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Ataque americano

Muitos ainda insistem na defesa dos Estados Unidos como se este país fosse um “bastião em defesa da democracia”, mas bem o sabemos que esta postura é fruto de mais de um século de massiva propaganda que, ao mesmo tempo que exalta a democracia burguesa, tenta desumanizar e vilificar seus oponentes. Os árabes – como pode ser visto em “Reel Bad Arabs” – são, de longe, as principais vítimas dessas campanhas de descrédito, em função da importância geopolítica de Israel. Ora, nada poderia estar mais longe da verdade do que colocar os Estados Unidos como defensor dos valores democráticos, mas aqueles que ainda defendem o imperialismo o fazem como que dominados por uma religião irracional, carregando suas palavras de chavões desbotados pelo tempo, relíquias cafonas e empoeiradas da guerra fria. Usam até a retórica do Milei – um Bolsonaro ainda mais aloprado – que não passa de um maluco fracassado que empurrou a Argentina para o fundo do poço, piorando o que Macri já havia feito. Outro detalhe chamativo é a tentativa de atacar o Irã defendendo o “direito das mulheres”, como se houvesse qualquer interesse na defesa de mulheres muçulmanas, mortas de forma genocidária em Gaza há vários meses. Não, nunca foi esse o interesse, mas ele é usado como “peça de propaganda” para aglutinar identitários na causa imperialista.

O paradoxo que vemos agora é testemunhar a direita mais retrógrada cair “como um patinho” na retórica “woke”, o que demonstra que na falta de argumentos a direita aceita apoiar até mesmo o discurso dos identitários. A meu ver, apesar de críticas necessárias às questões de gênero em países do Oriente Médio, quando examinamos a realidade da situação das mulheres do Irã, é evidente que elas têm muito mais liberdade do que as ocidentais, basta ver o acesso delas às faculdades como engenharia e física, que no ocidente são majoritariamente masculinas. Ao lado disso, vemos o quanto as mulheres no ocidente são expostas e objetualizadas ao extremo, mas matar crianças e mulheres usando a desculpa de que, terminada a matança, as mulheres poderão mostrar os cabelos, é o extremo da perversidade, o cúmulo do pensamento assassino que a direita tanto dissemina. Criticar as vestimentas de uma cultura – e mesmo a prática perniciosa de alguns radicais – como forma de analisar a liberdade faz parte da retórica oportunista de quem se nega a olhar para qualquer assunto com a devida profundidade.

Escrevo este texto imediatamente depois do ataque americano às instalações nucleares do Irã, e antes da óbvia retaliação que virá. É importante deixar claro que os próprios especialistas americanos (vide abaixo), passada a fumaça e a poeira das bombas jogadas no deserto, deixaram claro que nada de grave aconteceu, nenhuma estrutura foi destruída e nenhum artefato nuclear danificado (havia sido removido há muito tempo). Enquanto isso, 1/3 de Tel Aviv está severamente danificada, e a tendência é se tornar muito pior. Somente os cegos e fanáticos não conseguem enxergar que o fundamentalismo sionista, racista, supremacista está desaparecendo, derretendo, sendo transformado em pó. O regime extremista e terroristas dos sionistas dará espaço a uma democracia próspera e vibrante depois de um belo espetáculo de destruição do regime racista em Israel. Agora estamos escutando os primeiros vagidos de uma nação palestina plural, democrática, sem muros, sem mortes, sem apartheid, sem racismo, sem supremacismo, sem “povo escolhido” e sem a tirania dos capitalistas e abusadores sexuais de Israel. Em breve veremos palestinos – judeus, cristãos e muçulmanos – livres das amarras totalitárias do sionismo.

Enquanto isso, Trump está correndo risco de vida, e querem nos fazer crer que ele será morto pelos iranianos. Netanyahu, em verdade, disse que isso iria acontecer; ele avisou explicitamente sobre a morte de Trump, e disse que o Irã desejava matá-lo. A verdade é que quem vai tentar isso será o Mossad, pois assim fazendo ganhará duplamente: eliminando um presidente rebelde e conseguindo uma ótima desculpa para a guerra total.

Neste ataque parece mesmo que Trump só bateu o ponto para justificar aos seus patrões sionistas de que algo foi feito contra o Irã. Na verdade, essas ações teatrais deixam cada vez mais claro que Trump está com medo de morrer.

