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Censura e silenciamento

Como a história cansa de nos dar lições, censurar para esconder as contradições da realidade jamais será solução para nada. Na questão dos algoritmos e do bloqueio de fake news todo mundo acerta no diagnóstico, mas quando é para apontar a solução, continuam apostando na velha alternativa do silenciamento, na supressão e na proposta de não permitir que os “fascistas” (no nosso caso) e os “comunistas” (no caso deles) tenham vez e voz. No fundo, essa proposta é o que classifico como o velho “modelo materno”, que se aplica quando a mantemos os protegidos (as crianças) num estrato onde não têm autonomia por não possuírem ainda condições para se defender. É o que as professoras fazem na escola primária: protegem os alunos do bullying e das brincadeiras maldosas, como uma mãe o faria, porque sabem que são crianças indefesas. O problema dessa proteção é que os protegidos se tornam o objeto do nosso controle. Em nome da sua segurança, impedimos que se tornem sujeitos independentes, evitando que o mal chegue a deles Fazemos isso porque acreditamos na sua incapacidade de lidar com as agressões e ofensas. De novo, como qualquer mãe amorosa faria.

Todavia, chega um momento em que as crianças pedem que as mães não cheguem à porta da escola. O cuidado e o controle que elas recebem das mães (e aqui “mãe” é a função, não a “pessoa”) torna-se um fardo. Não querem mais proteção; querem liberdade. Nesse momento é que entra o “modelo paterno” que, ao invés de impedir a chegada do mal, reforça as qualidades intrínsecas do sujeito para que ele possa, por si, se defender. Assim, ao invés de proibir as piadas com gays, pretos, gordos ou narigudos, o esforço será em reforçar o orgulho de pertencer a qualquer uma dessas identidades. Da mesma forma, ao invés de proibir conteúdo de extrema-direita, a solução seria estimular a perspectiva de mundo do sujeito socialista, internacionalista e fraterno, na construção de uma nova sociedade, assim como mostrar o ridículo das posições fascistas, racistas, sexistas e todas as expressões do fascismo. Entretanto, sem calar, sem cercear, sem proibir, pois nossa experiência com os preconceitos – todos – e mesmo o próprio nazismo deixam claro que as proibições são inúteis.

Isso não significa que não se pode proibir nada. É proibido violar a lei, e para isso as leis são criadas. Entretanto, opinião não é crime, mesmo aquelas perspectivas mais abjetas, como as racistas ou anti-LGBT. Se as proibições motivadas pela sensibilidade do ofendido forem tomadas como lei, chegaremos rapidamente a 1984 de Orwell, onde um Xandão qualquer pode dizer que ser a favor de parto normal (ou ser comunista) pode levar à morte de pessoas (ou ao “genocídio stalinista”). Para se configurar o crime não se exige mais um ato; basta pensar em voz alta e emitir opiniões. Se estas manifestações – repito, mesmo as bizarras – forem passíveis de silenciamento a delicada tessitura da democracia e do livre pensar desaba, pois que a expressão das ideias vai acabar dependendo do humor e dos valores de um títere qualquer que detenha o poder de discriminar o bom do mau, o certo do errado.

Boa parte das pessoas (a maioria?) ainda acredita que “calar os maus” faz sentido. São os mesmos que acham que linchar um criminoso na rua em flagrante é justo, pois, afinal, por que esperar por toda a burocracia da justiça se podemos fazer um “atalho”? Acreditam ser possível combater o crime com mais crime – como fizeram Moro e a Lava Jato. Estes acreditam que, quando calarmos à força quem de nós discorda, estamos corretos, pois o silêncio que se segue nos dá a ilusão do sucesso. “Veja como acabou o racismo, ninguém mais fala mal de negros!!”, quando em verdade este e outros preconceitos continuam na alma dos sujeitos, e seu preconceito se expressa apenas em sussurros, nos cantos, nas surdida, mas vivo e atuante. Repito: de que adiantou calar os comunistas? Que ocorreu com a proibição do nazismo? Olhem a Alemanha de hoje e o sucesso da AFD (Alternativa para a Alemanha)!! Vejam o bolsonarismo, vivo e forte. Analisem a vitória do Milei e de Trump!!

