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Beleza e Poder

Virou uma espécie de mantra entre grupos identitários desmerecer a importância e o poder social da beleza. Desde o antigo “o que vale é a beleza interior”, passando por “beleza não põe a mesa” tendemos a desmerecer o juízo que as pessoas fazem do belo. Meu pai sempre me contava a história das suas observações na fila do banco quando, observando a reação das meninas do caixa, percebia a diferença de comportamento quando a pessoa a ser atendida era um homem bonito. Faziam isso de forma inconsciente, por certo, mas ficava evidente a diferença que as pessoas belas tinham nos prosaicos encontros cotidianos.

Pesquisas recentes indicam que a vida pode ser menos dura e mais lucrativa para pessoas mais atraentes. Segundo o economista especializado em mercado de trabalho Daniel Hamermesh, essas pessoas ganham em média US$ 237 mil (R$ 1,2 milhão) a mais ao longo da vida do que pessoas igualmente qualificadas, mas menos atraentes nos Estados Unidos. Elas também são mais propensas a serem promovidas no trabalho, negociar melhores empréstimos e atrair parceiros mais qualificados e bonitos.”

Inúmeros outros trabalhos demonstram a vantagem que as pessoas belas obtém nessa sociedade. Entretanto, existem indicadores indiretos da importância que essas questões têm nas sociedades humanas. O mercado da beleza feminina é um mercado vasto, abrangendo produtos, serviços e cirurgias estéticas, com um valor global estimado em US$ 430 bilhões (2,4 trilhões de reais). Em 2022, o Brasil faturou US$ 26,9 bilhões (150 bilhões de reais) neste mercado, ocupando a quarta posição mundial. O mercado de cirurgias estéticas, que é um dos segmentos mais lucrativos, cresceu para US$ 127,1 bilhões (711 bilhões de reais) em 2023. O mercado brasileiro de estética é considerado um dos maiores do mundo, movimenta R$ 48 bilhões anualmente e ocupa o terceiro lugar no ranking mundial.

Apenas como comparação, estão previstos R$ 226,4 bilhões para a educação e R$ 245,1 bilhões para a saúde pública. Desta forma podemos ver a importância que se dá à aparência e o valor que as sociedades dão a ela Com tanta atenção a esta faceta do sujeito – o aspecto externo – pode-se imaginar o poder que existe naqueles sujeitos belos e sedutores.

Também não é à toa que a mais épica das histórias antigas gira em torno do poder de uma bela mulher, capaz de produzir uma guerra de uma década entre duas cidades. Assim fez Helena, que pelo poder de sua beleza, levou gregos e troianos à guerra. Desta forma, é ingenuidade acreditar que a beleza, em especial a feminina, não seja uma força extremamente poderosa nas sociedades humanas, e não é por acaso que os homens de poder obsceno conquistam mulheres de beleza estonteante e hipnótica. Desconsiderar o valor da beleza na estruturação da humanidade é desmerecer a própria herança que recebemos dos mamíferos que nos cercam e nos antecederam.

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Romantismo tóxico

“Precisamos falar desse ‘romantismo tóxico’ que une homens mais velhos e meninas”.

Por que romantismo tóxico? Por que precisa ser isso o que une essas pessoas de idades díspares? Como afirmar que namorar alguém mais novo seja um pendor para a subjugar, e quando alguém muito mais novo entra neste tipo de relação há um desejo de ser oprimido?

As dinâmicas eróticas, afetivas e sexuais são únicas, subjetivas, pessoais e não há como saber o que realmente as conduz. Aliás, nem mesmo ao sujeito é dado saber, pois que as reais motivações para as escolhas amorosas estão escondidas no inconsciente. Entretanto, por que rotular a disparidade de idades como “tóxica”? E tóxica por parte de quem? Do sujeito mais velho e famoso que deseja rejuvenescer com um parceiro décadas mais novo? Ou do jovem desejando ascensão social e facilidades por meio da sensualidade de seu corpo atraente? Quem intoxica quem? Quem comanda ou detém o poder? O falo poderoso ou o corpo jovem e manipulador? Talvez, por que não, nenhum dos dois, se aceitarmos que estas relações também podem ser mediada por amor.