“Um ato teatral. A grande boca de Trump o colocou em uma encruzilhada. O Irã não jogaria seu jogo. Então ele foi obrigado a bombardear o Irã para salvar a própria imagem. Para isso, bombardeou duas instalações vazias que já tinham sido atacadas por Israel e lançou seis bombas contra uma instalação indestrutível (Firdos), alegando destruição, apesar do contrário ser verdade. É isso; um ataque “controlado”, um fiasco. E este é o homem cujos apoiadores chamam de o maior líder do mundo. Ele é uma vergonha nacional”. (Scott Ritter)

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Espanhola

Às vezes eu me perco pensando nas apostas altas que alguns personagens da política fazem. Muitas vezes em suas mentes passa um letreiro onde se lê: “é tudo ou nada”. Por esta razão estou convencido de que, tivesse Bolsonaro vencido as eleições – que perdeu por meia duzia de votos – e hoje Carla Zambelli seria uma das estrelas do seu governo. As manchetes do Estadão falariam da “mulher destemida” que enfrentou bandidos esquerdistas com arma na mão. Haveria elogios ao seu comportamento, provável que tivesse conquistado um ministério no Bolsonaro II e talvez já houvesse um documentário da Globo sobre sua vida, trazendo como fato central seu ato de coragem perseguindo um criminoso pelas ruas de São Paulo.

Como o Mito foi derrotado, o projeto bolsonarista veio abaixo, muitos crimes foram desnudados e ela ruiu com seu ídolo. A narrativa mudou, o próprio Bolsonaro a abandonou, culpando-a por sua derrota e a justiça a perseguiu impiedosamente por associação com o golpe frustrado. Depois de alguns anos, seus casos estão sendo julgados e tudo indica que pegará uma pena pesada que, por certo, não será cumprida, mas talvez sepulte sua carreira política.

Para mim fica claro que os fatos – a perseguição ridícula de arma em punho, a ligação com o Hacker para violação de documentos e a participação na elaboração do golpe – são irrelevantes no seu julgamento. O que comanda seu inferno astral de agora são os interesses dominantes, os mesmos que cuspiram Bolsonaro como uma casca de uva, e que agora a enxergam como uma desvairada inconsequente. Tenho convicção que aquilo que consideramos vergonha e crime agora seria visto como virtude e coragem caso Bolsonaro tivesse vencido e fossem outras as forças políticas e midiáticas a controlar a narrativa nacional.

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Gozo punitivo

Não consigo entender o que a esquerda pequeno burguesa tanto teme com a liberdade de expressão. Questionar o punitivismo aplicado a elementos da extrema-direita não é uma contradição, desde que esta postura esteja alicerçada em princípios bem claros. Por que deixaríamos de defender a Carla Zambelli ou Monark – e, porque não, o próprio Bolsonaro – se eles estiverem corretos em suas propostas? Aliás, é muito comum concordar com alguns pontos de vista da direita quando eles se contrapõem às posturas inadequadas da esquerda liberal – em especial quando criticam os identitários. Por que deveríamos privilegiar a mentira e o engano apenas para nos colocar em antagonismo com nossos adversários?

Eu, por exemplo, sou comunista. Defendo a superação do capitalismo e o surgimento de um modelo que estruture a sociedade numa perspectiva igualitária e fraterna. Entretanto, apesar da minha distância intergalática dos fascistas, defendi o veto do Bolsonaro a um projeto de lei surgido em seu governo que determinava que médicos e enfermeiras deveriam comunicar compulsoriamente, à polícia, casos de violência doméstica. Mesmo sendo do agrado de personalidades ligadas ao identitarismo, a proposta era absurda, pois violava segredo profissional e faria mulheres evitarem serviços de saúde com medo de colocarem a própria vida em risco. A proposta era populista e demagógica, tornando os médicos policiais e espiões da polícia dentro dos centros de saúde. Com isso, as mulheres se sentiriam inseguras de contar algum tipo de violência em suas casas com medo que isso acarretasse a intervenção da polícia, colocando em risco sua casa, sua família e seus filhos. O veto do ex-presidente Bolsonaro – mesmo por razões diferentes das minhas, até porque ele é um sujeito que aceita punições medievais – foi apoiado por boa parte da esquerda (e até de feministas), e não há incoerência alguma nessa posição. 

