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Moral de Cuecas

Está rolando na internet um texto em que o comediante Sacha Baron-Cohen utiliza a velha lógica liberal ao dizer que “as más ideias e as grandes tragédias (ele cita, claro, o holocausto) não acontecem apenas porque as pessoas são más, mas porque são apáticas”.

Pois eu acho muito interessante ver um sionistainveterado como o Sacha Baron-Cohen pagando de “humanitário” enquanto o governo e o sistema de Apartheid que ele tanto preza em “so called” Israel já m*tou 2 milhões de civis Palestinos desde a implantação do Nakba em 1947. Para ele o holocausto é uma memória ruim, mas para os milhões de Palestinos que sofrem há mais de 70 anos com a ocupação a violência contra seu povo é algo que ocorre ainda hoje. Para o holocausto nazista seriedade e respeito, para o massacre palestino cotidiano e atual piadas, mentiras, dissimulação e acobertamento.

O que esses liberais querem é acabar com a marca “Nazi” para poderem exercer estas mesmas “filosofias de extermínio do outro” através de outros nomes. Por certo que a lacrosfera brasileira aplaude esse humanismo de fachada, criticando a liberdade de organização e expressão, imaginando que fechar um puteiro exterminaria a prostituição. Entretanto, fecha os olhos para os massacres e violências contra os pobres e negros desse país.

Aliás…. nós, os comunas, levamos a sério seu conselho de combater a indiferença: não nos tornamos apáticos diante da barbárie que o sionismo implanta com uma mão enquanto seca as lágrimas do holocausto com a outra. Quem quer que o nazismo verdadeiramente desapareça deve lutar contra sua implantação REAL, e não apenas contra a exaltação patética e cafona de seus nomes e símbolos.

Veja aqui como ele trata os palestinos…

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Sobre as histórias a contar

Há 20 anos exatamente estava atendendo no consultório quando fui surpreendido por uma imagem no computador da minha mesa. Imediatamente liguei meu rádio e aproveitei para escutar as descrições ao vivo. Um avião havia se chocado contra as torres gêmeas em Nova York, um lugar que eu havia conhecido duas décadas antes quando visitei a cidade. A descrição da rádio me fez ligar a TV do consultório na recepção, aproveitando uma falha na agenda. A sensação de todos era pânico e assombro.

Cheguei a ver ao vivo o choque do segundo avião. Imediatamente liguei para minha mulher. “O mundo vai acabar”, disse eu para Zeza Jones em tom de despedida, sem saber que era mesmo verdade. O mundo, como o conhecíamos, acabava naquele dia. Nunca mais eu vi os Estados Unidos como eu estivera acostumado a ver e – confesso – até admirar. Imediatamente, ainda enquanto ouvíamos o eco da queda retumbante das torres, surge o “Patriotic Act”, a perda dos direitos civis nos EUA, o recrudescimento da islamofobia, a invasão do Iraque, a “Guerra ao Terror”, as convulsões no Oriente Médio, as invasões brutais a vários países (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, etc) e o panóptico americano sobre suas zonas de domínio, que em nível local levou à própria Lava Jato, ao juiz cooptado em Curitiba, aos golpes jurídico-midiáticos e finalmente nos levando à “facada” e à Bolsonaro.

Sim, em minha perspectiva o fascismo bolsonarista é ainda um reflexo do fatídico dia 11 de setembro de 2001, que no futuro será visto como a festa macabra a celebrar o fim de um Império. Desde então esse gigante de poder planetário apodrece lentamente à nossa frente mas, como todo sistema de opressão, sua decadência será marcada pela violência e pela agressão às conquistas da civilização.

Minha solidariedade aos mortos dessa tragédia no correr dos anos foi dando lugar à indignação com um país que passou a matar um World Trade Center a cada dia no Oriente Médio. Só no Iraque foram 100 mil. No Afeganistão foram mais de 400 mil mortos, mas para estes homens e mulheres pobres e de pele escura – mortos por defender sua própria terra – não há nenhuma superprodução de Hollywood para contar suas histórias, seu sofrimento, sua dor, seus filhos perdidos, o heroísmo de seus combatentes e suas esperanças soterradas pelas bombas americanas.

