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Justiceiros

Qual a religião você acha mais próxima de Deus? Aquela conduzida por pessoas “nobres e elevadas”, mas cujo caráter inexorável condena os pecadores ao fogo eterno, sem perdão, sem chance de recuperação e sem alívio para suas culpas? Ou você acredita na outra, comandada por escroques e bandidos fuleiros, fraudadores e pilantras, mas que abraça os condenados e lhes oferece a redenção pelo perdão e a chance de reconstruir suas vidas, inobstante o crime cometido?

Se a esquerda não conseguir compreender a sedução das religiões evangélicas no imaginário popular, jamais conseguirá ser um movimento verdadeiramente de massas. Quando vejo a luta feroz de membros da esquerda para manter na cadeia senhoras sexagenárias, jovens cujo crime foi bagunçar a sala dos ministros e de pedir um governo mais justo, e homens que quebraram objetos e levantaram a bandeira nacional, eu me pergunto se essa é a real postura da esquerda. Não estou me referindo aos militares golpistas, aos que planejaram o assassinato de autoridades ou aos financiadores, burgueses em suas fazendas e escritórios, que tentaram dar um golpe à direita. Falo do povão, das pessoas cansadas do capitalismo que expolia suas forças e seus ganhos, mas confundem isso com as questões morais – que são a pauta da direita.

O bordão “sem anistia” virou o mantra desta esquerda raivosa, sem entender que este grito de guerra vai acabar caindo sobre nossas cabeças, ao dobrarmos a esquina. E não apenas na política: setores identitários da esquerda condenam um treinador de futebol que cometeu um erro grave há 40 anos, não permitindo que ele tenha paz, atacando-o de forma violenta e incansável e negando a ele o direito a exercer sua profissão com dignidade. Para esses é fundamental atacar o sujeito, não seu crime!!! Admitem, para estes, a prisão perpétua, sem chance de recuperação. Enquanto isso, os evangélicos, mesmo que muitas vezes comandados pelos piores escroques, os mais contumazes pilantras e os mais abjetos mercadores da fé, abraçam mesmo os criminosos mais odiados – como o ator que matou a atriz – sem fazer perguntas, apenas pedindo o arrependimento e o compromisso de uma vida de regeneração.

O sujeito comum procuraria se abrigar naqueles que perdoam ou naqueles que condenam com ferocidade? Será que essa violência da esquerda, seu caráter inexorável, raivoso e punitivista, que quer colocar a todos na cadeia e que aplaude as ações abusivas de ministros do supremo, não está afastando o povo, o cidadão comum, o pecador, o sujeito falho e imperfeito, e jogando-os nos braços das religiões? Que projeto de pais é esse baseado na revolta e no ressentimento? Que esquerda é essa, que tanto quer sangue e vingança?

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Memórias do Homem de Vidro – 17

O Sorriso da Pecadora

E aí encaminharam a mulher em direção a um grande muro de pedra. Seu corpo seminu e o cabelo raspado contrastavam com a dureza da rocha por detrás. Era jovem e, apesar dos castigos, mantinha ainda uma formosura de traços. Seus olhos eram fundos, como fundas era sua dor e sua angústia. As mãos trêmulas seguravam o resto que sobrara de suas vestes, destapando os pés magros e su­jos. Seu pranto era seco; seu olhar perdia-se por detrás da multidão que ora gri­tava. Parecia procurar na distância infinita algo ou alguém que de antemão sabia que não viria. Seu olhar vítreo vagava por sobre as cabeças, desatento aos deta­lhes. Finalmente, voltou seu rosto para baixo e seus joelhos dobraram-se pela exaustão.

— Vadia! — disse alguém, imerso na confusão de vozes.

— Vagabunda! — gritaram outros, e essas palavras ricochetearam na pedra bruta, golpeando-lhe nas costas. A dor das sílabas ferozes era maior do que as dores que seu corpo esquálido já suportara.

A adúltera esperava o seu final. A espuma de ódio no canto dos lábios dos que ali se perfilavam com pedras nas mãos mostrava-lhe que nada poderia impedi-los. Seu fim estava próximo. A leitura da sentença fora breve, assim como breves foram seus pecados. A mão dura da lei repousaria sobre seu corpo e seu espírito. Assim estava escrito, assim se cumpriria. As mãos carregadas de pedras se ergueram para o alto, à espera do aviso. Um silêncio. A pedra dura, o corpo vergado. A cabeça baixa. O pranto surdo. Ninguém falou, ninguém respirou. O mundo, entre um segundo e outro, parou para assistir. À espera do sinal esperado por todas as raivas; o aviso para que as pedras se lançassem ao ar, cruzassem o espaço e esmagassem o corpo frágil da pobre mulher. Ela mantinha seu olhar parado, sabendo que nenhuma palavra seria sufi­ciente, nenhum gesto ajudaria. Seu destino estava determinado pela incompreen­são e pelo ódio despertado. Ninguém poderia salvá-la. Aguardava com resignação silente o seu momento derradeiro.

