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Mais censura do bem….

O comediante Danilo Gentili foi multado pela justiça em 20 mil reais por fazer uma piada com a deputada Sâmia Bomfim em que debochava do seu peso. Quase todos aceitam que fazer piadas com o corpo das pessoas – em especial das mulheres – é algo de mau gosto. Com os homens – já que são “opressores” – as piadas são liberadas, e multiplicam-se os gracejos com carecas, baixinhos, magricelas, submissos às mulheres, barrigudos, etc. No caso dessa piada de Danilo Gentili, um juiz fazendo uso de uma interpretação da lei totalmente “free style”, usou a lei do racismo para aplicar a sentença, usando esta lei como paralelo para penalizar a “gordofobia”. Ou seja: uma ação totalmente ilegal, pois que não existe possibilidade de usar a lei do racismo para aplicar em casos de transfobia (como tem sido usado) ou (pior ainda) gordofobia. Por certo que os identitários e a geração woke está feliz com a pena aplicada, achando que isso vai penalizar um humorista chato de direita, em uma vingança pelas piadas que fez contra a esquerda, expondo nossas imperfeições e falhas.

Infelizmente a nossa esquerda liberal não perceberam que este tipo de censura – e não há outra forma de chamar essa ação – que impede que se façam piadas, vai atacar a todos – em especial a própria esquerda. Quem terá coragem de contar uma piada que pode desagradar as suscetibilidades de um magistrado, e custar as economias e a carreira de um humorista. Ou seja: esta multa não serve para arrancar dinheiro ou punir um artista, mas para deixar todos os outros com medo de fazer críticas. Aliás, o marido da deputada Sâmia acabou de receber uma multa injusta, abusiva e arbitrária de 1 milhão de reais, mas parece que ela não ainda percebeu o risco tremendo que é depositar a liberdade de expressão e o direito à crítica no arbítrio da justiça burguesa.

Ou seja, dependendo do humor de um juiz, ou de um grupo de magistrados brancos, gordos e que fazem festinhas em hotéis, a partir de agora qualquer piada corre o risco de causar uma multa desproporcional ou até mesmo a prisão para quem a faz. A esquerda entorpecida ainda não tomou consciência de que, ao colocarmos nossos direitos de livre manifestação mas mãos de representantes da burguesia, o resultado será sempre a multiplicação dos ataques à classe operária, mesmo quando ocasionalmente a vítima possa ser um chato direitista e sem graça. A esquerda liberal continua dando aulas de ingenuidade e falta de visão politica ao aceitar passivamente a “censura do bem”

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Sionismo canhoto?

Nesta semana (10 outubro 2023) o professor e pesquisador Michel Gherman abandonou um debate sobre a crise da palestina na PUC do Rio de Janeiro. Na ocasião ele proferiu a seguinte frase “O Hamas é um grupo terrorista e o que aconteceu foi uma ação da pior espécie”. Neste debate é possível ver uma universitária, que afirma ser judia, protestando contra a presença do professor Gherman e dizendo que “95% (dos que estão aqui) não estão se sentindo representados por Michel Gherman”. Surge então a questão: como pode este professor defender uma proposta colonialista e racista como o sionismo, atacar a resistência palestina, aceitar a revanche sangrenta de Israel e ainda assim considerar-se de “esquerda”?

O proclamado “sionismo de esquerda” – um oxímoro ridículo – tem em Michel Gherman uma de suas mais potentes vozes há muito tempo. A narrativa usada pelos defensores da “conciliação” para o drama na Palestina é sempre a mesma: a culpa não é da ocupação, nem da opressão, muito menos da limpeza étnica. Não ocorre por causa do apartheid ou do racismo; a culpa é da extrema direita que governa o país na figura de Benjamin Netanyahu. Para estes personagens (que recebem um destaque incompreensível do jornalismo nacional, inclusive entre os progressistas) se a esquerda estivesse no poder não haveria tanta e tão disseminada violência, esquecendo que nas primeiras duas décadas da existência de Israel os governos eram encabeçados por elementos da esquerda israelense. Porém, apesar do esquerdismo de fachada, a brutalidade era a mesma que hoje testemunhamos – apenas sem câmeras nos celulares para testemunhar o horror dos massacres.