Os bombeiros americanos são tratados – justamente – como heróis. Histórias e lendas são contadas sobre sua bravura e coragem para salvar o maior número possível de vitimas do ataque. Todavia, nenhuma justiça é feita aos heróis e heroínas anônimos que ainda hoje protegem seus filhos dos ataques imperialistas. Da Palestina às cavernas nas montanhas do Afeganistão milhares de histórias poderiam ser contadas sobre a brutalidade e os massacres levados à cabo pelas forças invasoras, mas também sobre os anônimos homens e mulheres que defenderam suas famílias e suas comunidades.

Um mundo onde impere a justiça e o equilíbrio por certo haverá de trazer à tona essas narrativas de dor, coragem, determinação e esperança.

PS: Não, não é o World Trade Center nesta foto. É Gaza, onde todas as semanas há um novo massacre, matando palestinos de forma brutal e sistemática. Lá as torres gêmeas são o imagens do cotidiano. E por trás da barbárie continuada estão os mesmos Estados Unidos e seu apoio aos terroristas de Isr*el.

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Religiões e conflitos

As religiões unificam perspectivas de mundo e de produzem forte fator de coesão e identidade. São modelos de compreensão da realidade sobre aspectos onde a ciência não tem acesso, como o sentido da vida e os significados transcendentais. Acima de tudo, uma religião não é algo que produz ideias e conceitos, mas onde colocamos nossa visão de mundo e nossas perspectivas. Religião é onde colocamos algo de nós, e não de onde retiramos. Culpar as religiões pelas mazelas do mundo – como há muito fazem os new-atheists – é uma tarefa simples, mas para isso é preciso ignorar o sentido último das religiões negando o fato de que de qualquer religião se retira o que se quer, basta procurar, interpretar e divulgar fora do contexto histórico. .

Durante anos testemunhei a tentativa de criar uma visão demeritória das religiões, mas aplicando um viés distorcido da real essência delas. No atual conflito entre os colonizadores sionistas e o povo palestino no oriente médio ainda é comum ver analistas tratando os bombardeios como uma disputa entre “judeus x muçulmanos”, como se a questão não fosse o colonialismo brutal, os massacres, o apartheid e a limpeza étnica, mas sim um choque de crenças religiosas. Usando este mesmo critério dissimulador as Cruzadas perdem todo o sentido comercial e objetivo, pela conquista de um ponto geopolítico essencial para o comércio primitivo no Mediterrâneo, para se tornarem apenas incursões militares movidas pela crenças distintas. Aliás, o mesmo truque foi usado para chamar a guerra de libertação da Irlanda como “católicos x protestantes”, apagando os séculos de colonialismo britânico na ilha.

Colocar a culpa nas religiões como elementos divisionistas na história das sociedades é um erro, mas que ainda faz muito sucesso, inclusive entre intelectuais. A religião não é o bem e muito menos o mal. Uma religião não é mais do que um conjunto de símbolos e metáforas para expressar o inexpressável – assim como o mito o é para aquilo para o qual não há verbo. As religiões são construções puramente humanas que se expressam como um idioma, uma língua a conectar através do mesmo poço a água que corre por debaixo da terra. Os diversos poços criados para saciar nossa sede por respostas são as infinitas religiões, mas a água da fé – aqui entendida como a busca por respostas – é a mesma.

É possível então argumentar – contrapondo-se à onda dos novos ateus – que as religiões são o espelho das aspirações, desejos e valores humanos, e não a fonte de onde surgem. As religiões, em verdade, são criadas exatamente para dar conta dessa necessidade, e desta maneira nós não seguimos as religiões; são elas que nos seguem. Para entender melhor o que está no âmago das religiões existem inúmeros estudiosos – como Reza Aslan – que procuram oferecer às religiões o lugar que elas merecem.

Não existe dúvida que católicos e os protestantes não guerrearam por causa de religião na Irlanda e nem mesmo na Guerra dos Cem anos, mas por questões políticas, dinheiro, comércio, influências regionais, etc., pela mesma razão que os judeus e muçulmanos lutam até hoje por terra na Palestina, e não por discordâncias em suas escrituras. Em verdade católicos e protestantes da Irlanda lutaram durante muitos anos pela independência da Irlanda tendo de um lado os nacionalistas católicos e do outro os ingleses protestantes invasores, da mesma forma que as guerras pela Palestina são travadas entre colonos europeus e a população nativa. As religiões são falsamente colocadas como origem dos conflitos, mas elas são falsamente colocadas nesta posição apenas para deslocar o debate das verdadeiras questões.

