Paixões são prisões autoimpostas, cárceres da alma onde o Império dos Desejos exerce sua tirania. Mas sem reconhecer o profundo significado destas pulsões fica impossível entender a trajetória humana que, despida de tais impulsos, não seria mais do que uma escrava das forças da natureza.
Arquivo do mês: março 2015
Desajustado
É, sou um desajustado mesmo. Não consigo ver sentido em achar que a doença de um criminoso poderia ser apaziguada – ou minimamente tolerada – se sobre ele for aplicada outra violência, igualmente desumana e brutal. Quem acha que as notícias de crimes hediondos desnudam um mundo cruel e absurdo deveria esperar os comentários antes de se escandalizar.
Os comentários, eivados de ódio e indignação, são frequentemente mais violentos que o próprio crime a que se referem, emitidos por criminosos em potencial, linchadores embrutecidos pelas frustrações pessoais, mas que ainda não tiveram oportunidade de delinquir.
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Humanizar o Nascimento
“Humanizar o nascimento é garantir o lugar de protagonista à mulher”
Leia o artigo do médico Ricardo Jones, referência em partos humanizados no Brasil
Por Ricardo Jones

Fotos: Kalu Brum
Parto humanizado ganha força no Brasil
Para muitos as últimas medidas governamentais em relação ao controle mais rígido da utilização de cesarianas(1) foram ações bruscas, repentinas, e excessivamente severas. Afinal, a cesariana como método de nascimento está arraigada no imaginário de muitas mulheres – em especial no Brasil – como um método seguro, limpo, moderno e indolor, mesmo que a realidade seja bem diferente desta imagem. Ainda que muitos profissionais concordem que existe “algum exagero” na realização desse procedimento, a reação da categoria médica foi de desaprovação. Para os ativistas da Humanização do Nascimento, todavia, tais medidas são a culminância de mais de 20 anos de lutas para que as mulheres tivessem plenos direitos de escolha, uma assistência centrada na fisiologia e uma postura embasada em ciência por parte dos cuidadores. Para os humanistas do nascimento, as medidas não foram bruscas e muito menos severas: foram a culminância de propostas de mais de duas décadas.
Mas porque a crise na atenção ao parto?
Somos herdeiros de uma cultura que acredita estar a saúde “fora do corpo”, e magicamente acondicionada em drágeas, pílulas, comprimidos e injeções. Esta modificação na forma como compreendemos a busca pelo equilíbrio (de um modelo interno, para um modelo externo) produz repercussões em toda a sociedade contemporânea, onde a “saúde” e o “bem-estar” são vendidos como produtos, alienando o indivíduo da responsabilidade de encontrá-los por si mesmo.
Essa ideologia “exógena”, quando aplicada ao nascimento humano, gera a série de problemas que vemos hoje em dia relacionados com a extrema artificialização da vida. O aumento das cesarianas é um bom exemplo deste exagero. Esta que deveria ser uma cirurgia salvadora acabou sendo banalizada ao extremo, e um percentual muito grande de mulheres acaba optando pela sua realização sem uma noção exata dos riscos a ela associados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) determina que não mais de 10 a 15% dos partos podem terminar em uma cesariana. Incrivelmente, num mundo em que os indicadores de saúde melhoram em função do incremento nas condições sociais, a mortalidade materna aumentou nos últimos anos nos Estados Unidos, principalmente às custas do aumento de cesarianas naquele país(2).
A sociedade está se dando conta de que o modelo tecnocrático existente não está mais oferecendo a qualidade de saúde que as mulheres exigem, e se une, através das múltiplas formas de representatividade, para discutir o destino do nascimento no nosso país. É desse caldo social e cultural que surgem as organizações de mulheres, de profissionais, governamentais e a própria mídia para impulsionar as mudanças que a sociedade exige no que tange à segurança para mães e bebês.
HUMANIZANDO O NASCIMENTO
“Humanizar o nascimento é restituir o lugar de protagonista à mulher”.
Humanizar a chegada de um novo ser ao mundo baseia-se na ideia de que ele deve ser tratado com carinho e ser bem recebido desde o início, além de oferecer à mulher o controle do processo. O parto humano foi forjado nesse grande laboratório de aprimoramento que é o processo evolutivo, e não pode ser melhorado através de equipamentos, drogas ou cirurgias. Nossa função como cuidadores da saúde é observar os casos em que existe uma “fuga da fisiologia” na direção perigosa da patologia. Nesse caso, poderemos com toda a confiança e confiança usar a nossa arte e nossa tecnologia para salvar tanto mães quanto bebês.
