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Espiritismo e religião

O espiritismo surgiu da investigação sobre fenômenos extraordinários que ocorriam em Paris em meados do século XIX. Hippolyte Léon Denizard Rivail, pedagogo francês, nascido em Lyon, diante do desafio de encontrar uma resposta racional e lógica para estes fatos, desenvolveu uma metodologia para a busca do entendimento do que ocorria. “Se as mesas carecem de músculos, nervos e discernimento, alguma força inteligente as move”, teria dito o professor Rivail. Caberia à curiosidade, acrescentada de método científico, a tarefa de esclarecer a origem das “mesas girantes”.

Entretanto, a busca de uma explicação para estes fatos de forma alguma demandaria a criação de uma religião. Seria como imaginar que Isaac Newton, propondo que os objetos são atraídos pela massa dos planetas e das estrelas pela teoria da gravitação, tivesse como objetivo o amor ao próximo, a fraternidade, a existência de Deus ou a evolução espiritual. Não, por certo que Newton era movido tao somente pela busca da verdade. A existência de espíritos, ou sua manifestação neste plano, não precisa ser investigada por meio das religiões que, por sua vez, acabam por criar códigos de comportamento e proibições de toda ordem, em especial sobre as múltiplas manifestações da sexualidade.

A ideia de uma “religião dos espíritos” nunca foi o objetivo inicial do espiritismo, que se propunha a investigar sua existência, criando a “ciência dos espíritos”. A mescla dessa proposta primordial com o cristianismo está na origem da cisão atual entre o espiritismo cristão e o espiritismo laico, mas também na imensa disseminação das ideias espíritas, em especial no Brasil, através do sincretismo tão característico do nosso caldeirão cultural.

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Incompatibilidade

Ciência e religião são realmente incompatíveis, mesmo quando ambas apontam para a mesma verdade. A religião se ocupa com o “porquê”, e a ciência com o “como”. Entretanto, a ciência precisa de método, enquanto a religião apenas fé. A ciência precisa ser falsificável, a religião não. A ciência não aceita dogmas, a religião se baseia neles. São incompatíveis porque seu objeto e seu caminho são distintos, mesmo quando encontram o mesmo fenômeno – ou a mesma Verdade. São incompatíveis pois tem objetos diferentes e caminhos distintos, mesmo quando chegam à mesma conclusão.

Exemplo: o espiritualismo crê na existência do Espírito, ou seja, na pré-existência e na sobrevivência da alma. Isso não tem respaldo na ciência, pelo menos até agora. Entretanto, com o progresso da técnica, seria possível imaginar no futuro um aparelho capaz de captar vozes, mensagens e imagens que atestassem esse fato, e desta forma a vida após a morte seria comprovável. O espiritismo e a ciência estariam apontando para o mesmo fato, mas por caminhos diversos, porque uma simplesmente acreditou, fez uso da fé, enquanto a outra só pôde aceitar tal informação após se render às necessárias evidências.

Quando os religiosos mostram que suas crenças estão baseadas em “revelações” estão provando meu ponto. Em ciência, como bem o sabemos, isso é um absurdo total. Imaginem Einstein explicando o espaço-tempo aos seus pares e afirmando: “Não se faz necessária qualquer lei ou equação que o explique. Acreditem em mim; trago-vos a revelação”. Ora, isso não faz sentido algum.

Mas essa é a lógica das religiões. Todas.

Athaide de Vermon, “Manuscritos”, Ed. Veritá, pág. 135

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Espiritismo é Religião?

O espiritismo enquanto sistema de crenças institucionalizado foi criado por um homem, Allan Kardec (ou o pedagogo Hippolyte Leon), baseado em manifestações de espíritos acerca de fenômenos muito comuns na França do século XIX. Não é uma “revelação”, porque este tipo de modelo só pode produzir doutrinas dogmáticas, e também não é uma doutrina ditada por espíritos. Ela foi criada por Kardec, que lhe ofereceu todas as virtudes e todas os seus defeitos. Como principal virtude a ideia de que não é uma religião, não se comporta como seita, não aceita personalismo, não tem caráter sectário e está vinculada à ciência, de maneira que pode ser modificada indefinidamente caso seja comprovado um erro em seus pressupostos.