Entretanto, como toda dissimulação, a pretensa postura condescendente e “pacifista” destes falsos democratas desaparece como num passe de mágica nos momentos de crise. Os eventos apicais, seja no contexto dos sujeitos ou dos partidos, são pródigos em revelar nossa natureza mais íntima. Podemos enganar muitos sobre o nosso caráter durante períodos de calmaria e fartura, mas basta que a fome, a guerra, o caos social ou qualquer ameaça – interna ou externa – brote da placidez do nosso cotidiano para que surja a verdadeira essência, escondida sob as capas de civilidade.

Nesta exato momento Israel bombardeia sem dó ou piedade uma população composta majoritariamente por mulheres e jovens, indefesos dentro de uma prisão a céu aberto, privados das condições básicas para a sobrevivência de seu povo. Quando confrontado sobre o que faria no lugar de Netanyahu diante dos impasses da guerra contra o povo palestino, sua resposta se encontra em sintonia com os valores sionistas – excludentes, violentos e racistas – mais básicos: “Se tivesse chegado onde chegamos (faria) a mesma coisa. Só traria gente competente para assessorar”, disse em uma recente entrevista o professor Michel Gherman. Ou seja, mataria milhares de crianças, asfixiaria Gaza deixando-a sem eletricidade, água ou medicamentos, bombardearia hospitais matando médicos, enfermeiras e feridos e tudo isso em nome do regime racista, opressor e colonial criado no solo Palestino. Ou seja, para ele a manutenção do colonialismo brutal de Israel está acima dos valores humanos mais essenciais.

Não existe possiblidade de juntar no mesmo partido – ou no mesmo sujeito – uma proposta colonial e racista com a perspectiva solidária, humanista e justa que compõe a proposta socialista. Esses sujeitos pró Israel são direitistas, colonialistas e imperialistas até a medula dos seus ossos, mesmo quando seus discursos estão repletos de clichês pacifistas e lugares comuns pela “paz”. Não há verdade alguma em suas palavras quando falam de diálogo, diplomacia e entendimento entre as partes em conflito pois que para o sionismo a única possibilidade em seu horizonte é continuar tratando os Árabes como serviçais e cidadãos de segunda categoria. Pior ainda, gente (ou “animais”, como disse Yoav Gallant, ministro de defesa de Israel) que deveria deixar a Palestina ou morrer, pela expulsão ou pelo extermínio.

A mídia brasileira, acostumada a passar pano para essa falsidade, precisa acordar para o que estes personagens realmente representam. Não existe possiblidade de paz que não surja de uma pressão internacional intensa e sem tréguas contra o sionismo racista e colonial, contra o apartheid e contra o imperialismo. Dar ouvidos aos sionistas é atacar a autonomia e o sonho de democracia na Palestina, pois que o centro das reivindicações sionistas é a manutenção do colonialismo e da opressão do povo palestino.

FREE PALESTINE!!! 

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Opressão de classe

A questão de classe se sobrepõe à questão racial. Negros foram escravizados há 500 anos, trazidos de África, para serem trabalhadores forçados nas propriedades brasileiras, mas na história da Grécia e de Roma outros povos brancos foram trazidos para as metrópoles do mundo antigo como escravizados. Até na própria África negra havia escravos negros de senhores igualmente negros. Outros exemplos são os asiáticos no leste americano e os irlandeses pelos ingleses, tratados com o desprezo reservado às classes inferiores. A opressão dos mais fortes usa a cor da pele como desculpa para oprimir e explorar os mais fragilizados. No caso do Brasil – semelhante à dos Estados Unidos – a luta contra o racismo não pode assumir o caráter identitário, privilegiando apenas uma identidade, acreditando que o sofrimentos dos negros é único e uniforme.