Entretanto, o que vemos todos os dias é um abuso das cirurgias. As razões para esse fato residem na desconsideração das capacidades da mulher, como se ela fosse incapaz, defectiva, frágil e incompetente para dar conta da tarefa milenar de gestar e parir. Usamos abusivamente a tecnologia, e nos baseamos numa crença preconceituosa em relação à mulher: “A tecnologia é mais segura do que as mulheres para dar conta do nascimento“. Isso é comprovadamente falso. Por estas questões marcadamente filosóficas, a Humanização do Nascimento é também uma questão de gênero, porque a matriz desta visão distorcida é uma postura de descrédito para com a mulher e sua fisiologia. O projeto global de Humanização do Nascimento é uma forma de colocar a mulher numa posição de destaque, valorizando seu corpo e sua função social e oferecendo-lhe o protagonismo de seus partos.
DOULAS
Elas dão suporte em várias dimensões às mulheres grávidas nos momentos do parto.
Doulas são profissionais que acompanham as grávidas durante o processo de nascimento. Elas se aperfeiçoam em oferecer suporte afetivo, emocional e físico para as grávidas durante o parto. Elas não realizam qualquer atividade de ordem médica ou de enfermagem. Seu foco de atenção é somente a mulher e seu conforto. Não verificam pressão arterial, não auscultam batimentos cardíacos fetais, não fazem exames para ver o progresso de dilatação e não oferecem medicações de qualquer ordem. Elas são referendadas pela OMS, através do livro “Assistência ao Parto Normal – Um Guia Prático”(3), assim como pelo Ministério da Saúde do Brasil desde a publicação do livro “Parto, Aborto e Puerpério – Assistência Humanizada à Mulher”(4), e sua atuação é baseada em evidências atualizadas e consistentes, como pode ser visto no livro “Guia para Atenção Efetiva na Gravidez e no Parto – Enkin e Cols”(5) da biblioteca Cochrane, e nos inúmeros trabalhos realizados (Klauss & Kennell(6) – Mothering the Mother). Ao lado de tantos achados positivos relacionados ao parto, também encontramos uma incidência aumentada de mulheres que continuam amamentando além de seis semanas após o nascimento de seu bebê(7). Doulas não produzem trabalho redundante, não competem com médicos ou enfermeiras pelo trabalho com as grávidas e, inclusive, deixam os profissionais mais à vontade para suas tarefas específicas. “Na ausência de qualquer risco associado, e com as evidências claras das melhorias associadas com sua atuação, para toda a mulher deveria ser oferecida a oportunidade de ter uma doula a lhe acompanhar durante o parto.“(8)
UM PROFISSIONAL PARA A VIDA
O que é um “profissional humanizado” e como reconhecê-lo?
Profissional humanizado é todo aquele que entende as dimensões subjetivas do seu paciente como extremamente relevantes. É o profissional que encara toda a paciente como singular, irreprodutível e única e encara o nascimento como momento único e evento ápice da feminilidade. Trata seus pacientes com gentileza e respeito, oferecendo às mulheres a condução do processo. Posiciona-se como uma instância de orientação técnica, e não como “proprietário” do evento. Usa os protocolos mais atualizados, como a Medicina Baseada em Evidências, para o tratamento de suas pacientes, mas sempre leva em consideração a dimensão pessoal de cada uma, forjada na sua história pessoal, suas lembranças, seus medos, suas expectativas, seus sonhos, suas características físicas e seu desejo de que o nascimento de seus filhos seja vivido como um ritual de amadurecimento. É um profissional que alia as habilidades técnicas com uma postura compassiva em relação às mulheres grávidas, entendendo-as como possuidoras de um grande tesouro, que deve ser cuidado com carinho e respeito. Desta forma, tem como meta um parto em que o menor número possível de intervenções ocorra, ao mesmo tempo em que se preocupa com o máximo de segurança e bem-estar para todos.

HUMANIZAÇÃO DO NASCIMENTO E TECNOLOGIA
Elas não se opõem em hipótese alguma. A humanização do nascimento é a síntese que coloca estes dois paradigmas lado a lado.
Bem sabemos o quanto o uso de tecnologia poluiu o mundo a ponto de nos colocar em risco de sobrevivência. Sabemos da mortandade de peixes, da crise hídrica, do envenenamento de lagos e rios e do desaparecimento de espécies animais pela ação predatória irresponsável. Nesta lista também cabe elencar o paulatino desaparecimento da capacidade feminina de parir, assim como a crescente escassez de profissionais capacitados para o atendimento ao parto normal. A fantástica capacidade humana de mudar o mundo é ao mesmo tempo maravilhosa e perigosa.