Para as pessoas que carecem de uma compreensão mais profunda das causas dos conflitos é muito fácil moralizar as guerras, e para isso usamos artifícios como chamar de “infiéis”, “corruptos”, “fanáticos” ou “terroristas” todos os nossos adversários, desreconhecendo suas razões e desumanizando seus combatentes. Para entender melhor veja como as elites financeiras no mundo inteiro – e agora de forma bem marcante no Brasil – colocam a corrupção como seu cavalo de batalha, mas os governos que elas administram são tão ou mais corruptos do que os governos que combatiam, e para isso os adjetivavam de forma derrogatória todos os adversários, chamando-os de “corruptos“. Então por quê? Ora, porque os liberais são fixados na questão moral (como a religião), pois que ela desvia a atenção das pessoas e produz identificação com um dos lados, mas afasta as razões verdadeiras do radar de cada um de nós. No caso da Palestina o colonialismo brutal, o genocídio, o apartheid, os crimes de guerra, etc. Mas todo aquele que se contrapõe à barbárie sionista agora pode ser chamado de “apoiador de terroristas“.

Veja mais sobre o tema aqui, na entrevista com Karen Armstrong.

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Corações e Mentes

Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio nossa professora de português nos levou ao cinema para ver um filme recém lançado que se chamava “Corações e Mentes”. Tratava-se de um documentário sobre a guerra do Vietnã, produzido um ano após a retirada das tropas americanas da Indochina e um ano antes da “Batalha de Saigon”, que selou o fim da guerra em 1975. Entre 1 e 3 milhões de vietnamitas perderam a vida nos combates, numa luta insana pelo direito de escolherem seu próprio destino após séculos de dominação estrangeira.

O filme me marcou profundamente pelas cenas de bombardeios, a crueza das torturas, o depoimento tocante dos soldados – que eram obrigados a despejar bombas sobre vilarejos – e tantas outras crueldades. Entretanto, nada me chocou mais do que a fala de um general americano chamado William Westmoreland – curiosamente seu sobrenome significa “mais terras para o oeste” – tanto é que suas palavras e sua expressão apática não me saíram da memória passados já mais de 40 anos. A fala que tanto me impactou se situa no final do documentário. Em breves segundos ele dizia textualmente que “Os orientais não dão o mesmo alto valor à vida que um ocidental. Para eles a vida é abundante e barata. A filosofia do Oriente expressa isso: a vida não é importante”.(minuto 1:43:15 do documentário de 1974 “Hearts and Minds”)

Para mim foi um choque, mas é possível entender perfeitamente as motivações desse general. Para quem pode determinar com um simples aceno de quepe a matança de mulheres e crianças em um vilarejo pobre da Indochina a única forma de suportar tamanha crueldade e covardia é criar a fantasia de que, aquilo que chamamos “vida”, para eles tem um valor menor. Assim, as lágrimas de uma mãe americana sobre o caixão do filho que volta morto da guerra têm muito mais valor do que aquelas vertidas por uma mãe oriental que carrega seu filho sem vida descarnado pelo Napalm. Desta forma, desumanizando o inimigo, é mais fácil cometer as mais brutais atrocidades, pois criamos uma barreira que nos impede o acesso à empatia. Tratamos os inimigos – incluindo seus anciãos, mulheres grávidas e crianças – como gado, ovelhas, para que o extermínio de suas vidas não nos cause dor, culpa ou remorso.

Quando eu presenciava alguém fazendo acusações criminosas contra os palestinos dizendo que usam os próprios filhos como “escudos humanos” – sem uma prova qualquer dessa barbárie – eu sempre lhes perguntava: “Se uma nação estrangeira viesse ocupar sua cidade você colocaria seus filhos na janela de casa para serem o alvo das balas inimigas?” e a reação era sempre um sonoro “NÃO“. Eu, então, questionava: “E por que acha que um palestino faria isso com seus próprios filhos?” e a resposta que se seguia cursava a mesma linha do General William Westmoreland citada acima: basicamente, “a vida tem um valor no centro do Império e outro para as colônias. Matar servos não é muito diferente de sacrificar animais”.