As proibições e o punitivismo são tão sedutores quanto inúteis. Os Estados Unidos – à mais bem sucedida ditadura burguesa do planeta – têm 2 milhões de encarcerados. Se o silenciamento social desses indivíduos tivesse algum sucesso, era de se esperar a diminuição dos níveis de criminalidade e violência, não? Pois o que se vê é o oposto; a tendência no mundo inteiro é o incremento da violência pelo fracasso das promessas do capitalismo. Da mesma forma, o silenciamento da livre expressão de teses contrárias ao nosso entendimento jamais teve sucesso. O proibicionismo sempre fracassou como instrumento pedagógico. Mas cabe lembrar que “Vamos matar o presidente!!não é uma opinião, mas um claro incitamento ao crime. Confundir isso é uma constante naqueles que não gostam da liberdade de expressão. Estes são os mesmo que dizem que gritar “fogo!!!” em um cinema lotado deveria ser proibido, pois colocaria todos em risco, mas sem compreender que “fogo” não é opinião e não expressa uma perspectiva subjetiva e particular do mundo. Essa metáfora é usada até hoje por juristas que desejam limitar a liberdade de expressão, dizendo que ela não pode ser “absoluta”, mas falhando em determinar a quem cabe a decisão final.

Estes que aceitam a “censura do bem” acreditam que ela é justa porque partem da crença que possuem a perspectiva correta do mundo e por isso não haveria problema em silenciar os “errados”. Isso muda de figura quando alguém, um poderoso, um ditador ou um ministro direitista consegue impedi-lo de expressar suas ideias “corretas”.

Aí talvez aí resolva voltar às ruas para exigir liberdade.

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Tempo

Esta é uma verdade cristalina. Nas cinco gerações que tive contato, desde os meus avós até os meus netos, o envolvimento dos pais (homens) na gestação, parto, educação, tarefas, aconselhamento etc. é muito maior agora do que já foi outrora. Meu pai jamais pensou em auxiliar no parto dos filhos, nunca conferia boletins da escola e tinha um contato conosco muito mais restrito. Sua função era de provedor e, na velhice, conselheiro. Eu já fui um pai um pouco mais presente, mas com um papel muito menor do que meu filho e meu genro desempenham na vida dos meus netos. Por certo que falo de um recorte de classe média mas, guardadas as proporções, não há porque essa novidade não se expressar também nas classes baixas e altas. Esse é um fenômeno muito novo na cultura, mas uma tendência sem volta.

Meu pai costumava achar engraçado quando eu falava que os casais iam juntos à consulta de pré-Natal. Para ele isso era uma novidade chocante. “O que um homem tem a ver com essas coisas?”. dizia. Para ele a presença do pai nas consultas e no parto só poderia atrapalhar. Ele me contou que só se preocupava que o seu carro (um DKW) tivesse gasolina suficiente para ir ao hospital quando chegassem as dores. O cuidado com os filhos não era uma tarefa dos homens; eles não poderiam deixar de lado a missão de construir e controlar a civilização para cuidar, alimentar e educar de gente miúda. Já os homens de hoje são muito mais presentes e participativos nas tarefas domésticas e no cuidado de crianças, mesmo as muito pequenas. Fui testemunha disso nas histórias contadas dos pacientes mas também com o que vivenciei na minha casa, comparando com o que testemunhei nas gerações passadas. Por certo que o envolvimento masculino de hoje não é o ideal – até porque jamais será o suficiente, como bem o sabemos – mas não se pode comparar o nível de atuação dos pais atuais ao lado dos filhos com o papel da paternagem que vi a partir dos anos 60.

A realidade contemporânea que hoje temos, quando pela primeira vez vemos os pais (homens) sendo uma fonte de afeto (e não apenas recursos e limites) para seus filhos, é uma novidade no mundo ocidental e, na minha modesta opinião, eles estão se saindo muito bem nesta nova tarefa, mesmo sabendo da dificuldade que a nova distribuição de funções imprime na dinâmica social. Isso se expressa inclusive no número cada vez maior de filhos que optam em morar com o pai depois de uma separação, algo que não existia na minha infância. De qualquer forma é um período de grande aprendizado para os novos pais, e de grandes transformações para o nosso conceito de paternidade.