A humanização do nascimento é a síntese que procura oferecer uma síntese para os paradigmas em conflito. De um lado temos o “naturalismo“, onde qualquer intervenção humana seria inadequada e ruim para um evento “natural” como o parto. No extremo oposto do espectro temos a “tecnocracia“, que é um sistema de poder que coloca em posição de destaque aqueles que controlam a tecnologia e a informação. Neste modo de ver o mundo as pessoas acabam se despersonalizando, perdendo seu rosto, tornando-se objetos da ação da tecnologia. O nascimento, que deveria ser um acontecimento social, familiar e afetivo, tornou-se, paulatinamente, um evento cheio de intervenções potencialmente perigosas quando dominado pelo olhar tecnocrático. Perdemos o contato com a natureza íntima, sexual, feminina e transformadora do parto. Domesticamos o nascimento, abafando a sua natural rebeldia. Entretanto, o que sobra de humano no parto? O que resta do evento que poderia ser aproveitado como elemento de projeção e de transformação para esta mulher?
A Humanização do Nascimento entra neste momento histórico como a síntese mais acabada das teses digladiantes. Procura entender o ser humano como um ser imerso na linguagem e que constrói a tecnologia como forma de expressão de sua própria natureza racional, mas que agora começa a se dar conta do perigo de “artificialização” excessiva da natureza, externa e interna. Assim, a ideia de “humanizar o nascimento” esforça-se para oferecer o “melhor de dois mundos“(9), ao procurar o resgate do suporte social, emocional, afetivo e espiritual às mulheres em trabalho de parto, ao mesmo tempo em que oferece o melhor da tecnologia salvadora para aquelas mulheres que se afastam do rumo da fisiologia e se dirigem ao caminho perigoso da patologia.
Não há porque negar o recurso tecnológico para resgatar vidas que se apresentam em risco; por outro lado não há porque se artificializar um evento tão humano quanto o nascimento de uma criança. De tão artificializado, o nascimento de um indivíduo desfigurou-se a ponto de ser hoje um simulacro do que foi no passado.
CAMINHOS PARA A HUMANIZAÇÃO
A mobilização em torno de um parto mais humano e seguro é um evento político, porque tem a ver com a expressão social de valores!
Existem várias formas de trabalhar com essa necessária reformulação. Primeiro, é importante entender a necessidade desta reavaliação. A intromissão da tecnologia em todos os setores da nossa vida cotidiana nos cria a sensação incômoda de que estamos perdendo nossa essência.

A humanização do nascimento opera na contramão da aventura tecnológica, questionando a invasão de nossas mentes e corpos por elementos estranhos. Além do mais, essa mobilização em torno de um parto mais humano e seguro é um evento político, porque tem a ver com a expressão social dos valores mais profundos que nos sustentam. Somos seres sociais e a nossa ação política significa organizar e mobilizar pessoas em torno de ideais comuns.
UM PROCESSO LENTO E GRADUAL
A educação e conscientização para o parto humanizado têm importância vital no processo.
A tarefa de humanizar o nascimento só pode se dar através de um processo demorado e lento, porque tem a ver com a própria estrutura que sustenta a sociedade ocidental. Nossa ação, portanto, deve ser em várias frentes, sendo a educação para o parto humanizado uma das tarefas mais substanciais.
Outra ação importante é com os cuidadores de saúde. Estes devem receber orientação sobre as vantagens que a medicina baseada em evidências oferece para a humanização do nascimento. Médicos, parteiras, psicólogas, educadoras perinatais, enfermeiras e doulas devem receber treinamento numa abordagem mais integrativa, suave, social e afetiva do nascimento. A presença de companheiros e/ou familiares na hora do nascimento deve ser estimulada por estes profissionais. Esta atitude simples e de baixo custo, além de não aumentar riscos, diminui a angústia e oferece uma vivência mais harmoniosa do parto para o casal e/ou família. As escolas médicas e de enfermagem deverão incluir de forma obrigatória classes que abordem os direitos das pacientes, a humanização do nascimento e medicina baseada em evidências. É imperioso que a formação das escolas da área da saúde seja direcionada para o “novo paradigma”, onde a mulher será o centro de onde irão irradiar as decisões sobre sua vida sexual e reprodutiva.

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL
Para construirmos um mundo menos violento, mais amoroso, mais digno, respeitável e justo temos que começar com o nascimento.
Acreditamos na capacidade de parir que cada mulher carrega. Acreditamos na perfeição da natureza e nos milhares de anos de preparo para os mecanismos intrincados do nascimento. Sabemos da importância da tecnologia para salvar a vida de pessoas que estão em risco. Por outro lado, entendemos que a intervenção num processo natural só pode se justificar diante de critérios muito claros. Intervir no nascimento para encurtar tempo ou por interesses econômicos quaisquer são erros graves que devem ser evitados. Atitudes como essas, que retiram da mulher o protagonismo do parto, não podem ser toleradas em uma sociedade que se deseja justa e fraterna.
O desempoderamento da mulher no nascimento de seus filhos tem repercussões na sociedade como um todo, pois será ela a principal guardiã dos seus valores, e quem vai lhes ensinar as primeiras ideias. O parto é um momento pleno de afeto e sexualidade e a intervenção desmedida pode ter efeitos devastadores – físicos e psicológicos – para a mãe e seu bebê. Além disso, “se quisermos verdadeiramente mudar a humanidade temos que mudar a forma como nascemos“, como já nos dizia Michel Odent.
