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Ataque americano

Muitos ainda insistem na defesa dos Estados Unidos como se este país fosse um “bastião em defesa da democracia”, mas bem o sabemos que esta postura é fruto de mais de um século de massiva propaganda que, ao mesmo tempo que exalta a democracia burguesa, tenta desumanizar e vilificar seus oponentes. Os árabes – como pode ser visto em “Reel Bad Arabs” – são, de longe, as principais vítimas dessas campanhas de descrédito, em função da importância geopolítica de Israel. Ora, nada poderia estar mais longe da verdade do que colocar os Estados Unidos como defensor dos valores democráticos, mas aqueles que ainda defendem o imperialismo o fazem como que dominados por uma religião irracional, carregando suas palavras de chavões desbotados pelo tempo, relíquias cafonas e empoeiradas da guerra fria. Usam até a retórica do Milei – um Bolsonaro ainda mais aloprado – que não passa de um maluco fracassado que empurrou a Argentina para o fundo do poço, piorando o que Macri já havia feito. Outro detalhe chamativo é a tentativa de atacar o Irã defendendo o “direito das mulheres”, como se houvesse qualquer interesse na defesa de mulheres muçulmanas, mortas de forma genocidária em Gaza há vários meses. Não, nunca foi esse o interesse, mas ele é usado como “peça de propaganda” para aglutinar identitários na causa imperialista.

O paradoxo que vemos agora é testemunhar a direita mais retrógrada cair “como um patinho” na retórica “woke”, o que demonstra que na falta de argumentos a direita aceita apoiar até mesmo o discurso dos identitários. A meu ver, apesar de críticas necessárias às questões de gênero em países do Oriente Médio, quando examinamos a realidade da situação das mulheres do Irã, é evidente que elas têm muito mais liberdade do que as ocidentais, basta ver o acesso delas às faculdades como engenharia e física, que no ocidente são majoritariamente masculinas. Ao lado disso, vemos o quanto as mulheres no ocidente são expostas e objetualizadas ao extremo, mas matar crianças e mulheres usando a desculpa de que, terminada a matança, as mulheres poderão mostrar os cabelos, é o extremo da perversidade, o cúmulo do pensamento assassino que a direita tanto dissemina. Criticar as vestimentas de uma cultura – e mesmo a prática perniciosa de alguns radicais – como forma de analisar a liberdade faz parte da retórica oportunista de quem se nega a olhar para qualquer assunto com a devida profundidade.

Escrevo este texto imediatamente depois do ataque americano às instalações nucleares do Irã, e antes da óbvia retaliação que virá. É importante deixar claro que os próprios especialistas americanos (vide abaixo), passada a fumaça e a poeira das bombas jogadas no deserto, deixaram claro que nada de grave aconteceu, nenhuma estrutura foi destruída e nenhum artefato nuclear danificado (havia sido removido há muito tempo). Enquanto isso, 1/3 de Tel Aviv está severamente danificada, e a tendência é se tornar muito pior. Somente os cegos e fanáticos não conseguem enxergar que o fundamentalismo sionista, racista, supremacista está desaparecendo, derretendo, sendo transformado em pó. O regime extremista e terroristas dos sionistas dará espaço a uma democracia próspera e vibrante depois de um belo espetáculo de destruição do regime racista em Israel. Agora estamos escutando os primeiros vagidos de uma nação palestina plural, democrática, sem muros, sem mortes, sem apartheid, sem racismo, sem supremacismo, sem “povo escolhido” e sem a tirania dos capitalistas e abusadores sexuais de Israel. Em breve veremos palestinos – judeus, cristãos e muçulmanos – livres das amarras totalitárias do sionismo.

Enquanto isso, Trump está correndo risco de vida, e querem nos fazer crer que ele será morto pelos iranianos. Netanyahu, em verdade, disse que isso iria acontecer; ele avisou explicitamente sobre a morte de Trump, e disse que o Irã desejava matá-lo. A verdade é que quem vai tentar isso será o Mossad, pois assim fazendo ganhará duplamente: eliminando um presidente rebelde e conseguindo uma ótima desculpa para a guerra total.

Neste ataque parece mesmo que Trump só bateu o ponto para justificar aos seus patrões sionistas de que algo foi feito contra o Irã. Na verdade, essas ações teatrais deixam cada vez mais claro que Trump está com medo de morrer.