Sua cabeça baixa ergueu-se pela última vez. Seu olhar perdido fixou-se em um horizonte que jazia próximo de onde as coisas começam e terminam. O corpo aprumou-se e os lábios moveram-se sutilmente. Naquele momento de espera, na­quele fragmento de instante antes da tempestade de rochas, ela fechou os olhos e…

Sorriu…

Sorriu a dor de perder a vida. Sorriu a dor de morrer por ter amado. Sorriu a dor do prazer. Sorriu a dor da liberdade. Sorriu o adeus aos seus. Sorriu porque lembrou daquele breve momento em que amou de verdade, transgrediu e gozou. Sorriu o riso dos loucos e dos libertários, o riso da graça e da desgraça. Seu sorriso era o sinal. Um sinal da culpa; uma confissão. Sorriu também pelos filhos que não tivera e pelos que sempre quis acalentar. Sorriu pelo leite que não verteu de seus belos seios, e das noites que não dormiria aconchegando seus filhos. Sorriu pelos homens, bons e maus, a quem seu corpo ofereceu repouso e sossego. Sorriu por tantos que auxiliara entregando seu carinho e seu calor. Naquele exato instante, ela se libertou. Olhou para a multidão com as pedras al­çadas ao ar e pôde entender com clareza o significado de sua dor. Não mais pa­deceria por desconhecer o significado e o sentido no seu sofrer. Era seu momento de ascensão. Liberta, já podia desembaraçar-se do fardo de seu corpo cansado.

Mas seu sorriso foi também o sinal que liberou a torrente de ódio. As pedras ras­garam o ar, assobiando uma música feroz. Uma chuva de cascalho e rancor. No ar, o cheiro do sangue misturava-se lentamente com a poeira. A multidão aos poucos se aproximava da mulher, para não desperdiçarem nenhuma rocha lan­çada. A carne dilacerada. O corpo aos poucos se desfazendo. Terra, lágrimas, sangue. Mas o alvo já nem era mais seu corpo. Aqueles que estavam presentes procura­vam aniquilar aquele sorriso, que se mantinha vivo e instigante. Por mais que as pedras procurassem atingi-lo, ele continuava ali, incólume. Saiu do rosto da pobre mulher, volitando por entre a multidão, e fixou-se nas retinas de cada um. As pe­dras já não mais o alcançavam.

Os executores ainda gritavam excitados, vociferavam, levantavam as mãos para o alto. Da pobre pecadora já não se ouvia a respiração. Nenhum movimento se per­cebia em seu corpo. A torrente de pedras e gritos parou depois de alguns minutos. Aproximaram-se do corpo imóvel. Um silêncio machucou os ouvidos, para obser­var se a vida ainda habitava naquele ser. Nada. O rosto disforme, as carnes abertas. O brilho da espada do soldado reluziu no peito. Seus seios à mostra ainda tinham o viço e a cor de outrora. Seu busto nada sofreu, como que poupado por sua beleza. Consumada a execução, seu corpo morto agora era carregado para longe. Os presentes aos poucos iam se afastando. As pessoas, de cabeça baixa, tenta­vam tirar de sua lembrança aquele sorriso, aquele enigma. O que a fez sorrir? Por que alguém arriscaria tudo, até a própria vida por um momento.

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Max deixou o pedaço manuscrito de papel sobre a mesa enquanto nos olhava, aguardando os comentários. Nadine havia avisado que seriam nossos últimos momentos juntos naquele dia, porque a noite já havia colocado seu negro cobertor sobre nossas cabeças. Max insistira em que déssemos nossa opinião sobre o texto que guardara para nos apresentar. Disse-nos que este seria um capítulo do livro que estava a escrever. Precisava da opinião dos amigos.

Nadine olhou-o, ainda repousando a mão sobre o queixo, e lhe disse:

— Querido colega… Entendo a dramaticidade do que você descreveu. Cheguei a sentir na pele a dor de morrer assim. Penso que todos levamos conosco um pouco da memória planetária, que faz com que tenhamos impressas em nossos corpos e mentes as sensações que nossos antepassados vivenciaram. Acho que a história carrega uma metáfora poderosa. Ela trata da possibilidade heroica de transgre­dirmos os nossos limites em nome de algo superior e nobre. No caso da adúltera pecadora, o amor era esse limite. Ela sabia que “amar/pecar” seria entendido como uma agressão ao modelo patriarcal estabelecido, e que mesmo diante da possibilidade de morrer ela preferiu arriscar, em nome de algo que ela entendia como sublime e valioso.