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Avós

Eu sei que é brincadeira essa história da criança e fazer com os avós tudo o que os pais proíbem, mas no fundo esse jogo é perverso, e se trata de uma disputa entre pais e avós pelo afeto das crianças, algo que só produz malefícios a elas. Tenho 5 netos e tenho como norma não oferecer jamais a eles qualquer coisa que não tenha autorização expressa dos pais. Não cabe a mim criar este tipo de competição; também não preciso oferecer coisas e objetos para conquistar o carinho e a afeição deles. Não tenho necessidade de usar meus netos para arrefecer as culpas derivadas da minha insuficiente e falha paternidade. Jogar as crianças de um lado para outro (como muitos casais separados fazem) não é a função de um avô que deseja uma educação equilibrada aos seus netos.

Pareceu careta? Pois é careta mesmo, mas talvez estejamos carentes de um pouco de caretice, de valores, princípios e disciplina. Acho que o bom senso na educação, assim como conceitos já bem sedimentados de psicologia, são sempre de auxílio nessa tarefa.

https://fb.watch/oIT6CU5U3M/

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Canção da Morte

Eu francamente não imaginava ver de novo a retórica claramente racista do sionismo ganhar tantos adeptos, ainda mais usando as mesmas justificativas adotadas por Adolf e sua turma há um século. Em verdade essa é uma demonstração clara de ingenuidade: essas ideias jamais desapareceram do nosso repertório de perversidades; apenas ficaram adormecidas, hibernando, silenciosamente esperando que as crises inevitáveis do capitalismo pudessem desenterrá-las. Redivivas pelo pânico, agora podem ser novamente utilizadas como a desculpa oportuna para os abusos e as crueldades. No atual ataque de Israel contra o povo palestino contabilizamos mais de 12 mil mortos até agora (final de novembro 2023), dentre eles 5000 crianças, e metade da cidade destruída. Apesar disso, em uma recente pesquisa, mais de 90% dos israelenses acreditam que a força utilizada contra Gaza é pouca ou adequada, um resultado semelhante ao apoio recebido pelo IDF depois do último grande massacre em Gaza em 2014, quando 95% dos judeus israelenses apoiaram os ataques. No bombardeio atual, menos de 2% dos judeus israelenses acreditam que houve exagero. Essa é uma sociedade monstruosa.

“Ahhh, mas os ataques, os bebês, as mulheres abusadas, os terroristas do 7 de outubro…” Amigo, há 75 anos todo santo dia é 7 de outubro na Palestina. Não há um dia sequer que não tenha ocorrido uma grave violação de direitos humanos nos territórios ocupados, seja na Cisjordânia, Jerusalém oriental ou na Faixa de Gaza. A diferença é que a crueldade inominável que se repete por lá é de verdade e não mentiras plantadas pela imprensa corporativa burguesa para escamotear os crimes hediondos da etnocracia colonialista e racista de Israel. É tempo de parar com o terror racista de Israel.

Antes de julgarem as ações dos combatentes palestinos, liderados pelo Hamas, coloquem-se na posição deles, subjugados por invasores europeus racistas e criminosos, condenados a uma cidadania de segunda classe, confinados no maior campo de concentração a céu aberto do mundo ou aprisionados sem o devido processo legal em penitenciárias israelense, sem crime ou mesmo acusação, bastando apenas o interesse e o desejo das autoridades. Se a sua mãe, irmãos, amigos, inclusive crianças estivessem presos em masmorras israelenses, sofrendo todo tipo de abusos nas mãos de fascistas, vocês não apoiariam uma ação extrema como a que aconteceu em 7 de outubro? Não fariam isso por seus filhos? Para quem reclama das ações violentas dos Hamas contra os chacais racistas de Israel, fica a lembrança de que durante 1 ano e 8 meses em 2018 houve protestos pacíficos nas bordas de Gaza chamados ” A Grande Marcha de Retorno“. Tudo o que os admiradores de Gandhi sempre desejaram, não? Pois o resultado foi de 223 palestinos mortos por protestar pacificamente e mais de 10 mil feridos. Ou seja: Israel só entende a linguagem da violência, pois os racistas de lá apenas acreditam na força bruta.