Por acaso passei a ser bolsonarista por concordar com o veto do ex-presidente? Ora, às vezes concordamos com nossos adversários por razões distintas e até opostas; o importante é manter a coerência e a linha doutrinária que adotamos. No caso da esquerda raiz e revolucionária, não podemos ceder à tentação do punitivismo, da judicialização ou de qualquer reforço dos poderes e valores burgueses. Sair processando, prendendo e cassando adversários, apoiando o ativismo judicial, não é a postura dos socialistas, pois entendemos que as punições de hoje impostas aos nossos inimigos, fatalmente amanhã recairão sobre nós. 

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Censura e silenciamento

Como a história cansa de nos dar lições, censurar para esconder as contradições da realidade jamais será solução para nada. Na questão dos algoritmos e do bloqueio de fake news todo mundo acerta no diagnóstico, mas quando é para apontar a solução, continuam apostando na velha alternativa do silenciamento, na supressão e na proposta de não permitir que os “fascistas” (no nosso caso) e os “comunistas” (no caso deles) tenham vez e voz. No fundo, essa proposta é o que classifico como o velho “modelo materno”, que se aplica quando a mantemos os protegidos (as crianças) num estrato onde não têm autonomia por não possuírem ainda condições para se defender. É o que as professoras fazem na escola primária: protegem os alunos do bullying e das brincadeiras maldosas, como uma mãe o faria, porque sabem que são crianças indefesas. O problema dessa proteção é que os protegidos se tornam o objeto do nosso controle. Em nome da sua segurança, impedimos que se tornem sujeitos independentes, evitando que o mal chegue a deles Fazemos isso porque acreditamos na sua incapacidade de lidar com as agressões e ofensas. De novo, como qualquer mãe amorosa faria.

Todavia, chega um momento em que as crianças pedem que as mães não cheguem à porta da escola. O cuidado e o controle que elas recebem das mães (e aqui “mãe” é a função, não a “pessoa”) torna-se um fardo. Não querem mais proteção; querem liberdade. Nesse momento é que entra o “modelo paterno” que, ao invés de impedir a chegada do mal, reforça as qualidades intrínsecas do sujeito para que ele possa, por si, se defender. Assim, ao invés de proibir as piadas com gays, pretos, gordos ou narigudos, o esforço será em reforçar o orgulho de pertencer a qualquer uma dessas identidades. Da mesma forma, ao invés de proibir conteúdo de extrema-direita, a solução seria estimular a perspectiva de mundo do sujeito socialista, internacionalista e fraterno, na construção de uma nova sociedade, assim como mostrar o ridículo das posições fascistas, racistas, sexistas e todas as expressões do fascismo. Entretanto, sem calar, sem cercear, sem proibir, pois nossa experiência com os preconceitos – todos – e mesmo o próprio nazismo deixam claro que as proibições são inúteis.

Isso não significa que não se pode proibir nada. É proibido violar a lei, e para isso as leis são criadas. Entretanto, opinião não é crime, mesmo aquelas perspectivas mais abjetas, como as racistas ou anti-LGBT. Se as proibições motivadas pela sensibilidade do ofendido forem tomadas como lei, chegaremos rapidamente a 1984 de Orwell, onde um Xandão qualquer pode dizer que ser a favor de parto normal (ou ser comunista) pode levar à morte de pessoas (ou ao “genocídio stalinista”). Para se configurar o crime não se exige mais um ato; basta pensar em voz alta e emitir opiniões. Se estas manifestações – repito, mesmo as bizarras – forem passíveis de silenciamento a delicada tessitura da democracia e do livre pensar desaba, pois que a expressão das ideias vai acabar dependendo do humor e dos valores de um títere qualquer que detenha o poder de discriminar o bom do mau, o certo do errado.

Boa parte das pessoas (a maioria?) ainda acredita que “calar os maus” faz sentido. São os mesmos que acham que linchar um criminoso na rua em flagrante é justo, pois, afinal, por que esperar por toda a burocracia da justiça se podemos fazer um “atalho”? Acreditam ser possível combater o crime com mais crime – como fizeram Moro e a Lava Jato. Estes acreditam que, quando calarmos à força quem de nós discorda, estamos corretos, pois o silêncio que se segue nos dá a ilusão do sucesso. “Veja como acabou o racismo, ninguém mais fala mal de negros!!”, quando em verdade este e outros preconceitos continuam na alma dos sujeitos, e seu preconceito se expressa apenas em sussurros, nos cantos, nas surdida, mas vivo e atuante. Repito: de que adiantou calar os comunistas? Que ocorreu com a proibição do nazismo? Olhem a Alemanha de hoje e o sucesso da AFD (Alternativa para a Alemanha)!! Vejam o bolsonarismo, vivo e forte. Analisem a vitória do Milei e de Trump!!