“Um ato teatral. A grande boca de Trump o colocou em uma encruzilhada. O Irã não jogaria seu jogo. Então ele foi obrigado a bombardear o Irã para salvar a própria imagem. Para isso, bombardeou duas instalações vazias que já tinham sido atacadas por Israel e lançou seis bombas contra uma instalação indestrutível (Firdos), alegando destruição, apesar do contrário ser verdade. É isso; um ataque “controlado”, um fiasco. E este é o homem cujos apoiadores chamam de o maior líder do mundo. Ele é uma vergonha nacional”. (Scott Ritter)

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Uma ilha de democracia

Nas últimas semanas comecei a ver de novos nas redes sociais um movimento que me chamou a atenção. Voltaram a aparecer as críticas à República Islâmica do Irã e a comparação com a fulgurante democracia israelense. Diante da guerra aberta, com o céu das grandes cidades de Israel iluminadas pelos mísseis balísticos iranianos e com o zumbido mortífero dos drones que sobrevoam a suntuosidade de Tel Aviv e Haifa, o ocidente voltou a ser inundado com propaganda imperialista, que coloca o Irã como um país “do mal” enquanto o enclave branco ocidental chamado Israel passa a ser descrito como um oásis de civilização no meio de um deserto de valores morais.

Primeiramente, é importante levar em conta que Israel não é uma democracia – longe disso. O projeto sionista deixou claro, desde os primórdios de sua implantação, que não seria possível manter Israel sem uma maioria consistente de judeus, e que esse a quantidade de árabes na sociedade israelense jamais poderia ultrapassar 30%. Entretanto, Armon Soffer, proeminente demógrafo israelense, os judeus já são minoria quando se analisa a Palestina: Israel e os Territórios ocupados. Desta forma, incorporar as populações palestinas em um único país destruiria a hegemonia étnica artificial estabelecida após o Nakba em 1948. Ou seja: Israel é uma etnocracia institucional; está em sua constituição de que aquela é a “pátria dos judeus”. Fica evidente para quem estuda as questões da Palestina as razões pelas quais Israel não trata como cidadãos – com plenos direitos, inclusive o voto – os 7 milhões de palestinos dos territórios ocupados. Essa democracia destruiria a “maioria judaica”, artificialmente produzida pela expulsão de 750.000 palestinos em 1948 e pela limpeza étnica efetuada nos últimos 77 anos.

Já essa história de Israel como “defensor da democracia”, uma “barreira de valores ocidentais a impedir a invasão da barbárie muçulmana”, é uma mentira; uma farsa imperialista. O que existe como valor primordial se resume nos interesses econômicos e geopolíticos da região. Entretanto, vi surgir de novo a mesma retórica identitária, que agora parte de segmentos da própria direita mais oportunista: “Estariam membros da comunidade LGBT mais bem hospedados e mais seguros na Palestina ou no Irã?” Esta é um dos argumentos mais usados para atacar o Irã ou qualquer país de maioria islâmica, da Palestina à Indonésia. Primeiramente, isso mostra uma ignorância inaceitável sobre as disparidades existentes dentro do mundo muçulmano. Essa afirmação tem o mesmo nível de absurdo de questionar a “vestimenta típica da Europa”, ou a “comida do Brasil”, ou mesmo os “costumes morais dos cristãos”, como se o ocidente fosse um bloco hegemônico no qual a comida, a religião e os costumes fossem encontrados de forma idêntica em todas as latitudes. Ora, para uma população de mais de 1 bilhão de crentes, o Islã terá tantas diferenças quanto podem ser encontradas entre um umbandista e um mórmon no âmbito das suas práticas cristãs, sua comida, seus valores, seus costumes e até sua vestimenta.

O Irã fez uma revolução popular para defender seus valores e suas riquezas. Alguém acredita mesmo que americanizar um país, trazendo prostituição, drogas, casinos, metanfetamina, corrupção desenfreada, submissão, etc. significa melhorar a democracia e os direitos individuais dos seus cidadãos? Até a revolução islâmica, o Irã era capacho dos Estados Unidos, e seu líder – o Xá Reza Pahlevi – foi colocado no poder por um golpe de estado patrocinado pelos americanos. Este servia como mero despachante dos interesses ocidentais para o petróleo persa, um agente bem pago da CIA. Assim, antes de debater as questões de grupos específicos, como mulheres e gays, é fundamental entender a importância de defender os valores de um país e perceber o quanto o sul global serve de quintal para os americanos, que vendem sua música ruim, sua comida de baixa qualidade e seus valores capitalistas para nós de forma livre e acrítica. “Sim, mas vejam a liberdade de gays e trans em Israel. Há notícia de alguma parada gay na Palestina ou no Irã?”