Resolvi também comentar o texto de Max. Sabia que era hora de ir, pois o escuro já dificultava nossa visão dos letreiros da rua em frente. O dia foi de intensas emo­ções de reencontro, e penso que Max deixara a leitura de seu texto para o fim porque queria nossa opinião sobre seu projeto de escrever um livro.

— Acho que podemos inserir sua metáfora em muitas circunstâncias banais e cor­riqueiras de nossa vida. A pecadora pode ser qualquer um de nós defrontando-se com as nossas paixões. O próprio nascimento humano pode ser visto nesse con­texto, se pudermos entendê-lo como um processo de profunda capacidade trans­formativa para uma mulher. E o nascimento humano carrega essa potencialidade, desde que se entenda a possibilidade libertária e empoderadora que ele traz con­sigo. Para uma mulher ser protagonista de seu próprio parto, ela precisa desafiar os limites impostos por uma sociedade que se assenta sobre valores outros, e que não admite que esses sejam subvertidos. A pecadora, em uma visão humanista, é aquela mulher que se decidiu por aceitar e incorporar por inteiro a tarefa de ser mãe, com tudo o que isso possa significar. É apoderar-se de um evento que sem­pre foi seu, mas que a sociedade tecnocrática acabou afastando dela. Esse res­gate é inegavelmente um gerador de conflito, e por isso muitas são vistas como “radicais”, “egoístas” ou outros adjetivos negativos que a sociedade utiliza para quem tenta desobedecer a seus ditames.

Nadine sorriu para mim, e Max terminou sua cerveja.

— “Pecadores”, entretanto, são também os médicos — continuei — que oferecem suporte e atenção a essas mulheres na sua busca por partos mais seguros e em­poderadores. Oferecer seu trabalho, sua profissão e sua face aos ataques de to­dos aqueles que se sentem prejudicados com essa transferência de poder os co­loca igualmente na condição de hereges transgressores. Entregar às mulheres essa força e essa possibilidade de protagonismo é considerado por muitos uma afronta. Muitos não hesitariam e apedrejariam sem nenhuma piedade. Outra me­táfora que me parece criativa é o momento de ascensão. Esse momento está pre­sente em inúmeras tradições religiosas, como a cristã, a budista e outras, e nos fala da possibilidade de alçar um patamar superior de compreensão da vida atra­vés da dor, da provação e do martírio. A pobre pecadora, diante do sofrimento que lhe foi imposto, teve a oportunidade de entender a vida e suas infinitas conexões no momento em que estava se despedindo dela. Essa possibilidade transforma­dora e renovadora está presente em muitos desafios que enfrentamos pela vida, principalmente no nosso contato com a morte. O parto pode ser também enten­dido como um momento de profunda provação, em que os valores humanos são colocados à prova. Nesse complexo rito de passagem, muitas mulheres se “des­cobrem” e ascendem a um estágio superior em suas vidas. Esse talvez seja um dos aspectos mais fascinantes do nascimento humano: seu potencial criativo e transformador.

Max mantivera-se em silêncio. Queria nos mostrar seu ponto, sua preocupação e talvez uma dor. Sabia que uma sociedade tecnocrática como a que vivemos não perdoa as pessoas que oferecem uma visão alternativa ao modelo dominante. “É duro passar a vida remando contra a maré, meu caro”, dizia-me ele. Bem sei disso. A postura contra-hegemônica na área da saúde é vista como algo intimi­dante, e tanto Max quanto eu já havíamos sentido a dureza das pedras lançadas por aqueles que não aceitam desvio dos dogmas fundamentais que sustentam nosso sistema de crenças. Nadine mesmo falava que, apesar de acreditar em muito do que dizíamos, não tinha coragem de assumir uma postura franca em di­reção ao humanismo, exatamente porque não existe um sistema de suporte aos médicos que agem orientados pela medicina baseada em evidências. Ela dizia: “Se você assistir partos normais, corre o risco de ser processado e cair em des­graça. O mesmo não ocorre se você fizer cesarianas, mesmo que tenha resulta­dos muito piores”. Ela temia ser apedrejada, mesmo seguindo normas seguras, superiores e atualizadas.

Impossível não compreender suas razões. Não conseguimos ainda criar um mo­delo que proteja aqueles que buscam o melhor para seus pacientes através de uma abordagem sistemática e científica. Quando problemas inevitáveis ocorrem durante o transcorrer de um parto, somos julgados por nossos pares, que na maio­ria das vezes estão a defender o seu modelo, o seu paradigma, que em geral se assenta exclusivamente na manutenção do poder sobre o nascimento. Sem uma integração entre mídia, entidades médicas, ministério público e judiciário, nunca conseguiremos nos proteger do oportunismo que cerca boa parte dos processos contra obstetras.

