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Mudanças

Fiquei sabendo da entrevista de um economista brasileiro que, num determinado momento de sua vida, abandonou as teses neoliberais que sempre o guiaram e passou a enxergar a sociedade por uma perspectiva mais humanista, valorizando as relações pessoais, a simplicidade e a necessidade de um mundo mais justo e equilibrado. Movido pela curiosidade, fui assistir.

O título era chamativo: Me arrependi, e o entrevistado era o economista José Kobori. Na entrevista, ele conta como passou de um profissional conectado ao catecismo financeiro tradicional para se tornar um crítico do modelo econômico surgido após a era Reagan. Minha curiosidade era pelo caminho que ele teria percorrido para alcançar o extremo oposto de seu antigo pensamento. Que tipo de leitura o convenceu? Teria conhecido Marx, quiçá foi tocado pela leitura de Lenin, Trotsky ou algum socialista contemporâneo, como Harvey?

A resposta não me surpreendeu, pois que eu já intuía que tais mudanças raramente ocorrem mediante epifanias de ordem intelectiva. Quando Nia Georges e Robbie Davis-Floyd estiveram pesquisando profissionais da humanização do nascimento no Brasil, para saber as razões de sua mudança paradigmática na direção de um modelo contra-hegemônico e humanista, as respostas oferecidas por inúmeros profissionais deixaram as suas motivações expostas: todos haviam passado por dramas pessoais, afetivos, emocionais, que os fizeram enxergar a realidade de forma distinta daquela que tinham até então. Não foi a leitura de um livro, ou uma aula na faculdade; foram fatos, quedas, solavancos emocionais, muitos deles doloridos e até vexatórios, que os levaram à mudança.

José Kobori, o economista até então liberal, foi preso na onda de justiçamentos da Lava Jato. Pela descrição que li do seu caso, tratou-se de uma prisão abusiva, absurda, autoritária, sem provas e baseada em vingança. Ele sofreu várias ameaças de morte e foi perseguido por organizações criminosas envolvidas em propinas com governos estaduais. Entretanto, naquela época ninguém ousava questionar os métodos medievais e abusivos da República de Curitiba, tanto a imprensa – apaixonada por figuras nefastas como Moro & Dalanhol – quanto as instâncias superiores do judiciário. Ele foi mais uma vítima dos linchamentos judiciais que mancharam a lisura da justiça brasileira.

E foi esse drama pessoal, e os quase três meses em que esteve injustamente preso, que o fizeram rever seus valores. Quando foi finalmente solto, havia perdido tudo que havia conquistado em termos materiais e foi obrigado a começar do zero. Como tinha experiência como professor, começou a dar aulas pela internet, desta vez mostrando os equívocos do modelo neoliberal. Todavia, foi sua experiência na prisão que abriu as portas para uma visão mais abrangente da sociedade. Lá encontrou assassinos e criminosos comuns, conheceu os sistemas de poder da prisão e teve de se adaptar a essa nova realidade. Entretanto, o que mais lhe chamou a atenção foi que na prisão havia pessoas, como quaisquer um de nós. Boas pessoas, pessoas ruins, egoístas, fraternas, inteligentes e limitadas, culpadas e inocentes; todo o tipo de ser humano, exatamente como havia conhecido fora de lá. Foi então que começou a questionar a justiça social, a fraternidade, a equidade e até a meritocracia, um mito por tanto tempo acalentado que agora desmoronava diante dos seus olhos. Depois dessa vivência traumática, sua vida se transformou.

A mesma experiência teve Miko Peled, filho de um general israelense que foi herói na guerra de 1967. Já entrando na idade madura, teve a oportunidade de debater a questão da Palestina com amigos palestinos que encontrou fora de Israel, o que lhe permitiu abrir os olhos e enxergar o mundo sem a viseira do sionismo. Foi do sofrimento originado da confrontação de suas antigas crenças com as aspirações de liberdade do povo palestino que conseguiu enxergar uma realidade alternativa. Foi sentindo em si a dor da ocupação, recebida pela voz embargada de seus amigos palestinos que descreviam os horrores do apartheid, que a mudança se tornou possível. A partir desse encontro, ele transformou sua vida e assumiu como missão pessoal a luta pela Palestina Livre e pelo fim do regime sionista.