Pois eu pergunto: desde quando a existência de paradas gays significa respeito aos homossexuais? Inclusive, muitos gays criticam esse tipo de exposição, basta olhar o que dizem muitas das lideranças dos movimentos LGBT sobre o estereótipo de gay usado nessas paradas. Parada gay em Israel é propaganda imperialista, o famoso “pinkwashing“, e serve para fingir uma pretensa liberalidade ocidental. Só tolos embarcam nessa canoa. Por trás disso está o controle do petróleo, o domínio geopolítico, as ogivas nucleares de Israel e a penetração cultural. E como são tratadas as mulheres em Israel? Bem, depende da cor. Em Israel respira-se arbítrio e racismo. Cerca de 130.000 etíopes, a maioria de judeus, moram em Israel. Conforme o Haaretz, médicos que injetaram anticonceptivos injetáveis em negras etíopes que migraram para Israel alegaram que “pessoas que dão à luz com frequência sofrem”. Mesmo que fosse possível que os médicos tivessem boas intenções (o que é altamente improvável) ao injetarem contraceptivos à força, não há justificativa alguma para privar as mulheres da soberania sobre suas próprias escolhas reprodutivas. Ou seja: o respeito às mulheres vai depender da sua cor, da sua origem e vai sempre estar atrelado aos interesses do etnoestado sionista. O mesmo tipo de tratamento ocorre desde 1948 com a discriminação dos judeus “mizrahim”, vindos do mundo árabe.

É evidente que o Irã não é um exemplo de democracia vibrante. É mais do que claro que uma revolução nacionalista como a que aconteceu em 1979 no Irã deixaria muitas feridas no tecido social e muitas questões sobre os valores e direitos individuais sem resposta, em especial no que diz respeito às mulheres, gays, etc. Entretanto, esse é o preço da liberdade e da autonomia. O Irã não passava de um entreposto comercial dos interesses do ocidente até meados do século passado, da mesma forma como a China sempre o foi durante todo o século XIX até a revolução de Mao em 1949. Depois de um processo revolucionário, com a nacionalização das empresas petrolíferas e um mergulho nos valores da Pérsia, haveria muitas arestas a serem aparadas. Entretanto, essas dificuldades – em especial no que tange as minorias e os costumes – são usados até hoje como instrumento de contra-revolução, querendo nos fazer crer que a vida antes da revolução era muito melhor para as mulheres, os gays, etc. Pergunte aos gays, às mulheres e às crianças palestinas como é viver sob o jugo sionista e esta será a melhor resposta.

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Tensão e guerra

Escrevo estas notas enquanto o céu de Talabib se ilumina com as bombas que chegam do Irã. Era de se esperar que a República Islâmica do Irã, mais cedo ou mais tarde, iria fazer a sua necessária retaliação aos ataques sionistas. Entretanto, sabemos bem que a agressividade de Israel é a maior demonstração de sua fragilidade. Tanto no plano internacional quanto interno, o país está em frangalhos. É impossível esconder hoje, como foi feito durante quase oito décadas, as atrocidades e os crimes cometidos contra a população da Palestina.

A operação de 7 de outubro destruiu o projeto sionista de uma forma irrecuperável. Não há mais como sustentar a ideia racista e supremacista que se constitui na estrutura central de Israel, sua espinha dorsal. O genocídio, as matanças de crianças, a diretiva Hannibal, o bloqueio de ajuda, a destruição dos hospitais, a mortandade de 10% da população, em sua maioria mulheres e crianças, as torturas denunciadas nos calabouços israelenses, a morte de jornalistas, médicos, enfermeiras e toda a podridão do apartheid foram jogadas nas telas de TVs e celulares do mundo todo. Ao contrário dos massacres cotidianos dos últimos 77 anos, agora a Internet expõe de forma crua o sofrimento do povo palestino e a perversão homicida da sociedade israelense. Não há mais como desver o que testemunhamos, e não há mais como Israel se tornar uma nação entre as nações. Israel é um cadáver que apodrece à vista de todos, mas enquanto o corpo não é enterrado, somos obrigados a ver o horror de sua decomposição, enquanto o mundo inteiro testemunha o horror e o racismo que imperam na sociedade israelense. Ficou claro que esse ataque israelense ao Irã foi puro desespero do Império em decadência. Fica evidente que Israel está morrendo, se desfazendo, e esse ataque revela um corpo em decomposição. Não há mais como sustentar Israel, uma aberração supremacista e genocida, um enclave europeu fascista encravado no Oriente Médio.