Em verdade, esse sofrimento só será exterminado quando os negros tiverem acesso aos recursos econômicos para a sobrevivência digna nessa sociedade, um movimento que não vai acontecer apenas através da ascensão de alguns poucos negros às classes superiores, mas com a supressão das classes sociais. Sem classes dominantes e enormes contingentes de dominados, o racismo não terá como se expressar. Por essa razão, lutar contra o racismo sem entender que ele é uma consequência da sociedade capitalista de classes apenas gera conflito dentro da classe operária. É por essa específica razão que a direita americana oferece um apoio tão consistente para organizações identitárias que objetivam a divisão da classe trabalhadora, usando a luta antirracista, feminista e pró LGBT para minar a luta contra o capitalismo.

Não há dúvida de que ninguém vê senhoras negras dirigindo uma Ferrari aqui no Brasil, mas nos Estados Unidos existem centenas, talvez milhares de mulheres negras ricas que usam esse tipo de ostentação. Podemos então dizer que por lá o racismo foi derrotado? Eu diria que é exatamente o oposto: lá o racismo é muito pior. Esse é o grave problema do identitarismo, porque a existência de personagens negros com muito dinheiro não eliminou o racismo, o sofrimento do povo negro, e muito menos a exclusão da população negra da riqueza nacional, mas dá a eles uma ilusão de que o liberalismo é capaz de lhe oferecer as condições de ascensão social. Essa mentira percorre o imaginário há séculos.

Sobre os trabalhos domésticos, os serviços perigosos e danosos reservados aos negros, isso não é condição inerente da pele negra…. mas da pobreza!!!! O fato de haver muitos negros pobres no Brasil nos oferece a ilusão de que a cor da pela é a questão primordial, pois negritude e pobreza se confundem num país que se liberou da escravidão há 150 anos. Entretanto, o que conduz essas pessoas a condições de trabalho indignas é sua classe social, e não a quantidade de melanina que carregam.

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Bananas

No congresso de professores em São Paulo – XXVII Congresso da APEOESP , Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – ocorrido há poucos dias o representante do PCO, criticou de forma veemente os participantes de outras vertentes políticas adversárias, acusando-os de outrora terem atacado Dilma e garantido apoio à Lava Jato. Ao final de sua fala, e ao ser acusado de direitista, fez um sinal com o braço dobrado e a mão na dobra gritando “Aqui ó, lavajatistas são vocês”. Sua fala foi a que se segue:

“… eu queria aproveitar meu minuto final, para dizer, o seguinte: não vamos vir aqui falar qualquer coisa, a gente aceitar que companheiro que estão numa chapa encabeçada pelo PSTU, que defendeu o golpe, que tem o PSOL, que defendia a Lava-Jato, vir aqui falar que nos somos lavajatistas! Aqui para vocês oh! (o companheiro levanta o braço e aponta para a chapa 2). Lavajatistas são vocês!”

Iniciou-se uma alteração verbal seguida de uma garrafa d’água arremessada na direção do ativista – a qual acabou acertando uma professora na mesa diretiva. Logo em seguida houve a tentativa de invasão da mesa, mas a turma do “deixa disso” conteve os mais exaltados e a briga se acalmou.

Até aqui esta história não deveria causar muita surpresa. Ora, os embates políticos são feitos de paixão, e esta emoção normalmente cobre com sobra e sem muitas dificuldades a tênue camada acinzentada que envolve nosso cérebro. Exigir racionalidade e ponderação para quem participa dos confrontos político-partidários é um exagero, pois essa chama de desejo e determinação é o que nos inflama e nos faz participar das lutas.

Entretanto, foi o que ocorreu depois que demonstra de forma muito clara o desvirtuamento do debate político no campo progressista, principalmente num setor bem específico: a, assim chamada, esquerda. No final do congresso uma militante negra da esquerda identitária pediu uma moção contra o companheiro que fez o gesto ofensivo aos adversários porque, segundo ela, se tratava de um …. gesto racista. Mais do que isso; ela ameaçou chamar a polícia.