As proibições e o punitivismo são tão sedutores quanto inúteis. Os Estados Unidos – à mais bem sucedida ditadura burguesa do planeta – têm 2 milhões de encarcerados. Se o silenciamento social desses indivíduos tivesse algum sucesso, era de se esperar a diminuição dos níveis de criminalidade e violência, não? Pois o que se vê é o oposto; a tendência no mundo inteiro é o incremento da violência pelo fracasso das promessas do capitalismo. Da mesma forma, o silenciamento da livre expressão de teses contrárias ao nosso entendimento jamais teve sucesso. O proibicionismo sempre fracassou como instrumento pedagógico. Mas cabe lembrar que “Vamos matar o presidente!!não é uma opinião, mas um claro incitamento ao crime. Confundir isso é uma constante naqueles que não gostam da liberdade de expressão. Estes são os mesmo que dizem que gritar “fogo!!!” em um cinema lotado deveria ser proibido, pois colocaria todos em risco, mas sem compreender que “fogo” não é opinião e não expressa uma perspectiva subjetiva e particular do mundo. Essa metáfora é usada até hoje por juristas que desejam limitar a liberdade de expressão, dizendo que ela não pode ser “absoluta”, mas falhando em determinar a quem cabe a decisão final.

Estes que aceitam a “censura do bem” acreditam que ela é justa porque partem da crença que possuem a perspectiva correta do mundo e por isso não haveria problema em silenciar os “errados”. Isso muda de figura quando alguém, um poderoso, um ditador ou um ministro direitista consegue impedi-lo de expressar suas ideias “corretas”.

Aí talvez aí resolva voltar às ruas para exigir liberdade.

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Rock and Roll

Aprendam uma lição de uma vez por todas, seguidores do Mito: “Se o proletário tudo produz a ele tudo pertence”. Todo sujeito que tenta desfazer as conquistas do socialismo dizendo “você é um socialista de iPhone” demonstra de forma cabal que não estudou nada na vida, em especial sobre o marxismo. Quem confunde socialismo com voto de pobreza não entendeu coisa alguma do que sejam os pontos fundamentais do marxismo. Quem é pobre por escolha é franciscano, não comunista. O comunismo defende iPhone, carros, joias e luxo para todos enquanto os baba-ovos de ricos defendem que só os vagabundos que não trabalham e ganham dinheiro através de roubo e herança tenham acesso à riqueza. Entretanto, os burgueses ricos sabem que para que 1% dos ricos continuem tendo acesso a 70% das riquezas de um país é necessário que tolos das camadas mais pobres os defendam. Essa é a função dos alienados, dos carentes de consciência de classe, por isso são chamados de pobres de direita e capitalistas sem capital.

Muitas vezes o sujeito é preto e pobre, mas defende os ricos que passam a mão na sua bunda. Esse é o melhor exemplo de sabujo que se pode ter: o explorado que apoia a própria exploração. Isso acontece muito no universo do Rock, mas comprova o que se diz há muito tempo: a prova inconteste da sua morte. Um lugar infestado de babacas de direita, pobres sem futuro, capitalistas sem capital e puxa sacos de milionários só pode ser encontrado em um movimento em estado terminal. Um lugar que se adaptou à sociedade capitalista decadente perdeu totalmente sua força e sua rebeldia. Nos grupos de roqueiros, além dos nazistas declarados, só vejo mortos vivos, tolos e cegos caminhando trôpegos pela rua, com suas camisas da seleção, exaltando torturadores, gritando “eu autorizo” e atacando a justiça social. Estes serão atropelados pela história e serão engolidos pelas grandes massas que exigirão uma sociedade mais justa.

O rock & roll é a face mais evidente de um fim de festa. É a imagem da morte de um modelo baseado na rebeldia e na contestação, mas que hoje desistiu da luta. Seus ídolos estão velhos, cansados ou mortos, e a nova geração aderiu ao comodismo do sucesso e do dinheiro. Hoje, sua imagem é de bolsominions fracassados e quarentões, de cabelos compridos, barrigas salientes, vestindo uma rebeldia tão falsa quando ridícula. Músicos de garagem que só tocam no fim de semana, se entopem de remédios, são brochas e batem na mulher, enquanto pegam travesti no sigilo e fazem coro com a massa de pobres de direita que gritam “Mito!!” pelas ruas de Copacabana.

