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Monark

Vejo muita gente debochando das condições físicas e emocionais do Monark, que durante anos foi o garoto propaganda do liberalismo ingênuo que tomou conta de parte da juventude brasileira. Dizem que sua cabeça fritou devido ao ideário de direita que adotou para si, porém não acredito ser essa a razão de sua decadência espiritual e psíquica. Na minha percepção, sua debacle está relacionada aos ataques recebidos em razão da postura de enfrentamento ao poder abusivo de algumas instituições.

Uma das razões da minha desconfiança sobre as origens do seu mal é que, para atacar o Monark, inventaram muitas mentiras sobre seus pronunciamentos. Sim, o Monark jamais foi a favor da criação de um partido nazista, e basta assistir o famoso podcast para constatar isso. Ele se disse favorável “ao direito de alguém criar isso”, não ele. Sua radicalidade era pela liberdade irrestrita de expressão e de organização em torno de ideias. Entretanto, de forma oportunista, criaram o factoide de que seria, ele próprio, um defensor de ideias nazi. Isso é mentira. O Monark entrou em uma espiral depressiva e autodestrutiva pela perseguição infame realizada por elementos do STF, em especial o ministro Alexandre. Este, em nome de uma postura populista e baseada em mentiras, resolveu subverter a liberdade de expressão criando uma versão personalizada da Constituição. Para os ataques ao jovem comunicador, o ministro do Temer usou o freestyle característico do STF, que faz da Constituição um “boneco de massinha” aquele que as crianças brincam, onde qualquer coisa pode ser criada da massa amorfa na dependência da vontade e dos interesses oportunistas da suprema corte.

O sofrimento do Monark eu já vi no rosto de pessoas atacadas injustamente. Carregam no semblante o sofrimento por não conseguirem enxergar uma saída, em função do gigantismo das estruturas que os perseguem. Ele sofre por saber que seu direito de expor sua perspectiva de mundo – mesmo equivocada e claramente paranoica –  é censurada, proibida e perseguida. Ela sabe que, mesmo que a expressão de sua visão de mundo seja garantida pela constituição, os guardiões da nossa carta magna são os mais interessados em violentá-la em nome de seus interesses obscuros. Monark é um jovem, um filho de papai, um “gamer” e um garoto de classe média, sem estrutura para suportar a perseguição e o exílio. A solidão, a raiva, a cólera contida, o ressentimento e a tristeza do desterro são ácidos que corroem o próprio frasco de carne e ossos que o contém. Ele não tem a estrutura de um Brizola, um Lula, forjados na luta política e proletária e capazes de suportar os ataques, o exílio, a prisão e as acusações injustas.

Sou um comuna raiz e não concordo nem com 1% das ideias liberais do Monark, mas posso entender sua dor e sei o quanto ele está fragilizado e perturbado. Todavia, ver gente da esquerda debochando de seu sofrimento apenas mostra como nossa esquerda liberal é incompetente e ultrapassada, incapaz de se enxergar – num futuro próximo – na própria pele do garoto do Flow.

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Inquisição

Acho triste e decepcionante ver gente da esquerda contrariada com o fim da censura explícita do Facebook. Para estas pessoas a mentira desapareceria como mágica ao silenciarmos os mentirosos, sem perceber que isso apenas garante a eles ainda mais força. Para um verdadeiro democrata, a liberdade de expressão não pode ter freios nem limites, pois sabe que a mentira só pode ser exterminada com o contraponto da verdade. Por que haveria de ser a censura solução para os enganos e a falsidade? Silenciar vozes que atrapalhavam seu projeto político é exatamente o que os militares faziam após o golpe de 64. Eu mesmo já fui banido dezenas de vezes, e sou repreendido todos os dias por denunciar os crimes sionistas na Palestina. Ou seja: a censura atinge preferencialmente aqueles que se contrapõem às normas sociais burguesas e os interesses do capitalismo global. A solução aventada há alguns anos foi a criação de agências de “checagem”, mas restava a pergunta: quem controla os controladores? O que se viu é que estas agências se tornaram braços do poder burguês, órgãos do Estado Americano e instituições financiadas por bilionários como Soros e Gates, e o resultado só poderia ser o travamento do discurso público. Neste campo, os identitários – adoradores da censura e do silenciamento – são os que estão mais furiosos, porque não conseguem verdades suficientes para contrapor as mentiras que julgam encontrar nas redes sociais. Porém, inobstante as boas intenções que algumas pessoas possam ter, a política do cancelamento e o silêncio imposto a quem expõe divergências é uma prática fascista, de quem tem medo de enfrentar a falsidade apresentando o contraditório da verdade.