Max tinha enorme preocupação com isso, e dizia que apenas um esforço muito grande de toda a sociedade seria capaz de nos livrar do horizonte negro que se aproximava. Nossa taxa de cesarianas ainda era uma das maiores do mundo, as­sim como as taxas de morbi-mortalidade neonatal. A associação entre esses dois medidores de excelência em assistência nunca foi encarada por Max como uma coincidência. O sistema de seguro médico ameaçava entrar no Brasil com sua potencialidade destruidora, a exemplo do que ocorreu com os Estados Unidos, onde a “indústria do erro médico” solapou toda e qualquer possibilidade de modifi­cação das péssimas cifras de atenção materna e neonatal a curto prazo. Apesar de os Estados Unidos terem o maior orçamento de saúde do mundo, não estão entre os 40 países com os menores índices de mortalidade materna. Lá principal­mente, mas também gradualmente no nosso país, médicos trabalham com medo, apavorados e distantes de um envolvimento com seus pacientes. Nada mais afastado do ideal de cumplicidade e auxílio apregoado pela profissão médica.

Max sentia na pele a dor das injustiças. Sabia que trilhar o seu caminho de desa­fios lhe custara um preço demasiado alto. As pedras eram os olhares, as críticas injustas e infundadas, os comentários maldosos na sua ausência, a desconsidera­ção de alguns colegas. Entretanto, percebera também que não havia escolha, porque a estrada pela qual se decidira era de mão única. Diante das pedradas que a estrada da vida lhe ofereceu, seu único recurso era oferecer seu sorriso e sua compreensão.

Olhei meu amigo abraçar-se a Nadine. Era hora de ir. Lá fora a noite nos convi­dava para o repouso. Nadine estava com os olhos úmidos. Abraçava-se a Max como a tentar agarrar um pedaço de seu passado, onde tudo eram esperanças e sonhos. Max sorria e dizia que voltaríamos a visitá-la em breve. Olhei Nadine mais uma vez e tentei descobrir qual dor se escondia por detrás do azul dos seus olhos. Deixei minha curiosidade de lado e abracei minha querida amiga, sentindo seu coração perto do meu.

— Ric — disse ela. — Voltem mais vezes. Temos tanto a conversar, tanto a lem­brar…

Eu também trazia meus olhos mareados, e prometi que voltaríamos a nos ver em breve. Max me aguardava na porta e juntos saímos do hospital. Olhei Nadine mais uma vez e lhe acenei. Ela devolveu o aceno com um sorriso. Max despediu-se de mim na primeira esquina. Abracei meu parceiro e combina­mos mais uma vez reencontrar Nadine e reviver os velhos e bons tempos. Antes de se afastar, ele ainda me falou:

— Você não falou de sua dor para Nadine. Por quê?

Olhei para meu velho amigo e lancei-lhe um sorriso triste, que brotava das feridas profundas que cada um de nós carrega.

— Não gostaria que a tristeza pela injustiça que passei contaminasse nosso reen­contro. Fiquei tão feliz de ver de novo meus velhos companheiros que não queria que nossa conversa fosse dominada pela indignação ou pela mágoa. Nadine é uma doce amiga, não queria que se entristecesse por minha causa.

Max bateu nas minhas costas e segurou fortemente meu ombro.

— Prometa que vai escrever aquele livro. Você não pode sofrer em silêncio. Mui­tos colegas poderão entender o que aconteceu com você. Sua indignação não pode ser silente, pois dessa forma não conseguiremos modificar o modelo ana­crônico e machista que controla a nossa obstetrícia. Escreva, meu amigo; escreva tudo. Prometa.

Balanço a cabeça afirmativamente, prometendo diminuir o peso da injustiça que carregava, descarregando-o nas páginas escritas. Max despede-se de mim na primeira esquina. Abracei meu parceiro mais uma vez. A rua à minha frente está mais escura do que de costume. Os faróis e as buzinas me atrapalham quando revivo mentalmente as cenas do dia. Relembro as piadas e as histórias de Max e não consigo evitar uma risada. Senti um pouco de cansaço e certa sonolência, para logo depois lembrar que ainda havia centenas de e-mails para responder em casa. Meu celular toca uma única vez e recebo o aviso de uma mensagem de texto. Aperto as teclas do aparelho e leio no visor de cristal líquido:

“Patu Saleh, Max.”

Claro, companheiro… Patu Saleh!

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Vidas comuns

Nos meus sonhos eu frequentemente encontro desafetos que passaram na minha vida. Estão lá, em situações banais e corriqueiras, em lugares onde os encontrei durante a vida: salas de conferências, cafés, restaurantes e até no assento próximo ao meu em um avião. Vejo-os de longe, agindo como sempre agiram, conversando com amigos em comum. Apesar do ressentimento que esse encontro onírico comprova, eu jamais brigo ou discuto com eles nestas ocasiões.