Para perpetuar os massacres covardes contra crianças, bebês e famílias inteiras em todos os lugares destruídos pelo Imperialismo é necessário criar e disseminar um projeto de desumanização dessa população. Só assim o odor de sua carne em brasa se torna suportável, suas perdas insignificantes e seus atos monstruosos aceitáveis. Chamar de “terroristas” todos os povos que lutam por sua terra, por sua autonomia, pela sua liberdade e pelo fim do Imperialismo é tão equivocado quanto usar a mesma palavra para descrever a Resistência Francesa e os bravos Vietcongues, que fizeram exatamente o mesmo. Criar a falsa narrativa de desapego dos insurgentes à vida dos próprios filhos é uma covardia sustentada por uma farsa. O mundo precisa enfrentar o imperialismo e o colonialismo racista que nos asfixia, se é que ainda temos esperança de sobreviver enquanto espécie.

Aqui o link para o documentário completo que pode ser visto no YouTube.

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Miko

Não resta dúvida que para as esquerdas é fundamental nos aprofundarmos na luta antirracista, na luta por direitos humanos reprodutivos e sexuais (incluindo aí a luta pelo parto humanizado), na conquista da autonomia de corpos, na proteção aos grupos vulneráveis, etc. Modelos sectários baseados em identidades não cabem mais na nossa sociedade e não podem mais ser confundidos com as bandeiras históricas que defendemos. A segmentação artificial engendrara pelos laboratórios e “think-tanks” liberais americanos precisa produzir uma crítica consistente, severa, firme e dura.

Diante dos massacres a que são submetidos os palestinos, no maior ataque contra civis do século XX, é importante lembrar de um dos mais importantes combatentes da causa palestina da atualidade, figura constante em todas as entrevistas realizadas sobre a questão. Este homem se chama Miko Peled, que provavelmente poucos conhecem, mas é um israelense, por volta dos 60 anos e judeu. É filho do general israelense Matti Peled, herói da guerra do “Yom Kipur“, que assinou a declaração de independência de Israel e participou de ações de limpeza étnica na Palestina em 1948 e 1967, mas que ao se aproximar do fim da vida foi um das primeiros sionistas adeptos da aproximação com os representantes da Palestina para estabelecer um diálogo na busca de uma solução pacífica. Quando jovem, ainda vivendo em Jerusalém, Miko viu sua sobrinha morrer em um ataque suicida causado por um homem bomba do Fatah em 1997. No dia seguinte políticos e jornais israelenses clamavam por vingança e retaliação contra os terroristas árabes. Diante das câmeras a irmã de Miko, Nurit Peled, mãe da menina morta e uma conhecida professora judia israelense, disse em lágrimas para os jornalistas: “A culpa dessa morte é do governo de Israel, que nunca deu aos palestinos qualquer alternativa para além do terror. Não aceito nenhuma retaliação em meu nome ou de minha família, porque jamais aceitarei que uma mãe Palestina sofra a dor que agora estou sentindo”. Após a tragédia da morte de sua sobrinha de 13 anos, Miko começou sua jornada como ativista contra quem considera o principal responsável por essa violência: o regime racista de Apartheid sionista e o seu contínuo plano de ocupação violenta na Palestina.

Miko, alguns anos depois e já morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, e trabalhando já como um profissional de artes marciais, conheceu na Universidade um grupo de ativistas palestinos e, apesar da desconfiança, aceitou escutá-los. Ao inteirar-se pela primeira vez da narrativa dos “inimigos”, dos “terroristas”, dos “bárbaros árabes” com mais de 30 anos ele viu seu mundo de crenças sionistas desabar.

Sim, eles – os sionistas – eram os terroristas, não os palestinos. Pela primeira vez entendeu o Nakba, a expulsão, os massacres, o êxodo e o exílio palestinos. No ano de 2012 escreveu um livro chamado “O Filho do General” e iniciou sua trajetória como palestrante, ativista, defensor dos palestinos, pela paz, na busca de uma solução desarmada, pelo BDS (Boycott, Divestment and Sanctions) e por uma consciência mundial sobre o regime de Apartheid de Israel. A importância de sua história está relacionada ao fato de que Miko não é um palestino árabe; nunca sofreu diretamente na pele a dor de ser estrangeiro em sua própria terra. Também não teve sua família morta ou sequestrada pelo exército de ocupação e sequer foi preso por jogar pedras em quem matou seus vizinhos e primos. Porém, Miko foi convencido por amor e não por oposição.