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Agora vai?

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Não acredito na possibidade da esquerda fazer festa nas ruas pela possível prisão de Bolsonaro. Não vejo esse clima no país. Aliás, o Brasil, em médio e longo prazo, nada ganha com isso e nós assinamos embaixo de mais uma solução punitivista do STF que não vai ajudar o país a suplantar a chaga da extrema direita fascistoide. Não podemos esquecer que o gado bolsonarista também fez festa com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula e hoje Dilma é personagem mundial como dirigente do banco dos BRICS, e Lula é o presidente da República. Temo que a prisão do meliante Bolsonaro seja uma “Vitória de Pirro”, que ainda poderá se voltar contra nós da esquerda. Nenhuma novidade: sempre que o judiciário, braço jurídico da burguesia, ataca setores da direita, não é por amor à justiça, mas por autopreservação. Depois a carga vem com toda a força contra a esquerda.

Estou velho demais para comemorar decisões da justiça burguesa como se fossem vitórias da cidadania, da justiça ou da sociedade. Esse mesmo STF burguês já mandou Olga Benário (mulher de Prestes) para morrer na Alemanha nazista, subscreveu o golpe militar de 1964, aceitou o golpe contra Dilma e determinou a prisão ilegal e inconstitucional de Lula. Por que deveríamos agora, de forma tola e oportunista, considerá-los patriotas e amantes da justiça? Não, eles são personagens ativos na manutenção de todas as desigualdades do país, aceitando conchavos e grandes “esquemas nacionais” para o favorecimento de atores políticos poderosos da burguesia.

Mas sim, haverá festa nas redes sociais. Não serei eu o “estraga prazer” que vai impedir que o povo comemore a punição de uma figura nefasta como Bolsonaro e seus asseclas. Haverá, por certo, uma chuva interminável de memes, fotos, embrulhadas com choradeira, festejos, gritos, e ranger de dentes, tudo misturado numa ofegante epidemia mais parecendo um Carnaval – ô Carnaval, ô Carnaval. Mas, vai passar, e o Brasil continuará com a mesma carência de consciência de classe, com os pobres votando nos milionários e as elites sangessugas controlando a todos com seus cordéis dourados. Precisamos mais do que um carnaval para curar o Brasil.

Também tenho fé que as manifestações de apoio ao Mito serão tímidas, aliás como já estavam sendo, cada vez mais minguadas. Pouca gente terá coragem de sair às ruas, a não ser os de sempre: militares da reserva, senhoras de laquê no cabelo alourado, jovens herdeiros, garotos com sonhos de abrir uma startup, pequenos comerciantes, youtubers de direita, a pequena burguesia de médicos e advogados, etc. Todos vestindo a camiseta da seleção brasileira, carregando bandeiras como cachecois, e cartazes pedindo o retorno da ditadura. Só não vai aparecer o famigerado cartaz “Eu autorizo”, pois poderá parecer um recado para o Alexandre de Moraes. Entretanto, desta vez serão muito poucos; as acusações são graves demais; sair na rua para apoiar quem planejou matar tantas pessoas vai também constranger muita gente.

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Ponto sem retorno

Eu particularmente acho que o volume de crimes cometidos durante o governo Bolsonaro, incluindo o gabinete do ódio, os crimes eleitorais, a boiada passando no meio ambiente, os roubos no varejo e no atacado, as joias, o cartão corporativo, etc deixaram o governo refém da reeleição. Era imperioso se manter no poder para que o controle do governo e da PGR impedisse a descoberta dos desmando que ocorreram na condução do país. Num país como o Brasil, qualquer presidente, por ter a máquina pública na mão, chega em uma eleição como favorito. Era com isso que contavam os bolsonaristas e aqueles que estavam lucrando com um governo entreguista e pró-imperialista. Entretanto, uma grande mobilização nacional ocorreu para garantir a vitória de Lula, atropelando todas as barreiras colocadas pelo governo. Como a reeleição Bolsonaro não aconteceu, ficou evidente que um desespero absoluto se abateu sobre as hostes bolsonaristas, e com a chegada da oposição ao poder se tornou impossível esconder a quantidade enorme de falcatruas produzidas em quatro longos anos de mentiras, desmandos, impropérios no cercadinho e cuspe no canto da boca.