Nesses exemplos fica evidente a veracidade de um antigo axioma: “Não há como mudar racionalmente uma crença surgida da irracionalidade”. A única maneira de mudar posturas recalcitrantes é por meio da abordagem emocional, afetiva e pessoal. Mais do que entender o problema, é preciso senti-lo, e só assim será possível conhecer uma verdade superior. Essas experiências, muitas vezes difíceis e dolorosas, como a prisão no caso de Kobori, ou a morte de uma sobrinha num ato de terrorismo, no caso de Miko, são preciosas por serem fantásticas alavancas de transformação pessoal, desde que possam ser absorvidas de forma construtiva e criativa. O mesmo se pode dizer dos abusos da Lava Jato. A dor que o país ainda experimenta pelos desmandos jurídicos deveria servir como uma lição cívica para que nunca mais se repitam. Esperamos que assim seja.

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Xandão na berlinda

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Por que cargas d’água (essa é do meu tempo) a esquerda brasileira está em peso atacando Glenn Greenwald e a Folha apenas por revelarem o que nós – a esquerda radical – dizemos há muitos anos: Alexandre de Morais é um golpista, demagogo, representante da burguesia fétida que comanda o Brasil e que cometeu inúmeros desmandos enquanto Ministro do Supremo. Por que razão agora esta esquerda resolve que “Xandão” é um “herói”, e pior ainda, um intocável? Por que criticam a forma e não o conteúdo? Por que não analisam o mérito das acusações graves contra o Ministro? Por acaso alguém deveria se surpreender quando um Ministro do Supremo usa de seu poder para artimanhas e jogadas políticas? Por acaso as ilegalidades e inconstitucionalidades do STF não foram, desde sempre, entendidas como “parte do jogo”? Lembram do “não tenho provas, mas a literatura me permite”? Qual o espanto com a existência de ministros venais?

Esse ministro não teve nenhum problema em colocar Lula na prisão desrespeitando frontalmente a Constituição Brasileira. Depois ele votou pela manutenção de Lula na prisão, quando não havia trânsito em julgado para justificar esta detenção. O mesmo Alexandre que brigou com bolsonaristas e prendeu aqueles mambembes que atacaram os prédios de forma desorganizada, foi quem favoreceu a candidatura de Bolsonaro tirando Lula criminosamente da disputa. Ou seja: Alexandre é um representante dos interesses da elite financeira, da Globo, do agro e de todas as forças reacionárias do país. Quem acredita que esse sujeito tem qualquer compromisso com a esquerda – ou mesmo com a justiça – apenas porque é atacado pelos bolsonaristas esteve em coma profundo nos últimos 10 anos, desde o tempo de sua ascensão à secretaria de segurança de São Paulo – local onde todo candidato a monstro faz seu estágio.

Qual a razão para o espanto? Por acaso deveríamos nos surpreender com atitudes pouco republicanas de integrantes do STF? Essa corte apoiou o golpe de 1964 e o de 2016!! Esteve junto, ratificando e aplaudindo, o impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma e a prisão imoral e ilegal de Lula. Aplaudiu (até se tornarem inadequados) os desmandos de um juiz corrupto como Sérgio Moro. Alexandre de Morais esteve à frente de todos os crimes contra a Constituição brasileira dos últimos anos. Por que tanta solidariedade?

Até quando a esquerda cirandeira vai achar que Bolsonaro é o nosso inimigo?? Bolsonaro é o fascista que as elites elegeram e agora estão descartando, como o bagaço de uma laranja chupada. O inimigo das esquerdas são aqueles que puxam os cordéis, os quais movem os marionetes. Os reacionários da vez já foram Collor, FHC, Temer, e tantos outros do passado. O “bolsonarismo” já existia muito antes de Bolsonaro ter sido parido, e nessa corrente liberal Alexandre de Moraes é uma figura notável. Não se deixem enganar!!!

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E aí, espíritas?

