelenses, grupos formados pela escumalha da Europa e da América. Depois que seus pais fossem torturados, seus irmãos fossem mortos, sua irmã abusada e seu filho preso, vocês continuariam a pedir “licença” aos invasores? Continuariam a apostar no “amor”? Tentariam, pela milésima vez, uma alternativa pacífica? Ou usariam armas semelhantes àquelas usadas por quem lhes massacra para, pelo menos, manter o que lhes resta de dignidade e para salvar a vida da sua família? Respondam com honestidade: qual seria o limite? Até quando suportariam? Não é aceitável que tenhamos uma postura ingênua sobre as forças materiais e econômicas que produzem os conflitos. Num contexto de agressões e abusos continuados apenas a reação violenta seria capaz de salvar a Palestina. Quem acredita em “legitima defesa” do sujeito precisa aceitar a “legítima defesa do povos”, até porque a própria ONU reconhece o direito de resistência violenta e armada dos povos ocupados!!! A liberdade é uma conquista dos homens, e para isso devem usar as armas que estiverem ao seu alcance.

Hamas e Palestina, neste momento, são a mesma coisa. O Hamas representa o maior, mais armado e mais capacitado grupo de defesa da Palestina. Portanto, defender a Palestina significa dar apoio irrestrito ao Hamas que, pela sua história e pelas próprias eleições realizadas em Gaza, é o legitimo representante das aspirações de liberdade do povo palestino. Qualquer um que tente deslegitimar o Hamas, acusando-os de “oprimir” o povo palestino, estará mentindo.

Deixe um comentário

Arquivado em Palestina

Homens que odeiam as mulheres

Existe um texto profundamente misândrico que circula pela internet no qual se lê, com as tintas marcadas pelo mais profundo ressentimento, que os homens não amam (su)as mulheres, não tem por elas qualquer apreço e apenas as desejam para diversão; querem apenas fazer sexo com elas. Usam-nas como troféus, adereços, carne animada, brinquedos que exibem aos amigos como prova de sua capacidade fálica. O texto oferece uma perspectiva dos homens (não de alguns, mas do gênero inteiro) como sendo o ápice do egocentrismo na criação divina, sendo o desprezo pelas mulheres o esporte mais cultuado entre eles. O texto é adorado por uma parte das feministas, que amam publicá-lo sempre que algo de ruim lhes acontece em relação aos homens. Ato contínuo, dezenas de mensagens se seguem abaixo do texto ao estilo “Tamo junto miga, não passarão”.

O que mais me impressiona neste libelo anti-masculinista é seu inequívoco clamor supremacista. Sim, para que dissemina este texto os homens odeiam as mulheres; têm por elas desprezo e ódio, e apenas se relacionam para o seu prazer egoístico, seja pelo sexo ou pela procriação, para terem alguém que leve adiante seus genes. Não se importam com sua música, sua arte, sua inteligência, suas inegáveis virtudes, seus múltiplos talentos e passam a vida a explorá-las em serviços domésticos desgastantes e tediosos. Santas ou putas. Já as mulheres…. são todas puras. Seu amor pelos homens é inquestionável. Totalmente desinteressado, sem viés, sem segundas intenções, sem atitudes dissimuladas ou malévolas. Por certo que jamais usariam estas bestas peludas para o prazer; ora, quem ousaria se interessar por seres sem delicadeza, brutalizados e insensíveis? E sobre o ódio… não, apenas pena por sua existência estéril e medíocre.

Desta forma, não há como aceitar a ideia de que os homens odeiam o sexo oposto, enquanto as mulheres os acolhem e amam (algo difícil de entender em algumas escritoras contemporâneas), sem mergulhar em uma visão abertamente supremacista, que considera as mulheres moral e intelectualmente superiores aos homens. Como se Deus (ou a evolução das espécies) houvesse dotado as mulheres de valores morais e espirituais que sonegou aos homens, em troca de alguns músculos, barba, bolas e um punhado a mais de testosterona.

Cada vez que leio sobre o tema me pergunto se estas mulheres algum dia em suas vidas se preocuparam em entender o que significa ser homem. Quais os desafios que o masculino impõe a cada um que pretende transitar em sua perspectiva planetária? Qual o sofrimento inerente a cada um que, ao caminhar pela trilha da incompletude, precisa encontrar nas mulheres seu elemento faltante, a peça essencial da qual carece? Quais os dilemas e sofrimentos inerentes à condição de homem que não podem ser percebidos à vista desarmada, e só podem ser compreendidos depois de uma investigação meticulosa sobre sua essência?