A meu ver, esse país não tem mais muitos anos de vida. É sintomático que 10% da população já tenha abandonado o país, voltando para seus lugares de origem, e por certo muitos mais vão trilhar esse caminho. Essa guerra provocada – com a desculpa do enriquecimento de urânio – é o sintoma do fim de Israel. Fica claro que está se comportando como a Argentina dos anos 80, entrando em colapso e nos estertores da ditadura militar, provocando uma guerra contra a Inglaterra para unificar o país em torno de uma ameaça externa. De nada adiantou; o regime caiu de podre.

Este é um sintoma inquestionável do fim de um projeto racista e colonial. É evidente que por trás das decisões agressivas de Israel existe a conivência ou a explícita cooperação americana, basta ver que os mísseis que atingiram Teerã partiram do Iraque, enclave imperialista no Crescente Fértil. A esperança de Israel é que os Estados Unidos mantenham a decisão de bancar o conflito, entrem na “guerra santa” e ajudem seu protegido.

Entretanto, isso não é certo, porque a situação interna dos americanos é caótica, com tropas nas ruas, motins, manifestações populares e um presidente fragilizado. Será difícil convencer a opinião pública americana a fazer sacrifícios e enviar tropas em nome de Israel. Principalmente agora, no momento em que o apoio a este país atingiu seus níveis mais baixos na história americana – sem falar do rechaço internacional. Alguém crê que mais uma vez veremos jovens americanos morrendo em uma guerra estúpida? Colocar os Estados Unidos em guerra contra um país distante, que não ameaçou diretamente os Estados Unidos, e com o risco de colocar o comércio de petróleo do mundo em colapso? Serão eles tolos o suficiente para produzir um novo Vietnã?

A situação é desesperadora para a velha ordem. Enquanto o mundo multipolar não se configura como a força hegemônica no planeta, viveremos a tensão, o medo e as guerras.

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Nu com a mão no bolso

Em Barcelona a nudez não é criminalizada. Esta é uma postura da cidade muito antiga, conhecida por todos que a visitam. Se você quiser pode andar pelado na rua sem que isso seja tratado como delito. Existe um barcelonês (foto) peladão que ficou famoso por tatuar suas nádegas como se fosse um calção e que circula pela Rambla todos os dias. Ou seja: a nudez é um direito dos cidadãos e ninguém pode ser admoestado, criticado ou processado por andar nu. Também no norte da Europa, em especial na Suécia, é comum ver estudantes adolescentes (meninos e meninas) correndo nus pela rua festejando a chegada da primavera, como uma diversão juvenil, sem que isso seja visto como atentado ao pudor.

Enquanto isso, no Brasil, uma mulher foi presa por transitar pelo congresso em Brasília vestindo apenas a sua própria pele. Aqui, na minha cidade, o mesmo aconteceu há alguns anos com uma moça que adentrou um shopping usando sobre o corpo apenas batom e o esmalte das unhas. Ambas foram cercadas imediatamente, cobertas, levadas à delegacia e tratadas como criminosas. Afinal, como ousam desafiar os costumes mostrando suas vergonhas em público? Por certo que, fossem homens, e ainda levariam pipocos e um sonífero mata-leão. Caso alguma dessas cenas viesse a passar na televisão de Barcelona por certo que seus habitantes se espantariam com a ação policial em um caso de nudez. Alguns teriam mesmo se horrorizado com a atitude bárbara de agentes do Estado prendendo cidadãs apenas por terem passeado nuas pela cidade. “Por acaso o corpo é indecente, imoral ou agressivo aos olhos?”, perguntariam. “Não nascemos todos nus? Não andam nus os indígenas e os pequenos?”

No outro lado do mundo mulheres são criticadas e algumas até presas por não usarem o véu. Quando acontece no Irã muito se noticia cada vez que uma mulher sofre algum tipo de violência, física ou moral, por se contrapor aos costumes vigentes e à etiqueta islâmica ao vestir. Os jornais ocidentais escrevem infinitas colunas e imprimem manchetes escandalosas descrevendo a sociedade iraniana como machista, desrespeitosa com as mulheres e cerceadora de suas liberdades. Aqui no ocidente acreditamos ser esta uma violação inaceitável ao direito das mulheres – ou das pessoas em geral – de se vestirem como desejam. Criticamos, atacamos e acusamos os iranianos de serem machistas, atrasados e misóginos, porque não aceitamos que a sociedade determine o que uma mulher pode usar para se cobrir – ou não.