Por que é necessário achar que esse desnível de idade é tóxico? Olhe a experiência de outras mulheres, falando se suas experiências com homens mais velhos e mais jovens. Por que seria correto criminalizar relações que não se conformam à nossa visão específica de amor? Numa sociedade patriarcal, onde o poder está com os homens, é óbvio que ele será exercido nas relações afetivas. Entretanto, isto não é da essência dos homens, mas da essência do poder. Coloque o poder nas mãos das mulheres e o modelo se reproduz, como eu mostrei acima.

“Existem mulheres mais velhas que se envolvem com meninos, mas não é a norma, não é o mercado.”

Sim, não é o “mercado” porque poucas são as mulheres que ascendem a posições de poder. Entretanto, entre aquelas que atingem esta condição, seu valor social lhes oferece essa oportunidade. Repito: não é da essência dos homens e das mulheres, mas da essência do poder. Quem o detém (no patriarcado, majoritariamente os homens) terá a oportunidade de escolher seu parceiro mais belo e jovem, buscando nele a ilusão de eternidade.

Sabe o que me deixa triste? A ideia de que toda a relação de amor entre um homem mais velho e uma mulher mais jovem está regida pelo desejo de dominação, e que não passa de uma expressão machista de opressão. Mas, para aceitar isso, é necessário colocar as mulheres que se apaixonam por homens mais velhos como tolas, manipuláveis, ingênuas, frágeis ou submissas, quando a realidade nos mostra que, apesar da existência desse fenômeno, essa não é a totalidade e, penso eu, nem a maioria casos.

A emancipação das mulheres do jugo do patriarcado passa por reconhecer seus desejos e seu protagonismo nas escolhas amorosas, retirando-as da condição de objetos e alçando-as à posição de sujeitos de seu destino – inclusive no que diz respeito às suas escolhas eróticas. Acho curioso ver como algumas pessoas sabiam exatamente o que ocorria na cabeça daquela moça da foto, mas fazem isso julgando-a apenas pelos SEUS referenciais e experiências pessoais. Repito: se ainda existem elementos do patriarcado a modular estas relações, certamente que o mundo está em mudança, e não é justo acreditar que todas as relações construídas por esse modelo sejam fruto de estruturas opressivas ou masoquistas.

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Consensos

“Todos na sala discordaram dele, e mesmo assim ele se negou a reconhecer que estava errado. Fez isso porque escolheu se manter ignorante”.

Vamos ponderar que, dizer que alguém está errado apenas porque 4 ou 5 pessoas (ou mesmo 500) afirmaram o contrário e refutaram as provas apresentadas, não é um bom argumento. Não se pode aceitar que a verdade seja decidida por votação. “A Terra é plana ou esférica? Não sei, vamos votar?” ou então “Existe (ou não) aquecimento antropogênico porque a maioria dos cientistas concorda”. Isso, para a ciência séria, tem pouco valor. Quando Copérnico anunciou sua teoria sobre o heliocentrismo, muito mais do que 5 ou 6 de seus pares afirmaram que ele estava errado. Com Galileu ocorreu o mesmo, e por isso mesmo foi até julgado e condenado. Copérnico e Galileu seriam, para suas épocas, “negacionistas do geocentrismo”?

Não apenas eles, este é um mal que acomete a quase todos os gênios da humanidade: o isolamento e a incompreensão. Poderia citar milhares de outros exemplos de pensadores como Freud, Espinoza, Nietzsche, Marx, entre tantos que sofreram rechaço por parte da imensa maioria de seus colegas em seu tempo, mas que apesar da solidão produzida por suas ideias, carregavam a verdade em suas ideias. Isso prova a todos nós o quanto a verdade não é democrática; em verdade é poderíamos dizer que ela é “aristocrática” e “meritocrática”. Nietzsche, inclusive, afirmava que o verdadeiro gênio só teria sua obra reconhecida um século após a sua morte. Em vida, seria fatalmente maltratado, desprezado e incompreendido. Ele foi a prova de suas próprias ideias.