Como principal defeito o evidente eurocentrismo, a ideia construída de Cristo como espírito guia da humanidade, desprezando outros personagens religiosos de igual relevância e importância histórica. Faltou ao espiritismo nascente este caráter de universalidade. A ideia de uma doutrina de consequências morais também me parece bastante equivocada, pois que a moral se molda e se transmuta com o tempo. Ver espíritas adotando a moral conservadora cristã e as perspectivas políticas mais alienantes são os resultados óbvios dessa escolha. O espiritismo deveria se ocupar da pesquisa científica e filosófica da sobrevivência da alma, a manutenção do princípio espiritual e a reencarnação como processos depurativos do sujeito, e muito menos com os costumes e a moral vigente, elementos que apenas atrasam sua circulação no ambiente acadêmico.

Não se trata de “conhecer”, mas de interpretar os fatos. Não acredito que o espiritismo seja uma doutrina “ditada” por espíritos, mas criada por Kardec a partir de mensagens esparsas e sem a devida conexão recebidas por médiuns de sua época. Kardec sempre foi a figura central e unificadora do processo, pois é dele a sistematização, a divisão dos temas, a escolha das perguntas e a formatação final. Desta forma, o Livro dos Espíritos é tão humano e tão centrado na figura do seu criador quanto a teoria evolucionista de Darwin. A ideia de que ele seria apenas o “codificador” (seja lá o que isso quer dizer) não me parece justa. Os méritos são de Kardec, assim como os terríveis defeitos encontrados nas obras, causados pelo contexto em que foram escritos aqui na Terra.

E quanto a “espírito perfeito” essa é outra tolice. Jesus é uma criação humana, criado e moldado pelas nossas necessidades e interesses geopolíticos. O Jesus real foi basicamente um judeu reformista, cujo principal interesse era reformular a religião judaica. Nunca conversou com alguém que não fosse judeu e sempre se dirigiu apenas ao seu povo. Era basicamente um autoproclamado “messias” – assim como outros 400 daquela época – alguém destinado a livrar os judeus do jugo Romano. Tinha portanto uma missão política, aliás, para criar um “reino deste mundo”. Falhou em seu intento, e por esta singela razão jamais foi reconhecido como “ungido” por seus iguais. Entretanto, sua mensagem aos humildes e pobres cativou a periferia do Império Romano, graças ao apóstolo dos gentios (não judeus), Paulo de Tarso, que a levou a “gregos e baianos”.

Por outro lado, essa é apenas a história criada sobre um personagem mitológico ocidental, que ganhou sucesso graças a uma decisão de gabinete de Constantino. Que dizer dos outros líderes espirituais, como Buda, Lao Tsé, Zoroastro, Confúcio etc. Por que seriam eles “inferiores” ao “sujeito perfeito” nascido no fim do mundo, num lugar miserável e desimportante do Império Romano chamado Palestina e cuja mensagem não trazia nenhuma grande verdade oculta (a não ser parte das bem-aventuranças)? Ora… 200 anos depois de Kardec e continuamos com o mesmo eurocentrismo cafona, achando que nosso Jesus branco é um “ser de luz” com faroletes mais luminosos que do que aqueles dos seus concorrentes. Por que haveria de ser? E por que deveria o espiritismo, em sua proposta universalista, escolher o líder ocidental como paradigma de perfeição? Não faz nenhum sentido, e o espiritismo deveria abandonar essa perspectiva racista e sectária para se tornar a verdadeira voz de unificação de uma proposta espiritualista.

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Cristãos

Vou repetir o que já venho dizendo há muitos anos: não tenho mais paciência com o cristianismo. Chega!!! Não aguento mais esses pilantras de fala mansa que roubam dízimo de pobre. Não aguento o conformismo cristão que permite uma sociedade injusta sem se revoltar. Não aguento evangélicos defendendo a podridão de Israel e justificando um genocídio acreditando que Deus “deu a terra” para aqueles – por ele mesmo – escolhidos. Não aguento gente das igrejas falando em “povo de Deus”. Não suporto mais milícias bolsonaristas sendo formadas em igrejas evangélicas. É inaceitável a quantidade gigantesca de pastores abusadores sendo encobertos pela imprensa – afinal, não se deve atacar os “ungidos”.

O Brasil se tornou um evangelistão porque, em nome do “respeito à diversidade de crenças”, passamos a passar pano para a barbárie dos religiosos. Até o espiritismo, que conheço muito bem, me incomoda muito hoje em dia, em especial quando a franja mais reacionária dos espíritas fala de “Jesus governador da Terra”. Ora, por que o governador do planeta deveria ser uma personalidade exaltada pelo ocidente, apesar de ser do oriente médio? Esta ideia disseminada por alguns espíritas nada mais é do que desprezo pelo mundo oriental e islâmico, trazendo o centro do mundo para a Europa e sua religião branca. O espiritismo, assim como todas as religiões cristãs, está tomado por bolsonaristas, reacionários, fascistas e hipócritas.