Para um sujeito de Barcelona deve ser confuso nos ver apontando os dedos acusatórios para a cultura iraniana por fazer – em essência – exatamente o mesmo que nós. O que os peitos e as nádegas têm de proibitivo aqui, as madeixas tem por lá. No fim, será sempre a tentativa de cercear a liberdade do outro de se expressar como bem entender. Somos diferentes na superfície e naquilo que censuramos, mas na essência somos por demais semelhantes.

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O Levante de Gaza

Existem fatos cuja grandiosidade não é facilmente perceptível no momento em que ocorrem. Muitas vezes apenas o tempo, com seu sopro incansável, é capaz de lapidar os eventos e mostrar sua importância real. Por esta razão, não há dúvida que os livros de história contarão os acontecimentos de 7 de outubro de 2023 por uma perspectiva completamente distinta daquela que temos hoje. Como poderia ser diferente se temos a informação controlada pelas grandes corporações? Nosso jornalismo é colonizado pelos interesses imperialistas, impedindo que vejamos a realidade do que em realidade ocorreu. Todas as grandes empresas de comunicação do ocidente são francamente sionistas ou controladas por pessoas com laços econômicos com os Estados Unidos ou Israel, o que nos oferece uma perspectiva claramente facciosa dos fatos daquele dia. Só o tempo poderá desfazer a rede complexa de mentiras criadas para disfarçar os crimes horrendos do imperialismo contra os povos subjugados.

Entretanto, mesmo com as informações mentirosas que surgiram, descrevendo atrocidades contra os israelenses que festejavam ao lado do campo de concentração de Gaza – os abusos sexuais, as decapitações, as pessoas incineradas – ainda assim foi possível enxergar a verdade por trás destas versões falsificadas. Até a imprensa israelense foi obrigada a reconhecer as ações criminosas do seu exército e a insanidade da “diretriz Hannibal”, que sacrificou seus próprios cidadãos no intento de matar palestinos e evitar o aprisionamento de reféns. Entretanto, o futuro nos permitirá ver em perspectiva o “Levante de Gaza”, que estabeleceu um basta definitivo da população encarcerada da Palestina sobre os abusos dos invasores sionistas. Esta data será lembrada por gerações como o grito de liberdade de um povo subjugado há 76 anos pelas nações imperialistas, em especial os sionistas e os Estados Unidos.

Mas terão os palestinos, libaneses , iraquianos, iemenitas força para deter o exército tecnológico de Israel? Ora, quando dizem que o poder de fogo de Israel é invencível, nutrido pelos Estados Unidos que, por sua vez, é a maior força bélica do planeta, e que o Hamas e o Hezbollah serão aniquilados mais cedo ou mais tarde, é necessário lembrar o que ocorreu na Coreia Popular nos anos 50, no Vietnã nos anos 70 e há poucos meses no Afeganistão. Inobstante a disparidade incalculável de forças entre o exército imperialista e as forças de resistência, o resultado foi o mesmo: a vitória daqueles que lutavam pela liberdade e pela independência do seu povo. Portanto, a diferença de poder de fogo, apesar de imensa, não foi a determinante em longo prazo; as forças libertárias, mesmo que às custas de enormes sacrifícios, acabaram sempre vencendo no final.

Assim, por mais que Israel tenha apoio irrestrito do Império, a queda do regime sionista – racista, supremacista, teocrático, opressor e excludente – é uma questão de tempo. Mesmo que ocorresse algo improvável, como a derrota completa das forças resistentes do Líbano, Palestina, Síria, Iêmen, Irã e Iraque e todos os grupos que lhes dão suporte, ainda assim a imagem de Israel está profundamente deteriorada na percepção da população do mundo inteiro. As manifestações que denunciam os massacres covardes dos sionistas, contra crianças, mulheres, jornalistas, médicos, enfermeiras numa matança jamais vista no século XXI (e que nos faz lembrar dos horrores nazistas) deixaram claro que o planeta inteiro não aceitará mais a existência de um país que faz do racismo institucional seu principal cimento social.

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O horror sionista deixou uma marca indelével na memória de todos, que hoje em dia rejeita de forma clara a ideia de um “povo escolhido”. Por que razão o Criador escolheria como seu povo predileto aquele capaz de ações demoníacas, que contrariam todas as ideias de fraternidade e que aviltam a noção de civilização? O mundo não vai acordar amanhã esquecendo os horrores e a desumanidade promovidos pelos sionistas de Israel, e não há “hasbara” (propaganda sionista) forte o suficiente para produzir uma amnésia da barbárie contra a população civil que ocorre há 1 ano em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano. Portanto, nos anos vindouros o 7 de outubro será celebrado como o grande “uprising”, o “levante da Palestina”, o marco inicial da liberdade do povo que durante mais de sete décadas lutou contra um sistema opressivo, violento, injusto, racista e imoral. Será uma vitória importante das nações insurgentes contra o imperialismo brutal e assassino, um exemplo de coragem para todas as nações que buscam sua independência e sua autonomia. Essa dívida todos teremos com o povo palestino. Sua força e sua coragem, seu sacrifício e sua resiliência serão exemplo para todas as gerações vindouras.