Certa vez Albert Einstein recebeu um manifesto assinado por inúmeros cientistas reunidos em um congresso, o qual, de maneira enfática, refutava uma de suas teses. Quando viu o número de assinaturas, ele comentou: “Meu Deus, mas para que tantos? Bastaria apenas um, munido de bons argumentos”. Ou seja: o número de pessoas que discorda de você é irrelevante; os argumentos que ela traz ao debate é que são os elementos essenciais.

Além disso, as pessoas não “escolhem se manter ignorantes”; elas apenas não conseguem enxergar o mundo por uma perspectiva diversa daquela que lhes oferece uma explicação segura e confortável do mundo. O medo delas é trocar aquilo que lhes garante uma compreensão mais coerente do universo e que lhes oferece mais segurança (que pode ser qualquer coisa, como a crença em Deus ou a descrença num princípio criador), por um salto no escuro, que lhes deixa com o medo e as incertezas de um novo paradigma.

Não tenha medo de carregar uma verdade solitariamente, mesmo quando muitos a contestam. Esteja sempre aberto a mudar sua posição e transformar o modo como enxerga o mundo, mas não se deixe atemorizar pelas falsas unanimidades. A verdade não é amiga da popularidade; muitas verdades que hoje nos abrem portas para o conhecimento foram, no seu tempo de despertar, tratadas como anátemas perigosos ou tolices inaceitáveis. 
 

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Pampa’s League

A ideia dos clubes uruguaios Peñarol e Nacional jogarem o campeonato gaúcho não me parece a mais justa. Imagine o que aconteceria com o campeonato uruguaio sem estes dois gigantes. A minha proposta é muito mais radical e eu a apresentei há mais de 20 anos. Seria algo como Pampa’s League (nome foi ideia do Oscar Krost) que incluiria clubes do Uruguai e do Rio Grande do Sul em um grande campeonato do cone sul, que seriam vistos futebolisticamente como pertencentes a um único Estado (algo que produz arrepios na nuca dos separatistas).

Enquanto ocorre a disputa, os campeonatos uruguaio (apertura) e gaúcho da série especial continuariam ocorrendo sem os clubes da Pampa’s League. Estes clubes restantes disputariam, em seus respectivos campeonatos locais, 2 vagas de cada país no campeonato do próximo ano, em modelo ascenso e descenso. Poderia ser um campeonato de 12 clubes, 6 de cada país. Haveria assim uma Copa Uruguai-RS, que teria como participantes 4 campeões mundiais, e ao todo seriam 13 Copas Libertadores ganhas pelos clubes disputantes. Nenhum campeonato regional teria essa imensidão de clubes com conquistas internacionais.

O campeonato gaúcho seria mais disputado e equilibrado, com vencedores do interior que teriam a oportunidade de jogar um campeonato bi-nacional no ano seguinte. Não tenho dúvida que seria bom para os clubes uruguaios e ótimo para os times gaúchos.

Que acham?

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Klek Shops

Os “Klek Shops” são símbolos da vida urbana da Bulgária. As “lojas de agachar” (klek shop) são um fenômeno interessante. Sua história começa com a mudança do sistema comunista para o capitalista em 1989, logo após a queda do muro e o desmanche do socialismo no leste europeu. Após esta mudança, o espaço para construção se tornou muito caro pela gentrificação do centro da cidade. Por esta razão, espaços mais baratos foram criados nos porões das casas, que foram convertidos em lojas de conveniência. A piada que as meninas de Sófia me contaram era que trabalhar nessas lojas era o emprego mais cobiçado pelos garotos da cidade, pois no verão a vista era a melhor possível.

Acho que não terei tempo de vida para voltar a essa cidade linda e cheirosa (Sófia é a “cidade das rosas”) que tem os táxis mais perfumados da Europa, um metrô limpo e amplo e mulheres lindas, donas de uma beleza estonteante, onde se pode ver a mistura dos olhos verdes com o cabelo loiro e os olhos puxados que herdaram do contato com o oriente.