Prefiro não exagerar nos adjetivos, mas creio que os espíritas do Brasil deveriam se preocupar com as diretrizes políticas que o movimento tem tomado, em especial após as declarações de alguns de seus expoentes. Acho difícil encontrar uma palavra branda para definir médiuns que, usando de sua influência no universo espírita, promoveram delinquentes como Moro, chamando-o de “Espírito de luz”. Essa afirmação, vindo de onde veio, nos coloca diante de um claro dilema: uma possibilidade seria que o referido médium emitiu sua opinião política pessoal a um público espírita para emprestar seu prestígio a um grupo criminoso de juízes e promotores da Lava Jato, o que por si só seria uma usurpação de suas funções como divulgador do espiritismo e um erro histórico. Lembrem que Deltan e Moro, os líderes dessa facção, estão sendo processados pelos crimes cometidos.

A segunda possibilidade é de que sua manifestação foi inspirada pelos espíritos “de luz” que o acompanham, mas isso coloca a clarividência desse grupo de “espíritos assessores” em cheque. Agora que sabemos todas as ligações da turma da Lava Jato com interesses imperialistas – o DOJ e a própria CIA – é provável então que estes “conselheiros” sejam apenas palpiteiros do plano espiritual, imbuídos do mesmo caráter reacionário, punitivista e individualista de tantos iguais a eles que habitam o plano terreno. Ou seja: para que serviriam as mensagens mediúnicas se os espíritos que as manifestam têm os mesmos vícios e a mesma carência de consciência de classe que os encarnados? Qual a sua utilidade se sucumbem ao mesmo punitivismo que desreconhece a dinâmica social na gênese da iniquidade e da injustiça?

Assim sendo, prefiro ficar com as manifestações das personalidades vivas, pois que estas, no mínimo, são obrigadas a suportar o contraditório, podem ser pressionadas a comprovar suas teses e mostrar suas fontes. Mais ainda, deveríamos derrubar essa aura falsa de infalibilidade que surge quando a opinião vem de “espíritos superiores”, o que nos faria testemunhar a debacle de suas teses quando as evidências despontam no horizonte. Onde estão os espíritos que exaltavam a “coragem” do “conje” e sua postura magnânima e viril na luta pela justiça? Provavelmente estão encolhidos com vergonha de se manifestar.

É curioso como os espíritas de direita criticam o apoio da esquerda à Cuba e a ligação com nosso maior parceiro comercial, a China, mas nada falam das visitas dos governos anteriores às ditaduras declaradas da Arábia Saudita ou de Israel, que comanda um sistema racista de Apartheid na Palestina. Onde está o “fora da caridade não há salvação” quando dão suporte a países racistas? Afinal… os espíritas também vão embarcar nesse apoio à Israel? Vamos fechar os olhos para os massacres que se iniciaram há 75 anos? Vamos nos associar na sustentação desses crimes através do “sionismo evangélico”?

O movimento espírita, que deveria estar à frente das manifestações pela paz, deveria se manifestar em nome das crianças palestinas que estão morrendo em nome da ganância imperialista.

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Bananas

No congresso de professores em São Paulo – XXVII Congresso da APEOESP , Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – ocorrido há poucos dias o representante do PCO, criticou de forma veemente os participantes de outras vertentes políticas adversárias, acusando-os de outrora terem atacado Dilma e garantido apoio à Lava Jato. Ao final de sua fala, e ao ser acusado de direitista, fez um sinal com o braço dobrado e a mão na dobra gritando “Aqui ó, lavajatistas são vocês”. Sua fala foi a que se segue:

“… eu queria aproveitar meu minuto final, para dizer, o seguinte: não vamos vir aqui falar qualquer coisa, a gente aceitar que companheiro que estão numa chapa encabeçada pelo PSTU, que defendeu o golpe, que tem o PSOL, que defendia a Lava-Jato, vir aqui falar que nos somos lavajatistas! Aqui para vocês oh! (o companheiro levanta o braço e aponta para a chapa 2). Lavajatistas são vocês!”

Iniciou-se uma alteração verbal seguida de uma garrafa d’água arremessada na direção do ativista – a qual acabou acertando uma professora na mesa diretiva. Logo em seguida houve a tentativa de invasão da mesa, mas a turma do “deixa disso” conteve os mais exaltados e a briga se acalmou.