Vocês não eram nascidos, mas nos anos 70 e 80 eu saí às ruas contra a censura e levei borracha no lombo por agir assim. Por esta razão dói minha alma ver a esquerda aplaudindo essa aberração. Entendam: não existe censura do bem!! Não existem silenciamentos e cancelamentos bem intencionados; o que estas ações escondem é o medo do debate, o pavor de ver ideias que não gostamos sendo espalhadas e conquistando mentes e corações.

“Ahhh, mas isso vai espalhar ideias fascistas; eles vão tomar conta das redes sociais”. Provavelmente, mas e daí? Precisamos criar um sistema de combate a este discurso através da apresentação de uma perspectiva justa da realidade, e não calando a boca dos opositores. Também é obvio que Mark Zuckerberg não tomou essa atitude por amor à verdade, mas por razões claramente econômicas. As redes sociais estavam se tornando insuportáveis. As milícias identitárias, que querem calar e processar a todos, tomaram conta das esquerdas, impedindo um debate aberto e franco. A patrulha do “politicamente correto” produziu uma geração de hipócritas que falam “é o que acho, mas você sabe que não posso dizer isso publicamente”. O Facebook estava perdendo clientes pelo nível absurdo de censura, e pela checagem fraudulenta que fazia.

A resposta só pode ser pela liberdade irrestrita para pensar e dizer, e não pela perspectiva fascista de censurar, calar e amordaçar os inconvenientes. Por acaso acham mesmo que censurar comentários estúpidos sobre sujeitos trans produz(iu) algum tipo de efeito positivo? Acham que censurar e prender os comunistas produziu o extermínio do ideário comunista? Por acaso testemunhamos o fim do comunismo ou, pelo contrário, ele saiu o fortalecido? Acreditam que censurar os fascistas vai gerar algum benefício? Os nazistas são proibidos na Alemanha e são o grupo que mais cresce!! Nazismo é proibido no Brasil e existem mais de 500 células nazistas à luz do dia. Impedir que as fascistas digam tolices sobre pessoas trans não faz – e nunca fez – nenhuma diferença. E se as razões do Zuckerberg e do Elon Musk são oportunistas e fascistas, nisso não há nenhuma novidade, mas – repito – a solução só poderá ser através do combate sistemático à perspectiva de mundo que eles defendem, e não apoiando a censura. Além disso, a censura no Facebook ataca naturalmente a esquerda, e apenas pontualmente a direita, até porque as agências de checagem são totalmente controladas pela burguesia.

Esse tipo de ingenuidade não tem mais sentido, e lamento que a esquerda embarque nesse erro de forma tão fácil. Aqueles que apoiam soluções de censura, cancelamento e silenciamento sobre opiniões a respeito de temas delicados estão sentados ao lado dos acusadores de Galileu Galilei em seu famoso julgamento em 1633. Aqueles que pagam o preço de escutar o que não querem por um debate franco e aberto em nome do progresso das ideias estarão ao lado do nobre cientista polonês, mesmo sabendo que isso poderá lhes custar prestígio e quiçá a própria vida.

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Hasbará

A propaganda pró Israel (hasbará) está falhando em disseminar a imagem positiva de um país que assassina crianças, mulheres, médicos e jornalistas todos os dias. Não há como esconder os crimes contra a humanidade cometidos contra a população palestina há mais de 76 anos. Colocar garotas do exército covarde e carniceiro de Israel fazendo dancinhas sensuais de Tiktok não está sendo suficiente, apresentar o trânsito de Tel Aviv e as praias com banhistas também não. Não há mais como mostrar imagens de Israel como se fosse uma nação comum, normalizando sua existência no conjunto das nações e esquecendo que este país está fundado sobre o supremacismo, o racismo institucional, o apartheid e a brutalidade aplicada sobre a população original, que habita a Palestina há milênios. Israel é hoje o que sempre foi: uma colônia europeia recheada de polacos, americanos e russos que se fingem semitas e desprezam os habitantes originais da terra.