Fica claro agora, pelas provas, depoimentos e delações que ganhar de qualquer jeito era o plano. Não fosse no voto (e foram cometidos inúmeros crimes para garantir a eleição do mito através de fraudes) haveria de ser na “marra”, usando da força, com golpe clássico, tanques na rua. Para isso seriam convocados os milicos ressentidos pela “comissão da verdade” e a linha dura fascista da caserna, aplicando um golpe “das antigas”, mandando matar o presidente, o vice e o ministro malvadão do STF. Porém, quis o destino que os Estados Unidos, que comandam essa turma de lacaios, não topasse um golpe cafona, fora de moda, com estética dos anos 60 e com cheiro de guerra fria. Tiveram que abortar o projeto, mas deixaram as pegadas da intentona golpista por todos os lados.

Agora resta saber se vamos, mais uma vez, apostar na “conciliação” e permitir que uma gang de bandidos fardados – que inclui até assassinos – seja perdoada em nome da governabilidade. Já fizemos isso com Fernando Henrique, e esse fato acabou deixando aberta a porta do arbítrio, dando asas aos militares para novas incursões no poder. Hoje fica claro que os militares nunca abandonaram seu interesse em controlar o poder civil, e por isso vivemos agora o desastre anunciado que foi gestado no perdão dado a eles pela lei de anistia – ampla, geral e irrestrita.

Eu não acredito que cometeremos o mesmo erro de manter os corvos soltos. “Alimente-os e eles te comerão os olhos”, como bem sabemos. Também é verdade que a prisão dos líderes desse golpe frustrado não afetará de forma significativa a onda fascista do nosso país, e corremos o risco de incentivar a criação de “vítimas injustiçadas”, que poderão ser alçadas à condição de heróis nacionais. Todavia, há limites para esta análise; ultrapassado um determinado ponto – e as tentativas de assassinato parecem ser essa linha – encontra-se um ponto sem retorno, e nada sobra para fazer além da aplicação dura da lei.

Prefiro acreditar que, mesmo sendo através da justiça burguesa e de atores que nunca estiveram conectados com a justiça “ampla, gerral e irrestrita” da população brasileira, as forças progressistas possam fazer uso desse fato para gerar consciência de classe, união em torno de nossas pautas e a exposição dos reais interesses da política burguesa.

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Renato

Com a provável saída de Renato do Grêmio voltaram às especulações de que ele poderia ser o técnico da nossa combalida e impopular seleção brasileira. Entretanto, corre o boato de que suas opções políticas seriam um empecilho para que assumisse o cargo, já que Renato adotou uma franca posição de apoio a Bolsonaro (e antes para Sérgio Moro e a LavaJato). Entender as razões para esta vinculação em todas as suas nuances é complexo, mas por certo que Bolsonaro sempre agradou as pessoas que ganhavam salários acima de 1 milhão mensais.

Renato é um reacionário bolsonarista, fez inúmeras manifestações explícitas de apoio ao ex-presidente, mas afastá-lo apenas por isso seria um absurdo. A seleção não pode ser regulada por este tipo de perspectiva, até porque no mundo do futebol de ponta, dos jogadores milionários e dos técnicos ricos, poucos se salvam da sedução fascista. Quase todos os jogadores que ficam muito ricos facilmente adotam um pensamento de direita, acham-se burgueses, casam com modelos loiras e queimam seu dinheiro com festas suntuosas, álcool, bacanais, carros e todo tipo de consumismo pueril. Por que deveríamos exigir apenas do técnico uma postura social mais responsável e politicamente coerente?

Quase todos os jogadores exaltam partidos de direita e namoram com posições claramente fascistas, exaltam a polícia e aplaudem ações punitivistas contra a população pobre – e aqui vai a lembrança de Tite, clara exceção. Entre os jogadores famosos muitos (maioria?) são garotos criados sem a presença do pai e enxergam nos políticos populistas de direita, com discurso autoritário e ações conservadoras na moral, a função paterna de que tanto carecem. Renato é um exemplo típico disso, mas ninguém contrata um técnico para ser representante popular, para falar sobre aborto ou distribuição de renda, mas para escolher e treinar seus jogadores com o máximo de profissionalismo e seriedade.

Caso decidam barrar Renato, acaso impedirão Neymar – ainda mais reacionário que Renato – na seleção? Criaremos na seleção brasileira um “vestibular” ideológico para os treinadores? Aliás, quem sobraria numa seleção que tivesse uma postura política progressista?

