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Propaganda de Margarina

Meu pai era um autodidata, um sujeito muito culto, mas nunca teve a oportunidade de fazer um curso superior. Na sua juventude, esta formação era reservada às classes abastadas da sociedade. Durante toda sua vida foi funcionário de nível médio da CEEE, as centrais elétricas do estado, e quando tinha 35 anos comprou sua casa própria. Quem tem condições de fazer isso hoje em dia? Minha mãe atingiu seus mais altos objetivos na vida através da maternidade e da criação de seus quatro filhos. Formavam um casal típico dos anos 60, quando o mundo respirava um pouco de liberdade depois de um início de século cheio de guerras.

Quando eu tinha 6 anos nos mudamos para a casa nova, um apartamento no bairro Menino Deus que tinha à frente da janela do meu quarto uma praça de 10 mil metros quadrados ao lado de uma escola pública. Se alguém pudesse criar mentalmente um cenário ideal para criar uma família de 4 filhos pequenos, não conseguiria algo tão perfeito como isso. Naquela época as famílias todas ao nosso redor tinham no mínimo 3 filhos, o que nos garantia uma turma gigantesca de crianças com quem brincar. Na escola pública havia a mistura altamente criativa de crianças pobres com jovens da classe média crescente, o que nos oportunizava conhecer um Brasil com maiores dificuldades do que a vida de propaganda de margarina que tínhamos.

Logo meu pai comprou um carro, um DKW azul de teto branco e estofamento vermelho, uma joia da indústria automobilística, com seu motor dois tempos que qualquer um reconhece a quadras de distância. Depois disso veio um marco essencial da modernidade: uma linha de telefone da antiga CRT instalada em casa. No inicio dos anos 70 o supremo luxo: uma televisão colorida, para poder assistir “O Bem-Amado” com todas as cores da obra de Dias Gomes. Nossa infância – e, por certo, falo pelos meus irmãos – é o quadro mais acabado de perfeição, o sonho mais acabado para as famílias da minha geração.

Todavia, como em todo sonho, um dia a gente é forçado a acordar. O meu despertar se deu ao reconhecer a bolha em que nossa vida infantil floresceu. Enquanto vivíamos uma vida de segurança e harmonia havia uma brutal ditadura no Brasil, além de uma crescente disparidade na riqueza do país. O ministro Delfim Neto afirmava que primeiro faríamos o bolo crescer, para só depois dividi-lo, mas esta divisão sempre funcionou como um contínuo “na volta a gente compra” em nível nacional. O que eu passei a reparar foi o número enorme de pessoas pobres ao meu redor, e como o sofrimento delas era visível quando havia disposição para ver. E, naturalmente, eu passei a perceber suas carências, não apenas de caráter econômico e material, mas deficiências de ordem afetiva e simbólica.

Com o tempo percebi que, por mais que houvesse uma tendência em valorizar minhas pequenas conquistas, elas eram fruto direto de uma criação especial, o somatório de inúmeras condições, como uma criação cheia de facilidades, com pais estudiosos, livros nas estantes de casa, escola gratuita, comida na mesa, irmãos para nos ensinar limites, harmonia psíquica e até alguns luxos de classe média. Muito pouco, ou quase nada, é possível encontrar em mim que não seja efeito direto das facilidades que a vida me ofereceu, enquanto sonegava a tantos ao meu redor. Assim, desde muito cedo ficou claro que não há nada de realmente especial em mim, e sou apenas o produto de uma sociedade que me ofereceu inúmeras facilidades, enquanto estas eram negadas à maior parte do país.

Reconhecer o quanto somos o reflexo do nosso entorno e das condições materiais e emocionais que recebemos – ou não – é essencial para reconhecer a necessidade de justiça social e equidade. Quando percebemos o quanto fomos felizes na primeira fase de nossas vidas fica mais fácil entender o quanto essa felicidade deveria ser um direito de todos.

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A Esquerda e Maduro

A imprensa – repetindo uma crítica velha, que apenas se retroalimentou agora – diz que é um absurdo comemorarmos a vitória de Maduro – tratado como um ditador sanguinário – nas eleições recentes da Venezuela. Não poderia ser diferente, tendo em vista o tipo de imprensa frouxa que criamos no Brasil, Todavia, essa crítica emerge também de setores da esquerda, mas o que esperar de uma esquerda onde até um sionista ex-BBB, que apoia Tebet para as eleições 2026, se acha a última bolacha do pacote apenas pela sua vinculação identitária. Até este momento em que escrevo esta crônica o presidente Lula e o presidente Petro não reconheceram a vitória de Maduro nas eleições – o que mostra frouxidão no apoio ao governo de enfrentamento aos imperialistas. Para estes “esquerdistas”, é necessário defendermos a democracia liberal burguesa a qualquer custo, nem que para isso usemos a narrativa produzida pelos “think tanks” liberais e as próprias palavras com as quais o imperialismo nos descreve.