Uma curiosidade: ainda muito jovem eu curtia uma imensa paixão pela música búlgara, desde que li uma crítica de Tárik de Souza na Veja sobre o lançamento de um CD chamado “Le Mystère de Voix Bulgares 3”, gravado pelo Coral da Rádio e TV estatal de Sófia. Quando comprei o CD, logo após seu lançamento em 1989, foi como se o céu caísse sobre a minha cabeça. O tipo de harmonia que elas produzem não é comum para os ouvidos ocidentais, com seus vibratos, meios-tons, sussurros, etc. Durante 20 anos essa paixão pela música folclórica da Bulgária foi só mais uma das minhas inúmeras esquisitices.

Quis o destino que eu fosse convidado a dar um curso sobre humanização do nascimento em Sófia, 23 anos depois do despertar desse amor – até então platônico. Fui recebido por duas queridonas: Liubomira, que na época era doula e agora parteira, e Olga, enfermeira obstetra. Logo após chegar confessei a elas o meu desejo de ver uma apresentação desse grupo de mulheres. Elas, com espanto, me disseram que haveria um show exatamente na noite da nossa chegada.

– Ok, levaremos vocês no teatro

Foi exatamente o que aconteceu. Mal descemos do avião e lá estava Olga para nos receber. Fomos ao hotel, deixamos as roupas e malas sobre a cama e rumamos céleres para um gigantesco teatro no centro de Sófia. Com Liubomira ao nosso lado, assistimos eu e Zeza à apresentação das mulheres de vozes misteriosas e belas. Não consegui parar de chorar durante toda a apresentação, o que é constrangedor e ridículo, mas honesto. Perguntei para Liubomira se é comum elas se apresentarem em Sófia, ao que ela me respondeu: “Pelo contrário. Faz uns 4 anos que não havia apresentações públicas. Foi muita sorte de vocês“.

Não foi sorte, foi um milagre. I love you, Bulgária.

Реликварий на живот, който си е заслужавал.

“Klek Shops” са символи на градския живот в България. „Скуот магазините“ (klek shop) са интересен феномен. Нейната история започва със смяната от комунистическа към капиталистическа система през 1989 г., малко след падането на стената и разрушаването на социализма в Източна Европа. След тази промяна строителното пространство стана много скъпо поради облагородяването на центъра на града. Поради тази причина бяха създадени по-евтини пространства в мазетата на къщите, които бяха превърнати в смесени магазини. Шегата, която ми разказаха момичетата от София беше, че работата в тези магазини е най-желаната работа сред момчетата в града, защото през лятото гледката е най-добрата възможна.

Не мисля, че ще имам време да се върна в този красив и ухаещ град (София е “градът на розите”), който има най-парфюмираните таксита в Европа, чисто и просторно метро и красиви жени, притежателки на зашеметяваща красота, където можете да видите смесицата от зелени очи с руса коса и наклонени очи, които са наследили от контакта с Изтока.

Интересен факт: Бях още много млад и изпитвах огромна страст към българската музика, откакто прочетох рецензия на Тарик де Соуза във Веха за издаването на компактдиск, наречен „Le Mystère de Voix Bulgares 3“, записан от Хора на Софийското държавно радио и телевизия. Когато си купих диска, малко след издаването му през 1989 г., сякаш небето се стовари на главата ми. Типът хармония, която произвеждат, не е обичаен за западните уши, с техните вибрато, полутонове, шепот и т.н. В продължение на 20 години тази страст към българската народна музика беше само една от безбройните ми странности.

По волята на съдбата бях поканен да водя курс по хуманизиране на раждането в София, 23 години след пробуждането на тази любов – дотогава платонична. Посрещнаха ме две сладури: Любомира, която тогава беше дула, а сега акушерка, и Олга, акушерска сестра. Скоро след като пристигнах, им признах желанието си да видя представление на тази група жени. Те с удивление ми казаха, че точно вечерта на пристигането ни ще има шоу.