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Xandão na berlinda

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Por que cargas d’água (essa é do meu tempo) a esquerda brasileira está em peso atacando Glenn Greenwald e a Folha apenas por revelarem o que nós – a esquerda radical – dizemos há muitos anos: Alexandre de Morais é um golpista, demagogo, representante da burguesia fétida que comanda o Brasil e que cometeu inúmeros desmandos enquanto Ministro do Supremo. Por que razão agora esta esquerda resolve que “Xandão” é um “herói”, e pior ainda, um intocável? Por que criticam a forma e não o conteúdo? Por que não analisam o mérito das acusações graves contra o Ministro? Por acaso alguém deveria se surpreender quando um Ministro do Supremo usa de seu poder para artimanhas e jogadas políticas? Por acaso as ilegalidades e inconstitucionalidades do STF não foram, desde sempre, entendidas como “parte do jogo”? Lembram do “não tenho provas, mas a literatura me permite”? Qual o espanto com a existência de ministros venais?

Esse ministro não teve nenhum problema em colocar Lula na prisão desrespeitando frontalmente a Constituição Brasileira. Depois ele votou pela manutenção de Lula na prisão, quando não havia trânsito em julgado para justificar esta detenção. O mesmo Alexandre que brigou com bolsonaristas e prendeu aqueles mambembes que atacaram os prédios de forma desorganizada, foi quem favoreceu a candidatura de Bolsonaro tirando Lula criminosamente da disputa. Ou seja: Alexandre é um representante dos interesses da elite financeira, da Globo, do agro e de todas as forças reacionárias do país. Quem acredita que esse sujeito tem qualquer compromisso com a esquerda – ou mesmo com a justiça – apenas porque é atacado pelos bolsonaristas esteve em coma profundo nos últimos 10 anos, desde o tempo de sua ascensão à secretaria de segurança de São Paulo – local onde todo candidato a monstro faz seu estágio.

Qual a razão para o espanto? Por acaso deveríamos nos surpreender com atitudes pouco republicanas de integrantes do STF? Essa corte apoiou o golpe de 1964 e o de 2016!! Esteve junto, ratificando e aplaudindo, o impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma e a prisão imoral e ilegal de Lula. Aplaudiu (até se tornarem inadequados) os desmandos de um juiz corrupto como Sérgio Moro. Alexandre de Morais esteve à frente de todos os crimes contra a Constituição brasileira dos últimos anos. Por que tanta solidariedade?

Até quando a esquerda cirandeira vai achar que Bolsonaro é o nosso inimigo?? Bolsonaro é o fascista que as elites elegeram e agora estão descartando, como o bagaço de uma laranja chupada. O inimigo das esquerdas são aqueles que puxam os cordéis, os quais movem os marionetes. Os reacionários da vez já foram Collor, FHC, Temer, e tantos outros do passado. O “bolsonarismo” já existia muito antes de Bolsonaro ter sido parido, e nessa corrente liberal Alexandre de Moraes é uma figura notável. Não se deixem enganar!!!

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Farsas

Ainda ontem escutei um jornalista da extrema-direita usar o termo “Lulopetismo”, tentando criar a ideia que o Partido dos Trabalhadores é uma espécie de seita centrada na figura de um “líder supremo”, cujas determinações precisam ser obedecidas cegamente, sob pena de o rebelde ser arrebatado por um míssil caso não obedeça, como aquelas fake news da Coreia Popular. Do mesmo jornalista ainda há algum tempo o escutei citando o “Decálogo de Lenin“, como se essa farsa, criada para atacar a experiência comunista durante a Guerra Fria, fosse uma verdade insofismável.

Ora, o “Decálogo de Lenin” é apenas uma “fake news” que todo fascista iletrado e ignorante repete por não ter senso crítico. Sempre vem da mesma turma que dissemina mentiras pela incapacidade de avaliar as fontes, gente de mentalidade rasteira e de formação miserável. A ideia é inserir falsidades no discurso cotidiano de forma persistente e constante até o ponto em que ninguém terá parâmetro algum para distinguir as verdades das mentiras. Esse é o projeto dos fascistas: mentir com tamanha desfaçatez até que seja impossível se orientar entre tantas farsas.