Sei que esses defeitos morais também existem entre os ateus, mas não vejo dirigentes do ateísmo enriquecendo com a exploração da gente pobre do Brasil. Os agnósticos e os descrentes ficam na sua, curtindo seu positivismo existencialista, normalmente sem incomodar ninguém e sem tentar regular a bunda alheia. Enquanto isso, esses Everaldos, Edires, Malafaias e toda essa corja nojenta ligada à Israel e ao neopentecostalismo se comportam como a linha de frente do atraso do Brasil. São a locomotiva do preconceito, gente asquerosa e desonesta, arrogante e hipócrita.

Portanto, é exatamente isso mesmo que eu quero dizer: as religiões cristãs institucionalizadas em suas infinitas seitas e credos precisam sofrer o golpe de um novo iluminismo, uma nova revolução pela razão, para que possamos sair do buraco obscurantista onde nos encontramos. E todos aqueles que acreditam que a religião, enquanto questionamento do sentido da vida e do universo, ainda tem razão de existir no mundo da infotecnocracia atual, deveriam lutar contra essa carolice moralista e reacionária que se tornou o cristianismo.

E tenho dito. Chega de amor!!!

Aliás, creio que Jesus estaria comigo nessa luta. Afinal, ele também expulsou os vendilhões do templo, não?

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Islamofobia

Faz pouco escrevi um texto sobre o “pinkwashing” e a nova modalidade de “vegan washing” – usados pela máquina de propaganda de Israel – para alertar sobre a tendência de criar visões identitárias sobre a guerra brutal contra os palestinos. Uma das formas de desumanização dos árabes e/ou muçulmanos é exaltar a “diversidade” do ocidente – os gays, a comida vegetariana, os transexuais, a moda – e comparar com a cultura árabe, muito mais comedida e discreta no que diz respeito às práticas e orientações sexuais de cunho pessoal. Por trás de uma pretensa defesa da liberdade de escolha das mulheres, oferecem uma visão preconceituosa e maligna do islamismo, fazendo-nos crer que as mulheres muçulmanas são oprimidas pelos seus maridos e obrigadas a usar roupas que não querem e não aceitam. Ao mesmo tempo dizem que as mulheres do ocidente, apesar de também serem oprimidas, se encontram em um estágio superior de liberdade, o que faz com que seja importante a luta de todos do ocidente para “libertar” as mulheres do oriente, impondo à região nossos valores ocidentais – superiores e democráticos.

Por certo que existe muito a ser criticado nos costumes do oriente, em especial no que diz respeito às questões relacionadas à mulher e às formas de expressão da sexualidade. Entretanto, deveria causar espanto que esta questão é sempre colocada como um gigantesco fosso entre a barbárie e a civilização, e não como visões distintas sobre o significado da exposição do corpo. De um lado o ocidente, onde até a nudez das mulheres deve ser respeitada e admirada, mas sempre com moderação. Tipo…. pode olhar, mas não muito que passa a ser assédio. Do outro lado, a “brutal opressão” contra as mulheres árabes, impedidas de mostrar o corpo para qualquer um que não seja o próprio marido. E tudo isso criando uma amálgama de povos tão distintos e distantes como a Arábia Saudita e a Indonésia, povos tão diferentes quanto um argentino e um filipino, mas analisados de forma única apenas porque professam a mesma religião. E sem falar que a burca – objeto da crítica – sequer é difundido entre as mulheres do Irã, país para onde se direciona todo o ódio colonialista no momento, mesmo não sendo árabe.

O que eu acredito ser digno de nota é o fato de que estas publicações aparecem agora, no exato momento em que o ocidente se prepara para um ataque aos países árabes e o Irã, e fazem parte de um projeto para capturar a consciência das mulheres e da opinião pública em geral para que vejam os inimigos com a necessária desumanização, elemento fundamental para todas as guerras. Não se trata de estabelecer posições geopolíticas, roubar recursos naturais, fortalecer o imperialismo, estabelecer dominância; não, é a luta do bem contra o mal, da civilização contra a barbárie, dos democratas contra os autoritários e de nós contra eles.