Há alguns anos, Miriam Adelson, a viúva de Sheldon Adelson – o bilionário americano que convenceu Trump a mudar a embaixada americana para Jerusalém – fez um poderoso discurso para jovens judeus sobre a função de cada um na proteção de Israel. “Vocês são nossos soldados no exterior“, disse ela. No filme “Israelismo” fica muito claro como os jovens judeus – em especial nos Estados Unidos – sofrem uma poderosa lavagem cerebral para produzir a confusão entre judaísmo – uma religião milenar – e a construção de uma identidade nacional, através da colonização de Israel e às custas da autonomia dos palestinos que ocupam aquelas terras desde tempos imemoriais. O método classicamente usado para isso é através da propaganda, usada de forma violenta, intensa, que inunda todas as plataformas da internet assim como no passado ocupava o cinema, as séries e a literatura. “Hasbara” significa “explicação” em hebraico, mas este termo se tornou conhecido no mundo inteiro para descrever os youtubers pagos pelo governo de Israel para disseminar propaganda massiva com o objetivo de moldar as mentes do ocidente. Com isso se deseja criar defensores da colonização da Palestina pelos imigrantes judeus que chegaram lá desde o início do século XX. Desde Hollywood até a literatura, passando pela mídia brasileira, os formadores de opinião e os youtubers são basicamente comprados para oferecer uma visão positiva do Estado terrorista de Israel.

Diferente de outras campanhas de desinformação estrangeiras, Hasbara não é uma campanha secreta de desinformação. Não pode ser atribuída a uma única pessoa ou organização; ao contrário, é parte integrante do próprio pró-Israelismo. As pessoas que a promovem, desde ministros do governo até mães americanas, são crentes genuínos na causa. Eles veem a demonstração da moralidade do caso de Israel como uma forma de travar a guerra pela opinião pública.

No entanto, não é mais possível esconder a realidade brutal da ocupação e a perversidade dos líderes racistas de Israel. Num tempo de transmissão instantânea de informações, é impossível esconder o horror do nazisionismo do Estado terrorista de Israel. As imagens são claras, definitivas e insofismáveis. Mentir, como sempre fizeram, não está mais funcionando. A opinião pública está se tornando diariamente mais consciente da barbárie produzida pelo colonialismo na região. Mesmo os judeus americanos começam a abandonar Israel, que hoje é o mais importante foco de antissemitismo no mundo. Talvez, não fosse pela existência desse enclave ocidental no mundo árabe, e o preconceito com as comunidades judaicas seria rapidamente extinto. A propaganda sionista está naufragando diante das imagens de Gaza destruída, das crianças mortas, dos adolescentes estudando nas ruínas de suas escolas e dos jovem queimados vivos pela bombas racistas de Israel. Chega. O planeta não aguenta mais Israel e o supremacismo abjeto e nefasto do seu povo. Veja mais sobre o tema aqui. Deste texto destaco:

1- O judaísmo não pode ser separado do projeto sionista, e questionar ou criticar Israel ou o projeto sionista é realmente uma tentativa de negar aos judeus seu direito à autodeterminação, o que é discriminatório. Este é o argumento da Definição de Antissemitismo da IHRA, que foi adotada por 43 países.
2- Israel, como o único “estado judeu”, é mantido em um “padrão duplo” e é “escolhido” para críticas na mídia e no público de uma forma que países muito menos “democráticos” ou “civilizados” não são. Este é o argumento “por que o silêncio sobre a Síria?”.
3- Os palestinos são responsáveis por sua própria opressão porque “eles” não querem a paz – que Israel “não tem parceiro para a paz”. Isso geralmente anda de mãos dadas com o argumento de que “eles educam seus filhos para odiar os judeus” ou que “o Hamas usa os palestinos como escudos humanos”, que retrata os palestinos como um outro desumanizado que “só pode entender a linguagem da força”.
4- A história judaica é definida pela perseguição, e um Israel forte é a única maneira de evitar outro Holocausto. Portanto, Israel tem de alguma forma o direito de (ironicamente, dada a afirmação acima) estar acima do escrutínio. Os judeus, como vítimas de um genocídio, são ontologicamente incapazes de serem os agressores e qualquer afirmação em contrário é apenas “libelo de sangue”. Uma versão desse argumento foi feita recentemente por Aharon Barak, um juiz ad-hoc israelense da Corte Internacional de Justiça, quando acusou o tribunal de “imputar o crime de Caim a Abel” por assumir o caso do genocídio israelense em Gaza.

No que diz respeito às táticas, os hasbaristas raramente se envolverão ou mesmo saberão como refutar os contra-argumentos, provavelmente porque não foram ensinados a sequer considerá-los. As alegações de “apartheid” ou “genocídio” são rapidamente descartadas dizendo que se trata de argumento antissemita e que sequer podem ser consideradas.