Se implorar não basta, se apelar para a justiça é insuficiente, quem pode julgar aqueles que, em desespero, escolhem a violência como forma de libertação? Como se sentiriam aqueles cujos filhos e família tivessem negadas as mais básicas necessidades humanas, como beber água? Mas nada disso impressiona os habitantes de Israel, educados desde a mais tenra idade a odiar os “árabes”. Nem mesmo as crianças em Israel escapam dessa educação para o ódio; em Israel elas são ensinadas desde a mais tenra idade a odiar e destruir. Numa recente campanha publicitária característica de “white washing” de Israel, elas cantam canções onde exaltam o exército de Israel e apoiam a destruição de Gaza. Ou seja: para mudar a imagem deteriorada de Israel agora estão apelando para as emoções mais primitivas e para a imagem de crianças cantando canções de morte. Não haveria como Israel não se tornar a grande pátria do fascismo e do racismo.

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Presentes

Na minha família existe um costume que tem mais de 4 décadas: zero presentes natalinos. Nada, absolutamente nada, sequer “amigo-oculto” de 20 reais. Isso começou como uma atitude radical há quase 4 décadas. Quando meus filhos tinham 5 ou 6 anos a minha mãe me perguntou o que poderia dar a eles. Meu filho escutou e ficou semanas pensando, perguntando, ansioso pelo que poderia ganhar. Ao ver a ansiedade deles, eu e Zeza decidimos exterminar a fonte dessa angústia: avisamos a eles que não ganhariam nada, que o Natal era uma festa para estar junto com a família, para contar suas histórias da escola para os tios, dar risadas sobre a piada do “pavê”, encontrar os primos, comer bolo e visitar os avós. Nada além disso seria justo. Mais ainda: avisamos aos tios e avós para não darem presente algum no Natal, visto que isso não poderia se tornar uma competição entre eles (algo que já vi) romper o tipo de educação que os pais queriam imprimir.

E vejam, a ideia é de que não há nenhum problema em presentear os filhos – ou parentes e amigos – mas estávamos tentando evitar a transformação da festividade do Natal em um encontro mercantil, onde se comercializam objetos e afetos. A proposta era de que, caso quisessem dar um presente para as crianças, que escolhessem uma data aleatória, ou usassem o aniversário delas. É claro que isso não é a solução de todos os problemas da sociedade mas, além de criar uma cultura avessa ao consumismo, ela evita a angústia inevitável de todos nós sobre a compra de presentes. Imaginem a felicidade de alguém que não precisa se preocupar com presentes para filhos, colegas de trabalho, pais, irmãos, etc, e sem sentir culpa! É um imenso alívio! Além disso, cabe uma reflexão um pouco mais profunda. Afinal, qual o sentido de presentear? O que afinal existe nesse gesto? Podemos colocar este ato sob uma investigação mais apurada? Quem ganha e quem dá nesta relação?

Uma amiga certa vez me contou uma história que considero reveladora. Disse que não resistiu à tentação e comprou um “helicóptero de controle remoto” para seu neto de 7 anos. Perguntei a ela: “Você sabe a média de tempo que uma criança se interessa por essas engenhocas? Este tempo é medido em minutos…” Ela sorriu e suspirou. Depois me disse conformada: “Eu sei tudo isso. Sei que ele vai provavelmente curtir mais a caixa do que o helicóptero, mas…. tu tinhas que ver a carinha dele quando abriu o pacote. Olhou para mim, me deu um abraço e disse: ‘Eu te amo vovó’.”

Essa história me fez perceber que, muitas das vezes, o presente que damos é para nós mesmos. Oferecemos um objeto qualquer para uma criança em troca do seu afeto, e todos sabemos o quanto elas são espertas para perceber como nos deixamos seduzir por estas demonstrações explicitas de amor. Por esta razão, é sempre útil analisar as verdadeiras razões que se escondem dentro do pacote colorido que oferecemos. Elas são aparentemente cobertas de generosidade, mas escondem as nossas necessidades mais básicas de afeto; são muitas vezes atos criados para que possamos receber como recompensa o amor que tanto carecemos.

Ainda acredito que a melhor alternativa ao consumismo do presente é… ser presente. Seja o melhor tio, filho, pai, amigo, agregado possível para todos aqueles que compartilharem este momento com você. Não use essa festa para negociar a atenção e o carinho que você precisa.