Um palestino “identitário” o veria como um inimigo de sua identidade árabe, por não ter sua língua e sua pele mais escura. Por ser judeu jamais seria aceito, e suas palavras seriam bloqueadas com o silenciamento do “lugar de fala”. Ora, “como você ousa falar da Palestina, seu judeu opressor?”, poderia ser a reação dos que não enxergam nele a identidade palestina, a única que lhe garantiria direito de falar. Entretanto, Miko sabe que a Palestina é o seu lar também e por isso mesmo não aceitou jamais ser calado. Ao lado de outros ativistas, árabes e judeus, debate abertamente uma solução para a Palestina, sem levar em consideração a cor da pele, a origem, a cultura ou a língua. Ousa discordar em alguns temas com o direito que a paixão pela Palestina lhe confere. Para Miko Peled, o que une todos esses personagens na busca para a paz na Palestina é o que nos faz humanos, o traço que nos une para acima das diferenças étnicas e culturais.

Da mesma forma, muitos homens brancos sabem que um mundo que oprime mulheres, gays, trans e que despreza negros também é o seu mundo e por esta razão desejam falar de sua inconformidade e lutar contra estas injustiças. Porém, muitos são silenciados por um identitarismo sectário que se move por ressentimentos e preconceitos, que apenas afastam muitos dos possíveis aliados. Precisamos de um mundo com mais personagens como Miko Peled e menos revanchismos estéreis.

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O que se é

“Se você continuar engolindo sapos para parecer bonzinho e mansinho, vai sofrer um revertério nas tripas e quem vai se ferrar é você”

Em outras palavras: diga a sua verdade, mesmo que isso signifique ser mal tratado por pessoas que não aceitam a diversidade de opiniões ou que acham que a paz do silêncio é melhor que os inevitáveis conflitos que a livre opinião acarreta. Não aceite ser silenciado pelos lacradores que preferem os aplausos à verdade.

Seja íntegro e expresse sua perspectiva de mundo acima da aceitação frouxa e pueril que poderá receber. Saboreie a dor e a delícia de ser o que se é….

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Jesus

Cada um constrói Jesus de acordo com suas fantasias. Não há nenhuma forma de descrevê-lo de forma minuciosa sem se basear em pura imaginação. Recorrer à Bíblia é um enorme risco, na medida em que são relatos imprecisos de fatos descritos até um século depois de terem ocorrido.

Aliás, ao meu ver Jesus era precisamente isso: um “judeu falando de judaísmo para outros judeus”. Era um dos muitos (centenas) de Messias que vagaram pela Judeia pregando a libertação do povo judeus do imperialismo romano. Ele jamais falou, durante toda a sua curta pregação, para não-judeus; seu universo sempre foi o espaço entre o mar Mediterrâneo e o Rio Jordão. Jesus era essencialmente um reformista da religião judaica e um agitador político ligado aos Zelotas. A ideia de que era um “enviado”, um “Espírito de luz”, “o filho de Deus”, o “próprio Deus encarnado” ou um ser responsável pela “governança do planeta” mistura “wishful thinking” com delírios etnocêntricos, colonialismo europeu (pois foi lá que o cristianismo em todas as suas vertentes floresceu) e o puritanismo. A concepção virginal e o celibato crístico falam muito dessa visão pecaminosa e religiosa sobre a sexualidade.

Seu projeto político, como se sabe, foi um fracasso retumbante, pois que o Messias seria aquele que cumprisse a profecia de libertação do povo oprimido da Palestina – o que só ocorreu 70 anos depois e por pouco tempo. Não só ele, como centenas de outros “Messias” tiveram o mesmo fim. Todavia, tudo o que se diz sobre a vida mundana de Jesus é criação posterior à sua morte, e não há como saber o que realmente ocorreu. Assim, se Jesus era um judeu comum, com propostas revolucionárias, agindo politicamente na Palestina para a libertação do seu povo, o Cristo é uma criação humana do inconsciente coletivo diante das demandas sociais e políticas do seu tempo. O Cristo foi, assim, moldado diante de nossas vontades e fantasias, guardando pouca – ou quase nenhuma – relação com o jovem judeu que caminhou pela Galileia.

Adam B. Wellington, “Steps on the Sands of Palestine”, ed. Barack, pág. 135 (tradução pessoal)

Adam Burke Wellington é um paleontólogo da Universidade de Hamilton, com mestrado em estudos bíblicos que escreveu vários livros sobre a vida do “Jesus histórico”. Colaborou com a coleção “Avatars” descrevendo o Jesus da Galileia em sua vertente socialista. Seu livro mais conhecido em português é “Sombras do Jordão”, da editora Magiar.