E vejam: não há nada de errado em criticar as questões culturais de um determinado país. Acho inclusive razoável criticar a exposição abusiva das mulheres nas ruas, praias e na publicidade do ocidente, tornando o corpo feminino um objeto de exploração pelo capitalismo. Da mesma forma que é possível criticar a obrigatoriedade dos véus islâmicos em vários países, talvez seja justo que exista uma crítica à extrema exposição das mulheres na nossa cultura. A questão, ao meu ver, se encontra nas razões que se escondem por detrás dos véus. Existe um interesse em desumanizar estes povos, tratando-os como bárbaros e inferiores, e não apenas diferentes ou com costumes patriarcais ainda arraigados. Não, o objetivo é torná-los inimigos a serem destruídos, como se as diferenças que existem entre nós fossem insuperáveis e revelassem uma essência diferente da nossa. Existe todo um planejamento – a exemplo do que o Cinema americano fez na segunda metade do século passado – para que a imagem do árabe e do muçulmano seja a de um sujeito maldoso, violento e fanático em essência, que se diverte com bombas terroristas pela manhã e com a opressão feminina à tarde. Nada disso é a expressão da verdade, e as pessoas da fé islâmica tem as mesmas dificuldades, virtudes, defeitos e dramas que qualquer outro ser humano, pois compartilham seu quinhão de humanidade com todos os humanos deste planeta.

É importante estar atento para as estratégias de desumanização do mundo árabe e islâmico que a partir de agora vão se tornar mais frequentes nas redes sociais. Por trás delas existe a mão do sionismo e do imperialismo, tentando usar este material como propaganda imperialista para esmagar quem não concorda com os valores do ocidente. Recomendo, mais uma vez, “Reel Bad Arabs“, um documentário brilhante sobre a vilificação dos povos árabes por Hollywood.

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Arquivado em Causa Operária, Palestina

Para um observador mais atento, é curioso o quanto os líderes evangélicos lutam contra os cassinos e os jogos de azar. Muitos deles se envolvem em verdadeiras cruzadas contra o “jogo”, e até se opõem à necessária regularização das casas de apostas virtuais – para que, pelo menos, paguem impostos. Mas até a taxação de impostos para essa atividade parece a eles um sacrilégio. Não que eu veja qualquer virtude em apostas e jogos de azar; pelo contrário, até em “1984” o anticomunista liberal do Orwell já mostrava o quanto a jogatina disseminada era um fator essencial para estabelecer uma sociedade alienada e controlada. Os cassinos e, em especial, a nova moda das “bets“, mas também os joguinhos de internet, são elementos chaves no entendimento da decadência acelerada do capitalismo, levando milhões de pessoas a este comportamento infantil baseado no pensamento mágico. Mais do que isso: as casas virtuais de aposta estão poluindo o mundo do esporte, em especial o futebol. Quem poderia estabelecer uma crítica severa e necessária quando os comentaristas de futebol foram todos comprados pelas casas de apostas, fazendo dessa publicidade a sua principal fonte de renda? Estes parecem os congressistas americanos aplaudindo Netanyahu, que os paga e sustenta, impossibilitados de estabelecer qualquer crítica.

Eu me arrisco em outra perspectiva: No meu entender, a luta contra os jogos de azar pelos líderes de igrejas ocorre porque a jogatina é a pior concorrência ao negócio lucrativo das igrejas evangélicas e afins. Ambas as modalidades se baseiam na crença de um um ente sobrenatural a guiar nossa vida. O jogador contumaz acredita na “Sorte”, uma força etérea que determina quem ganha e quem perde, seja nos dados ou até no futebol. Para ser bafejado por ela é preciso crer nas suas escolhas, por isso precisamos estar preparados para quando ela se aproxima de nós. Já o crente acredita numa força superior, igualmente etérea e invisível, que o conduz pelo caminho da redenção; igualmente é necessário estar sempre atentos às suas mensagens sutis. Tanto para o crente quanto para o jogador existe um preço: o bilhete, as fichas, a loteria, a rodada de pôquer ou bacará de um lado; o dízimo de outro. “Se você pede a Deus para ganhar na loteria pelo menos compre o bilhete”, diz o velho adágio popular. “Faça sua parte, Deus não pode fazer tudo sozinho”, e a parte daquele que crê nas forças invisíveis é paga no jogo e na Igreja.

A jogatina é um sinal inequívoco da falência do projeto capitalista, pois relega à sorte o sonho dos pobres por uma vida digna e segura. Não há outro caminho que não seja o palpite certeiro na vitória do time, a face luminosa dos dados no feltro verde ou encontro fortuito dos números numa roleta controlada pela deusa Álea, a divindade dos fatos aleatórios. Já nas igrejas, é preciso pagar regiamente o intermediário de Deus para que sua vida receba a dádiva da Graça, a simpatia do criador por um de seus servos, a preferência que ele dará a quem realizar seus caprichos – por mais ridículos que eles sejam.