Para construirmos um mundo menos violento, mais amoroso, mais digno, respeitável e justo temos que começar com o nascimento, para que todos possam chegar a esse mundo envoltos numa aura de carinho e amor.
Ricardo Herbert Jones é ginecologista, obstetra e homeopata.
REFERÊNCIAS NO TEXTO
- http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/janeiro/06/ApresentaPARTO-06-01-15.pdf
- http://tabnet.datasus.gov.br (2) P. Krugman, “Pride, Prejudice, Insurance”, International herald Tribune, november 8, 2005; http://www.cdc.gov/nchs.
- Organização Mundial de Saúde. Assistência ao Parto Normal: Um guia Prático. Relatório de um Grupo Técnico. Genebra, 1996. 53p.
- Ministério da Saúde Brasil. Parto, Aborto e Puerpério – Assistência Humanizada à Mulher – MS 200
- Enkin M. & Cols, Guia para Atenção Efetiva na Gravidez e no Parto. 3a Edição – Guanabara Koogan 2000
- Klauss, M.H., Kennell, J.H., The Doula: An Essential Ingredient of Childbirth Rediscovered. Acta Paediatric 86:1034-6, 1997
- Enkin M. & Cols, Guia para Atenção Efetiva na Gravidez e no Parto. 3a Edição – Guanabara Koogan 2000
- Sosa, R., Kennell, J., Klauss, M., Robertson, S., and Urrutia, J. (1980) The Effective of Supportive Companion on Perinatal Problems, length of labor, and mother-infant interaction. The New England Journal of Medicine 303:597-600
- Threvathan, W.R., Smith, E.O., McKenna, J.J. Evolutionary Medicine (1999) Oxford University Pres
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Moderação no Discurso
Algumas mulheres poderiam – em nome do respeito, da racionalidade e da boa convivência – aprender que discordar das suas opiniões NÃO significa desconsiderá-las, silenciá-las ou desmerecê-las. Debater com alguém demanda reconhecer visões de mundo diferentes e possibilidades diversas de olhar para o mesmo fenômeno. Escutar dignamente uma opinião diversa, sem adjetivos, ofensas ou criticas “ad hominem”, são condições indispensáveis ao debate.
Infelizmente nas redes sociais qualquer discordância significa malquerência. Uma mulher ofender um homem que ousou discordar dos detalhes de uma argumentação (mesmos tendo concordado com a conclusão) é muito triste de ver, pois determina o fim de qualquer possibilidade de interlocução.
E isso é sempre uma perda…
Debater é fundamental, mas entendo como o mundo virtual pode transformar uma conversa frugal em uma briga. Ontem fui discutir uma piada machista sobre a bunda da Yoko Ono e fui xingado, mesmo concordando com a tese principal e condenando o machismo explícito do chiste. Entretanto a pessoa dizia que Yoko era mais do que uma bunda, a qual “só serve para eliminar fezes“.
Aí eu discordei. “Peraí. Uma bunda é muito mais do que isso, e por seu valor simbólico e erótico ela é tão valorizada. Uma bunda é o quadril, as ancas, e por ali passam bebês. Passam dores e passam desejos. Ali está o sexo com suas reentrâncias e mistérios. Uma bunda tem valor simbólico, muito mais do que operacional. Para criticar uma piada machista não é necessário biologizar a bunda, ou o corpo da mulher“.
Por dizer isso e discordar da visão diminutiva de um fetiche (adorado em todos os povos, tanto quanto os seios fartos), fui agredido virtualmente, mesmo reconhecendo que a Yoko não merecia esta desconsideração de caráter objetual e machista.
Ok, “mea culpa“…
Eu já falei sobre isso, e a culpa é minha. Trata-se do “debate com as vítimas“. Quando um dos sujeitos do debate É vitima (como as mulheres são) qualquer “adversário” (pois sou colocado nessa posição) está inexoravelmente perdido. Ele não tem perdão por incorporar em sua fala, mesmo sem o desejar, o agressor. Se eu disser, em forma de conselho, que “as mulheres deveriam…” isso é transformado – antes mesmo de atingir a retina – em uma ordem indevida, e tratado de forma injusta como se uma violência fosse. Quando o debate fica assim e literalmente TODAS as palavras precisam ser vigiadas é por que o diálogo já acabou ha muito tempo e só o que resta é um enfrentamento de solilóquios.
Por outro lado é interessante notar como algumas mulheres chamam homens de “machistas” com total liberalidade. Creio que as que fazem isso não se dão conta como isso é ofensivo. Pior: não oferecem sequer uma defesa possível. Vou contar um segredo. Toda a vez que eu escuto uma mulher me acusar de machista, apenas por discordar dela sobre palavras ou detalhes de percepção, eu me sinto como uma mulher que, ao debater com um homem, é chamada de “mal amada”. Pense nisso antes de chamar um amigo seu de “machista”, principalmente quando o seu amigo simplesmente discordou de você.