Até aqui esta história não deveria causar muita surpresa. Ora, os embates políticos são feitos de paixão, e esta emoção normalmente cobre com sobra e sem muitas dificuldades a tênue camada acinzentada que envolve nosso cérebro. Exigir racionalidade e ponderação para quem participa dos confrontos político-partidários é um exagero, pois essa chama de desejo e determinação é o que nos inflama e nos faz participar das lutas.

Entretanto, foi o que ocorreu depois que demonstra de forma muito clara o desvirtuamento do debate político no campo progressista, principalmente num setor bem específico: a, assim chamada, esquerda. No final do congresso uma militante negra da esquerda identitária pediu uma moção contra o companheiro que fez o gesto ofensivo aos adversários porque, segundo ela, se tratava de um …. gesto racista. Mais do que isso; ela ameaçou chamar a polícia.

Quem é da esquerda radical e já participou de movimentos estudantis, passeatas, greves, manifestações, etc. sabe muito bem de que lado a polícia burguesa sempre se situa. A força policial é estimulada a bater sem dó em professores, estudantes, trabalhadores de fábrica, pobres, favelados, etc., sempre que chamada a defender o patrimônio e os valores da burguesia; está no seu DNA. Ameaçar um parceiro do campo da esquerda de “chamar os homi” por uma disputa ideológica durante um congresso é um ato de profunda traição à todas as lutas do movimento operário. Quem age desta maneira ainda não entendeu qual o lado que devemos nos postar diante da trincheira.

Mas isto ainda não é o mais grave. Essa menina negra acusou o ativista da corrente adversária de ter feito um “gesto racista”. Sim, o gesto de dar “uma banana” para os seus adversários foi interpretado por ela como racista pela equação abaixo:

Banana ======》 Macaco ======》Homem negro

Sim, foi essa a interpretação que ela fez, a despeito do gesto ser realizado há milênios por qualquer pessoa, em várias partes do mundo e muito antes da escravidão, sempre que alguém estivesse mandando seu oponente enfiar uma banana, como a dizer “vá se phoder”. Detalhe importante: o militante de esquerda acusado de racismo… também é negro.

Esse é o risco de permitir às pessoas que interpretem gestos e palavras em absoluto “freestyle”, sem qualquer materialidade, baseado na mais abstrata imaginação e na interpretação subjetiva de quaisquer intenções veladas. Chamar a polícia burguesa em meio a um congresso de professores, acreditando na mediação dos poderes burgueses, já é por si só um escândalo; porém, interpretar um gesto de “banana” como “racismo” demonstra o desastre que significa o identitarismo, que há muito vem destruindo por dentro as instituições do campo socialista.

Repito: ou combatemos o identitarismo ou ele vai corroer a esquerda até não sobrar mais nada.

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A Encruzilhada da Esquerda

A polêmica a partir das manifestações do humorista do Porta dos Fundos expõe de forma clara e didática a decisão essencial que caberá às esquerdas no futuro próximo, um embate que representa a própria sobrevivência de suas ideias. Não restará alternativa que não passe por uma decisão fundamental: ou mantemos nossas mãos atadas pelo identitarismo, fazendo o jogo das elites, dividindo a classe trabalhadora e debatendo costumes em posição prioritária ou partimos para a unificação das pautas da classe operária, aquelas que historicamente nos constituíram e que fazem – ao contrário do que a esquerda liberal que Gregório representa e apregoa – da luta de classes sua tarefa precípua e fundamental.

Para alguns, a defesa do humorista deveria ocorrer para não municiar a direita com um debate que nos desgasta. Penso diferente; esta questão não é, conforme alguns articulistas, um “tiro no pé” ou um fratricídio pois não se trata de “dividir a esquerda” com pautas secundárias, até porque é mais do que evidente que a esquerda já foi dividida de forma arbitrária para que, amansada e domesticada, tratasse de questões marginais, como os costumes, os gays, a visibilidade, a diversidade, os trans, os direitos de minorias, o racismo etc. Por certo que estes temas não são desimportantes mas, quando olhamos as origens dos dramas contemporâneos, percebemos que estão atrelados ao sistema de poderes burgueses que comanda o agir social. Desta forma, deslocar o discurso da esquerda para a marginalidade dos temas sociais tem a clara intenção de forçar o abandono da sua pauta mais radical: a luta de classes e o fim do capitalismo.