Quem é da esquerda radical e já participou de movimentos estudantis, passeatas, greves, manifestações, etc. sabe muito bem de que lado a polícia burguesa sempre se situa. A força policial é estimulada a bater sem dó em professores, estudantes, trabalhadores de fábrica, pobres, favelados, etc., sempre que chamada a defender o patrimônio e os valores da burguesia; está no seu DNA. Ameaçar um parceiro do campo da esquerda de “chamar os homi” por uma disputa ideológica durante um congresso é um ato de profunda traição à todas as lutas do movimento operário. Quem age desta maneira ainda não entendeu qual o lado que devemos nos postar diante da trincheira.

Mas isto ainda não é o mais grave. Essa menina negra acusou o ativista da corrente adversária de ter feito um “gesto racista”. Sim, o gesto de dar “uma banana” para os seus adversários foi interpretado por ela como racista pela equação abaixo:

Banana ======》 Macaco ======》Homem negro

Sim, foi essa a interpretação que ela fez, a despeito do gesto ser realizado há milênios por qualquer pessoa, em várias partes do mundo e muito antes da escravidão, sempre que alguém estivesse mandando seu oponente enfiar uma banana, como a dizer “vá se phoder”. Detalhe importante: o militante de esquerda acusado de racismo… também é negro.

Esse é o risco de permitir às pessoas que interpretem gestos e palavras em absoluto “freestyle”, sem qualquer materialidade, baseado na mais abstrata imaginação e na interpretação subjetiva de quaisquer intenções veladas. Chamar a polícia burguesa em meio a um congresso de professores, acreditando na mediação dos poderes burgueses, já é por si só um escândalo; porém, interpretar um gesto de “banana” como “racismo” demonstra o desastre que significa o identitarismo, que há muito vem destruindo por dentro as instituições do campo socialista.

Repito: ou combatemos o identitarismo ou ele vai corroer a esquerda até não sobrar mais nada.

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Nó Identitário

Estou com uma imensa curiosidade sobre qual será a manifestação dos identitários sobre o imbróglio entre Dudu Milk e Jean Wyllys. Isso porque houve xingamentos homofóbicos e uma clara ofensa, que produziu como resposta um processo por ataques à honra e homofobia. Detalhe: ambos os personagens dessa história são declaradamente gays. Por enquanto só ouvi silêncios…

Peço apenas que, aqueles que estão tentando “passar pano” para as palavras constantes do Tweet do Jean Wyllys (ao lado), imaginem apenas se estas palavras fossem proferidas por Eduardo Bananinha ou Nikolas. Ou seja: como os identitários ou os defensores da causa gay reagiriam à insinuação de que um político declaradamente homossexual toma decisões na arena política motivado por supostos fetiches sexuais? Como reagiriam ao estereótipo do gay descontrolado, reduzido à sua sexualidade (como historicamente se fez com os negros)?

Como vão se posicionar diante da ideia de que os gays, quando assumem postos de poder, agem de forma depravada, tornando-se incapazes de decisões racionais? Esta desumanização dos gays se assemelha à misoginia que considerava as mulheres como incompetentes, por não conseguirem analisar o mundo de forma racional. Também é tão grave quanto aquelas fake news que confundem propositalmente os gays com “tarados” e “pedófilos”. “Ahh, mas ele é gay. Ele pode falar isso”. Não é o que o Dudu achou. Além disso, essa afirmação vai de encontro à ideia de que as ofensas não acontecem pelo seu conteúdo ofensivo, mas tão somente por quem as emite. Ou seja: gays podem xingar e fazer piadas homofóbicas, assim como judeus podem debochar do seu próprio povo, enquanto os negros podem debochar de sua raça. Ou seja: seriam “eleitos”, blindados, capazes de avançar o sinal e cometer ofensas, protegidos pela sua condição. (recomendo um capítulo de Seinfeld onde um dentista se converte ao judaísmo apenas para contar piadas de judeus). É certo aceitar que uma determinada condição se torne um salvo conduto para as ofensas?