Na verdade eu sinto vergonha ao perceber que, quando se analisam os fatos à distância e com alguma isenção, não há real razão para brigar indefinidamente com alguém, por piores que tenham sido os desacertos do passado. Este tipo de rancor apenas demonstra a incapacidade de enxergar o mundo pelos olhos alheios. No sonho minha reação é evitar o contato, e interpreto essa ação como uma forma de não me defrontar com a dura realidade de suas vidas comuns, contraditórias, desimportantes, miseravelmente humanas e tão iguais à minha. 

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Nunca mais

Há muitos anos uma paciente me contou que, algum tempo após se casar, viu seu marido desaparecer por várias horas. Quando confrontado, a explicação que deu de onde estivera não foi muito convincente. Uma amiga sua havia desaparecido na mesma hora, com uma explicação igualmente frágil, e ela imediatamente juntou as histórias. Na sua cabeça, mesmo que ambos negassem, algo havia ocorrido. Ela decretou o fim do seu casamento e assim o fez. Anos mais tarde, quando perguntei a ela o quanto de certeza tinha sobre aquele evento, e se considerava que realmente houve um encontro amoroso, ela me deu uma resposta muito significativa.

–  Não sei e não importa; hoje tenho certeza de que este fato não foi decisivo. O casamento havia terminado meses antes, e eu apenas buscava uma boa desculpa para dar fim àquela relação. Aquele fato – e só agora tenho essa clareza – serviu de forma oportuna para este fim. Mas foram necessários muitos anos para reconhecer essa verdade.

– Por que, então, seu casamento havia acabado? Se é que você sabe….

Ela suspirou e tentou colocar o sentimento em palavras.

–  A admiração se foi. Eu creio que o amor se sustenta por cuidado e admiração. Existe amor quando admiramos algo no outro: coragem, inteligência, beleza física, posição social, etc, algo que nos faz reconhecer uma virtude. Amar também é um compromisso de cuidado. “Quem ama cuida”, sabe? Eu deixei de admirá-lo porque ele não pareceu ter qualquer conexão com meu filho, nosso filho, e isso foi determinante. Sua distância e seu desinteresse mancharam a visão que tinha dele; estas falhas secaram a fonte de admiração que tive por tantos anos. Não houve nenhuma briga, nenhuma voz se levantou, nenhuma raiva; apenas uma pequena vela se apagou em meu coração, deixando tudo escuro.

Colocou as mãos nos joelhos e baixou os olhos para continuar

–  Hoje eu penso naquele fato mal explicado como um alivio; eu finalmente poderia dar corpo a um sentimento etéreo, diáfano, inexplicável e sujetivo. Durante muito tempo eu tive medo de confessar a ele minha infelicidade e receber como resposta um cliché desesperador: “Mas o que eu te fiz? Não te falta nada em casa. Eu nunca levantei a mão e nunca te tratei mal. Diga o que eu fiz!!”. Eu não teria nada para responder, pois não haveria como mostrar a ele o vazio que eu carregava no peito.

Eu achei a historia dela muito pedagógica, e a carreguei por muitos anos. Pensava nela sempre que tentavam me explicar a razão por terem rompido com alguém e fiquei convencido que nossos sentimentos são fugidios, enganosos, traiçoeiros e muitas vezes se escondem por detrás de fatos corriqueiros, pois admitir as reais motivações de nossas ações seria insuportável – ou pelo menos embaraçoso. É difícil admitir que nossas escolhas e desistências são por vezes causadas por egoísmo ou oportunismo, e por isso colocamos acontecimentos banais para carregarem por nós essa culpa.

Por outro lado, estas despedidas são sempre muito tristes. Já tive oportunidade de pensar sobre amigos que estiveram muito próximos e que, subitamente, vi desaparecer qualquer admiração. Nessas ocasiões meu sentimento sequer era de raiva, mas de luto, como a me defrontar com um triste adeus. “Não poderei jamais voltar a ser amigo dessa pessoa, nunca mais”. Sei que algumas histórias se modificam através do perdão, mas também sei que os vasos quebrados não retomam sua forma original. Algumas amizades lamento profundamente terem desaparecido do meu horizonte, mas reconheço que estas perdas são inevitáveis e fazem parte da trilha dolorosa e cheia de percalços que constitui nossas vidas.

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Suzane

Suzane Von Richthofen, pivô de um crime bárbaro ocorrido no início deste século que levou à morte seus pais,  decide voltar à escola aos 40 anos, e está cursando faculdade na Universidade São Francisco, no campus de Bragança Paulista (SP), onde mora com seu marido, um médico da cidade, com quem teve um filho e trocou seu nome para Suzane Louise Magnani Muniz. Também decidiu não comparecer na primeira semana de aulas para não precisar se apresentar e revelar quem é. A notícia causou indignação entre muitos internautas que, nas redes sociais, afirmam que se trata de um erro, que ela “jamais deveria ter uma vida normal”, que “os pais estão mortos e ela aproveitando”, que nosso judiciário é brando demais com este tipo de crime e que isso “só ocorreu porque o governo é de esquerda”.