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Islamofobia

Resolvi escrever sobre o tema porque vejo o trabalho intenso das identitárias atacando o Irã e fazendo o serviço sujo do imperialismo, o que vem ocorrendo com muita frequência na Internet. Para isso usam fotos retiradas de contexto para disseminar falsidades contra o islamismo, tratando-o como uma “religião do mal”, selvagem, brutal e ofensiva às mulheres. Fazem isso agora, ora atacando árabes, ora ofendendo os persas. Aliás, para estas ativistas, é tudo a mesma coisa.

A foto de cima foi postada em vários sites dizendo se tratar de casamentos em grupo de crianças no Irã. Quem postou foi uma mulher que se diz de esquerda, afirmando que estes países são criminosos e protegem a pedofilia. Quando analisamos a foto e buscamos sua origem (por busca reversa) percebemos que não é no Irã, mas em Gaza e sequer é recente: é uma foto de 2009. E não são noivas na imagem, mas “damas de honra”, um costume milenar que também ocorre no ocidente. São meninas vestidas com o mesmo estilo das noivas para simbolizar a função precípua das mulheres – do presente e do futuro – como guardiãs da vida.

Por certo que esta visão da mulher na sociedade pode ser questionada. Nada nos impede de analisar criticamente costumes sedimentados. Cerimônias, costumes e mitos são transitórios nas culturas; eles refletem os valores sociais e os disseminam. A própria cerimônia de casamento é um reforço dos valores patriarcais, uma celebração da mulher como elemento central da sociedade. No ritual do casamento ela é o centro das atenções e das homenagens, sendo o marido sempre um personagem secundário. Entretanto, ali se estabelece um compromisso deste com aquela, o que forma a base do patriarcado.

Hoje os casamentos são bem diferentes daqueles do início do século passado e antes. Os casais são muito mais velhos, a cerimônia mais curta, a pergunta infame “se alguém souber de algo…” desapareceu e os vestidos são muito mais diversificados. Essas diferenças refletem a mudança de valores: a virgindade não é mais tabu, a submissão da mulher não é explícita, os casais tem múltiplas obrigações, os compromissos e responsabilidades são mais bem divididos, etc.

Todo mundo tem uma antepassada que pariu antes dos 15 anos. Para populações envolvidas em mortes precoces, pestes, guerras e fome não havia como esperar muito; este era um imperativo social, e assim o foi por milênios. O adequado entendimento dos significados e importância da infância nos mostrou que adentrar na maternidade com tão pouca idade era um prejuízo terrível e irrecuperável, em especial para as meninas. Com o tempo fomos abolindo essa prática, até os dias de hoje onde este costume se tornou proibido e até criminalizado.

Os países árabes e os persas também tem essa consciência, apesar de muito dos valores patriarcais mais ultrapassados ainda existirem por lá. Hoje não há como defender a prática de casamentos que envolvem menores de idade, e essa prática precisa ser combatida no mundo todo através da conscientização e da educação. Entretanto, o número de casos de gestação na adolescência no Brasil e nos Estados Unidos (e em todo o ocidente) mostra que este não é um problema exclusivo do Oriente e da Ásia. Nos Estados Unidos, como exemplo, 300 mil crianças menores de idade se casaram entre os anos 2000 e 2018, a maioria delas consistindo de meninas menores de idade casando com homens adultos.

De acordo com a organização Girls not Brides, mais de 2,2 milhões de menores de idade são casadas no Brasil ou vivem numa união estável – cerca de 36% da população feminina brasileira menor de 18 anos. O Brasil é o quinto país do mundo em números absolutos de casamento infantil. Na América Latina, o México fica em segundo lugar, com 1,42 milhão de meninas menores de 18 anos casadas ou vivendo em união estável. Essa situação atinge 26% da população feminina mexicana menor de idade.” (veja mais aqui)

A imagem da festa em Gaza mostra apenas uma cerimônia com meninas fazendo o papel de acompanhantes das noivas, mas o identitarismo busca nesta imagem tratar o Oriente como um lugar onde o abuso é exaltado. Essas imagens são maldosas e oportunistas e seriam tão mentirosas quanto as imagens aqui ao lado, se fossem apresentadas no Irã como o “casamento de crianças no Brasil”, sem apresentar o contexto da cerimônia, onde as crianças ocidentais são apenas “aias” e estão fazendo o mesmo papel das meninas em Gaza. Sobre a foto na Palestina, resta a explicação de quem organizou o casamento coletivo:

“Ahmed Jarbour, o oficial do Hamas em Gaza responsável pela realização da atividade, disse à WND que a garota mais nova a se casar na cerimônia tinha 16 anos. Disse também que a maioria das noivas eram maiores de 18 anos de idade. Jarbour, assim como dois outros oficiais de alto escalão contatados pela WND, se sentiu ofendido pela sugestão de que o Hamas estava financiando o casamento de crianças. Ele explicou que as menores vistas faziam parte da família do noivo ou da noiva. Ele disse que se trata de uma tradição as menores se vestirem de vestidos semelhantes aos das noivas. Disse que as meninas que aparecem no vídeo descendo um corredor com os noivos são membros da família do noivo ou da noiva. Em múltiplas ligações realizadas para os palestinos que participaram do casamento os mesmos afirmaram que as garotinhas não eram elas mesmas as noivas. O Hamas, entretanto, celebrou o casamento como uma vitória. “Nós estamos dizendo ao mundo e à América que eles não podem nos negar a alegria e a felicidade”, Mahmoud al-Zahar, Chefe do Hamas em Gaza, disse aos noivos no evento.”

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Sionismo não é judaísmo

Nem todo judeu é sionista e a maioria dos sionistas sequer é composta por judeus; são cristãos sionistas, como Biden ou os bispos Malafaia e Edir Macedo, pragas surgidas respectivamente pelo israelismo da política americana ou pelo neopentecostalismo tupiniquim, que lucra milhões com suas viagens turísticas à Terra Santa. Portanto, qualquer confusão entre estes termos é oportunismo, serve como manobra diversionista, cujo único objetivo é evitar que apontemos os horrores da aventura colonial racista no Oriente Médio. Para qualquer sujeito intelectualmente honesto, não é difícil entender que atacar o nazismo não significa ser antialemão, assim como criticar o retrocesso civilizatório do bolsonarismo não é o mesmo que ser antibrasileiro. Da mesma forma, criticar a inquisição da idade média não é o mesmo do que atacar Cristo ou sua doutrina.

Passei anos sendo perseguido por sionistas da aldeia que acusavam minhas críticas veementes ao apartheid de Israel como sendo “racismo”, ataques injustificados aos judeus ou ações antissemitas. Muitas dessas pessoas me xingaram e usaram de violência verbal pelas minhas palavras duras, em especial durante e após as “operações especiais” realizadas em Gaza e nos territórios ocupados da Cisjordânia, que matavam centenas de crianças e mulheres, números que agora chegam aos milhares. Nunca me intimidei e desafiei aqueles que me contestavam para que respondessem perguntas simples sobre a vida em Gaza e na Cisjordânia, as quais demonstram sem sombra de dúvida a brutalidade da ocupação.

Para quem acompanha este debate há décadas, é simples de ver que a defesa de Israel é sempre recheada de mentiras. Desde uma terra sem povo para um povo sem terra até as crianças decepadas, estuprosou não atiramos em civis, as mentiras são inexoravelmente imbricadas na narrativa sionista. São falsidades repetidas à exaustão, auxiliadas pela parcialidade criminosa das grandes plataformas digitais (Facebook, Instagram, Google) e a imprensa corporativa, toda ela nas mãos dos sionistas e dos senhores da guerra, que lucram bilhões quanto mais mortes aparecem nas capas dos jornais.

Já aqueles que defendem o povo palestino são, via de regra, pessoas que, como eu, acordaram para a realidade da geopolítica do Oriente Médio há muitos anos, o que só ocorre quando ousamos investigar o que existe por detrás das capas de enganação que são despejadas pelos telejornais há décadas. Nossas posições são essencialmente humanistas, pois que expõem a barbárie da ocupação, as mortes, a limpeza étnica, a indignidade do tratamento, os abusos, a prisão de crianças, as detenções administrativas que duram anos, as mortes e os processos kafkianos de violência jurídica. Por outro lado, o “whitewashing” (prática de selecionar informações, enfatizando ou omitindo, a fim de melhorar a imagem de uma pessoa ou de uma instituição frente à opinião pública) sempre foi a forma de apresentar Israel ao ocidente, e por isso era chamado de “a villa in the jungle” e, com o mesmo cinismo característico, difundem ideia de serem a única democracia na região – uma mentira asquerosa – e usam a questão identitária (em especial de mulheres e gays) para vender a imagem de uma civilização justa, europeia, branca e semelhante à nossa. Por seu turno, todo e qualquer grupo que lutasse pela libertação do povo palestino era imediatamente rotulado de “terrorista”, da mesma forma como os presidentes anti-imperialistas de qualquer nação são automaticamente chamados de “ditadores”, inobstante serem democráticas as eleições que os tenham levado ao poder.