– Добре, ще те заведем на театър

Точно това се случи. Едва слязохме от самолета и Олга беше там, за да ни посрещне. Отидохме в хотела, оставихме дрехите и куфарите на леглото и бързо се отправихме към един гигантски театър в центъра на София. С Любомира до нас със Зеза гледахме представянето на жени с мистериозни и красиви гласове. Не можех да спра да плача през цялото представление, което е неудобно и нелепо, но честно. Попитах Любомира обичайно ли е да играят в София, на което тя отговори: „Напротив. Минаха около 4 години, откакто нямаше публични изяви. Беше голям късмет за теб.“

Не беше късмет, беше чудо…

Обичам те, България.

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Bordel Mediterrâneo

Não lhes parece curioso que o sonho do presidente Trump a respeito da reconstrução de Gaza é a criação de uma cidade artificial, sem vida, plastificada, criada para ser um enorme cassino ao ar livre, com suas praias limpas, restaurantes, casas de jogos, (provavelmente) prostituição, shows de música, festas suntuosas, mulheres extravagantes, muita gente branca ao dado de uma multidão de trabalhadores simples de pele escura? A imaginação logo nos leva a enxergá-la como uma grande “Las Vegas Oriental” às margens do mar, com luxo, sofisticação e com algumas pinceladas das extravagâncias de Dubai.

Não acredito que essa fantasia seja uma coincidência, até porque esse é a imagem de progresso que um bilionário americano, e dono de cassinos, como Trump, projeta para Gaza. É assim que o centralismo capitalista enxerga esses lugares exóticos. Assim era Cuba antes de ser liberta pela Revolução: um lugar para os ricos passarem as férias, dançarem, encontrarem mulheres boas e baratas e serem servidos pelos garçons nativos. Percebam que é desta maneira que Hollywood retrata o oriente, dos árabes passando pelo Havaí, a Tailândia e tantos outros lugares onde o Imperialismo controla com seu exército ou sua economia.

Por outro lado, Dubai nos mostra como esse tipo de empreendimento realmente funciona. Ao lado da suntuosidade das torres gigantescas, das praias artificiais, dos restaurantes e da vida noturna existe um exército gigantesco de trabalhadores que habitam a cidade de Sonapur, na periferia da cidade glamourosa. São eles – uma mão de obra quase exclusivamente composta de estrangeiros – que mantém acesas todas as luzes do espetáculo da cidade, mesmo recebendo salários miseráveis e sofrendo a extrema exploração que os expatriados normalmente recebem.

No capitalismo, a ideia nunca se afasta desse padrão: uma multidão semi-escravizada trabalha para que os bem-aventurados possam se divertir, mesmo que isso custe aos trabalhadores sua saúde, a liberdade, o conforto e o contato com a família. Isso sem falar do tráfico de pessoas, uma ferida aberta de direitos humanos que acontece amiúde nesses projetos. As cidades dos bilionários da península arábica possuem milhares de histórias de mulheres abusadas, traficadas, usadas como escravas domésticas e impedidas de retornar aos seus países de origem. Enquanto no submundo ocorrem crimes de toda ordem, o espetáculo não pode parar e a música precisa continuar a tocar indefinidamente.

Trump planeja para Gaza um bordel americano, um lindo jardim às margens do Mediterrâneo, tendo os palestinos como seus empregados, e todo o dinheiro nas mãos de alguns poucos americanos, judeus e árabes dos Emirados vizinhos. Estes vão explorar a população da Palestina até que tudo que lá existe acabe sendo possuído por estes poucos capitalistas. Nesse momento o sonho sionista será concretizado, e os palestinos, por fim, se sentirão estrangeiros em sua própria terra.