Meu pedido é que debatam e dialoguem sem ofender, sem rotular ou adjetivar. E o meu “mimimi” não é gratuito. É uma tristeza de ver gente que não tem consideração pelo interlocutor. Que ofende apenas porque discorda. Que agride e fere, mas que reclama das (verdadeiras) agressões sistemáticas que sofre. Como eu disse anteriormente, quando as palavras precisam ser medidas para não serem usadas contra quem as proferiu é porque o desejo de debater deu lugar há muito tempo para sentimentos menos nobres.
Professora de Inglês
A vida divertida de uma professora de inglês para crianças…
Minha filha Bebel estava dando aula de inglês para crianças de 4 anos de idade em uma escola privada da cidade. A brincadeira que ela elaborou consistia em dizer em voz alta para os aluninhos uma parte do corpo em inglês, e as crianças apontarem em si mesmas. Com todos eles em pé de frente para a professora a brincadeira começou.
– Vamos lá crianças, quero ver quem acerta. Escutem a professora… “HEAD”.
Algumas crianças não sabiam, outras apontam para suas cabeças, mas uma menina linda bem à frente da professora põe ambas as mãos entre as pernas e grita:
– Xexeca!!!
Sem se perturbar minha filha Bebel explica que não é isso, que é a cabeça. Ela sorri e Bebel propõe outra parte do corpo, e fala “LEG”.
As crianças se entreolham, e algumas se abaixam e tocam nas pernas. Outras apenas sorriem sem saber o que fazer. A menina lindinha aproveita e mais uma vez coloca as mãozinhas nos genitais e dispara:
– Xexeca!!!
Minha filha começa a ter dificuldade para conter o riso, mas explica mais uma vez que não é essa parte e explica que é a perna. Ela parece desapontada, mas continua sorrindo lindamente. Mais uma charada então é proposta. Bebel diz “NOSE” e espera as respostas.
As crianças novamente titubeiam. Algumas colocam o dedo no nariz, outras nas orelhas, mas a loirinha não tem nenhuma dúvida. Coloca as mãos lá em baixo e mais uma vez exclama com plenos pulmões:
– Xexeca!!!
Aí a minha filha não contem mais o riso e, depois de explicar que era o nariz, dispensa a turma para fazerem um lanche. Quando estão todos de saída a menina se aproxima da minha filha e diz em voz baixa:
– Professora, depois a senhora vai dizer xexeca?
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Visão de Futuro

Minha visão de futuro?
“Em um futuro distante testemunharemos a lenta incorporação dos valores da autonomia e liberdade para as escolhas informadas das mulheres gestantes, a diminuição lenta e gradativa das cesarianas – em especial as de indicação duvidosa ou questionável – uma aceitação crescente de enfermeiras obstetras na atenção ao parto eutócico, a incorporação das doulas pelas equipes de assistência, a criação de núcleos extra hospitalares de assistência ao nascimento, a suavização dos procedimentos de atenção e cuidados no parto (guiados pela Medicina Baseada em Evidências) e o desaparecimento dos “dinossauros” da obstetrícia, sufocados na poeira que surgirá pelo choque dos meteoros das evidências contra a face desgastada das mitologias anacrônicas.
Todavia, é preciso olhar para todos estes eventos com olhar geológico.”
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Dearest Robbie
Rituais de passagem são fundamentais, e o parto é um exemplo da real necessidade de ritualizar as transições pelas quais passamos. Entretanto, no parto contemporâneo ocidental não há uma falta de rituais; pelo contrário, existe uma perversão daqueles que historicamente conduziram o nascimento nos milênios que nos antecederam. Um ritual nos permite enxergar os valores inconscientes da cultura que circulam de forma invisível no “campo simbólico”, e no parto não poderia ser diferente. Os rituais que usamos revelam a estrutura valorativa que sustenta nossa ação social. Se no passado serviam para fortalecer as funções primordialmente femininas de gestar e parir, hoje sustentam o modelo tecnocrático, empoderando instituições e profissionais às custas da subtração da mulher como condutora do processo.
Assim, não nos faltam “rituais” no parto. Eles existem em abundância, bastando para isso observar os movimentos que o constituem. As malas, as roupas, as consultas de pré-natal, a ida ao hospital, o corte dos pelos, as “lavagens”, o afastamento imediato, as intervenções e tantos outros eventos se estruturam pela repetição, padronização e simbolismo, os quais caracterizam e definem todos os rituais humanos.
A diferença nos rituais que hoje observamos na assistência ao nascimento é que eles afastam as mulheres do controle, enquanto exaltam as tecnologias e quem as controla. Mudar a forma de nascer implica em transformar estes rituais, adaptando-os a um novo paradigma, passando de um modelo que aliena e exclui as mulheres para outro que as inclui e, mais ainda, as coloca no comando do processo.