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Homens

Homens foram ensinados a proteger as mulheres acima das próprias vidas, e essa é a verdadeira essência do modelo patriarcal. A expressão “Mulheres e crianças primeiro” não surgiu do nada, nao veio do vento, mas expressa um dos mais profundos valores da civilização. Ela significa que, no patriarcado, a vida das mulheres e das crianças será protegida acima de tudo pois são mais valiosas do que a dos homens, e a mais profunda obrigação masculina é proteger a ambos. Esse é um tipo de privilégio oferecido às mulheres que é difícil de reconhecer em uma sociedade que penaliza os homens unicamente pela sua condição masculina.

Isso não significa que o patriarcado seja belo, justo ou não contenha contradições, e por essas falhas deverá ser substituído. Entretanto, é absurdo imaginar que o que move esse modelo é o ódio dos homens pelas mulheres, ou o prazer em oprimi-las. Muitas ativistas identitárias ainda acreditam que o amor dos homens por elas é falso, interesseiro e seu único objetivo é explorar e objetificar as mulheres. Por outro lado, o amor das mulheres seria puro, angelical, desinteressado e respeitoso, o amor de Maria por Jesus. Ou seja, para estas ativistas as mulheres seriam moralmente superiores aos homens.

Sabem qual o nome disso? Sexismo, o mais abjeto dos preconceitos.

Para dar a verdadeira perspectiva do significado do homem na civilização eu convido estas meninas a subir no edifício mais alto de sua cidade, aquele que puder oferecer a vista mais ampla possível. Olhem lá de cima até conseguirem ver a linha do horizonte. Depois disso olhem os carros, as ruas, as roupas, as torres, os fios de luz, o telefone na mão das pessoas, as casas, as praças, as fábricas… tudo. Quando tiverem feito esse passeio visual pensem: tudo isso aqui, literalmente, sem tirar nada, foi construído por esses homens que são desprezados e chamados de “interesseiros” e abusadores. Toda obra humana, até onde nossa vista alcança, foi feita pela mão dos homens, e para eles devemos ser agradecidos.

Toda a civilização foi construída pelo gênio masculino, e muitos foram os homens que lutaram e morreram para construir este mundo que conhecemos, da mais simples choupana até uma estação espacial. E o fizeram para que suas mulheres e filhos tivessem uma vida mais digna, mais segura e mais livre. Esse desprezo pelos homens é o fator que mais atrasa as conquistas das mulheres, porque além de injusto é ingrato e violento. A plena emancipação das mulheres não vai se dar pela exclusão dos homens, muito menos usando desprezo e humilhação como estratégia.

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Sinais

Os sinais estão lá, para quem ousar decifrá-los.

Acredito que o sujeito que será um bom pai – ou um pai comprometido e amoroso – enviará sinais desde os primeiros momentos, ainda no processo de enamoramento, sob a forma de códigos, sinalizações, mensagens criptografadas, dicas e pistas esparsas, que aparecerão nos detalhes do comportamento e nos espaços de silêncio que separam as palavras. Podemos perceber na forma como fala das crianças, como as enxerga e como entende sua educação.

Se quiser saber que pai ele será, também pode ser de ajuda saber como foi a sua relação com os seus pais, as mágoas que ficaram, os traumas e temores. Dá para perceber a paternidade latente ao observar como lembra do seu próprio pai e como o trata na velhice; se perdoou suas falhas e erros e se tem ressentimentos e cicatrizes afetivas em relação à sua infância.

A paternidade já está inscrita nele através dos padrões que recebeu dos pais – em especial do pai, que será eternamente seu modelo. Por certo que não há como saber tudo, e acredito que existe a chance de haver surpresas – para o bem e para o mal – mas é possível ter uma boa noção de como ele se relaciona com a paternidade. Não é um tiro no escuro, ainda que a luz tênue que ilumina o traçado torne sua leitura um mapa de laboriosa decodificação.

Para uma mãe use a mesma regra….