Cabe a nós não retroceder na exposição, cada vez mais intensa, das contradições do sionismo. Não é mais possível aceitar o colonialismo genocida a controlar com mão de ferro a Palestina, e cada um de nós é responsável por espalhar a necessidade de democracia na região. E “cada um de nós” inclui os nobres irmãos judeus que na Palestina, no Oriente, na Oceania, na América e na Europa se levantam contra o sionismo e seu modelo supremacista e excludente. Judeus estarão lado a lado com os palestinos na luta pela liberdade, do rio ao mar.

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Imprensa e Guerra

Se é possível defender cinicamente a morte de crianças, velhos e mulheres e o bombardeio indiscriminado de zonas residenciais, de hospitais, de ambulâncias e de campos de refugiados, então é possível aceitar qualquer coisa em nome das ideias fascistas e supremacistas que comandam Israel. Se a imprensa contemporânea consegue justificar este tipo de barbárie fica fácil compreender como foi possível, há menos de 100 anos, encher vagões de trem com judeus, ciganos e comunistas e colocar em prática a “solução final” . Quando vejo jornalistas levando adiante a tese de que os “terroristas” (leia-se, a Resistência à ocupação bárbara, cruel e desumana) se escondem nos hospitais e, por isso, torna-se justo bombardeá-los, matando pacientes que lá procuram ajuda e funcionários que heroicamente se dedicam a ajudá-los, um pouco da minha fé na verdade se apaga.

Quando dizem que um telefonema com poucos minutos de antecedência por parte das autoridades militares israelenses avisando que um bairro inteiro virá abaixo é prova de “respeito à população civil”, isso me faz acreditar que a imprensa burguesa não tem pudor algum em contar qualquer mentira, torturando os fatos até que as ações mais desumanas e covardes pareçam justas. Quando o próprio governo sionista divulga mentiras como “corpos carbonizados” falsos, bebês decapitados inexistentes, estupros de mentira, fica claro que deixaram a verdade de lado há muito tempo, mas isso não significa que a imprensa deveria seguir suas falsidades. Mas como sempre, a imprensa vendida – verdadeiro lixo corporativo servindo aos interesses do imperialismo – não vai se desculpar e sequer se retratar pela torrente de imposturas que despejaram nas últimas semanas.

A verdade que resta de mais esse fiasco é de que as grandes corporações jornalísticas são a verdadeira e mais perigosa fonte de fake news. Torna-se impossível acreditar em qualquer relatório, qualquer acusação e todo tipo de comunicado; tudo que emerge das grandes empresas jornalísticas é falso, descontextualizado, inverídico, distorcido e não pode ser aceito como verdadeiro. Os crimes de Israel são tornados públicos apenas pela franja mais ética do jornalismo independente; já a imprensa corporativa – ou seja, aquela onde a notícia pode ser comprada – morreu.

Sim, nas guerras – e esta é a guerra do imperialismo contra o mundo inteiro – a primeira vítima é a verdade. Todavia, sabemos que estamos submetidos a um embate de narrativas conflitantes, onde de um lado temos um povo esmagado pela opressão que já soma mais de 7 décadas, e do outro uma potência nuclear, comandada por fascistas, levando a cabo um plano de genocídio e limpeza étnica de proporções ainda não vistas neste século e aliado a uma gigantesca máquina de informação e imprensa , a qual tenta nos convencer que o massacre de crianças, a destruição de um país, a expulsão de milhões de habitantes dos seus lares é algo justo, ético e certo. Para os sionistas a única saída permitida aos palestinos é desistir ou morrer, mas sabemos que este povo não vai desistir. A resistência popular no mundo inteiro está aumentando e, apesar dos grandes conglomerados imperialistas de comunicação, a guerra da opinião pública está sendo vencida pelos palestinos.

Fosse há 80 anos e esta mesma imprensa burguesa estaria defendendo as câmaras de gás; fosse há dois mil anos e estaria achando correta a crucificação de alguém por suas ideias de liberdade. Alguns de nós estariam aplaudindo a barbárie e a injustiça; muitos estariam convenientemente lavando as mãos. Entretanto, tão logo as contradições ficassem evidentes, outros entenderiam que a luta pela libertação de um povo demanda luta, resiliência e coragem. Esses, em qualquer momento da história, são os imprescindíveis.