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Arquivado em Causa Operária, Palestina

Islamofobia

Resolvi escrever sobre o tema porque vejo o trabalho intenso das identitárias atacando o Irã e fazendo o serviço sujo do imperialismo, o que vem ocorrendo com muita frequência na Internet. Para isso usam fotos retiradas de contexto para disseminar falsidades contra o islamismo, tratando-o como uma “religião do mal”, selvagem, brutal e ofensiva às mulheres. Fazem isso agora, ora atacando árabes, ora ofendendo os persas. Aliás, para estas ativistas, é tudo a mesma coisa.

A foto de cima foi postada em vários sites dizendo se tratar de casamentos em grupo de crianças no Irã. Quem postou foi uma mulher que se diz de esquerda, afirmando que estes países são criminosos e protegem a pedofilia. Quando analisamos a foto e buscamos sua origem (por busca reversa) percebemos que não é no Irã, mas em Gaza e sequer é recente: é uma foto de 2009. E não são noivas na imagem, mas “damas de honra”, um costume milenar que também ocorre no ocidente. São meninas vestidas com o mesmo estilo das noivas para simbolizar a função precípua das mulheres – do presente e do futuro – como guardiãs da vida.

Por certo que esta visão da mulher na sociedade pode ser questionada. Nada nos impede de analisar criticamente costumes sedimentados. Cerimônias, costumes e mitos são transitórios nas culturas; eles refletem os valores sociais e os disseminam. A própria cerimônia de casamento é um reforço dos valores patriarcais, uma celebração da mulher como elemento central da sociedade. No ritual do casamento ela é o centro das atenções e das homenagens, sendo o marido sempre um personagem secundário. Entretanto, ali se estabelece um compromisso deste com aquela, o que forma a base do patriarcado.

Hoje os casamentos são bem diferentes daqueles do início do século passado e antes. Os casais são muito mais velhos, a cerimônia mais curta, a pergunta infame “se alguém souber de algo…” desapareceu e os vestidos são muito mais diversificados. Essas diferenças refletem a mudança de valores: a virgindade não é mais tabu, a submissão da mulher não é explícita, os casais tem múltiplas obrigações, os compromissos e responsabilidades são mais bem divididos, etc.

Todo mundo tem uma antepassada que pariu antes dos 15 anos. Para populações envolvidas em mortes precoces, pestes, guerras e fome não havia como esperar muito; este era um imperativo social, e assim o foi por milênios. O adequado entendimento dos significados e importância da infância nos mostrou que adentrar na maternidade com tão pouca idade era um prejuízo terrível e irrecuperável, em especial para as meninas. Com o tempo fomos abolindo essa prática, até os dias de hoje onde este costume se tornou proibido e até criminalizado.

Os países árabes e os persas também tem essa consciência, apesar de muito dos valores patriarcais mais ultrapassados ainda existirem por lá. Hoje não há como defender a prática de casamentos que envolvem menores de idade, e essa prática precisa ser combatida no mundo todo através da conscientização e da educação. Entretanto, o número de casos de gestação na adolescência no Brasil e nos Estados Unidos (e em todo o ocidente) mostra que este não é um problema exclusivo do Oriente e da Ásia. Nos Estados Unidos, como exemplo, 300 mil crianças menores de idade se casaram entre os anos 2000 e 2018, a maioria delas consistindo de meninas menores de idade casando com homens adultos.

De acordo com a organização Girls not Brides, mais de 2,2 milhões de menores de idade são casadas no Brasil ou vivem numa união estável – cerca de 36% da população feminina brasileira menor de 18 anos. O Brasil é o quinto país do mundo em números absolutos de casamento infantil. Na América Latina, o México fica em segundo lugar, com 1,42 milhão de meninas menores de 18 anos casadas ou vivendo em união estável. Essa situação atinge 26% da população feminina mexicana menor de idade.” (veja mais aqui)