Combater a jogatina garante aos exploradores das religiões uma enorme e sedutora reserva de mercado às igrejas, e os Malafaias, Edires e Valdomiros que poluem nosso cotidiano sabem muito bem disso. As loterias e jogos de azar devem mesmo ser combatidos, mas com a mesma intensidade que combatemos os mercadores da fé que apostam na ignorância e na alienação para encher os bolsos com o dinheiro de gente pobre e desesperada.

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Madonna

Esse comentário nada tem a ver com música, coreografia, showbiz, festas ou qualidades musicais, muito menos sobre a adesão de Madonna à Cabala. Este texto não trata de budismo, judaísmo, cristianismo ou qualquer religião ou culto. O texto, entretanto, trata do sionismo, que é uma vertente racista do fascismo, uma expressão de excepcionalismo e supremacismo nacionalista. Madonna, aliás, jamais se converteu ao judaísmo, mas é uma admiradora da Cabala, corrente mística da religião judaica, e adotou o nome hebraico Ester; em Israel, a cantora é chamada de “Rainha Ester”. Ela poderia até ser espírita, e nada haveria a mudar neste conteúdo, porque nossa preocupação deve ser com a vinculação dessas figuras públicas com o colonialismo e o imperialismo. Minha intenção é deixar claro que não é admissível colocar a Madonna como ícone progressista apenas porque ela sofre ataque dos bolsonaristas homofóbicos; esse erro identitário não pode mais ser tolerado.

Nos tempos atuais é muito comum personalidades da música defendendo a pauta dos excluídos e a favor de minorias (gays, negros, indígenas, trans, mulheres, etc.) ao mesmo tempo em que apoiam o imperialismo e regimes fascistas como Israel. Não acredito que Madonna seja pessoalmente uma fascista (nem Barbra Streisand, Gal Gadot, Natalie Portman, The Rock, Seinfeld, etc) mas ela falhou no teste fundamental para ser considerada de esquerda: o apoio ao horror racista e supremacista de Israel. Por outro lado é preciso denunciar este tipo de cooptação, porque parece que a esquerda não compreendeu ainda a armadilha.

Primeiramente, vou deixar bem claro que sou a favor de distanciar o artista de sua arte, e por isso me permito curtir Monteiro Lobato, Michael Jackson, Pablo Neruda e Nana Caymi, todos devidamente cancelados pela tendência atual de buscar, no passado de figuras proeminentes da cultura, falhas morais ou agressões às identidades que ora defendemos. De minha parte, não acho que os erros – mesmo graves – de intelectuais e artistas podem necessariamente destruir sua obra. Portanto, não há absurdo algum em curtir Like a Virgin, dançar com sua música e se reunir em Copacabana para celebrar sua arte. Todavia, isso é bem diferente de tratar Madonna como um ícone para uma nova sociedade. Madonna nunca foi de esquerda, e nem seria justo cobrar isso dela. Afinal, ela deixou claro que é A material girl living in a material world. Seria tolo cobrar dela algo mais elaborado no que diz respeito aos direitos humanos. Ela é uma artista talentosa e de sucesso, que ganha milhões com sua arte; nenhum erro nisso.

Alguns poucos estão falando do equívoco brutal que é colocar Madonna ao lado da esquerda. Breno Altman deixou claro que Madonna é uma sionista que defende não apenas Israel e o sionismo, mas até mesmo o indefensável primeiro ministro Netanyahu – absurdo que também se manifestou entre os senadores americanos que escreveram uma nota em sua defesa. Ela tem plena adesão ao discurso racista que dá suporte enfático ao colonialismo branco e europeu de Israel e mostra desprezo pelo povo palestino. Que haja gente de esquerda comemorando essa personalidade, apenas pela sua vinculação aos grupos identitários, diz muito da infiltração fascista dentro da própria esquerda. Colocar Madonna dentro da nossa trincheira para atacar os homofóbicos e pervertidos bolsonaristas tem um nome bem conhecido, usado em homenagem à uma história muito antiga de uma guerra entre gregos e troianos.