Nada de novo no discurso punitivista ressentido que conhecemos tão bem. O ponto principal da perspectiva destes indignados é a crença de que alguém que cometeu um ato terrível não tem o direito de ser feliz; algo como uma danação eterna.  Há outros que acreditam que o encarceramento infinito dessa moça seria capaz de diminuir – por um efeito mágico – a criminalidade, as taxas de homicídio ou a pervasividade dos crimes hediondos. Infelizmente para estes, não há um estudo comprovando a relação direta entre encarceramento e queda dos níveis de criminalidade em longo prazo. Por esta razão, o desejo de manter eternamente sua punição através da rejeição social, do impedimento de estudar e da censura pública, mesmo depois de duas décadas de regime fechado em uma penitenciária, em nada ajudará a sociedade a resolver o seu problema com a criminalidade e apenas poderá satisfazer nossos desejos mórbidos e inconfessos de vingança.

Por acaso o sofrimento de Suzane pode nos deixar mais felizes? Qual a punição que nos deixaria mais alegres? Qual o sofrimento terrível imposto a ela nos arrancaria sorrisos? Por que nos importamos que ela sofra ainda mais, depois de tudo que já passou? O que deve fazer uma pessoa que cometeu erros e pagou por eles para ser deixada em paz? O que é interessante é que exigimos que nossos erros sejam contextualizados, entendidos e até perdoados, mas não aceitamos que alguém que errou possa minimamente reconstruir sua vida.

Diante da vontade dessa moça de voltar a estudar só o que permito dizer é: “Muito bem, Suzanne; siga sua vida”. Parafraseando um gracejo corriqueiro do meu pai, que repetia a frase de Jesus, eu diria apenas: “Vá e não peques mais”. No Brasil não existe prisão perpétua; continuar a penalizá-la depois de tantos anos é injusto. Todos têm o direito de continuar sua história após o pleno pagamento de sua dívida com a sociedade. É importante lembrar que seu crime pode não ter perdão, mas ela tem. Não é lícito confundir o crime com o criminoso. O que foi objeto de julgamento foi seu crime, o delito pelo qual foi acusada, não ela. Até onde sei ela já pagou pelo que fez e não foi pouco: foram quase 20 anos de prisão, com tudo o que representa de negativo passar pela juventude sem liberdade. Depois de saldar a conta com a justiça ela agora ela tem o direito de viver em paz. Este é um preceito básico do direito.

“Se fosse com você não responderia dessa forma”, disseram muitos internautas com quem troquei ideias nas redes. Bem, se fossem os meus pais as vítimas dessa moça minha opinião não teria valor necessário para emitir um juízo, pois meu envolvimento emocional impediria uma análise isenta. Mas há os que dizem que ela pode ter pago sua dívida com a justiça, mas para o “tribunal popular” ela será eternamente culpada pela barbárie dos seus atos.

Suspeito que, realmente, ela jamais terá a possibilidade de plena recuperação. O crime cometido se reveste de uma gravidade especial na nossa cultura, e não surpreende que até nas tábuas sagradas trazidas por Moisés está gravado “Honrará teu pai e tua mãe”. Esta marca jamais sairá de sua persona pública, mas eu lamento que assim seja. O perdão é uma característica dos sábios, pois revela a capacidade de se colocar no lugar do outro, e a compreensão profunda da fala de Terêncio que nos ensinou “Sou humano, e nada do que é humano me é estranho”.  Quem sabe, fossem outras as circunstâncias e contextos eu não teria o mesmo desvario, a mesma brutalidade e igual perversidade? Quem pode atirar esta pedra? E no que me concerne, não é justo apontar dedos. Ela pagou sua dívida com a sociedade e não me cabe aumentar a pena com meu desprezo. É também importante lembrar que perdoar não é o mesmo que absolver, apenas não permitir que o mal de outrem lhe afete. Por fim, que Suzane seja feliz da maneira que for possível, e que tenha forças para carregar o fardo de culpa que sempre terá sobre os ombros.

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Morte

Tive muita sorte. Meu pai morreu em 2021 depois de 3 meses de hospitalização na luta contra um câncer. Eu sempre soube que meu pai tinha defeitos, como qualquer pessoa, mesmo que seus defeitos pareceriam brinquedos diante dos meus – bem elaborados e profissionais. Apesar disso, quando ele morreu ninguém se aproximou de mim para lembrar de suas falhas e seus erros, e ninguém ficou repetindo ininterruptamente para mim e para meus irmãos algum de seus deslizes. Creio que as pessoas ao meu redor sabiam que, na morte, é preciso respeitar a dor dos que ficam, e preservar o amor e o carinho que nutriam pela alma que se vai. Espero que quando for a minha hora, que não deve tardar, as pessoas tenham a mesma consideração. Publiquem todo o seu ódio apenas quando meu corpo, corroído pelas bactérias e desfeito das fibras que o sustentavam, esteja frio, cego e surdo, preparado para voltar à terra, ao pó e ao esquecimento.