Acreditar que apenas um dos gêneros é capaz de tantos defeitos e deméritos é diminuir a própria potencialidade feminina, colocando-a como subalterna até na capacidade de fazer o mal. Eu, de minha parte, considero as mulheres tão competentes quanto os homens nos empreendimentos humanos, tanto para a luz quanto para a mais obscura das bestialidades.

Na imagem, Elisabeth Bathory, um anjo exemplar…

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos, Violência

Desejo de Matar

O Brasil inteiro ficou chocado, na última semana, quando surgiram nas telas da TV as cenas de assaltos cometidos por grupos de jovens nas ruas de Copacabana. Impossível não se identificar com o horror das vítimas, muitas delas meninas, que foram espancadas pelos meliantes. Nas cenas, a população parece indefesa, sem ação, atônita e sem qualquer proteção das forças policiais.

A reação nas ruas e nas redes sociais foi de indignação. Brotaram na Internet os conhecidos jargões da extrema-direita, exigindo desde espancamentos até linchamentos, pena de morte e mesmo a execução sumária dos assaltantes. A elite da extrema-direita vociferou sua previsível violência contra os delinquentes, mas a imprensa burguesa também foi igualmente incisiva. Alguns lembraram do caso do rapaz despido e amarrado a um poste após um assalto frustrado, quando até setores da imprensa aplaudiram a ação dos populares.

Ato contínuo aos arrastões no Rio de Janeiro, lutadores de Jiu-jitsu apareceram em cena oferecendo-se como proteção à população, agindo como vingadores, heróis acima da lei, salvadores dos fracos e indefesos habitantes do Rio. Assim, foram criados “comandos” populares de rapazes musculosos, que foram filmados espancando suspeitos (normalmente os pobres e pardos) e espalharam arbítrio, violência e um aroma de “Whey Protein” pelas ruas da cidade maravilhosa. Como Charles Bronson em “Desejo de Matar” – de 1974, um filme que contém as sementes do fascismo e do racismo – os lutadores do Rio acreditam na fábula de consertar uma sociedade com a ferramenta da vingança violenta. No filme, Charles Bronson produz um banho de sangue contra delinquentes (todos de pele escura) para vingar da forma mais cruel a morte da sua família. No início dos anos 80 este filme era um campeão das locadoras, e isso levou dois produtores israelenses (coincidência) a comprar os direitos da franquia, fazendo mais 4 filmes de sucesso.

Como sempre, estas reações da sociedade, carregadas de emocionalismo, levam a uma contenção imediata dos assaltos, mas invariavelmente passageira. Assim que os Comandos deixam de atuar, a normalidade dos abusos volta a ocorrer. E assim acontece porque continuamos a moralizar a questão, acreditando que esses ataques ocorrem pelo choque entre duas classes: as pessoas de bem (nós) e os bandidos, meliantes covardes e oportunistas. Continuamos a olhar para os bandidos como seres deformados, moralmente deteriorados, que usam de sua malícia e força para atacar pessoas inocentes pelo simples prazer de roubar e machucar. Acreditamos que se trata de uma questão moral, e não econômica, política e sistêmica.

É evidente que o aparecimento das “brigadas populares” , compostas por lutadores das academias do bairro, também se dá pela falência da segurança pública da cidade, controlada por uma polícia que está infiltrada em todos os níveis pela contravenção. Entretanto, a simples repressão destes marginais (e aqui uso no sentido de estarem “à margem”) pela polícia não seria uma solução muito melhor, apesar de produzir menos ataques discriminatórios – mas não muitos. 

Estes sujeitos, cansados de espiar pelos buracos do muro, resolvem invadir a festa do consumo como verdadeiros penetras, subtraindo dos desatentos as bugigangas que carregam. Quem não aceitar ainda leva um olho roxo. Por certo que não há como aplaudir como os pobres e excluídos do Rio de Janeiro decidem, de forma paroxística e desordenada, reclamar seu quinhão na festa do capitalismo usando as ferramentas do terror. Entretanto, não há como negar que uma sociedade de classes, onde a imensa maioria é expulsa do consumo (o caminho para a felicidade), é pródiga em produzir este tipo de reação. É improvável que se consiga manter por muito tempo tamanho desequilíbrio sem uma enorme força repressiva, mas também é justo esperar que muitos vão reagir – com maior ou menor violência, maior ou menor organização. Os assaltos no Rio de Janeiro tem suas raízes profundamente inseridas na terra fértil da desigualdade e da injustiça social. 