“Ahh, mas ele é gay, como poderia ser homofóbico?“, o que faz coro com a ideia de que “negros não podem ser racistas” ou “judeus não podem ser antissemitas” (como disseram do nazi Zelensky). Pois eu convido a escutarem as palavras homofóbicas de um famoso pastor evangélico que contrastam com sua história na homossexualidade enrustida, a qual ganhou as manchetes nas últimas semanas. As defesas feitas ao ex-deputado Jean por parte da esquerda são incompreensíveis para mim. Diante dessa celeuma eu pergunto: um sujeito que atacou a Venezuela em sua luta anti-imperialista, fez a defesa aberta da democracia liberal burguesa, apoiou o apartheid israelense, adotou a retórica do pinkwashing de Israel, atacou o nacionalismo palestino, saiu do país financiado pela Open Society do George Soros e ainda deu uma resposta homofóbica a um governador gay…. ainda pode ser chamado de “esquerda”?

Essa é a grande sinuca de bico do identitarismo: de um lado apoiar um governador gay, anacrônico, bolsonarista e que decidiu manter os monstrengos das escolas cívico-militares, um descarado cabide de empregos para militares da reserva, mas que teve sua honra indiscutivelmente ofendida. Por outro lado, postar-se ao lado de um ícone das lutas dos gays, personagem midiático, auto proclamado de esquerda, vítima de perseguições pelos fascistas do bolsonarismo, auto exilado e financiado pela Open Society do George Soros…. e que cometeu uma ofensa homofóbica grotesca e acima de qualquer questionamento.

E agora? Esquerda ou direita? Progressistas ou conservadores? Fascistas ou progressistas? Devemos olhar para o fato em si ou para as causas que eles defendem? “Caso ou Causa”? É aceitável que esse personagem acusado de homofobia seja contratado pelo governo atual? É justo oferecer a um homofóbico um cargo no governo progressista, que tem um compromisso histórico com as comunidades LGBT? Comprei bastante pipoca para ver como os identitários vão desatar este nó….

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Identidades

Lutar contra o racismo não é identitarismo. Combater o machismo, idem. O identitarismo, como o nome diz, é a luta pelas identidades a despeito das divisões da sociedade em classes distintas, as quais nos separam em proletários e burgueses. Esse modelo, em última análise, transforma um homem branco miserável em um opressor, enquanto o negro que divide com ele a mesma marquise é visto como um oprimido, ambos vítimas de uma sociedade injusta e cruel. Usar a luta antirracista para combater essa disparidade sempre serviu aos interesses de quem não quer que a sociedade capitalista seja questionada.

“Você é oprimido porque é preto”, “Você não é valorizada por que é mulher, ou gay” quando por trás desses fatos existe um modelo perverso de sociedade e uma concentração absurda de riqueza que sacrifica a todos nós, trabalhadores.

Grandes organizações antirracistas estão lentamente rompendo com esse sectarismo e abandonando a postura identitária. O pulo do gato é acordar para o fato de que a raiz do racismo não é a melanina, assim como a raiz do machismo não é aquele X a mais.

Os grupos antirracistas e feministas que se deram conta disso estão rompendo lentamente suas amarras com o sistema capitalista. Chamam a isso “interseccionalidade”, que nada mais é do que perceber que esses modelos opressivos são tão somente máscaras usadas para justificar uma sociedade dividida, baseada em classes.

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Veni, vidi, vici 

O caso do Vini Filho eu dedico a toda essa galera que curte “futebol europeu”, que acompanha Xêmpion Lig, que adora citar as escalações dos clubes da Europa, que se liga na carreira do Neymar, do Messi, do Mbapé, que assiste os jogos pela TV e manda dinheiro para esses clubes. Saibam que esses caras do velho mundo desprezam a América Latina, tem nojo dos pretos que jogam em seus clubes, tratam a todos nós – cucarachas – como escravos nas Arenas milionárias onde vão se divertir. Antes as vítimas eram os escravos no Coliseu de Roma, onde o estado oferecia panis et circenses; agora são os pretinhos, mulatos e “macaquicos”, até mesmo os brancos sul-americanos (pretos para eles) que jogam bola para que eles se divirtam.