A todas estas pessoas, eu agradeço.

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Xerifismo do STF

Três perguntas:

1Quantos anos de cadeia cada cidadão brasileiro se arriscaria a pegar caso o ministro Alexandre de Morais tivesse a mesma rigidez que teve com o bombadão fascista a respeito das postagens nas suas redes

2O que impediria a justiça de fazer isso com qualquer pessoa, na dependência apenas do humor de um super poderoso juiz que não gosta das suas palavras?

3Desde quando está valendo o crime de opinião no Brasil?

Realmente poucos teriam a coragem enfrentar um STF acovardado, que deveria mesmo ser suprimido, exterminado, pois que é um poder abusivo que age autoritariamente sobre os outros poderes democraticamente constituídos e que atua politicamente, de forma descarada, para fazer valer a vontade das elites e da pequena burguesia.

Só não vale reclamar quando o STF prender um amigo ou quando impedir o seu presidente predileto de concorrer; claro, nosso apoio só vai se expressar quando esses velhos medíocres atacarem um bombadão idiotizado pelos anabolizantes por dizer tolices em rede social. Nove anos de prisão por fazer gracinhas em redes sociais – e vamos deixar bem claro que “atacar” um poder constituído é um conceito bem diferente do que foi dito pelo réu, de que tinha “um sonho”. Ora, esse sonho de acabar com o STF até eu tenho, pois que esta instância é uma mistura de autoritarismo e xerifismo com o mais abjeto punitivismo.

Estamos cavando nossa própria cova. Esses julgamentos são absurdos, ou no mínimo exagerados e o caso do Daniel é emblemático. Quem agora comemora deve pensar que muito em breve este tipo de ação autoritária dos Ministros que julgam em causa própria vai se voltar contra um parlamentar da esquerda. Ontem, milhares de votos foram cancelados, e de novo através do autoritarismo do STF.

Aplaudir o ministros punitivistas, que agem como perfeitos xerifes de um filme de bang-bang, é pura estupidez, comparável a ficar feliz com os editoriais lidos pelo Bonner contra Bolsonaro. Não importa que o personagem da bolha fascista de agora seja um perfeito idiota, fascista e golpista, estamos abrindo uma porta que não seremos capazes de fechar. Anotem…

Precisamos com urgência de um órgão mais democrático, não vitalício e com pessoas realmente comprometidas com o cumprimento da constituição. Uma suprema corte que diz “O STF precisa escutar a voz do povo” (e não das leis!!!) deveria ser extinto no dia seguinte. Mas quando o STF faz algo que, circunstancialmente nos agrada, muita gente (inclusive da esquerda liberal) coloca a cara do Ministro Alexandre como wallpaper do celular e o transforma em herói da nação. Realmente, muitos preferem ser complacentes e servis com as diatribes de cortadores de pé de maconha e evitam críticas aos venais que agem como se a constituição fosse algo que pudesse ser criada a todo momento, na dependência de suas vontades, dos momentos e das oportunidades propícias para a autoproteção e a defesa dos interesse do mercado.

Cito aqui 5 exemplos de abuso obsceno de poder bem recentes protagonizados pela suprema corte:

1) golpe de 64 sancionado pela suprema corte, tratado como algo feito para o “bem da democracia”;
2) impedimento de Lula assumir como ministro de Dilma (o que poderia obstaculizar o golpe em marcha);
2) prisão inconstitucional de Lula,
prisão violando o artigo 5o da constituição, impedindo-o de concorrer; talvez para estes a prisão de Lula “era do jogo”, mesmo…
3) “impeachment” da presidente Dilma sem crime de responsabilidade – conforme amplamente comprovado, e até aceito por Temer, que reconheceu que o impeachment foi deflagrado porque Dilma não quis aceitar a “ponte para o futuro”. Pois também esse crime foi validado pelo STF;
5) a prisão arbitrária e absurda por 9 anos de um idiota que teve atitude de fanfarrão e boquirroto em rede social.

Uma breve pesquisa adicional e seria fácil achar outras centenas de atos autoritários para se somarem a estes. Com a adoção do “crime de opinião” ninguém está livre de ser perseguido por ter expressado sua opinião e sua perspectiva política sobre o país.