Da mesma forma, não é possível manter uma população de milhões de habitantes presa em um campo de concentração ao ar livre ou submetida à humilhação diária de espancamentos, prisões ilegais, abusos, desapropriações e assassinatos e não imaginar como natural a reação – até violenta e incontrolável – contra essa barbárie. Acreditar ser possível solucionar a situação na Palestina através da violência, seja pela eliminação do Hamas, a expulsão de toda a população restante ou até mesmo com a “solução final” – admitida por fascistas israelenses – é uma tolice, pois que a razão desse ódio é a invasão, o colonialismo e o imperialismo, da mesma forma que o ódio represados dos descamisados e favelados brasileiros é a traição do capitalismo ao seu desejo de participar da colheita dos frutos do trabalho. 

A solução, como sempre, está longe das alternativas paliativas. A brutalidade genocida de Israel e as brigadas de lutadores cariocas não podem solucionar problemas que não começaram na semana passada no Rio ou no 7 de outubro na Palestina; são doenças sociais ligadas à estrutura mais profunda e constitutiva de cada uma dessas realidades. Sem o fim do sionismo e do capitalismo nada será suficiente para dar fim à barbárie. Uma sociedade cuja matriz é perversa e onde a desigualdade é vista como natural será eternamente incapaz de solucionar a indignação dos excluídos através da violência. 

Deixe um comentário

Arquivado em Causa Operária, Violência

Uma escolha difícil?

É lamentável ver a defesa que alguns fazem de Israel, em especial entre aqueles que se consideram de esquerda. Olham para a ação desesperada de alguns dias atrás de forma maximizada, como se não houvesse por trás dessa ação mais de 7 décadas de abusos, torturas e morte. Agem como o Estadão e sua “decisão difícil” ou a turma do “nem-nem”, que colocavam no mesmo patamar um político vagabundo é o maior estadista do Sul global. Tentam equiparar as reações dos palestinos aos crimes brutais a que são submetidos desde o Nakba.

Estas mesmas pessoas, há poucas décadas, estariam criticando os insurgentes do gueto de Varsóvia pela sua violência “injustificável” contra os nazistas, recomendando àqueles que se mantivessem impassíveis diante da morte certa que se aproximava de sua família e de si mesmos. E se houvesse qualquer reação, mesmo que fossem os gritos lancinantes ao ver a morte se aproximando, mesmo essa indignação seria censurada, pois que demonstra uma rebeldia que precisa ser calada.

A falta de empatia com milhões que sofrem, e a solidariedade com a dor ocasional dos invasores, é algo que não é possível entender, a não ser pela lavagem cerebral produzida pela propaganda sionista massiva, intensa e obliterante.

Nunca houve paz duradoura sem que os opressores fossem vencidos. Não haverá paz com a continuidade do apartheid de Israel, com o racismo, com as prisões arbitrárias, com as mortes à granel. Como dizia Nelson Mandela, “Sabemos muito bem que nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos palestinos”

Israel, pária internacional.

#BDS

FREE PALESTINE

https://fb.watch/nHCK20fBM2/?mibextid=Nif5oz

Deixe um comentário

Arquivado em Palestina, Política, Violência

Futebol de mulheres

Quando eu era estudante de medicina tive como colega um rapaz que foi trabalhar com futebol. Coube a ele ser auxiliar do departamento de futebol feminino de um clube da capital. Por convite dele comecei a assistir as partidas de futebol feminino da minha cidade que, naquela época, passavam na TV local (TVCom, talvez?). Bem, há 40 anos o futebol feminino era praticamente um espetáculo humorístico. As meninas não tinham a mais leve noção de como se pratica futebol. Passes errados, chutes ridículos, erros na interpretação de regras simples e total falta de preparo físico. Pareciam crianças de 4-5 anos jogando na pracinha. Uma coisa que me chamava muito a atenção ao assistir os jogos era a quantidade de vezes que se estatelavam no campo e chamavam os médicos – no caso, o meu colega. Ele me contou que faziam isso porque lhes parecia uma boa ideia para descansar, mas também porque “tinham direito”.