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Hipocrisia

Existe uma hipocrisia humanamente construída sobre o respeito à diferença, que faz os inimigos mortais se cumprimentaram antes de uma disputa, ou que esconde algumas preferências para que essa distância de perspectivas não magoe quem você ama. Eu acredito que o “culto à verdade” tão exaltado em nossa cultura ocidental é a capa mais fulgurante e socialmente exaltada da crueldade humana. Dizer a “verdade” é uma das formas mais perversas de machucar e até destruir. Eu me afasto de gente “direta e sincera”; prefiro a mentira doce, o “vai passar” diante do diagnóstico terminal inexorável ou o “tudo vai dar certo” quando a tragédia pinta de negro o horizonte próximo. Nesse embate peço apenas que não me venham com verdades frias; prefiro o calor acolhedor das mentiras amorosas.

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam
Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam

(Cazuza)

Ser verdadeiro e honesto em todas as circunstâncias da vida é algo impossível. Existe um contrato social informal, não escrito, de que existem verdades que devem ser escondidas, exatamente porque se acredita que a verdade deve ser usada em situações bem definidas. Ela só deve ser aplicada quando, de alguma forma, pode ser de auxílio para o mundo. Dissimular é essencial para a vida em sociedade; é algo que está distante do controle racional. Existem coisas que não podemos controlar com a razão, porque sua origem não é racional. Paixão clubística é um bom exemplo: torcer pelo seu clube e “secar” o coirmão são ações inevitáveis para o torcedor.

Isso só vai acontecer quando eu superar essa vida de paixões. Enquanto a paixão for minha guia serei dela, também, prisioneiro.

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Epidemia

É importante dizer que a epidemia de falsas acusações que assola o mundo todo – de Amber Heard às assediadas de Taubaté passando pelo golpe no jogador Neymar e pela menina no clube chique da facistolândia – é um fenômeno primo irmão da cultura do cancelamento. A lógica utilizada pelas supostas vítimas é simples: “Vamos atacar sua fé pública, sua honra, destroçar a sua respeitabilidade. E vamos fazê-lo do jeito que a gente sabe que dura a vida toda. Vamos chamar nosso antigo amigo de abusador, o pai dos nossos filhos de estuprador, nosso chefe de assediador. Não é preciso provar nada, basta jogar o nome deles na lama que as redes sociais fazem o resto. Quem ousaria desconfiar das vítimas?”

Estes são apenas exemplos de casos famosos, mas vai saber o que acontece nas varas de família pelo mundo afora como estratégia de vingança e de destruição moral. Quantas vítimas existem no mundo que sofreram por acusações falsas, destruindo toda a sua credibilidade? Quantos inocentes foram jogados na fogueira com a mesma crueldade que se jogavam bruxas nas fogueiras da inquisição? Quantas mulheres realmente vitimadas por seus parceiros(as) agora têm suas versões questionadas por estes casos ruidosos de acusações mentirosas e oportunistas?

O drama dessas mentiras socialmente apoiadas por gente que supostamente defende a causa (mas na verdade apenas descarregam nestes casos seus dramas pessoais), é que o problema do assédio e do estupro REALMENTE existe e temos visto seu crescimento nos últimos anos de dominância fascista, o qual deve ser combatido com toda a seriedade pelos governos e pela mídia. Por certo que a pandemia e o “lockdown” realizado têm influência no aumento dos conflitos domésticos, assim como a agudização da situação econômica das famílias durante a recessão mundial do Covid. Porém, para além dessa situação existe uma agressividade maior por parte das organizações fascistas, que combatem de forma aberta qualquer avanço contra conquistas femininas.

Entretanto, a ação dos ativistas que dão suporte às mentiras usadas contra homens com o argumento sexista de que um gênero (e nunca o outro) “jamais mentiria” acaba trazendo um total descrédito às queixas legítimas que aparecem – e que, infelizmente, ainda vão aparecer por muito tempo. As propostas de novas leis punitivistas e a criação de novos tipos legais têm sempre resultados pífios ou nulos. Na realidade, nunca se discutem as razões profundas das mazelas sociais como o tráfico de drogas e a violência doméstica, porque não parece de bom tom colocar o dedo na ferida do sistema desigual e cruel que estrutura nossa sociedade. Neste contexto vai aparecer o trabalho nefasto de algumas organizações identitárias que, para ressaltar seu corporativismo de gênero, encampam acusações frívolas ou mentirosas que acabam destruindo pessoas muitas vezes inocentes.