Muitos argumentam como se as leis fossem feitas de ferro, e bastaria se apoiar nelas para fazer valer o que é justo, ético e correto. Não… a lei não é feita de ferro, talvez de uma borracha maleável. Pensando bem, esta não é a melhor imagem; as leis são feitas de “slyme” e o STF faz o que quer com elas, moldando-as de acordo com os seus interesses intestinos e espúrios. Não apenas as leis regulares, mas a própria constituição, que é usada de acordo com as vontades desse colegiado medíocre. “Não tenho prova cabal contra José Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite” lembram dessa pérola da ministra Rosa Weber? Sabe quando uma aberração como essas seria aceita num tribunal europeu? Jamais…. mas por que continuamos a aceitar estes absurdos jurídicos por aqui?

A resposta é óbvia, porém triste: é porque esse país é cheio, repleto, transbordante….. de gente comportada.

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O Menino

Sim, eu tenho pena da desgraça destes personagens para quem um fosso enorme se abre sob os pés, de onde se podem ver as labaredas do Hades. Não me sinto bem associado à enorme energia destrutiva que se forma como resposta à condenação de seus atos. Talvez seja uma reminiscência de outras tantas fogueiras que presenciei, onde sempre imperam os sentimentos mais primitivos.

Esclareço apenas que sofrer por condescendência e empatia não significa aceitar ou concordar, muito menos absolver. Todavia, quando vejo o peso de tanto ressentimento acumulado recaindo sobre estas cabeças eu me associo à tragédia destes que caem. Digo também que olhar desta forma não é uma escolha racional, é um impulso. Também não significa que não devam pagar por seus delitos.

Existe uma circunstância que me é inevitável nestas passagens: eu sempre penso que poderia ser um filho meu. Tenho filhos da idade destes pobres personagens que agora se encaminham ao calvário. Mas já vi mães chorando no pronto-socorro a morte de seu filho bandido. Elas diziam “Ele sempre foi um bom menino. Foram as companhias e a maldita da droga”. Como não entender que, para uma mãe, este filho – por mais degenerado que seja – será sempre seu guri, que

“Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar”

Eu prefiro não cultuar o ódio por essas figuras, todas elas. Quando vejo se disseminar o gozo da vingança sinto um gosto de fel, que sempre me assusta e angustia.

Eu já fui alvo de ataques desse tipo, em especial na internet, por ter opiniões que ofendiam algumas pessoas. Vi gente fazendo discursos enormes carregados de ódio e que sequer me conheciam. Percebi que nestes momentos eu era colocado em um lugar e ocupava um posto. Não exatamente o que eu era, mas o que queriam que eu fosse. Nessa topografia eu podia ser atacado sem dó ou piedade. Eu era a “coisa” a ser destruída, e para isso não havia problema algum em me arrancar a humanidade.

A última vez que expressei meu sentimento com esses linchamentos fui vítima – que surpresa – de um pequeno linchamento por parte de uma antiga companheira. Defender que estas pessoas em desgraça sejam tratadas com alguma humanidade soa ofensivo para quem já sentiu algumas das dores que eles disseminam. Mas, para mim, passada a raiva inicial – quando me esforço por nada dizer – me assombra a imagem de um menino, sua face surpresa diante do mundo, suas dúvidas, seus projetos, suas paixões e seus sonhos. Ao lado dele um homem de túnica branca e barba sobre a pele escura, o dramaturgo cartaginês Publius Terentius Afer, o africano. Ele me olha e balbucia palavras que acompanho de memória. “Homo sum: humani nihil a me alienum puto”.

“Sou humano e nada do que é humano me é estranho”. Aquele menino poderia ser eu, se o meu caminho tivesse o mesmo rumo que o dele.

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Imperdoável

Muito melhor do que “Não olhe para cima” é o último filme da Sandra Bullock, “Imperdoável”. Relata a história de uma mulher que sai da prisão após duas décadas de encarceramento e sua busca para resgatar o que resta da sua vida. Muitos momentos do filme foram preciosos, mas em uma de suas fala ela responde a alguém “As pessoas da prisão são iguais às daqui“, e isso sempre me pareceu uma verdade que tentamos esconder.

Para aceitar as ações selvagens e indignas impostas aos prisioneiros é necessário desumanizá-los, enxergá-los como animais ou como se fossem de outra espécie, diferente da nossa. Esta é a mesma estratégia que usamos ao tratar os inimigos em uma guerra ou os escravos que nos servem. Apenas quando criamos uma barreira entre a nossa essência e a deles é que se torna possível aceitar a violência que lhes impomos, seja produzindo ou testemunhando

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Epitáfio

Existem temas e grupos que a gente risca da vida por causa de múltiplas decepções. Mas, por certo que muitas vezes estas pessoas também se decepcionaram conosco. Durante a vida me divorciei de vários amores; algumas foram separações suaves, outras dramáticas e que produziram ressentimento. Hoje consigo olhar estas rupturas com a serenidade que a idade proporciona, mas todas elas geraram a seu tempo a dor que as projeções determinam. Como vou me despedir dentro de alguns anos, quero deixar claro que não carrego nenhuma mágoa dos amores que deixei.

Sigam em paz….

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