Hoje em dia é fácil perceber o quanto o futebol feminino evoluiu, e me arrisco a dizer que é a prática esportiva que mais progrediu nos últimos anos. Em nenhum outro esporte popular se constatou tamanha diferença estética, técnica, tática e física do que no futebol feminino. Apesar dessa inegável evolução, é equivocado tentar fazer paralelos com o futebol masculino, porque são “reinos” distintos. O futebol que as melhores jogadoras do mundo praticam é equivalente ao futebol de meninos de menos de 15 anos, que sequer terminaram a puberdade. Um século e meio de prática entre os homens e as notáveis diferenças físicas são determinantes.

Usando os mesmos argumentos morais que via de regra aparecem nos debates, alguns defensores do futebol feminino afirmam que nenhuma jogadora se joga ao solo simulando lesões como Neymar (vide ao lado). A verdade é que nenhuma jogadora sabe explorar a torcida e condicionar a arbitragem como Neymar – e outros tantos craques do futebol – o fazem. Todavia, no dia em que houver torcida, pressão, dinheiro “de verdade” e emoção à flor da pele as mulheres serão levadas a aprender esse recurso. Com o tempo as mulheres aprenderam a usar o recurso da violência, porque seria diferente com a catimba?

Por outro lado, a idealização do futebol feminino ainda é muito irracional. Apenas analisem dessa forma: na várzea e nos jogos entre amigos de fim de semana também não há jogador que fica rolando no gramado e as faltas nunca são teatralizadas, mas é porque se trata de várzea mesmo, se joga por cerveja, por diversão – ou por nada. No profissionalismo – onde as mulheres recém estão chegando – é muito diferente; os valores são distintos e as pressões incomparavelmente mais fortes. E basta ver cinco minutos de jogos de mulheres para ver como elas estão aos poucos se adaptando ao “ethos” do futebol, com faltas, violência e a famosa malandragem, inclusive essa de ficar rolando no gramado após uma falta para condicionar o juiz.

Aliás, nenhuma jogadora apanha 10% do que o Neymar apanha, e não fazem isso porque são mais éticas, educadas, compreensivas ou corretas. Não, isso não acontece apenas porque até para bater é preciso experiência. A distância entre o futebol dos homens é física, por certo, mas também é temporal. Faltam muitos anos de prática para o futebol das mulheres se tornar semelhante ao masculino. No momento eles são tão distantes que é injusto comparar os jogos, traçando paralelos entre o que ocorre nos jogos dos homens e das mulheres, pois isso só serve para desmerecer a incrível evolução que ocorreu nos últimos anos no futebol feminino.

Digo sobre o futebol feminino o mesmo que digo sobre qualquer conquista feminina: achar que o futebol feminino ficará melhor desmerecendo o futebol e os craques masculinos é um erro absurdo, que gera ressentimento e afasta aqueles que admiram futebol praticado por mulheres. Melhor é fazer como a empresa francesa de telefonia Orange, que mostrou como é possível fazer o grande contingente de torcedores do futebol masculino admirarem o futebol cada vez mais técnico e vistoso das mulheres.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Violência

Educar sem violência não é fácil, nem natural. Natural é fazer “bypass”, criar atalhos, usar o caminho mais curto para atingir um objetivo. Testemunhei isso, com mais atenção, nos meus netos. Muito cedo eles aprendem a bater. Diante da insatisfação e da frustração, levantavam a mãozinha para bater e fazem isso sem jamais assistir a um ato de violência. É curioso como essas ações estão associadas com o nosso desenvolvimento enquanto espécie; bastam cinco minutos observando os animais para entender que elas são heranças muito antigas que carregamos em nossa bagagem primata.

Entretanto, apesar de ser um processo adaptativo natural para garantir atenção, domínio territorial, sucesso reprodutivo e recursos para sobrevivência, a violência pode ser substituída por modelos mais sofisticados de convívio social. Abolir as práticas violentas não deve ser um objetivo das sociedades e dos indivíduos apenas por ser moralmente superior, mas porque existem resultados muito melhores usando alternativas. Como diria minha mãe: “a fraternidade é a mais elevada forma de relação entre as criaturas”, além de ser a mais efetiva e a mais duradoura estratégia usada por humanos.

Meus netos são da primeira geração de crianças que eu testemunhei onde foi usada a filosofia da criação sem violência. A diferença que vejo no comportamento deles é marcante. Não existem surras ou castigos físicos a limitar suas travessuras e brigas; eles têm noção do limite e do preço por saírem da linha, mas agressões estão fora do escopo das penalidades. Com isso, creio que se estabelece uma perspectiva positiva para o futuro: nenhum conflito na vida deles necessitará da violência como intermediação. Mais do que informação, esta marca estará na sua formação como sujeitos sociais. Essa é, ao menos, a esperança que carrego; se desejamos mudar a humanidade, quem sabe a modificação do imprint da infância seja capaz de torná-los sujeitos da Paz.