A manobra foi sendo silenciosamente construída pelo Partido Democrata americano como forma de criar uma esquerda mansa, a chamada esquerda “moderna”, uma esquerda “anticomunista”, que superou os embates contra a burguesia e procura a “conciliação” com o capital, envolvida pelo clima de “fim da história”. Todos sabemos que essa conciliação é impossível, e já temos décadas de evidências de que nesse embate a classe trabalhadora será sempre sacrificada. Mas, na sede do Império, era preciso criar a ilusão de um “atalho”, para que um único partido governasse, ilusoriamente dividido em duas facções – idênticas na essência e diferentes na aparência.

Não só fizeram isso com seu país, como também exportaram esta estratégia para sua região de domínio – o seu quintal. Não é à toa que os grandes think tanks imperialistas – George Soros, irmãos Koch, Fundação Ford, Fundação Gates, etc. – apostam e investem pesado em instituições do mundo inteiro cujas pautas são identitárias, porque isso força a criação de uma esquerda confiável, não combativa, não operária, sem o fervor anticapitalista e também porque sabem o quanto estes temas têm a potencialidade de dividir e enfraquecer a luta operária. Oferecem a coleira à própria esquerda para, por fim, controlá-la.

A ideia de que precisamos de defensores de pautas no Supremo Tribunal Federal é algo que deveria causar arrepios em qualquer um que admira o direito e que já teve a curiosidade de entender porque aquela senhora que segura as balanças está vendada. Para entender isso não é necessário muito esforço; bastaria lembrar o estrago irreparável que um juiz, representante da burguesia e defensor de uma pauta – a destruição do PT e da esquerda – fez na Lava Jato. E não esqueçam, que a extrema direita até hoje o defende exatamente pela sua parcialidade (e não apesar dela), como se fosse justo à um magistrado assumir a defesa aberta de um dos lados.

Não acredito na possibilidade da esquerda se manter relevante no século XXI sem que as pautas identitárias sejam expurgadas da linha de frente de suas demandas. Ou somos a resistência ao capitalismo decadente através da luta de classes ou é melhor desistir do sonho por uma sociedade mais fraterna e mais justa, onde as pessoas não sejam mais divididas por castas. Se não for pela radicalidade da luta anticapitalista então teremos que aceitar que um negro, gay, indígena, mulher ou trans apresentando o Fantástico – ou sentando numa cadeira do STF – já estará de bom tamanho.

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Intocáveis

Eu vi sem surpresa as imagens da carreata fracassada e melancólica protagonizada por Deltan Dalanhol em Curitiba após ser defenestrado do seu mandato de deputado. Vi também a minguada manifestação que contou com ícones do direitismo fascistoide brasileiro convocada para a mesma cidade. Ao ver as cenas constrangedoras eu pensei que esta é a imagem mais completa e definitiva da debacle da Lava Jato. Quem imaginou que haveria milhares de pessoas nas ruas apoiando o líder, outrora poderoso, da Lava Jato também sucumbiu à ilusão que durante anos foi estimulada pela mídia sobre os promotores “intocáveis” do Ministério Público de Curitiba.

Eu tenho uma perspectiva bem pessoal sobre o fato. Quando vejo Deltan indignado, gritando para ninguém em cima daquele carro de som, eu lembro da pergunta que ele fez ao público do Jô Soares quando convidado ao seu programa, ainda no auge da popularidade da operação. Disse ele, dirigindo-se à plateia: “Quem acredita que a Lava Jato vai mudar o Brasil?”. Quase ninguém levantou o braço, assim como quase ninguém estava na rua a lhe dar suporte depois de sua queda. Deltan é vítima de uma ilusão sobre si mesmo, sobre seu poder e também sobre a transcendência de sua “missão”.