Para os epítetos oferecidos ao presidente Maduro pela nossa imprensa “isenta”, resta explicar como um sujeito pode ser “ditador” e vencer seguidas eleições democráticas e livres, vistoriadas sempre por inúmeras nações estrangeiras, inclusive recebendo delegações das várias “ditaduras” europeias, em especial da “ditadura” francesa, da “ditadura” inglesa e também de países da América Latina? “Ahh, mas ele impediu sua adversária de concorrer”. Bem, não foi “ele”, o presidente Maduro, mas o judiciário Venezuelano, que condenou uma candidata que teve inúmeras inconsistências na sua prestação de contas de seu cargo como deputada. Digam: como um sujeito assim seria tratado nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na Holanda? “Ahh, mas o judiciário de lá é controlado pelo governo”. Quem disse? Quem prova? Olhem o Brasil, como exemplo: acham que Lula controla o STF – que inclusive o prendeu ao arrepio da lei? Bolsonaro é o principal nome dos fascistas e da extrema direita brasileira e está impedido de concorrer; é o conhecido “inelegível”. Porém, está nessa situação por crimes contra o sistema eleitoral transitados em julgado. Seremos uma ditadura por causa disso? Devemos aceitar qualquer violação à lei para satisfazer a sanha de controle por parte dos americanos?

O que significaria a volta da extrema direita à Venezuela, trazendo consigo o controle imperialista ao pais? Depois de um quarto de século de lutas por autonomia e controle de suas riquezas, como ficaria o país sendo novamente entregue às potências estrangeiras? Não seria justo que a vitória (mais uma vez nas urnas) da Revolução Bolivariana fosse  comemorada e entendida como uma conquista do povo na sua luta por autonomia? Tais esquerdistas liberais não conseguem se dar conta que essa narrativa de “Maduro ditador” é uma construção do imperialismo para atacar qualquer líder popular que desafie o Império e seus interesses. Cegos pela propaganda intensa que lhes é dada para engolir, não perceberam as inúmeras mentiras contadas de forma repetitiva, da mesma forma como foram contadas sobre Dilma e Lula. Não é possível esquecer onde os sucessivos golpes e o “law fare” contra Lula nos conduziram: o Brasil foi colocado nas mãos de um ladrão, reacionário, entreguista e incompetente como Bolsonaro, cujos crimes expostos à luz do dia chocam qualquer sujeito minimamente honesto. Por obra do imperialismo,  todo grupo de resistência contra a opressão é chamado de “terrorista” (como o Hamas, o Hezbollah e os Houtis) e todo líder popular de esquerda ou progressista é tratado como ditador (ou narcoditador) como fazem com Kim Jon Un, ou Chávez.

O controle imperialista e os embargos criminosos contra um povo bravo que decidiu democraticamente não se submeter ao imperialismo levaram a décadas de dificuldades para o país caribenho. A derrota de Maduro levaria inexoravelmente ao poder a extrema direita ligada aos Estados Unidos, liberal, conservadora e violenta. E vejam: criticar Maduro é possível e até louvável, mas torcer contra sua vitória quando seus concorrentes são fascistas e entreguistas é apostar na subserviência da Venezuela ao imperialismo mortal, cruel e assassino. A direita chama a Venezuela de antidemocrática, e usam como argumento a pretensa fuga de venezuelanos para o Brasil através da fronteira. Por acaso a fuga de cidadãos, esmagados pelas dificuldades impostas pelos embargos americanos e pelas dificuldades econômicas da Venezuela, significa que o país é uma ditadura? Por acaso as dificuldades do país podem ser desvinculadas dos bloqueios criminosos contra o país? Aguardo as provas de que não existem liberdades democráticas na Venezuela, ou pelo menos que elas sejam menores que no Brasil e nos Estados Unidos. Aliás, nos Estados Unidos se você usar uma bandeira palestina ou se fizer boicote ao estado terrorista de Israel pode ser preso ou morto. Serão eles uma ditadura?