A grande deflagradora deste processo de resgate da ritualística no parto foi Robbie Elizabeth Davis-Floyd. Robbie é uma das maiores personalidades do feminismo no mundo contemporâneo. Seu livro “Birth as an American Rite of Passage” é um marco na antropologia do parto e nascimento, ramo da ciência que estuda os recortes transcultural da assistência ao parto. Se primeiro livro, baseado em sua tese de doutorado na Universidade do Texas, vendeu mais de 40 mil cópias, e isso é algo digno de nota. Ela recebeu algumas homenagens e honrarias que apenas feministas americanas realmente importantes receberam. Participou de várias edições de “Our bodies, ourselves”, e escreveu livros que transformaram a trajetória de parteiros no mundo inteiro. Robbie descortinou o imaginário do nascimento, sua profundidade simbólica e a relação dos rituais com as práticas da atenção ao parto ocidental contemporâneo. Muitos médicos, entre os quais me incluo, mudaram a forma de ver sua ação no parto a partir da perspectiva que ela inaugurou com relação aos rituais aplicados ao nascimento.
Este texto é a consequência direta de assistir – inadvertidamente – um colega atendendo um parto através da velha ritualística de atenção dos anos 50: paciente deitada de costas, pernas erguidas, obstetra mascarado, episiotomia, gritos, Kristeller, luzes ofuscantes e uma crença óbvia – apesar de inconsciente – na defectividade feminina para dar conta dos desafios do parto. Somente depois de conhecer o trabalho de Robbie o enigma da diferença – muitas vezes abissal – entre o que se sabe e o que se faz na prática pôde finalmente ser compreendido.
Os rituais foram desvelados por Robbie, e assim despidos, puderam ser por nós analisados naquilo que trazem de mais verdadeiro.
Por abrir estas “portas de percepção” teremos com Robbie uma dívida impagável.
Que Deus a abençoe…
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Discursos femininos
O discurso das mulheres diante de desafios como “peitos pequenos”, “bunda grande”, “excesso de peso”, ou “cabelo ruim” sempre foi incompreensível e paradoxal para mim, e me remete à construção de uma auto imagem baseada no olhar do outro e sobre uma estrutura psíquica narcísica.
Por isso é que qualquer discurso construído pelas mulheres para reagir a estas “problemas” é considerado por mim como heroico.
- Eu uso silicone porque é importante para minha autoestima, e o importante é eu me sentir bem e não o que os outros pensam.
- Eu não coloco silicone porque não tenho que dar satisfação de como sou aos outros. Eles que me aguentem.
- O importante é a beleza interna. O externo é efêmero e enganoso aos olhos.
- Sim, eu gasto 500 reais num tratamento para o cabelo porque eu mereço.
- Quero alguém que me valorize pelo que eu sou e não pelo que eu aparento.
- Sim, fiz redução de mamas porque eu quero me amar mais.
Como entender tantas vozes aparentemente paradoxais? A moça das mamas pequenas que as exibe despudoradamente não tem menos coerência em seu discurso do que aquela que coloca próteses para se sentir mais bonita “consigo mesma”
É exatamente por estes aparentes conflitos do que significa ser e estar mulher que as percebo tão fascinantes e misteriosas.
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As Regras Sujas do Jogo

O mesmo discurso ingênuo que o PT usava nos anos 80 eu vejo agora sendo utilizado pelo “outro lado”, com as mesmas características de exclusão e essencialismo. Na época os integrantes do PT chamavam a todos os “não PT” de “eles”, os outros, os que “não são como nós”. Quando um deputado do PT enfureceu-se com uma manifestação violenta e antidemocrática e convocou os petistas para “sair na porrada com os coxinhas” eu li de um colega de direita a expressão: “Olha como se comporta essa gente”.
“Essa gente”, uns irresponsáveis, baixo nível. Petistas, petralhas e corruptos.
Mais uma vez a diferença “essencial”. Essas pessoas são diferentes de nós. Suas veias carregam outra coisa, seus sonhos são diferentes, seus objetivos diversos dos nossos. Essa gente bagaceira, sem nobreza e sem valor.
Esta semana escutei outra pessoa me dizendo: “Já fui fã do PT, mas ele sujou as mãos. Não voto neles nunca mais, mas também não voto nos miseráveis da direita. Minha simpatia agora é com o PSOL“.
Pronto, o PSOL passou a ser a “virgem da vez”. Luciana passa a ser a impoluta representante dos éticos, honestos e corretos. Continuamos com a mesma retórica ilusória do futebol: “Bom mesmo é o Zezinho: não errou nenhum passe e não perdeu nenhuma bola. Bem verdade que não jogou também; estava no banco assistindo a partida”.