Para vocês, e para toda essa molecada que sonha em jogar na Europa, saibam que é esse preconceito asqueroso que os aguarda. Fiquem ricos como sub cidadãos, como cativos em seus guetos de brasileiros e depois voltem para ganhar dinheiro na raspa de tacho do futebol do Brasil, mas não contem jamais com a minha audiência, meu apoio, minha atenção e minha conivência.

Morte ao futebol moderno, morte às arenas que excluem os pobres e pela volta do futebol do povo. Não precisamos do lixo europeu e do seu racismo asqueroso e fascista.

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A Coragem de Denunciar

Um professor de história, de ascendência judaica e que no passado lecionou no Colégio Israelita de Porto Alegre durante dez anos, publicou uma “postagem desabafo” sobre o que ocorreu há alguns dias, quando um grupo de adolescentes da referida escola protagonizou um espetáculo hediondo de preconceito de classe, desprezo pelos mais pobres, arrogância e xenofobia. Isso tudo em uma escola de confissão judaica.

A resposta de algumas pessoas da comunidade foi acusar o professor de hipocrisia. Afinal, se havia percebido sinais claros desse tipo de comportamento, por que permaneceu na escola por mais de dez anos? Por que razão não se demitiu ao primeiro sinal? “Ora… deve ser despeito por ter sido demitido, e falta de reconhecimento pela escola que lhe deu sustento”, disseram, em outras palavras, alguns interlocutores.

Curioso: um professor sendo acusado por não ter se demitido. Ou seja: ele está envolto num contexto recheado de atitudes que reconhece como racistas e fascistas atitudes que testemunhou quando do exercício do próprio ofício de educador, mas quando denuncia estas graves arbitrariedades é tratado como culpado por não ter abandonado a instituição previamente.

Filme antigo, não? Essa é a velha inversão de valores, a mesma que é aplicada à mulher que apanha do marido por 10 anos. Quando, esgotada e exausta, decide se afastar do companheiro passa a ser a culpada por não ter pedido “demissão” do casamento a mais tempo. No caso do professor a mesma retórica: ele é o culpado por ter permanecido no cargo, mas esquecem de analisar os condicionantes que afligem qualquer profissional, como salário, contas, família, projetos, profissão, sonhos e também a sua própria ação humanizadora na escola. Sim, por acaso a escola, onde ele estudou e onde criou laços afetivos, ficaria melhor com sua desistência precoce? Ou seria exatamente sua missão manter-se numa escola judaica (que mostrava sinais claros de condescendência com o racismo) para ser o contraponto a essa postura, que é (ou deveria ser) contrária ao próprio projeto pedagógico de uma escola judia: denunciar o racismo e a exclusão?

Não me surpreende que tantos judeus se apressaram a atacar o professor e estejam empenhados em “passar pano” para a Escola. Talvez sejam os mesmos que há poucos anos aplaudiram aquele candidato que falou dos “negros que eram pesados em arrobas“, ou quando disse que sua filha era uma “fraquejada“. Ahh, sim…. houve protestos de vários judeus contrários ao fascismo!! Por certo que sim, assim como há inúmeros judeus que têm consciência dos crimes cometidos contra a população palestina. Todavia, as palmas e os apupos ouvidos no salão da Hebraica do Rio de Janeiro não podem ser apagados da memória, assim como as palavras de desprezo pelos humildes e a aporofobia ditas pelos jovens do Colégio Israelita continuam reverberando em nossas mentes e corações. Benditos sejam aqueles que, diante dessas palavras, sentiram nojo e vergonha e perceberam o quanto elas estão erradas. Triste saber que muitos ainda se esforçam para justificar a barbárie e – pior ainda – atirando no mensageiro.