Ainda há muita rejeição para esse novo paradigma, não só no plano pessoal mas igualmente no plano coletivo. O punitivismo é a palmada que a sociedade aplica nos delinquentes, imaginando que as punições possuem a capacidade de corrigir almas desajustadas. Não só isso: vejo aplausos todos os dias para linchamentos, de quem acredita no “olho por olho”. No trato com as crianças, ainda persistem milhares de advogados das “palmadas do bem”, que apostam nos “limites” estabelecidos “com amor” através de espancamentos. Ainda somos condicionados pela ideia de que violência pode gerar paz, como se a semeadura de urtiga pudesse gerar rosas…

Ainda há muito o que fazer para transformar este mundo e muito é necessário para modificar o paradigma da violência em direção a um modelo centrado na fraternidade e na cooperação. Mudar a forma de nascer é um passo essencial, assim como é fundamental tratar os pequenos com afeto e sem punições físicas. Cabe a nós começar essa mudança.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos

Condenações eternas e blindagens

Quem ataca tanto o Cuca não deveria se gastar tanto. Ainda temos o caso do Caetano para ser discutido. Pense apenas no seguinte: em ambos os casos é importante lembrar do conceito de “anacronismo”. Eu disse ambos. Caetano teve relações sexuais com uma menina virgem de 13 anos. Dizer que “a lei na época” era assim é contextualizar no tempo, lembrar que faz 40 anos, que o mundo (e a lei) eram diferentes, etc… Ok, não tenho nada a reclamar desta perspectiva, mas ela só vale para o Caetano? É importante lembrar que o horror que temos hoje das relações sexuais com meninas mais jovens não existia – com a mesma intensidade – nos anos 80.

Enquanto isso…

Caetano Veloso continua blindado; talvez por ser de esquerda, poeta, baiano ou muito delicado, e não um brutamontes ligado ao futebol, como o Cuca. No seu caso foi muito pior: foi crime confesso, quase na mesma época do caso com os jogadores na Suíça. Entretanto, não há sequer inquérito. No caso de Cuca há pelo menos dúvidas e debates. As meninas tinham a mesma idade. No caso de Paula ela ainda era virgem. Por que lançamos sobre os dois casos olhares tão distintos? Quando Olavo de Carvalho chamou Caetano de “estuprador” – algo que todos os lacradores de esquerda fizeram com o técnico Cuca – ele foi condenado a pagar 3 milhões de reais de indenização ao músico – só não pagou porque morreu antes de saldar a dívida. Por que esta seletividade? Por que a severidade com um e a compreensão com outro?

Sabem qual a desculpa usada para o Caetano? Anacronismo. Sim, o fato de julgar um caso ocorrido há 40 anos atrás por valores de hoje. Há 4 décadas ainda havia milhões de mulheres no Brasil que haviam se casado antes da maioridade. Sim, crianças ainda. Muitos dos que estão lendo essas linhas aqui tiveram uma avó ou (no meu caso) bisavó que foi mãe aos 14 anos. Muitos conhecemos mulheres solteiras cujo primeiro filho nasceu quando ela tinha apenas 13 anos. A imprensa – espelho da sociedade – tratou os casos do Caetano e do Cuca como sendo “quase” normais, corriqueiros, da mesma forma como tratava todos os casos dos ídolos do Rock e suas relações com as groopies menores de idade. David Bowie teve inúmeros casos, Mick Jagger também tem vários casos constrangedores. Jerry Lee Lewis casou com sua prima, menor de idade, ainda nos anos 50, e nem precisamos falar de Charlie Chaplin, bem antes. Mas naquele tempo…. quem não? Tais situações eram vistas pela sociedade francamente patriarcal como algo banal. O horror (justo) que sentimos hoje não existia àquela época, da mesma forma como achávamos normais castigos físicos (até violentos e humilhantes) contra crianças.

Chamar de “crime hediondo” é anacronismo. Hediondo é hoje, há 40-50 anos não era. Eu vivi essa época e sei como estes casos eram vistos e tratados. Então, vamos continuar a passar pano pro Caetano Veloso, o estuprador? Ou vamos entender os crimes nos tempos e épocas em que ocorreram? Não me ofende tanto a dureza da pena (no caso de Cuca, a prisão perpétua da opinião pública), quanto o fato de julgarmos delitos iguais como se fossem diferentes.