Mas, pasmem, as pessoas que compõe o PSOL (ou o PSTU, PCO, PMN…) são feitas da mesma carne, os mesmos vícios, o mesmo sangue e linfa que constitui a todos nós. Estivessem agora no poder e o dilema seria o mesmo:
“Se eu me mantiver puro não governo e apenas permito que os corruptos, os que se sujam, os canalhas e aproveitadores, continuem no poder. Posso me manter fiel aos princípios e fracassar em alguns meses. Porém, posso me sujar como TODOS fizeram, e tentar impor um pouco do meu estilo, minhas ideias, meus desejos e meus valores. Mas para isso precisarei me sujar na mesma lama que emporcalha a vida pública do país há séculos. Precisarei do dinheiro dos poderosos, e será necessário selar alguns compromissos com o demônio. O que fazer?”
Qualquer um tem o direito de, arrogantemente, exclamar: “Eu nunca sujaria as minhas mãos. Só “eles” fazem isso. Nós somos éticos.” Pois eu também tenho o direito de duvidar de tamanha prepotência. Ora, o poder embriaga a todos e, mais do que isso, as regras desse jogo estão aí para serem jogadas. “Não quer cair do balanço não desce pro play“, já dizia a turma do bullying. O jogo da política – como o conhecemos na atualidade brasileira – é SUJO em essência e qualquer partido que tenha a possibilidade de ascender ao poder usará todos os recursos para conquistar a maioria no congresso e fará isso da maneira que for possível. Comprará votos, ameaçará, pressionará, boicotará e todos os outros recursos – éticos ou não. Não existem “nós” ou “eles” quando as regras dadas são estas.
Não, é um erro acreditar que eu defendo uma complacência com os erros do PT. Digo o mesmo que a presidente Dilma se esforça por repetir: “Se há erros que sejam punidos exemplarmente“. O equívoco é imaginar que tirando o PT do governo teríamos todos os problemas resolvidos, como se o PT fosse um cancro, uma agremiação que concentra a podridão e a corrupção no país. A história nos mostra que não, e a própria ascensão deste partido ao poder nos anos 80 se deu para combater a corrupção galopante da época. A história apenas se repete, ou “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, como diria meu caro amigo Karl.
Trocamos os jogadores, mas mantivemos as mesmas regras pútridas. O resultado é que boas intenções (como as que reconheço no PT) acabam sendo manchadas pelas falcatruas que ocorrem pelo próprio transcorrer de um jogo com cartas marcadas.
A reforma política é a saída, mas será que desejamos mesmo que algo mude? Ou seremos apenas pobres corruptos menores aguardando a nossa chance na fila das vantagens indevidas?
A Culpa é dos Outros
– Meu filho, porque você comeu o bolo que estava aqui em cima? Mamãe falou que estava quente e não era para comer!
A criança faz cara de choro e aponta para o irmão.
– Mas o mano também comeu!
A mãe põe as mãos na cintura e o encara com olhar de falsa brabeza:
– Meu filho, desde quando apontar a culpa nos outros diminui o seu erro?
Quem não passou por esta cena?
Apenas quem não teve infância, ou uma mãe zelosa para apontar o certo e o errado para um filho. Pois surpreendentemente, este tipo de lógica usada pelo garoto ainda é muito frequente nos discursos que vejo sobre temas relativos à mulher. Analisem apenas estes dois fatos atuais:
O aborto passa por uma fase de intenso questionamento e avaliação por parte da sociedade civil. Evidentemente as mulheres – seu corpo e sua autonomia – são os mais visados. Parece que a sociedade ocidental patriarcal acende um sinal vermelho sempre que as liberdades femininas são acenadas, mesmo as mais sutis. As antigas estruturas falocêntricas da cultura parecem se abalar diante de qualquer iniciativa que ofereça às mulheres uma liberdade maior para a escolha de seus destinos e para gerenciar com autonomia a sua vida. Por serem elas “matrizes” tendemos a entendê-las como contêineres fetais que carregam algo que é, acima de tudo, nosso. As mulheres ainda estão longe de garantir o pleno protagonismo de seus corpos.
Entretanto, quando li os primeiros escritos atuais sobre o aborto fiquei um pouco surpreso com o conteúdo de vários deles. Ao invés de testemunhar uma chuva de argumentos em favor da liberdade de escolha, enfocando a questão de saúde pública envolvida, as mortes evitáveis de mulheres ou a falha dos sistemas policiais de obstaculizar o aborto clandestino no mundo inteiro, eu me deparei com argumentos ao estilo o “aborto do homem“.
Esse argumento se baseia no fato de que milhões (ao que parece 5 milhões) de crianças não tem o nome do pai na sua certidão, e que isso seria um “aborto de pai“. Quando eu vi essa ideia pela primeira vez eu pensei: “Caraca, o que tem a ver uma coisa com a outra? Porque um pai abandonar um filho é o mesmo que não permitir que ele venha a nascer? Estão tentando comparar maçãs com brócolis! Qual a razão para criar mais culpados nesta equação?“.