Madonna é uma representante dos valores imperialistas do partido democrata e uma sionista da linha de frente; é uma representante do sectarismo identitário criador de divisionismo na classe trabalhadora e dissemina o “pinkwashing” tão conhecido de nós, o mesmo que tenta apresentar Israel como um paraíso para os gays. Tudo mentira, como sabemos; Israel tem uma violenta polícia de costumes e possui na sua população uma homofobia raiz tão intensa quanto o racismo e a xenofobia entranhados em sua cultura.

Portanto, muita calma nessa hora. Madonna, pelos seus valores, posturas e ideias, está muito mais próxima do bolsonarismo do que de qualquer grupo de esquerda. O apoio ao colonialismo racista e ao apartheid de Israel é a régua moral dos nossos tempos. Não há como ser um sionista apoiando o massacre de crianças em Gaza e ao mesmo tempo colocar-se ao lado da esquerda. Podemos aceitar que Madonna é reaça, uma agente do imperialismo disseminando suporte ao colonialismo, mas você não precisa ter vergonha de dançar sua música.

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Bye bye, Jesus

Em 1983 ocorreram os primeiros casos de AIDs no planeta. Havia um clima de terror biológico no mundo semelhante ao que ocorreu com a Covid há poucos meses. A tese que percorria o imaginário dos médicos e da população é de que a “peste gay” – ou seja, uma doença causada pela “opção” sexual desviante – extrapolaria as barreiras do mundo homossexual, passaria para os bissexuais e daí para todo o mundo heterossexual. Não esqueço de um episódio em que uma palestra foi dada por um dermatologista da cidade (os dermatologistas eram os mais próximos do estudo da síndrome por causa das manifestações de pele, como o sarcoma de Kaposi) onde o clima era um misto de curiosidade e pânico por parte dos estudantes de medicina. A palestra foi técnica, para mostrar o pouco que já se sabia a respeito da doença. Entretanto, havia um outro sentimento no ar: a ideia de que esta doença era causada por questões morais, falhas graves cometidas por humanos desviados das leis divinas.

No ano seguinte ocorreu um seminário sobre “sexualidade” patrocinado por uma entidade espírita da capital. Como eu havia participado da “juventude espírita”- em quase nada diferente de qualquer grupo de jovens que frequentam igrejas – e estava no penúltimo ano do curso de medicina, fui convidado a fazer uma palestra sobre “AIDs e a questão espiritual”.

Não lembro exatamente qual foi o teor da minha palestra, mas por certo que nela havia uma forte tendência a colocar muito mais peso nas questões ambientais, sociais, culturais e psíquicas do fenômeno do que no mero estudo de um vírus – cuja letalidade já era fortemente questionada por virologistas famosos, como Peter Duesberg. Eu acreditava que a destruição do sistema imunológico era produto de um estilo de vida que por si só era destrutivo, e o papel dos microrganismos não era o único responsável pela manifestação da enfermidade. De qualquer maneira, deixei claro que as mortes eram reais e os cuidados deveriam ser mandatórios, para que houvesse uma diminuição nos casos. AIDs tirava a vida de muitos jovens, era um assunto sério, mas evidentemente que havia se tornado uma questão relevante porque as vítimas eram jovens, brancos, de classe média e do ocidente, ao contrário do que ocorria com a tuberculose, que matava dez vezes mais, mas acontecia com populações de pele mais escura, pobres e miseráveis do terceiro mundo.

Sim, as pessoas não estavam preparadas para minha análise dos fatores sociais relacionados ao surgimento de doenças, e muito menos estavam interessadas em ouvir minhas críticas e questionamentos sobre a tecnocracia médica. Eles queriam saber da “vacina” (que jamais chegou, mesmo depois de 40 anos) e, mais do que isso, quais os significados morais dessa doença. Era mesmo um “castigo divino” diante da “libertinagem desvairada” do mundo contemporâneo”?

Pois eu frustrei a plateia (algo que me especializei em fazer) ao me negar a explorar esta perspectiva, e tudo o que eu fiz foi tentar des-moralizar os quadros de imunossupressão adquirida, tirando deles a imagem de “doença do pecado”. Tentei até mostrar que existem vários fatores produzem esse tipo de quadro, mas que havia um número crescente de casos associados com a aparição de um retrovírus específico, o HTLVIII. Minha breve explanação foi sobre a história dessa doença, seu surgimento entre jovens americanos gays, o mito do “paciente zero”, as repercussões, o teste criado por Robert Gallo, a descoberta por Luc Montaigner, etc. Percebi que os espíritas presentes não gostaram das minhas palavras. Caretas, bocas torcidas e cabeças balançando negativamente apareceram à minha frente.