PS: Antes que digam que estou passando pano digo que hoje estes crimes seriam julgados com uma severidade completamente diferente, com o que concordo. Porém lembrem que os fatos são de quase 40 anos atrás. E “passar pano” é o que se faz com um ídolo de esquerda que agiu da mesma forma e jamais foi punido por isso. Nada justifica olhar para estes casos de forma diversa. Essa escolha que se faz é passional. E longe de mim defender Cuca ou seu atos, mas exijo sobre suas ações algo que é o sustentáculo do direito: a isonomia.

As leis, sobretudo no que diz respeito aos crimes sexuais mudaram dramaticamente nos últimos anos. Um exemplo típico é que o crime de manter relações sexuais com uma menor de idade era “perdoado” se o autor contraísse matrimônio com a vítima. Essa, aliás, é a desculpa de muitos que acusam Cuca para perdoar Caetano – e ainda complementam: “era a lei à época” Todas as legislações no mundo inteiro diminuíram a idade limite. Concluo que existe aqui uma brutal falta de isonomia. Por que um sujeito é massacrado nas redes sociais e o outro protegido? Essa é a questão mais chamativa nesse caso. A prisão perpétua para crimes do passado eu já conhecia, pois é aplicada pelos identitários com o cancelamento, mas a “blindagem eterna” é um fenômeno bem mais curioso.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos, Violência

Futebol

“A gente se odeia, mas se respeita”…

Quando eu era adolescente as brigas eram raras entre torcedores de times rivais. As torcidas saíam juntas do estádio. As arquibancadas eram divididas ao meio, metade para cada torcida. A distância entre os torcedores era não mais que dois metros, e para separar havia apenas um corredor de policiais de cada lado; na hora do gol era quase possível encostar no rival. Não havia gangues travestidas de torcidas organizadas. A violência não era a tônica.

Havia “flauta”, brincadeiras, deboche, festa, carreatas na rua e muita gozação. A violência foi inserida a partir dos anos 80, e no mundo todo, espelhando o fenômeno “hooligan” da Inglaterra. Aliás, fenômeno esse deflagrado durante os tempos de neoliberalismo feroz de Margareth Thatcher. Todavia, para entender esse fenômeno é necessário se dar conta de que não houve uma modificação no futebol e nos clubes que justifique esta transformação dramática no comportamento das torcidas; a mudança foi social, com repercussões em todos os setores da sociedade. O nobre esporte bretão apenas acompanhou as modificações sociais que se estabeleceram.

O futebol, como legítima manifestação da cultura, não poderia ficar isolado das transformações drásticas na economia. A falência do capitalismo, a concentração obscena de renda, o empobrecimento da classe média, fizeram com que o futebol se tornasse um repositório natural das nossas frustrações. Passamos a usar esse esporte como o espantalho das nossos fracassos e fragilidades. Jogamos no futebol a nossa raiva, numa catarse coletiva; o adversário é o chefe, o patrão, o vizinho, o colega que nos oprime, as mulheres que não nos quiseram, os homens que nos desprezaram, os políticos, os ricos, os imigrantes e tudo quanto nos agride.

Nosso grito, em verdade, é contra a opressão que produz ricos e miseráveis. Entretanto, é inconsciente ainda. Não estamos cientes do nosso inimigo, e o confundimos com as cores do nosso adversário. O dia em que acordarmos para esta realidade o futebol não vai precisar ser usado para canalizar tanta frustração. O que nos faz jogar sobre este esporte tantas emoções é a neurose coletiva amplificada e abrangente. Como estrutura básica do ser humano ela não pode ser curada, mas pode ser civilizada se (ou quando) seus condicionantes – o capitalismo – forem superados, para que a paixão pelo esporte não se confunda com a violência explícita.

Não existe “cura” para a violência das torcidas que não passe pela mudança profunda da estrutura social. Precisamos curar a sociedade ajustando suas fundações, baseadas no capitalismo e no imperialismo, que estão ruindo de forma inquestionável. Enquanto houver opressão e violência imbricada na cultura ela vai se expressar no futebol e naqueles que amam esse esporte. Não há como curar a neurose projetada no futebol sem tratar a sociedade adoentada, que usa o futebol como válvula de escape para os nossos fracassos.

Deixe um comentário

Arquivado em Pensamentos