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Penas desumanas

Ela não vai comemorar o dia da mulher com sua família. Quem acha justo que uma mãe fique presa, afastada dos filhos pequenos, pelo crime “hediondo” de escrever com batom na estátua da Deusa Têmis, é porque vendeu sua alma ao fanatismo punitivista há muito tempo. Permitir que um tirano como Alexandre de Morais faça justiça conforme o seu humor, sem observar um preceito básico do direito, a proporcionalidade da pena, é jogar fora séculos de avanços civilizatórios. Um socialista verdadeiro não pode aceitar que o poder desmedido de um magistrado não sujeito ao voto esteja acima dos demais.

Pergunto: que tipo de “ato simbólico” – como manchar de batom uma estátua – é tão grave a ponto de fazer uma mãe ser afastada dos filhos e ficar presa, podendo ser condenada a 17 anos de prisão? Essas prisões estapafúrdias, grotescas, insanas e desumanas parecem a selva punitivista americana, na qual ainda existem penas capitais e onde um sujeito pode ser condenado a 10 anos de prisão por roubar um pedaço de pizza. E isso num país com uma população carcerária de quase 2 milhões de apenados.

Ou pior ainda: estas decisões parecem o sistema penal corrupto de Israel, onde lutar pela sua terra e pelo seu povo pode colocá-lo numa masmorra pela vida inteira. Que tipo de sociedade degenerada acredita que a insatisfação crescente do povo pela ocupação do seu país ou pela política das democracias burguesas pode ser solucionada com penas draconianas, pesadas, desumanas – e, portanto, injustas? Pelo contrário: a indignação do povo só aumenta com esse tipo de crueldade. Infelizmente quem se mobiliza até então é a direita fascista, porque a esquerda está inativa, paralisada pela ilusão de que Alexandre está ao lado da “democracia”. Apoiar esta insanidade ainda vai nos levar a uma tragédia.

Muitas manifestações da esquerda carnavalesca e identitária, favoráveis à prisão desta mulher, são copia-e-cola das manifestações da direita sobre a prisão de Lula, Delúbio, Zé Dirceu, Genoíno e José Kobori. Idênticas. “Quando roubou o sítio em Atibaia não pensou na família, né”? Ou seja: a sujeira jurídica do Impeachment, da prisão de Lula e a imundície da Lava Jato não nos ofereceram suficientes lições para desconfiar das sentenças da justiça burguesa e das decisões do supremo (que aceitou o impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma e manteve Lula preso de forma ilegal). Continuamos atacando personagens como Bolsonaro sem perceber que ele não é a doença; ele é o sintoma. A doença verdadeira é a tirania e a ditadura da burguesia, muito bem representadas por vampiros como Alexandre de Morais, indicado pelo vampiro-Mor Michel Temer, golpista maior dos nossos tempos.

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Crime e Castigo

Cresce a disputa sangrenta entre facções do crime organizado em várias cidades brasileiras, motivada pelo montante de dinheiro que circula pelo comércio de drogas e pelas disputas imobiliárias. É sabido por todos que nas comunidades falta Estado, faltam recursos e as atividades ligadas ao tráfico são as mais sedutoras para os jovens sem perspectiva. Para muitos a situação é caótica e sem solução, tamanha a força que estas organizações adquiriram.

“Bandido bom é bandido morto”, vociferam os bolsonaristas. “Tem que deixar apodrecer na cadeia” gritam outros acreditando que as punições severas possuem a capacidade de inibir a realização de crimes. Essa é uma ilusão difícil de apagar em pessoas criadas com a ideia de que as penas severas são o melhor meio para mudar condutas criminosas. Inobstante a crença de muitos, é fato que as penas draconianas e leis mais rigorosas jamais fizeram a menor diferença para o decréscimo da criminalidade. Nunca houve diminuição da prática do crime pelo endurecimento das penas, veja o que aconteceu com o programa desastroso dos “Three Strikes” do governo Clinton ou mesmo com a aplicação da Lei Maria da Penha na busca por diminuir a violência contra a mulher.