Na parte das perguntas, logo após minha fala, uma jovem me questionou: “Será essa doença um aviso da espiritualidade contra práticas condenáveis”? Ato contínuo, outro senhor me perguntou “O que fazer com uma laranja podre que compromete um cesto inteiro”. Ficou claro que havia uma tentativa de tornar essa síndrome uma doença da alma, torná-la uma chaga moral, produzida por erros do comportamento. Havia a visão de que os gays (mais do que o vírus) eram o problema a ser combatido.

Havia várias pessoas na plateia que eu sabia serem homossexuais. Até hoje me pergunto como se sentiram quando as pessoas ao seu lado questionavam a “moralidade” dos gays”. Como se sentiram ao ouvir que eram maléficos, “um mau exemplo” e que eles poderiam ser os responsáveis por uma doença que tinha a potencialidade de “exterminar a humanidade”? Depois da minha palestra um médico de Goiás veio falar de “homossexualidade e espiritismo”, e sua fala apontava para que a única atitude correta dos homossexuais seria a supressão dos seus desejos e a vida em castidade. “Se religiosos de várias seitas conseguem dominar seus impulsos para se purificar, por que os gays não poderiam fazer o mesmo?”, perguntou ele, com a característica empáfia dos clérigos. Foi aplaudido de pé.

Há 40 anos abandonei as religiões. Percebi que o discurso das religiões não servia para mim. Continuei me dizendo “espírita laico” porque ainda tenho crenças relacionadas ao espiritismo, mas não me sinto bem escutando qualquer palestrante espírita. Quando escuto uma palestra em questão de minutos começa a torrente de moralismo, falas prescritivas, regras de comportamento, idealização de personagens (Chico, Divaldo, Kardec, Jesus, etc) e um ranço cristão culposo insuportável. Desculpe, apenas não é para mim e não consigo achar qualquer validade em tais manifestações.

Abandonei o espiritismo religioso há 40 anos, mas hoje abandono o cristianismo. Chega de Jesus. Sua existência real talvez seja até verdadeira, mas seus seguidores deturparam de tal maneira a mensagem cristã que, se o próprio Cristo viesse à terra, não se reconheceria em nenhuma igreja – até porque, sendo preto, jamais se veria naquele germânico de olhos azuis que aparece nos templos. Mais do que isso, a retórica dos líderes cristãos agora apoia os massacres em Gaza, mostrando a face mais preconceituosa, racista e cruel desses “pastores”, os mesmos que aceitam como “desígnios divinos” as mortes por atacado de crianças nos territórios palestinos. Isso tudo porque estão conectados financeiramente com o Estado Sionista, que os promove e financia em suas excursões para a Terra Santa. São empregados muito bem pagos do terrorismo de Estado de Israel, que controla de forma genocida o colonialismo no Oriente Médio.

Deixo aqui qualquer conexão com o mundo cristão. Não reconheço Cristo como “meu salvador”, e sequer acredito que o cristianismo tem ainda uma mensagem a oferecer ao mundo. Se as ideias de Cristo fazem isso com os cristãos que levam as bombas para Israel, o que podemos esperar de sua mensagem? Uma religião cujos seguidores matam despudoradamente crianças em nome da dominação e do poder não pode ser algo aceitável para a minha vida.

Adeus Jesus, até não mais…

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Missionários

Sobre missionários americanos que vem ao Brasil para trazer “a palavra” e fazer assistencialismo barato (na verdade, bem caro).

Será que realmente precisamos de mais gurus? É esse tipo de “levante” espiritual que necessitamos? Os caras chegam aqui falando inglês para nos “salvar”? Já não foi suficiente o Jim Jones na Guiana? Mais espertalhões que misturam espiritualidade com negócios? Outro Rajneesh? Mais um Edir Macedo, desta vez um “que habla”? Outros reacionários conservadores que usam a pobreza, a miséria e a carência para vender seu salvacionismo conservador e bilionário?

Mais promessas? Mais sucesso econômico e cadeira cativa no céu? Ainda mais dízimos sendo recolhidos para a ganância das igrejas? Trago seu amor de volta? Mais assistencialismo que escraviza as mentes? Mais torniquetes emocionais de culpa? Mais líderes carismáticos que lucram com a fé? Afinal, quem financia esse gente? Quem paga essas apresentações midiáticas? Quem está por trás da fortuna que circula nessas instituições? Posso apostar que procurando bem podemos encontrar o dedo do Departamento de Estado Americano, que pretende nos fazer a creditar que o fim da pobreza está na … fé.