Os fatos que todos nós presenciamos confirmam essa perspectiva. Não há como passar pano para a barbárie. Não há como fazer de conta que esse não é um problema sistêmico. Dizer que é um fato isolado é uma mentira; ele é a representação de algo que está entranhado nas classes mais abastadas desse país, acostumado com a exploração e o apartheid de classes. É preciso denunciar – não as adolescentes, que de certa forma são vítimas de uma educação falha – mas todos aqueles que as formaram, e aí temos que olhar para a família e a escola. Qualquer coisa diferente disso significa alimentar o monstro do fascismo.

Ao professor Iair Grinschpun (que não conheço, mas já admiro pacas) minha solidariedade e meu apoio pela sua ação e pelo seu posicionamento. Não há porque ele mostrar o vídeo e sequer expor os adolescentes em sua página no Facebook; eles são apenas a parte visível do iceberg que a nossa sociedade terá de enfrentar. É preciso olhar de frente e com coragem para o fascismo e a exclusão antes que eles sejam o sinal dos tempos a anunciar a nossa extinção.

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Rejeição

Há algumas semanas conversei com uma mulher sobre uma série de assuntos relacionados à sua gravidez e, depois de um certo tempo, ela fez um comentário de caráter político que me deixou curioso. Como ela tocou no assunto, resolvi espichar um pouco a conversa para entender onde ela se situava nesse espectro político. Por curiosidade, perguntei:

– Mas afinal, em quem você vai votar?

Ele fez uma cara de quem estava pensando e por fim, respondeu:

– Ainda não escolhi, mas vai ser qualquer um, menos o Lula.

Um pouco surpreso, perguntei a razão de eliminar preliminarmente o ex-presidente de suas preferências, ao que ela explicou:

– Não adianta, não gosto dele. E não adianta tentar me convencer do contrário. O Lula trata as pessoas como se fossem coitadinhas, incapazes, fracas. Eu jamais precisei de ajuda para chegar onde cheguei. Não é porque sou negra que preciso ser tratada como inferior.

Ela era, por certo, uma mulher negra de classe média baixa. Havia estudado, tinha acumulado alguns bens (normais para seu estrato econômico) e tinha seu próprio pequeno negócio. Perguntei como poderia ser essa a visão que tinha de um sujeito simples, nordestino, operário, etc. Na minha cabeça, era pouco compreensível que as pessoas mais prejudicadas por uma estrutura social injusta como a nossa rejeitassem o personagem que mais representa a esperança de reversão dessa dura realidade.

As respostas dela foram tão subjetivas que se tornam até inúteis para uma análise de suas causas. Falou coisas como “O jeito que ele olha para os pobres”, ou “as palavras (falsas) que usa para falar deles”, e até “essa mania de falar da própria mãe, pobre e retirante“. Eu me convenci de que não havia nada em sua fala sobre o que Lula havia feito de errado, mas seu rechaço se fundava sobre o que Lula é: um homem que, reconhecendo as dificuldades do povo mais oprimido – negros, pobres, mulheres, operários, gays, etc – lança sobre eles um olhar de reconhecimento e cuidado, mas que para alguns parece ofensivo.

Perguntei sobre os candidatos ricos, de outras classes sociais, preocupados com suas próprias realidades próximas, e como ela lidava com o fato de que nenhum olhar seria direcionado aos pobres e destituídos. Questionei também se ela entendia que esta rejeição a Lula nos levou a eleger um sujeito racista, homofóbico, misógino e que despreza os pobres e até a própria democracia. Sua resposta foi curiosa:

– Ora, todos são racistas; ele é apenas mais um. O Brasil é um país racista; você, lá no fundo também é – e não adianta negar. Esse presidente ao menos é sincero e verdadeiro. Transparente.

Por fim disse não aceitar nenhum tipo de postura, assim dita, assistencialista. Afinal, não é justo que os outros ganhem “de presente” o mesmo que ela batalhou tanto para alcançar. As ajudas do governo acabavam por diminuir o valor de tudo que ela havia conquistado em sua vida, algo inaceitável e injusto.