A imagem da festa em Gaza mostra apenas uma cerimônia com meninas fazendo o papel de acompanhantes das noivas, mas o identitarismo busca nesta imagem tratar o Oriente como um lugar onde o abuso é exaltado. Essas imagens são maldosas e oportunistas e seriam tão mentirosas quanto as imagens aqui ao lado, se fossem apresentadas no Irã como o “casamento de crianças no Brasil”, sem apresentar o contexto da cerimônia, onde as crianças ocidentais são apenas “aias” e estão fazendo o mesmo papel das meninas em Gaza. Sobre a foto na Palestina, resta a explicação de quem organizou o casamento coletivo:

“Ahmed Jarbour, o oficial do Hamas em Gaza responsável pela realização da atividade, disse à WND que a garota mais nova a se casar na cerimônia tinha 16 anos. Disse também que a maioria das noivas eram maiores de 18 anos de idade. Jarbour, assim como dois outros oficiais de alto escalão contatados pela WND, se sentiu ofendido pela sugestão de que o Hamas estava financiando o casamento de crianças. Ele explicou que as menores vistas faziam parte da família do noivo ou da noiva. Ele disse que se trata de uma tradição as menores se vestirem de vestidos semelhantes aos das noivas. Disse que as meninas que aparecem no vídeo descendo um corredor com os noivos são membros da família do noivo ou da noiva. Em múltiplas ligações realizadas para os palestinos que participaram do casamento os mesmos afirmaram que as garotinhas não eram elas mesmas as noivas. O Hamas, entretanto, celebrou o casamento como uma vitória. “Nós estamos dizendo ao mundo e à América que eles não podem nos negar a alegria e a felicidade”, Mahmoud al-Zahar, Chefe do Hamas em Gaza, disse aos noivos no evento.”

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Propaganda Colorida

Recebi pela terceira vez esta semana pedidos para me unir aos esforços para combater o regime “misógino” do Irã.

“Os EUA, a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá impuseram sanções a algumas instituições e líderes iranianos em decorrência das violações aos direitos humanos, mas muito ainda precisa ser feito!”

Essa propaganda chegou ao meu e-mail, enviada por estes grupos de “defesa” das populações oprimidas. Usa o mesmo artifício retórico das sanções contra a China por sua política que ataca os Uigur, tentando mostrar que o governo chinês – diferentemente do que ocorre no ocidente – é composto por bandidos que não respeitam os direitos humanos. Quando vamos pesquisar com cuidado e atenção, percebemos que as acusações são falsas ou criminosamente retiradas do contexto.

Mais uma vez o que se vê o identitarismo sendo usado para a desestabilização dos países não alinhados e rebeldes. É apenas asqueroso ver o uso que se faz de causas justas, como a defesa das mulheres, dos negros e dos gays, para angariar a simpatia de muitos ao redor do mundo, quando sabemos que o real objetivo é atacar os países que ousam enfrentar a crueldade do Império Americano.

Será tão difícil assim perceber que estes são movimentos coordenados para atacar o Irã – um país anti imperialista – para iniciar uma nova “Revolução Colorida”, uma “Primavera em Teerã”, cujo único objetivo é desestabilizar o governo local? Basta uma pesquisa rápida para entender que as mulheres estão sendo (mais uma vez) usadas para levar adiante um ataque do Império às nações “desobedientes”. Por que não iniciamos sanções aos Estados Unidos, onde 220 mil mulheres estão presas, numa população carcerária de mais de 2.3 milhões de prisioneiros, mais de 50% não brancos, em uma população onde eles são minoritários? Por que não iniciamos campanhas para punir os Estados Unidos pelo estímulo à guerra fratricida entre Rússia e Ucrânia? Por que não culpabilizamos o imperialismo do Otanistão pela crise dos imigrantes, pela Guerra na Síria, pela destruição da Líbia, pelos massacres sionistas em Gaza?

Por que escolhemos exatamente o Irã, e por que agora? Sim, no exato momento em que este país formaliza o desejo de se juntar aos BRICS para se juntar aos países já alinhados e formar um enorme bloco de oposição ao Imperialismo, os ataques ao país se tornam mais intensos, sempre baseados em questões morais, como a “defesa das mulheres”. Aqueles que se juntam a estes protestos são os mesmos que choravam com a vitória do Talibã em solidariedade às mulheres e meninas daquele país, sem se aperceber que muito pior é a dominação imperialista no país e suas inúmeras acusações de execuções, prostituição e a rede de pedofilia que foi liderada (ou tolerada) pelos americanos no país.

Por pior que seja o Talibã, nada pode ser pior que o domínio de uma potência cruel e destruidora como o Império Americano. Se nos Estados Unidos quase 20 mil mulheres das Forças Armadas americanas foram abusadas sexualmente por seus colegas apenas no ano de 2010, o que dirá das mulheres e suas filhas que vivem nos países brutalmente ocupados pelo exército americano invasor? Vamos cair de novo nessa armadilha montada para destruir o sonho de um mundo multipolar?