Esses espetáculos não são feitos para acordar; pelo contrário, são feitos para nos manter em sono profundo, anestesiados, imóveis e sem reação. Acordar significaria revolucionar nossa realidade de tal sorte que a sociedade, ao fazer uma mudança tão radical, não teria mais nenhum pobre para ajudar.

Basta desses gringos falastrões….

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Ciência

Como já dizia Albert Einstein, “nem tudo que conta se conta e nem tudo que se conta, conta”. Portanto, nem todas as coisas passam a ser valiosas apenas a partir do momento em que podem ser contabilizadas, mensuradas e aquilatadas. O amor, a saudade, os afetos, as tristezas são bons exemplos de emoções que não cabem nas perspectivas experimentais. Entretanto, sem surpresa recebi nos últimos dias a notícia de que uma pesquisadora (cuja fama foi catapultada durante a pandemia de Covid) escreveu um livro denunciando “pseudociências”, entre as quais estavam incluídas duas vertentes de saberes que conheço de perto: a psicanálise e a homeopatia.

Escuto esse tipo de visão positivista sobre o conhecimento científico há mais de 30 anos e acho cansativo contra-argumentar; na maioria das vezes os acusadores agem como cruzados furiosos, montados em seus conceitos rígidos sobre ciência experimental e não aceitam escutar o idioma confuso e sem respostas exatas da linguagem do simbólico e do subjetivo. É simples entender que a ninguém parece viável analisar uma neurose “in vitro”, ou entender uma fobia despregada da história de quem a produziu; também não há como entender as diáteses homeopáticas fora dos conceitos de unicidade e suscetibilidade. Portanto, os limites da pesquisa experimental não são complexos para entender, e a ideia de analisar a realidade apenas pela metodologia que existe – desprezando aquilo que ainda não entendemos – se mostra sempre como uma forma muito arrogante de decodificá-la. No fundo esta propensão a “achar feio o que não é espelho” esconde o medo do novo, do não sabido e o pânico de relativizar o conhecimento que julgam ter conquistado. É mais fácil limitar o universo ao nosso entorno próximo do que admitir que somos apenas poeira de algo infinitamente maior.

Sempre é bom ter a mente aberta para entender as questões da saúde e da doença de forma complexa e criativa. Para algumas práticas – como a psicanálise e a homeopatia, entre outras – imaginar que é possível analisar a efetividade de uma terapêutica sem levar em conta a subjetividade e a suscetibilidade individual é desmerecer o fato de que somos seres de linguagem e vivemos envoltos em um campo simbólico que diante dos mesmos “inputs” estabelece “outputs” muito mais sofisticados e diversos.

Para além desse debate não conheço nenhum analista que tenha o real interesse de chamar psicanálise de “ciência”; a castração envolvida no processo de análise bloqueia em parte o pedantismo de enxergar-se de forma superlativa. Todavia, fica muito claro que o cientificismo contemporâneo trata tudo que não considera ciência (pelos seus critérios) como conhecimento menor. Para alguns pensadores da homeopatia, ela ainda se reivindica como ciência (por suas históricas conexões com a medicina institucional), mas não vejo muito sentido em tratá-la assim. Para mim ela se aproxima muito mais da psicanálise e suas investigações de caráter pessoal e único, por sua vinculação inexorável com a subjetividade e pelas manifestações raras, estranhas e peculiares do processo mórbido no sujeito.

Para finalizar vamos esclarecer algo que me parece importante: a autora dessa publicação foi tratada como sumidade da área médica (apesar de ser bióloga) durante o período da pandemia. Essa notoriedade foi resultado dos ataques que fez às teses bolsonaristas relacionadas à emergência da pandemia da Covid. Dissipada a nuvem que nos obliterava a percepção mais clara dos personagens da crise de saúde, hoje já é possível perceber que se trata de uma fundamentalista que está surfando na fama para levar adiante seu ideário. É também importante ressaltar que ela é consultora de uma gigante multinacional de drogas, a Janssen-Cilag, conforme consta em seu currículo. Isso deixa claro o quanto existe de interesses econômicos muito fortes por trás dessa personagem. Para além disso, trata-se de um clichê muito conhecido na área médica: o “cientista soldado da Verdade que combate a pseudociência”. Na realidade são tão somente clérigos de uma religião positivista, carentes da mais essencial virtude de um cientista: a imaginação criativa. No fundo temem descobrir a imensidão do que desconhecem, e como todos os religiosos, mais do que exaltar sua crença, sentem que é preciso destruir tudo que a questiona e desafia.

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