Voltando ao “lulopetismo”, tenho dificuldade de entender o que realmente querem dizer com esse termo. Por acaso se referem aquele grupo que rouba joias, Rolex e faz rachadinhas? Por acaso se referem àquela família que adquiriu 51 apartamentos com dinheiro vivo e tem uma horda de desajustados, abusadores, pervertidos e milicianos lhe seguindo? Esse é o movimento cujo líder está sendo acusado de ser ladrão e roubar o patrimônio público, aceitando supostas propinas de ditadores árabes para vender refinarias? É esse grupo que o jornalista está se referindo?

Quanto a Lula, ele é um presidente de centro-esquerda que está bastante distante da minha perspectiva socialista, ou mesmo dos sonhos daqueles que desejam a derrubada do capitalismo para a evolução social. Apesar disso, ele é um dos maiores líderes populares do ocidente, e suas dificuldades atuais são decorrentes de ter encontrado em seu terceiro mandato um país destruído por 6 anos de desmonte da máquina pública, de neoliberalismo, de privatizações criminosas e da volta da fome. Sobre o presidente Lula há que se aclarar algumas questões:

1- Lula foi julgado por um juiz corrupto. Ponto. Ninguém pode ser julgado por um judiciário corrompido e que tem lado. Quando digo “ninguém” isso significa Lula, Bolsonaro, eu e qualquer cidadão. Um judiciário imparcial é a base do Estado Democrático de Direito; sem isso é vale-tudo. Por isso acreditamos que até Bolsonaro precisa ser julgado da forma mais isenta possível, pois a injustiça a qual Lula foi submetido nenhum cidadão deveria sofrer.

2- O presidente Lula jamais se apossou ilegalmente de bens públicos. Quem achar o contrário que mostre o número do processo e a sentença condenatória transitada em julgado

3- Lula não foi condenado em todas as instâncias. Pelo contrário; foi absolvido em todos os processos contra ele, seja por falta de provas ou por atitudes corruptas dos julgadores. Tenham em mente que os próprios desembargadores do TRF4 foram afastados por condutas suspeitas, as sentenças em que estiveram envolvidos foram anuladas e que o chefe da quadrilha – ex-juiz Moro – está sendo processado por corrupção. Só oportunistas e desonestos ainda falam em “sítio de Atibaia” ou “Tríplex”, ambos já vendidos pelos seus legítimos donos. Pior ainda é ver que essas mesmas pessoas que falam estas mentiras fazem vista grossa para os mais de 50 imóveis comprados com dinheiro vivo por Bolsonaro sem que ele tivesse renda comprovada para realizar tais transações.

4- Os dirigentes do PT foram absolvidos e/ou tiveram suas penas extintas. Cito em especial Zé Dirceu e José Genoíno, mas também Delúbio Soares. Foram presos por “law fare”, corrupção judiciária, e hoje são ficha limpa. Portanto, a ideia de que “a cúpula do PT está presa“, é falsa.

5- Lula é o maior líder do sul global, ao lado de Xi Jinping e Wladimir Putin. É aclamado em todos os lugares que vai. Nunca roubou nada deste país, ao contrário de Bolsonaro que desviou recursos públicos para sua campanha, roubou joias, falsificou documentos e tinha uma minuta de golpe em seu escritório. O “mito” é o sujeito que os fascistas brasileiros aplaudem, seguem e admiram: um canalha e escroque. Enquanto isso, Lula em menos de 2 anos projeta colocar de novo o Brasil como 6a economia mundial até o final do mandato, tirando nosso país do 12o lugar colocado pela dupla de golpistas Temer/Bolsonaro.

6- Ao contrário do que se diz de Lula, as provas contra Bolsonaro são abundantes e seus crimes são claros e insofismáveis, comprovados por evidências materiais, e não por delações feitas por pessoas sob tortura – como as de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que depois escreveu uma carta retirando todas as inverdades que disse. Contra Bolsonaro as delações servem apenas para confirmar o que as provas já deixam muito claro: roubou joias, recebeu propina para vender estatais, falsificou documentos, aplicava rachadinhas em seu gabinete por 30 anos e sua atual esposa o acompanha nos desmandos através do seu cartão corporativo.

Não há como colocar Bolsonaro e Lula lado a lado, como se tivessem a mesma estatura. Um deles é um sujeito que presta continência à bandeira americana e diz “eu te amo” ao presidente Trump. O outro é o maior líder dos países em desenvolvimento, a grande esperança dos povos do sul global. Por mais que os comunistas reconheçam as limitações de Lula como líder de um país controlado pela democracia liberal, ainda assim ele é, no momento, o melhor caminho para a luta de classes.

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