Deltan foi vitimado por um ego inflado que fugiu do controle. Ele se acreditava um mensageiro de Deus, um “messias”, um templário da Ordem de Cristo para combater os monstros da corrupção. Para isso – uma tarefa inquestionavelmente nobre – não seria errado atropelar as regras, descumprir as leis, burlar as normas, fazer acertos espúrios com nações estrangeiras, aceitar bilhões para a criação de um “instituto” de combate à corrupção e atacar inimigos políticos com as armas da lei e o poder que lhes foi delegado – leia-se lawfare. Vejo esse personagem recente do drama polìtico do Brasil como alguém que se acreditava um “intocável” – uma referência ao filme de Brian de Palma de 1987 sobre os promotores que prenderam Al Capone em Chicago. A diferença é que o alvo dos ataques dos intocáveis tupiniquins era o maior estadista do mundo contemporâneo, e os crimes a ele imputados eram criações fraudulentas com motivação política. Não sobrou pedra sobre pedra do PowerPoint mais infame da história recente do Brasil

Não vejo Deltan como um bandido, apesar de acreditar que cometeu vários crimes. Vejo-o principalmente como um fanático, alguém cuja visão em túnel lhe retirou a perspectiva do compromisso com as leis. Entendo-o guiado por uma crença cega em sua Verdade, certo de estar lutando pela limpeza de nossa sociedade das impurezas da corrupção. Desta forma, a imagem que mais me parece adequada para entender sua trajetória é de um Torquemada, um sujeito cuja fixação nos dogmas e no combate ao pecado o levou às maiores crueldades e atrocidades contra seus semelhantes. Assim, quanto mais pretendia lutar contra o Mal e o Erro mais se aproximava deles, da mesma forma que o sujeito puritano se sente atraído e magnetizado pelas obscenidades que acredita combater.

Não tenho nenhuma alegria em ver a destruição pública de ninguém, incluindo esse rapaz de bochechas rosadas. Meu sentimento foi de genuína tristeza ao ver no que se transformou alguém outrora tão poderoso – e, vejam, seu calvário ainda está apenas no início. Por outro lado, jamais haverá uma verdadeira depuração do mal causado pela operação Lava Jato sem que esses promotores e o juiz que estiveram à sua frente sejam devidamente punidos. Também acredito que sem colocar a corrupção da imprensa Corporativa como partícipe ativa nessa fraude não haverá real progresso civilizatório. Por mais triste que seja esta queda não há como seguir em frente sem corrigir o erro e a destruição que estes indivíduos causaram ao país e a tantas pessoas por eles indevidamente atacadas.

Que esta tragédia brasileira sirva de lição a todos nós.

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O caso e a causa

Este é um conceito muito legal, e que vale a pena pensar muito nele. Trata-se da ideia de usar um caso particular como “emblemático”, para usar a força da causa para atacar uma pessoa, envolvida em um caso. Por exemplo: a causa da corrupção usando o caso da Lava Jato e o PT como emblemas desse problema, culpando-os dessa tragédia crônica, para constranger as pessoas a pensarem: “Se você é contra a Lava Jato então só pode ser a favor da corrupção”. O cidadão comum se sente pressionado, sem ter como se posicionar. Ou seja: se o “caso” é frágil, chame a “causa”.

Pensei nisso vendo uma entrevista de alguém que está sendo acusado dessa forma, e sei que para ele é fácil se defender do caso, mas reconhece a imensa dificuldade quando a “causa” se vira contra si.

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In Vino Veritas

Creio ser importante que se faça uma reflexão a respeito dos fatos ocorridos na Serra Gaúcha referentes ao trabalho análogo à escravidão (e não “trabalho irregular”, como foi noticiado pelas empresas de mídia daqui).

Primeiro, é gravíssimo. Nós estávamos acostumado a pensar que esse tipo de abuso só acontecia nos rincões distantes do Brasil, onde não haveria um aparato estatal civilizatório suficiente para coibir tais ações. Mas não; os crimes ocorriam na região mais desenvolvida e rica do Estado, do nosso lado, nas nossas barbas.

Em segundo lugar é imprescindível que algo seja feito e que os responsáveis sejam punidos pelo rigor da lei. Estes responsáveis são as empresas terceirizadas que contratam estes empregados e os tratam como lixo, mas igualmente as empresas que lucram com a desumanidade no tratamento desses trabalhadores e fazem vista grossa para o tratamento desumano que recebiam. Não há sentido algum em “passar pano” para Salton, Aurora e Garibaldi, e não aceitaremos que terceirizem suas culpas evidentes neste caso, saindo ilesas de crimes contra a dignidade humana. Hoje também sabemos que as empresas haviam sido denunciadas muitas vezes ao Ministério Público do trabalho, e nada foi feito. Por que tanta negligência com fatos tão hediondos?