Se o rigor punitivo estatal fosse algo positivo, a pena de morte teria dado certo no Brasil, já que foi instituída há décadas entre as organizações criminosas e nada mudou no obituário do crime do Rio de Janeiro. A resposta para a criminalidade não está na ação sobre as consequências, mas no complexo combate às causas. Enquanto houver uma sociedade dividida em classes, a propriedade privada dos meios de produção for algo sagrado e o uso de drogas for criminalizado, essa divisão será inexoravelmente mediada pela violência e pelo fatiamento da cidade em facções.

Punir os delinquentes em nada atinge a delinquência, pois que apenas atua na rotatividade de quem comete os crimes; a matriz se mantém ilesa. A prisão dos milicianos e chefes do crime nada abala o controle das comunidades e a distribuição de drogas, pois que a estrutura já é montada levando em consideração essas trocas. A solução, desculpem a insistência, é o fim do capitalismo. Enquanto tivermos tamanha desproporção na distribuição da riqueza, o resultado será sempre a violência.

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Mudanças

Fiquei sabendo da entrevista de um economista brasileiro que, num determinado momento de sua vida, abandonou as teses neoliberais que sempre o guiaram e passou a enxergar a sociedade por uma perspectiva mais humanista, valorizando as relações pessoais, a simplicidade e a necessidade de um mundo mais justo e equilibrado. Movido pela curiosidade, fui assistir.

O título era chamativo: Me arrependi, e o entrevistado era o economista José Kobori. Na entrevista, ele conta como passou de um profissional conectado ao catecismo financeiro tradicional para se tornar um crítico do modelo econômico surgido após a era Reagan. Minha curiosidade era pelo caminho que ele teria percorrido para alcançar o extremo oposto de seu antigo pensamento. Que tipo de leitura o convenceu? Teria conhecido Marx, quiçá foi tocado pela leitura de Lenin, Trotsky ou algum socialista contemporâneo, como Harvey?

A resposta não me surpreendeu, pois que eu já intuía que tais mudanças raramente ocorrem mediante epifanias de ordem intelectiva. Quando Nia Georges e Robbie Davis-Floyd estiveram pesquisando profissionais da humanização do nascimento no Brasil, para saber as razões de sua mudança paradigmática na direção de um modelo contra-hegemônico e humanista, as respostas oferecidas por inúmeros profissionais deixaram as suas motivações expostas: todos haviam passado por dramas pessoais, afetivos, emocionais, que os fizeram enxergar a realidade de forma distinta daquela que tinham até então. Não foi a leitura de um livro, ou uma aula na faculdade; foram fatos, quedas, solavancos emocionais, muitos deles doloridos e até vexatórios, que os levaram à mudança.

José Kobori, o economista até então liberal, foi preso na onda de justiçamentos da Lava Jato. Pela descrição que li do seu caso, tratou-se de uma prisão abusiva, absurda, autoritária, sem provas e baseada em vingança. Ele sofreu várias ameaças de morte e foi perseguido por organizações criminosas envolvidas em propinas com governos estaduais. Entretanto, naquela época ninguém ousava questionar os métodos medievais e abusivos da República de Curitiba, tanto a imprensa – apaixonada por figuras nefastas como Moro & Dalanhol – quanto as instâncias superiores do judiciário. Ele foi mais uma vítima dos linchamentos judiciais que mancharam a lisura da justiça brasileira.

E foi esse drama pessoal, e os quase três meses em que esteve injustamente preso, que o fizeram rever seus valores. Quando foi finalmente solto, havia perdido tudo que havia conquistado em termos materiais e foi obrigado a começar do zero. Como tinha experiência como professor, começou a dar aulas pela internet, desta vez mostrando os equívocos do modelo neoliberal. Todavia, foi sua experiência na prisão que abriu as portas para uma visão mais abrangente da sociedade. Lá encontrou assassinos e criminosos comuns, conheceu os sistemas de poder da prisão e teve de se adaptar a essa nova realidade. Entretanto, o que mais lhe chamou a atenção foi que na prisão havia pessoas, como quaisquer um de nós. Boas pessoas, pessoas ruins, egoístas, fraternas, inteligentes e limitadas, culpadas e inocentes; todo o tipo de ser humano, exatamente como havia conhecido fora de lá. Foi então que começou a questionar a justiça social, a fraternidade, a equidade e até a meritocracia, um mito por tanto tempo acalentado que agora desmoronava diante dos seus olhos. Depois dessa vivência traumática, sua vida se transformou.