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Jean Wyllys e a Palestina

Eu gosto de algumas posições do Jean e muitas das causas que ele defende, apesar de ser critico de algumas outras. Por isso mesmo, por admirar sua coragem e apoiar algumas pautas (como a humanização do nascimento), eu fiquei profundamente decepcionado com sua ida à Palestina, através de um convite mequetrefe da Universidade para debater “diversidade”, caindo no alçapão do pinkwashing sionista. Enquanto estava lá, no “convescote racista” do qual participou, ele chegou a escrever alguns textos defendendo sua presença no seminário. As explicações eram eivadas do mais primário dos relativismos, ao estilo “os dois lados tem suas culpas”, “é preciso paz“, “o terrorismo precisa acabar“, “Israel tem o direito de existir“, “não aceitamos antissemitismo“, etc. Para terminar oferece a novidade de propor a “solução de dois Estados”, um judeu e outro árabe palestino.

Ora, qualquer um que se debruça sobre o tema sabe que a solução de dois Estados foi boicotada por Israel. O plano SEMPRE foi, desde 1948, a limpeza étnica e o genocídio. Hoje, com as invasões sistemáticas da linha verde, a solução de dois Estados é impossível, e só resta a solução de UMA Palestina – como nação multiétnica. Uma nação, vários povos. Como a Bélgica ou a Suíça, por exemplo, ou mesmo a África do Sul, que venceu o Apartheid. Jean é o representante da esquerda sionista no Brasil que precisa ser confrontada, que precisa parar de beber da propaganda de Israel e reconhecer os crimes à humanidade perpetrados contra a população Palestina nativa.

Entretanto, por Jean ser homossexual e negro, ele sabe muito bem o que é preconceito, racismo e exclusão. Tenho a esperança de que esta conversa com Lula seja mais um tijolo a edificar uma troca de postura diante da causa Palestina. As pessoas podem aprender com seus erros e rever suas posturas.

Espero que Jean tenha a sabedoria para apagar esta mácula em sua biografia.

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Dois Estados

Israeli citizens hold Israeli flags and banners during a rally in Tel Aviv on April 19, 2016 to support Elor Azria, an Israeli soldier recently charged with manslaughter after shooting a prone and wounded Palestinian assailant in the head. The rally, attended by an estimated 5,000 people, was a source of controversy in Israel where the top brass have condemned Azria’s actions while far-right supporters and politicians urged his release. / AFP PHOTO / JACK GUEZ

Caros amigos…

Não vai chegar nenhuma solução de “Dois Estados” para a Palestina; não me tomem por ingênuo. Essa solução é uma mentira construida pelo Estado Sionista para enganar o mundo todo. Os acordos de Oslo e Camp David seguiram este mesmo roteiro farsesco, onde desejo sempre foi a supressão da população nativa e original pelo genocídio sistemático (desde 1948 milhões de Palestinos já foram mortos pelas forças de ocupação) e pela limpeza étnica, através das prisões desumanas (inclusive de mulheres e crianças) e pela simples expulsão – como no Nakba – que é um processo, não um evento.

Sim, eu sei o significado de Holocausto e posso lhes garantir que não é uma palavra que só pode ser usada para as mortes de judeus. Houve um holocausto na Armênia, outro na China ocupada, na Coreia, no Congo sob o regime de Leopoldo da Bélgica, nas populações nativas das Américas e agora testemunhamos um massacre na Palestina – que tem o direito de ser chamado de holocausto, por ter o racismo como principal motivação.

Não haverá “democracia” na Palestina enquanto existir um regime de Apartheid e de caráter segregacionista como o sionismo. Não há mais como tapar o sol com a peneira. Abram os jornais e pesquisem na Internet e vejam como o MUNDO INTEIRO já acordou para a vergonha de uma etnocracia racista – a última experiência de colonialismo a sobreviver no mundo atual.

O modelo de dois estados foi BOICOTADO por Israel com as invasões sistemáticas da “linha verde” – os limites de 1967 – e a multiplicação dos assentamentos ilegais, que continuam até hoje. A demolição continuada de casas e vilas inteiras de palestinos teve sua velocidade acelerada nos últimos anos com os governos de extrema direita, mas não há nenhuma hipótese de que um governo sionista de esquerda faria diferente – e a história prova que nunca o fizeram.