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Propaganda Imperialista

Propaganda imperialista tradicional, manjada e corriqueira. Parece com as piadas que se usava nos anos 70 para estereotipar os ditadores africanos. A ideia é sempre mostrar os árabes (apesar dos iranianos não serem árabes, ainda que sejam muçulmanos) como bárbaros, selvagens, violentos e incivilizados. Pura propaganda. Entrem no Facebook, no Twitter e no WhatsApp e verão a quantidade enorme de ameaças feitas a todo mundo, mas ninguém coloca estas tolices como manchete principal com o único propósito de manchar a índole de uma nação.


Agora imaginem o que aconteceria no Brasil se a nossa seleção resolvesse ficar em silêncio e não cantasse nosso hino até que, por exemplo, revelassem quem mandou matar Marielle. E aí…. o que fariam os bolsonaristas? Talvez mandassem uma delegação ao Qatar com uma tonelada de pendrives para arremessar nos jogadores.

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Afeganistão livre

Para ponderar sobre as repercussões da iminente retomada de Kabul e a expulsão dos gringos do Afeganistão.

Sim, partidos marxistas comemoram a vitória do povo afegão contra o Imperialismo, depois de vinte anos de lutas e 2 trilhões de dólares gastos no esforço de uma guerra inútil e perdida. Aliás: imaginem apenas o que poderia ter sido feito para a modernização do Afeganistão e seu povo se o dinheiro americano não fosse gasto para matá-los, mas para desenvolvê-los…

Mas, espere aí… teremos de volta os Talibãs? Ora, “eles são machistas, misóginos e bárbaros!!” Como em “The Kite Runner” veremos de novo o menino Amir tendo que fugir do seu país para se proteger dos abutres e pedófilos? Como podemos comemorar esta vitória sabendo que isso significará uma série de retrocessos, em especial para as mulheres?

Bem, minha posição pode ser entendida da seguinte maneira: se os Estados Unidos invadissem o Brasil e Bolsonaro fosse o presidente, a atitude óbvia e natural de um partido marxista revolucionário seria JUNTAR-SE a Bolsonaro no combate ao imperialismo! A questão Bolsonaro – assim como a questão Talibã – deverá ser resolvida internamente e a posteriori, mas a emergência em devolver o país ao seu povo é muito mais importante – e grave. Por certo que qualquer processo revolucionário significa muita dor, mas não há país que possa se desenvolver sendo dominado e escravizado, por “melhores” que sejam seus invasores. A guerra do Afeganistão e o surgimento dos Talibãs – “estudantes“, em pachto – se deu na esteira da entrada dos Estados Unidos na região após a retirada dos soviéticos. Os talibãs são apenas o resultado ruim de uma intervenção catastrófica, mas a expulsão do Império era uma questão de honra para o povo afegão.

O mesmo sentimento eu tive quando da revolução iraniana em 1979 e a queda do Xá Reza Pahlavi – com o surgimento do Aiatolá Khomeini e o fundamentalismo xiita. Da mesma forma, eu sabia que haveria um retorno a valores que se contrapunham a minha visão ocidental, mas ainda achei melhor que assim fosse do que ver a imposição de um estilo de vida ocidental em um país subjugado ao Império. O mesmo com a revolução haitiana ou cubana; é melhor ser livre e poder lidar com suas contradições internas do que manter-se escravo e incapaz de se afirmar como nação.

Ou ainda existe quem justifique as aventuras imperialistas que, a pretexto de levar “democracia” (leia-se expropriação dos recursos) e “modernidade” para países em crise, acabem por espalhar uma visão homogeneizante de sociedade baseada nos valores ocidentais? Continuamos achando justo espalhar a varíola do capitalismo e da “democracia liberal” em troca de oferecer camisa do Vasco para os índios e sutiãs para suas esposas? Bíblia para todos? Saias curtas para as moçoilas do Irã?

Além disso, o Brasil não tem nenhuma condição moral para apontar dedos em direção ao Afeganistão. Se existem problemas sérios em relação aos direitos das mulheres, não somos nós os mais adequados para acusá-los. Existem mais mulheres na política afegã do que no Brasil, e isso deveria nos fazer pensar o que os nossos “talibãs tupiniquins” – fanáticos fundamentalistas – estão fazendo com os direitos das mulheres por aqui. Comecemos esta batalha por aqui mesmo…

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