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Brasinhas

Essa frase, que li nas mídias sociais, me faz lembrar os “Brasinhas do Espaço“, um desenho animado do final do anos 70. O desenho se baseava no cotidiano de um grupo de escoteiros que moravam em uma espécie de Estação Orbital e perambulavam para lá e para cá viajando no espaço sideral em uma mini espaçonave que mais parecia uma bicicleta de vários lugares. Eram perseguidos incansavelmente pelo temível Capitão Gancho e seu ajudante anão Estática. Os garotos se chamavam Escoteiro (líder do grupo), Sábio (garoto de óculos), Xereta (garoto loiro), Jenny (menina), Estrelinha (cachorro), Capitão Gancho (vilão) e Estática (seu ajudante). Muitas vezes o Capitão Gancho fazia ameaças para as crianças ao estilo “vamos fritar vocês em óleo lunar“, fazendo Estática esfregar as mãos e dizer “Isso mesmo Capitão!!“. Porém, quando Estática resolvia fazer uma ameaça deste tipo o Capitão o repreendia dizendo “Cale a boca Estática!!! Eles são apenas crianças!!“.

Ou seja…. às vezes eram meras crianças, em outras eram merecedores da fúria do Capitão malvado e de seu ajudante. Estática nunca sabia a maneira certa de agir e como se manifestar. “Serão eles nossos terríveis inimigos ou são apenas pirralhos?” pensava ele. Pois eu acredito que Estática e sua confusão sintetizam o drama que temos ao lidar com seres em desenvolvimento físico, cognitivo e emocional: as crianças.

Sim, é verdade que muitas vezes tratá-los com maturidade, partindo da ideia de que eles são capazes de entender o que estão fazendo, dizendo ou pedindo pode ser uma forma especial de respeitá-los, conferindo a eles o status de “pessoas”. Não há dúvidas de que tratá-los assim pode deixá-los muito felizes. Todavia, o contrário também é um fato corriqueiro. Em muitas vezes nosso erro é não enxergar as crianças como crianças, tratando-as como adultos pequenos, exigindo de suas mentes jovens análises que só poderiam ser feitas através da experiência – elemento que só o tempo e a maturação são capazes de lhes oferecer.

Desta forma, não creio que exista uma solução definitiva, uma receita ou uma regra fixa. Temos somente princípios essenciais, como a ideia de protegê-los e amá-los. As vezes é forçoso reconhecer que os Brasinhas do Espaço são imaturos, incompletos e incapazes de entender a complexidade de um fenômeno ou a iminência de um real perigo. Em outras, subestimar sua capacidade de compreensão é o pior erro a ser cometido, e cabe enxergá-los como sujeitos capazes e competentes. Cabe aos adultos caminhar sobre esta lâmina fina sabendo que a única certeza é que sempre vamos errar. Nosso caminho é descobrir – a duras penas – como agir diante de cada situação, em cada momento e para cada alma frágil que repousa em nossas mãos.

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Crescer

Tão preocupados estamos em vencer as barreiras constritivas da infância que não percebemos o amadurecimento dos nossos próprios pais. Todavia, uma busca mais consistente pela memória e percebemos as nuances do crescimento que eles enfrentam. Meu pai aos 50 anos era muito diferente do que se tornou aos 90. Ele dizia, próximo do final da vida, uma de suas frases mais marcantes: “Não se passa um dia sequer que eu não escute o ruído estrondoso da queda de uma das minhas antigas convicções”. Ele não diria isso aos 50, mas aos 90 foi capaz de se postar de forma humilde diante do conhecimento e da verdade.

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SK8

Não romantizem demais o skate. Não acreditem que a “cultura do skate” é diferente das demais. Ora, não haveria porque ser assim. A nossa medalha de prata foi ganha por uma criança de 13 anos. O que ela diz é porque ela é uma garota pré adolescente, não por que o skate é “solidário”, “não competitivo” ou diferente dos outros esportes. O que hoje se diz do skate ontem era dito do surf, mas o tempo mostrou que não há uma “cultura” diferente quando existem disputas, vitórias, prêmios, fama, medalhas, glória… e dinheiro.

Olhem para o lado e vejam que entre os homens esse mesmo esporte se comporta como qualquer outra modalidade tradicional de competição. Isto é, brigas, tretas com publicidade, luta por espaço e exposição, favorecimentos, ressentimentos etc. Quando esses elementos todos se misturam a pureza toda se desbota e aparece a face menos fantasiosa do esporte.

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