Democracia, meus caros, só com um estado multinacional, com voto abrangente para a população palestina, com o reconhecimento do árabe como língua nacional – junto com o hebraico – com escolas mistas, com liberdade religiosa e com governos democraticamente eleitos por todos que lá vivem.

Não venham com conversinhas. Façam o dever de casa primeiro. Não esqueçam que o maior parceiro da barbárie fascista do Brasil é exatamente Israel e seu fascismo.

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Palestina Livre

Há muitos anos eu pensava como boa parte dos ocidentais que acreditavam na narrativa heroica da reconquista da “terra Santa”, a retomada de Israel, o retorno à “Terra Prometida”, o “a terra sem povo para um povo sem terra”, em especial pela propaganda insidiosa do cinema americano que sempre mostrava os árabes como fanáticos, irracionais, egoístas, machistas, violentos e vingativos. Nunca a imagem de um povo inteiro foi tão massivamente atacada quanto ocorreu com os árabes a partir da segunda metade do século XX. São inúmeros os exemplos de preconceito odioso no cinema americano neste período. Todavia, tive a oportunidade de assistir um fabuloso documentário chamado Reel Bad Arabs (que pode ser visto no Youtube), de Jack Shaheen que demonstrava de forma inequívoca como Hollywood manipulava a forma como enxergamos o Oriente Médio, com evidentes interesses geopolíticos. Jack G. Shaheen, observa que apenas os nativos americanos têm sido tão implacavelmente difamados pelo cinema, e mostra com mais de 1000 filmes analisados que “árabe” permaneceu a abreviação descarada que Hollywood passou a usar para designar “bandido”, muito depois de a indústria cinematográfica ter mudado sua representação de outros grupos minoritários. Esse filme abriu meus olhos para isso. Até então eu creditava que Israel havia feito o deserto florescer, que era uma “ilha de civilização no meio da barbárie”, que havia criado a célula mais interessante de trabalho socialista – os Kibutzim – para dignificar o trabalho do seu povo.

Por muitos anos também acreditei nas falácias de que Israel era a única democracia em meio à tiranias e ditaduras. Quando vi o poder de manipulação dos meios de comunicação sobre a realidade no Oriente Médio eu pude entender o quanto eu estive envolvido em mentiras por décadas. Estas e outras tantas falsidades foram criadas para justificar o Nakba – a catástrofe que se iniciou em 1948 com a expulsão de 750.000 palestinos de suas casas durante a tomada do país por forças sionistas. A narrativa que justificava esta limpeza étnica brutal era baseada em mentiras, como a ideia de que os palestino abandonaram suas casas por vontade própria. Falso; em verdade, Israel é a própria barbárie no oriente médio, o principal fator de desestabilização na região. Ao contrário de “A villa in the jungle”, como ousavam falar os sionistas, Israel é a própria selva, espalhando terror e exclusão a todos os países ao seu redor.

Passei a estudar a questão Palestina há quase 20 anos, mesmo correndo o risco de ser chamado de antissemita, algo que ocorre com todos que se aventuram a estudar a história da região e descobrem os massacres, as mortes, os abusos, as prisões, as torturas. Não aceito mais cair na armadilha do “antissemitismo”, como denunciou Norman Finkelstein, quando na ausência de argumentos para defender o colonialismo branco europeu no oriente médio se levanta a “cartinha do holocausto”, procurando calar qualquer oposição à invasão colonial. Ninguém mais pode aceitar esse tipo de cilada. Israel é uma colônia europeia, encravada na Palestina histórica, roubado dos habitantes originais que habitam a região há milênios. Israel é um país que, para manter o domínio à força da região, não se priva de matar mulheres e crianças palestinas. Como dizia sua ex-primeira ministra Golda Meir “Não podemos perdoar os árabes por matar nossas crianças, mas jamais poderemos perdoá-los por nos obrigar a matar as suas”, culpabilizando as próprias vítimas pelos massacres a que eram submetidas numa demonstração impressionante de racismo e desprezo pelo povo palestino. No último grande massacre a Gaza (2014) foram 2200 mortos sendo 500 crianças. Gaza não tem tanques, exército ou armas. Foi um massacre covarde contra a população civil.