A situação é grave demais para qualquer tipo de condescendência. Agora surgiram informações que sugerem a participação de membros da polícia militar nos castigos, pressões, constrangimento e torturas aplicados aos trabalhadores. Quanto mais investigamos, mais fundo fica o buraco, e começa a se configurar uma participação disseminada dos crimes pela sociedade local, seja por ação ou por omissão.

Não só as três empresas acusadas devem ser punidas, mas todas as outras das quais ainda não temos notícia. Muito mais ainda resta para ser apurado, e talvez tenhamos batido apenas na ponta do iceberg e isso explica o manifesto do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves, que mostrou que os líderes de classe acreditam que o problema de escassez de mão de obra na cidade é “culpa dos trabalhadores que vivem de benefícios governamentais” e não querem trabalhar, “sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade“. Ou seja, a culpa do trabalho escravo é do “Bolsa Família”, e não da ganância dos empresários, seja do vinho ou da mão de obra terceirizada. É sempre útil lembrar que estes municípios da Serra Gaúcha tiveram uma votação marcadamente bolsonarista, da ordem de 70% dos votos, e isso explica muito do que observamos agora.

Por fim, aqui vai uma reflexão mais delicada para as lutas proletárias. Hoje uma rede de supermercados do Rio anuncia que vai suspender a compra de vinhos da Serra e vai até devolver os estoques ainda existentes. A razão? Não deseja ter seu nome envolvido com empresas “sujas” no mercado. Aqui mesmo no sul do Brasil a palavra de ordem é “boicote”, uma forma de punir as empresas que promovem – ou são coniventes – com a barbárie do trabalho análogo à escravidão.

Entretanto, a ação nefasta da Operação Lava Jato, comandada pela nata da corrupção judiciária do Brasil, deixou claro que punir as empresas acaba destruindo aqueles que são sua alma: os empregados. O vinho que nós tomamos é feito pela mão dos trabalhadores da agricultura, os transportadores, os funcionários da vinícola, os engarrafadores, os burocratas e seus diretores. Todos estes serão punidos por uma culpa que não é deles. Precisamos aprender que a punição não deve atingir o povo trabalhador inocente, mas as pessoas diretamente relacionadas com os crimes cometidos, para que os empregos possam ser preservados e as famílias que sobrevivem das vinícolas não sejam sacrificadas. Não podemos admitir que a destruição planejada das empresas de construção civil e da indústria naval protagonizada pela Operação Lava Jato, que ocasionou a perda de pelo menos 4.4 milhões de empregos, tenha continuidade nos ataques à indústria do vinho (e do turismo), com o mesmo desastre social que já vimos.

Exigimos punição exemplar para diretores das empresas e para todos aqueles relacionados aos crimes contra a dignidade humana que foram coniventes com o trabalho análogo à escravidão, a tortura e aos maus tratos. Todavia, também desejamos que os trabalhadores honestos não paguem este preço, preservando as empresas da necessária punição aos responsáveis.

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#MauroMentiu

A mulher entrou no escritório do marido sem bater e o encontrou usando sobre o corpo nada mais que suas cuecas. A jovem secretária em seu colo vestia apenas uma provocante lingerie.

– Mauro!!! O que é isso?

Os dois se ergueram de sobressalto mas em silêncio. Enquanto Dr Mauro colocava as calças a jovem auxiliar se retirou apressadamente pela porta.

– Não aconteceu absolutamente nada, disse ele. Coisas normais na relação entre patrão e empregada.

– Você enlouqueceu, Mauro? Coisas normais? Sem roupa no seu colo? Acha que sou besta?

Ele abotoou os botões da camisa calmamente. Sem mudar o semblante, explicou:

– Minha secretária me trouxe um café mas eu, estabanado, virei sobre a calça. Como o café estava muito quente tirei a calça rapidamente e entreguei a ela. A camisa também estava manchada, então resolvi tirar e guardar na gaveta onde tenho umas peças de roupa sobressalentes. Quando fechei a gaveta ela prendeu no vestido da minha secretária que se rasgou de cima abaixo quando ela se encaminhava para fora da sala. Tão nervosa ficou que tropeçou no fio do telefone e caiu no meu colo. Nesse instante você chegou.