Isso me fez lembrar os médicos que reclamavam do pagamento dado às doulas. Um deles, antigo e reacionário membro do conselho médico local, dizia que as doulas eram como “verdureiras”, no sentido de atuarem em uma “profissão” sem qualquer regulamentação, e que seria injusto ganharem bem quando os médicos – após anos de esforço – ganhavam quase o mesmo que elas.

Sim, mais fácil depreciar o trabalho alheio do que reivindicar a valorização do seu.

Quando a esquerda oferece mais equidade e justiça social esta promessa incomoda algumas pessoas por parecer desmerecer suas conquistas, ao menos nesta percepção deteriorada delas. Acreditam que, para que suas coisas ganhem valor, é importante que outros só as obtenham mediante sacrifício.

As ideias socialistas geram desde sempre a ilusão de extermínio da meritocracia, como se a justiça que apregoam fosse oferecer “igualdade para os desiguais”. Na verdade apenas promete que ninguém poderá ser privado de suas necessidades fundamentais e que o trabalho deverá ser remunerado com equilíbrio e sem exploração. Porém, diante da proposta de que todos devem ser remunerados com justiça, é chocante ver o quanto de rejeição isso ainda provoca.

Desisti de convencê-la a trocar seu voto, mas ao menos deixei claro que sua escolha era muito mais baseada na aversão à ideia de justiça social e muito menos nos defeitos de Lula. Ou seja, seu preconceito estava mais ligado às virtudes do que às imperfeições do candidato. Por outro lado, percebi que esse tipo de discurso é muito mais prevalente do que se pensa, e que é importante escutar o que estas pessoas têm a dizer.

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Futebol e Identitarismo

Discordo com veemência da ideia, expressa por alguns jornalistas que, usando de profundo oportunismo, divulgaram a ideia de que a saída do Técnico Roger Machado tem a ver com o fato de ser um negro de esquerda, enquanto a volta do técnico Renato está conectada com o fato de ser um branco Bolsonarista, uma tese esdrúxula e vitimista.

Maradona era um reconhecido admirador de Fidel e Che. Alguém em sã consciência acredita que, se estivesse jogando hoje, seria vetado no Grêmio (ou qualquer outro clube) por ser comuna? Sério?

A demissão do Roger não teve nada a ver com a política do país, mas com os resultados do time. 1 ponto conquistado em 12 disputados na série B faz qualquer técnico cair. Talvez a volta de Renato tenha a ver com a política do Clube, mas esta é outra história. Renato é bolsonarista assim como Felipão, Felipe Melo ou Neymar, mas também 80% dos jogadores de futebol. No universo do futebol exaltamos Casagrande e Juninho Paulista que possuem uma postura progressista e de esquerda, mas são claramente envolvidos por uma multidão de pobres tornados ricos, direitistas e alienados.

O futebol morreu mesmo, mas não tem nada a ver com Bolsonaro. Esse esporte como manifestação popular morreu há uns 30 anos com a gourmetização do esporte bretão, quando fizemos arenas “shopping center” – onde pobre não pode entrar – quando acabaram os campos de várzea e quando o sonho dos jogadores brasileiros se tornou fugir do país e virar milionário na Europa.

O futebol moderno é uma merda, mas Bolsonaro não tem nada a ver com sua aparição tétrica. Renato Portaluppi foi trazido de volta por ser maior mito do clube, por ser um ídolo e pelo pensamento mágico da chegada de “salvadores da pátria”, fato que acontece em qualquer clube de futebol. Roger foi contratado por ser um excelente técnico, e não por ser um cidadão exemplar, negro e de esquerda. Misturar estes elementos é oportunismo e vitimismo tipicamente identitário.

Sou gremista, comunista, antirracista e conheço o Roger pessoalmente. Ele é um sujeito diferenciado dentro do futebol, um cara que pensa, reflete, analisa e tem crítica. Mas foi demitido por falta de resultados, inobstante seu caráter exemplar. Renato foi chamado por ser um mito, apesar de ser um bolsonarista com cérebro de amendoim.

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