Ainda não consigo aceitar que um pai fugir de suas responsabilidades pudesse ser comparável ao aborto, o impedimento de um nascimento. Ambas as situações são problemas sociais que precisam ser atacados: o aborto clandestino e a falta de presença e/ou suporte do genitor no cuidado com seus filhos. Entretanto, o aborto não passa a ter uma compreensão melhor se nós encontrarmos falhas – inquestionáveis – nas condutas masculinas relacionadas à criação de filhos! O argumento do “aborto do pai” em NADA ajuda a descriminalizar ou legalizar o aborto, apenas usa a mesma retórica da criança que comeu o bolo ainda quente. E isso, ao meu ver, apenas exalta uma culpa feminina que tem vergonha de se expressar, da mesma forma como o menino que comeu o bolo sente-se culpado e tenta exonerar esta culpa apontando para o irmão. Não é necessário criar mais culpados para libertar as mulheres do jugo do patriarcado e oferecer-lhes autonomia. O aborto do pai é um erro retórico que apenas atrasa o debate.
Outro cenário: um adolescente toma 30 “shots” em uma competição de quem suportava mais bebida alcoólica em uma festa de “bichos” de uma universidade paulista. Em consequência da intoxicação aguda por álcool ele vem a falecer. A sociedade consternada se pergunta: “De quem foi a culpa? Universidade? Cultura? Sociedade? Família?” Alguém insinua a estúpida e extemporânea pergunta: “Onde está a mãe desse menino que permitiu que isso acontecesse?“
Para uma mulher enlutada pela mais dura das dores, a mais cruel das tristezas, o silêncio quebrado pelo soar de um telefone na madrugada, não poderia haver nada pior do que ser acusada por esta tragédia. Posso apenas imaginar a dor amplificada de uma mulher que perde o filho e depois é açoitada por acusações infundadas e absurdas.
Ora, muitas dessas tragédias ocorrem a despeito de todos os esforços que fazemos para que elas sejam evitadas. Eu sou pai e avô, além de ser tio de dezenas de sobrinhos “capetas”, e já tive minha cota de sustos e pânicos. Apontar o dedo para uma mãe nestas condições é mais do que injusto; ultrapassa todos os limites da crueldade. Fazer isso é desconsiderar as circunstâncias e contextos, as forças do grupo e as necessidades de expressão do ego em uma época tão complexa da vida como a adolescência.
Eu mesmo já bebi em uma festa da faculdade. Tomei todas, apenas para saber do que se tratavam as alterações de consciência que eu testemunhava no hospital de Pronto Socorro. Saí cambaleando da festa em direção à minha casa, e no meio do caminho caí. Perdi todos os meus documentos (e só soube dias depois), mas fui socorrido por um gentil passante que me ajudou a entrar em um táxi. Mas poderia ter sido assaltado, esfaqueado, atropelado. Poderia ter morrido por uma dessas tragédias que estão no jornal de hoje.
Seria justo culpar a minha mãe – ou o meu pai!!! – por uma bebedeira juvenil de um menino que antes disso nunca havia bebido, e que depois disso nunca mais se embriagou?
Certo, é estúpido e injusto oferecer esta conta para uma sofrida mulher pagar. Mas diante dessas acusações eu esperava uma defesa aberta da maternidade, um pedido de consciência sobre estes casos, uma solicitação de ponderação sobre os múltiplos elementos que levam a estas tragédias. Eu queria apenas serenidade e menos apontar de dedos. Entretanto, sou obrigado a ler algumas matérias cujo argumento principal é: “Ah, estão acusando a mãe do adolescente? Mas e o pai? Porque não falam dele?“
Essas pessoas realmente acreditam que esta mulher terá menos peso a suportar se direcionarmos esta carga para seu marido? Acreditamos mesmo que a dor de uma perda como esta fica menos dolorida se acrescentarmos INJUSTAMENTE outros culpados? A angústia que uma mulher sofre por optar por um aborto fica menor quando sabemos que os homens também fraquejam e abandonam filhos?
Por quê o discurso de algumas feministas (a minoria) insiste nesta dicotomia infantil? Porque não investir em desculpabilizar as mulheres que escolhem pelo aborto ou oferecer aconchego e abraços para uma mãe cujo filho se foi numa brincadeira trágica de faculdade? Porque é necessário atirar a culpa para os “inimigos”, os homens?
E porque, afinal, continuamos a escolher os homens como inimigos quando o patriarcado e o machismo é que deveriam ser os verdadeiros alvos?
Quando me perguntam porque as modificações na sociedade são tão lentas no que diz respeito aos direitos das mulheres eu sempre respondo que enquanto as mulheres aceitarem este discurso equivocado as conquistas continuarão lentas.
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