A esposa não conseguia esconder o espanto e o terror.

– É serio? Essa é sua explicação para a cena que eu vi com meus próprios olhos? É essa história que tem para me contar, Mauro?

– Sim. Uma história comum. Acontece toda hora em muitos escritórios pelo Brasil. Nada de excepcional. Não percebo nada de inadequado na minha atitude e não há nenhum delito aqui configurado.

A esposa, até então estupefata, desarmou-se diante de justificatvas tão convincentes.

– Bem, Mauro, como você é um juiz famoso e respeitado, muito querido por tantos e admirado por multidões só me resta acreditar. Desculpe ter desconfiado. Então vou para casa e lhe aguardo. Ainda tenho que buscar as crianças na escola.

– Ok querida. Não se preocupe; eu entendo sua preocupação. Mais tarde chego em casa para o jantar.

Ela se aproximou da porta e quando ultrapassou o batente voltou-se para o marido e perguntou:

– Quer que eu leve sua roupa suja de café para lavar?

– Não será necessário, disse Dr. Mauro

– Por quê? indagou ela

– Porque eu já deletei…

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Crimes de toga

Moro seria condenado por alta traição na sua pátria amada americana se lá viesse a divulgar as conversas privadas de um presidente com um ex-presidente. O nome desse crime nos Estados Unidos é “alta traição” e a pena para isso é cadeira elétrica. Sobre as instâncias posteriores que não reformaram a pena de Lula… qual a parte do “com o supremo com tudo” o pessoal ainda não entendeu? Sobre as homenagens que Moro recebeu em Universidades americanas, não esqueçam que Hitler foi capa da revista TIME de 1938 como “homem do ano”, portanto estas honrarias abruptas e oportunistas não valem chongas.

Moro é homenageado nos Estados Unidos por uma universidade exatamente porque presta serviço a este país com o desmonte das nossas grandes empresas.

Quanto ao Lula…. digam em duas linhas qual o crime pelo qual Lula foi condenado e qual a prova que sustenta sua condenação.

Sobre as palestras de Moro…. Sério? Moro é o pior palestrante de todos os tempos. Voz insegura, inglês péssimo (Machachutz????), argumentos péssimos, português horroroso (houveram problemas????) e a mais absurda e contraditória sentença da história, basta saber de um livro escrito por 120 juristas condenando sua performance.

O desafio está na mesa. Diga o crime de Lula e qual a prova de que este foi cometido. Leia sobre o crime de traição que Moro cometeu. Leia sobre grampear advogados de um réu!!!!! Leia o significado de “juiz natural’, sobre “teoria da prova” e sobre “juízo dos inimigos”. Leia sobre divulgar conversas privadas do presidente em exercício. Leia sobre juízes agindo “ex ofício” e sendo parte da acusação. Leia sobre fotos com Temer, Dória, Alkmin e Aécio e o significado disso para a imagem de um magistrado. Leia a sentença inteira de Lula. Fale sobre “atos de ofício indeterminados”, crime sem objeto, propina “prometida”. Leia sobre mestrado e doutorado em 3 anos. Leia sobre o escândalo do Banestado. Leia sobre delação premiada sob tortura (com delatores presos, o que é obviamente ilegal nos Estados Unidos, de onde a lei foi copiada).

Leia também sobre Tacla Durán e o dinheiro de doleiro na conta da esposa de um juiz. Leia sobre a APAE e os 500 milhões relacionados à madame. Informe-se sobre a propina de Zucolotto. Informe-se sobre a Petrobrás pagar as palestras de Moro e SER PARTE NOS PROCESSOS QUE ELE JULGA!!!!

Esqueci algo? Sim…. Tem Youssef (passou de 100 anos de cadeia para 3), tem a mulher do Cunha livre. Tem o próprio Cunha “desaparecido”. Tem o Alkmin que se livrou de Curitiba para livrar Moro do constrangimento. Tem a exigência de Lula participar de todas as oitivas, totalmente ilegal. Tem a “condução coercitiva”, absurda e cruel, com vistas a humilhar o presidente.

Precisa mais??

E tem mais…. mas cansei de escrever sobre um juiz que seduz a classe média iludida.

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