A mesma experiência teve Miko Peled, filho de um general israelense que foi herói na guerra de 1967. Já entrando na idade madura, teve a oportunidade de debater a questão da Palestina com amigos palestinos que encontrou fora de Israel, o que lhe permitiu abrir os olhos e enxergar o mundo sem a viseira do sionismo. Foi do sofrimento originado da confrontação de suas antigas crenças com as aspirações de liberdade do povo palestino que conseguiu enxergar uma realidade alternativa. Foi sentindo em si a dor da ocupação, recebida pela voz embargada de seus amigos palestinos que descreviam os horrores do apartheid, que a mudança se tornou possível. A partir desse encontro, ele transformou sua vida e assumiu como missão pessoal a luta pela Palestina Livre e pelo fim do regime sionista.

Nesses exemplos fica evidente a veracidade de um antigo axioma: “Não há como mudar racionalmente uma crença surgida da irracionalidade”. A única maneira de mudar posturas recalcitrantes é por meio da abordagem emocional, afetiva e pessoal. Mais do que entender o problema, é preciso senti-lo, e só assim será possível conhecer uma verdade superior. Essas experiências, muitas vezes difíceis e dolorosas, como a prisão no caso de Kobori, ou a morte de uma sobrinha num ato de terrorismo, no caso de Miko, são preciosas por serem fantásticas alavancas de transformação pessoal, desde que possam ser absorvidas de forma construtiva e criativa. O mesmo se pode dizer dos abusos da Lava Jato. A dor que o país ainda experimenta pelos desmandos jurídicos deveria servir como uma lição cívica para que nunca mais se repitam. Esperamos que assim seja.

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Misandria

Cara, que horror é esta matéria da Milly Lacombe sobre o Oscar 2025. Uma crítica ressentida, raivosa, focada nessa misandria cafona de alguns segmentos do feminismo e atacando este inimigo onipresente: o homem branco, cisgênero e heterossexual. Sua postura e sua visão unívoca, que coloca o patriarcado como a causa precípua dos problemas do capitalismo, é recheada de todo esse divisionismo anacrônico. Sua aposta na belicosidade dos gêneros parece um pão quentinho que sai fumegante do forno dos “think tanks” gringos. Ela é a versão feminista do Jean Wyllys – que poderia facilmente ter escrito uma crítica ácida ao fato de não haver homossexuais premiados ou sobre a injustiça cometida contra a atriz trans Sophia Gastón. Quem duvida que já existam crônicas falando da falta de negros no Oscar desse ano? A propósito, me ocorreu agora: já não era tempo do “Oscar” ter nome de mulher, ou vamos continuar com esse machismo?

Ou seja: que se foda o cinema, eu quero é ver a minha tribo representada!! E se, para a defesa e a exaltação das minhas identidades for necessário atacar homens brancos e héteros, ainda melhor. A articulista sequer se dá conta que esses três filmes: “Anora”, “Ainda estou aqui” e “Emília Perez” são centrados na figura de mulheres e seus dramas. São elogios às múltiplas faces e papéis das mulheres na sociedade contemporânea e sua importância central na cultura. Essa postura de ataque sistemático aos homens é chata demais. Entretanto, fica fácil ver que é um discurso proposital; este tipo de matéria busca engajamento numa esquerda cada vez mais perdida no identitarismo do partido democrata americano e das ONGs que sustentam a separação. Boicotam a luta de classes por meio da fantasia da “diversidade”, uma arma de propaganda das direitas do mundo todo. Estas, não por acaso, são as mesmas instituições que foram solapadas com a vitória de Trump/Musk, e que agora choram pelo espaço perdido.

Ver estas personalidades minguando em profundo desespero é o único consolo pela vitória de um psicopata arrogante e estúpido.

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