Pessoas que mentem por vingança ou oportunismo merecem punição severa, talvez recebendo uma pena tão violenta quanto o pretenso crime que levianamente inventaram. Para acabar de vez com a violência doméstica é preciso encontrar onde o mal nasce e destruir sua semente, sem perder tempo e recursos com visões moralistas sobre homens “bons” e homens “maus”, uma perspectiva que na verdade apenas encobre a perversidade do capitalismo e da sociedade de classes.

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O Império dos Sentidos

Em 1976, quando eu ainda era adolescente, foi lançado com grande furor um filme chamado “O Império dos Sentidos” do diretor japonês Nagisa Oshima. No enredo uma ex-prostituta se envolve num caso tórrido, obsessivo e altamente erótico com seu patrão, numa história que envolve possessão, sexo e morte. O filme tinha como atrativo inédito uma cena de sexo explícito que ficou famosa, apesar do filme ter seus méritos para além desta cena, e ser um drama tenso, pesado e com final trágico. Claro, eu fui assistir com a mesma cara de pau de quem comprava revista Playboy e depois dizia que era “pelas entrevistas”. Sim, eu fui ver o filme porque sempre fui “um amante do cinema japonês”…

Outra curiosidade era que, quando as pessoas falavam que no filme havia essa cena de sexo explícito, logo emendavam a frase dizendo que os protagonistas eram “casados na vida real”, o que oferecia uma curiosa “liberação” para esta exposição pública do sexo entre eles. Tipo, “ahh, se eles são casados, tudo bem”. Parecia que o fato de estarem legalmente unidos através dos sagrados laços do matrimônio retirava da cena uma grande parcela de pecado, e aposto que essa desculpa foi uma das razões para permitir que este filme pudesse ser exibido em plena ditadura militar.

Na verdade, eu lembrei do filme por outras razões. Foi o nome da película que me fez imaginar uma interpretação alternativa. Digo isso porque hoje vivemos, de uma certa forma, no “Império dos Sentidos“, mas não nos “sentidos” com o significado das percepções que captamos do exterior e que nos impressionam, como o tato, o paladar, a visão, etc. Não, eu me refiro aos “Sentidos” com a conotação de “magoados” ou “ofendidos“.

Vivemos, assim, no “Império dos Magoados” onde os sentimentos alheios valem mais do que a própria verdade. Qualquer palavra, expressão, dependendo de sua origem (e não do seu conteúdo), pode ofender pessoas, grupos, etc. As piadas e os gracejos não podem mais se arriscar a tocar as feridas de todos os “(re)sentidos”, pois estes podem se machucar ao ouvi-las. Com isso a cultura fica paralisada, imóvel, temendo os cancelamentos inexoráveis que podem partir de qualquer pessoa e coletivo que se julgam ofendidos. Os comediantes, em especial, vivem sob vigilância extrema, e vivemos hoje em um tempo em que o humor perdeu boa parte da sua potência transformadora. Humor que não rompe barreiras e que não agride conceitos recalcitrantes é entretenimento anestesiante. Nesse Império os grupos historicamente oprimidos se tornaram os mais poderosos na cultura, ditando de forma autoritária o que pode e o que não pode ser dito. Como afirma Zizek, “ser branco, cis, hetero e homem nos tempos atuais tornou-se um crime para o qual não há mais perdão“.

Não nego que houve avanços em algumas áreas – em especial nas agressões que eram travestidas de piada – mas as perdas também são inegáveis. Por isso uma reação evidente já pode ser vista no horizonte. O “Império dos Sentidos” começa lentamente a ver sua força diminuir diante da reação de pessoas e grupos que não acreditam mais na capacidade da censura, dos silenciamentos e dos cancelamentos em oferecer solução para as desigualdades ou para acabar com o preconceito. Não se muda a cultura proibindo e punindo, mas educando e transformando as relações de poder.

A ideia de que os sentimentos feridos devem ser considerados superiores à justiça, à realidade e à verdade é um conceito que precisa acabar. O modelo de “maternagem” condena os oprimidos à uma posição inferior e reativa na sociedade, mas o que eles precisam é de protagonismo e poder de decisão, não de proteção infinita.

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O Pecado dos Incautos

As paixões nos fazem ver o grande onde habita a miudeza, e pequenez onde existe portentosa grandeza. Existe mentira a preencher a distância entre a retina e a realidade que se posta à frente. Confiar nos sentidos e nas emoções é o pecado dos incautos.

Teophrásio de Aquila, “Moralis vita angelorum”, Ed. Parnaso, pág. 135

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