Existe, entretanto, a ideia de que os palestinos participam da democracia israelense. Qualquer observador atento perceberá que se trata de uma “história para inglês ver”. Os palestinos na política de Israel são uma farsa, apenas usados para dar uma face democrática e enganar os incautos que desejam acreditar na falácia de um “Estado Democrático e judeu”, que nada mais é do que uma etnocracia, tão violenta e excludente como era o apartheid na África do Sul. Os palestinos de Israel são “cidadãos de segunda classe” (como eram os negros na África do Sul) e são oprimidos pelas mais de 50 leis racistas que discriminam judeus de palestinos, e por certo que não poderão jamais constituir uma maioria no Knesset. Os 6 milhões de palestinos não tem direito a voto, e isso já seria suficiente para deixar claro que Israel é um país excludente e opressor. Infelizmente, é essencial explicar sempre que nos manifestamos que ser contra o modelo de limpeza étnica e extermínio de Israel contra a população originária palestina não é ser contra os judeus, da mesma forma que ser contra os nazistas não é ser contra os alemães.

Por isso, ao estudar a questão palestina eu centrei minha atenção sobre os autores e jornalistas judeus que cobrem a questão, exatamente para evitar as visões marcadamente desviantes e comprometidas. Desta forma cito aqui os meus heróis judeus para aclarar as questões relativas à Palestina e o neocolonialismo europeu no oriente médio, o qual se baseia em limpeza étnica e genocídio da população que lá vive há séculos. Apenas lembrem que o antissemitismo é um drama europeu, e que nunca houve animosidade entre os judeus e a população árabe do local até meados do século passado com a imigração do movimento sionista para a região, que culminou com a criação do Estado de Israel em terras palestinas em 1948. Os autores são: Ilan Pappe, Max Blumenthal, Miko Pelled, Norman Finkelstein, Shlomo Sand, Gideon Levy e Noam Chomsky. Além deles, eu citaria os não judeus, como o jornalista e deputado inglês George Galloway e o ex-presidente americano Jimmy Carter, que são grandes críticos ao modelo de Apartheid em Israel.

Estes autores, seus livros e suas palestras, foram responsáveis pela mudança na minha perspectiva sobre a verdadeira narrativa Palestina e o roubo da sua terra. Foi com Norman Finkelstein e “A Indústria do Holocausto” que eu acordei para estas acusações toscas de antissemitismo para todos que defendem a Palestina, usando o corriqueiro “holocaust card”. Foi com Miko Peled, o filho do General israelense, que eu entendi a segregação racial por dentro de Israel e compreendi as verdadeira história da guerra do Yom Kipur, ocorrida em 1967, e que causou a anexação de grande parte do território palestino. Foi com Ilan Pappe que eu entendi a limpeza étnica da Palestina que foi arquitetada desde o século XIX, em especial os significados do Nakba e sua história. Ilan Pappé, da Universidade de Exeter, é um dos mais importantes “new historians”, que elaborou sua perspectiva a partir da leitura os arquivos secretos tornados públicos sobre as guerras israelenses. Foi com Shlomo Sand que entendi a invenção do “povo judeu”, que nada mais é que uma criação ficcional para justificar o extermínio árabe e o domínio político e militar da região. Já com Noam Chomsky, antigo defensor do sionismo, entendi que não há nada de verdadeiramente judeu em apoiar um sistema assassino e desumano, e que sempre é tempo para mudar e escolher o lado certo da história. Foi assistindo “5 câmeras quebradas” que pude ver de perto a resistência pacífica dos palestinos e seu sofrimento sob a opressão de um estado brutal e violento. Finalmente, foi com Max Blumenthal que eu percebi a brutalidade dos ataques a Gaza promovidos pelo Estado sionista de Israel através do seu livro “The 51 days War“, sobre o massacre ocorrido em Gaza em 2014.

E acima de tudo, foi através do aprofundamento nas leituras que pude tirar da frente dos meus olhos o véu da propaganda sionista e islamofóbica que me impedia de ver a realidade. Espero que este seja o caminho de todos que desejam a paz, até porque é absolutamente incoerente defender o legítimo direito de vastas populações subjugadas e oprimidas pelo mundo enquanto negamos este direito aos palestinos. Não haverá solução para os dilemas da palestina sem que a democracia seja vitoriosa, sem que aos palestinos sejam garantidos o retorno para a pátria e a garantia de sua terra. A única alternativa é a “solução final”, a morte, a destruição total, e devemos todos lutar para que essa possibilidade jamais se torne realidade.

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Arquivado em Causa Operária, Palestina