Muitos adversários costumam fazer pouco caso dos boicotes ao país. Dizem “O governo costuma culpar o embargo por tudo”…. mas não é para culpar? A estes pergunto: sabem o que representa para um país um embargo de remédios, comida, peças para máquinas, equipamentos médicos, tecnologia, maquinário etc., praticamente tudo que é produzido pelo comércio internacional? Quem não sabe, tente lembrar o que foi uma simples greve de caminhoneiros no Brasil e a falta de apenas um produto: a gasolina. Agora multiplique por mil e faça durar 20 anos e teremos as dificuldades da Venezuela. Acham que isso não é suficiente para destruir a economia de um país? Ora, sejam respeitosos com a verdade. E sabem por que os Estados Unidos organizam e promovem este tipo de torniquete sobre a economia dos países rebeldes? Para forçar o povo a odiar seu governo, pela mesma razão que Israel mata civis para fazer o povo palestino odiar o Hamas. É simples quando se abre os olhos…

Por fim: a Venezuela foi um dos países com maior crescimento econômico em 2022 na América Latina e registrou uma das principais expansões do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços) também em 2023, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). E no primeiro semestre de 2024 a Venezuela já cresceu 7% (!!!!!)

A esquerda precisa acordar para estas narrativas conhecidas e gastas que não passam de pura propaganda imperialista, armadilhas da imprensa corrupta do Brasil e de fora daqui que tem o claro objetivo de manter a América Latina sob as botas dos imperialistas do norte.

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Bobo da Corte

O filme da Barbie é o perfeito exemplo da concessão burguesa à crítica sobre seus postulados. Na verdade, nada de muito novo, já que esta estratégia pode ser reconhecida em uma figura que se destaca nos relatos da idade média. É a figura do Bobo da Corte.

Esse sujeito, um palhaço, tinha a especial concessão de debochar do Rei e de outros membros da Corte. Podia fazer piadas sobre sua volumosa pança, suas amantes, sua sujeira, seus modos à mesa. Podia falar de sua inabilidade esportiva e até de sua potência sexual – tudo isso como recheio para suas piadas e chistes. Essa prática era usada para humanizar a figura do monarca, trazê-lo para perto do povo e mostrar o quanto era permeável às críticas e reclamações. Entretanto, havia um limite tácito às bobagens.

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Seus gracejos jamais poderiam mostrar ao povo a injustiça de uma sociedade separada entre nobres e plebeus e em hipótese alguma questionar a Realeza e seus direitos divinos. Critique-se o Rei, mas jamais questione sua condição de Rei e a estrutura de classes que determina o ordenamento social. Por isso não deveria causar espanto algum que o Rei pagasse muito bem para alguém falar mal dele, e nem que hoje a Mattel faça um filme que questione a própria Barbie, ao mesmo tempo em que lucra milhões com isso.

É por essa singela razão que os americanos podem fazer tantos filmes críticos à guerra e ao mesmo tempo viver em guerra incessante contra nações autônomas e independentes. O mesmo modelo usado desde muitos séculos, não? Eles bem sabem que as críticas servem para oferecer aos sujeitos (nós) a ideia de que algo está sendo feito e que o poder instituído escuta nossos apelos, quando em verdade tudo o que fazem visa manter este poder intocado. Ou seja: questione-se a estupidez da guerra, mas o limite da crítica é o imperialismo e a consciência dos povos periféricos. Por isso Hollywood pode fazer filmes que esculhambam a própria indústria cinematográfica, desde que não atinjam sua pervasividade no mundo e sua forte propaganda burguesa.

O mesmo ocorre com a democracia liberal: podemos questionar, brigar, acusar, protestar livremente. Ninguém vai reclamar das críticas, mas esse modelo vale apenas quando os conservadores e liberais vencem, e até quando a vitória é da “esquerda moderna”, como Boric, que jamais vai atacar as estruturas da sociedade de classes. Entretanto, se os setores excluídos são minimamente representados e a mais suave ameaça ocorre ao sistema excludente e concentrador do rentismo, imediatamente soa o “alarme de ameaça comunista”, e não há problema algum em apelar para um iletrado e ignorante como Bolsonaro para “salvar a liberdade”. E se isso falhar, não haverá escrúpulo algum em chamar os militares para que venham “assegurar os valores democráticos” – através de uma ditadura.

Barbie apresenta essa miragem de renovação e empoderamento, reforçando as bases estruturantes do capitalismo – onde tudo vira mercadoria – enquanto oferece aos revolucionários da poltrona a miragem de que algo real está sendo feito para mudar o mundo. Essa sociedade capitalista precisa de pessoas que se contentam com os Bobos da Corte e suas piadas ácidas… e inúteis.

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O Império dos Sentidos

Em 1976, quando eu ainda era adolescente, foi lançado com grande furor um filme chamado “O Império dos Sentidos” do diretor japonês Nagisa Oshima. No enredo uma ex-prostituta se envolve num caso tórrido, obsessivo e altamente erótico com seu patrão, numa história que envolve possessão, sexo e morte. O filme tinha como atrativo inédito uma cena de sexo explícito que ficou famosa, apesar do filme ter seus méritos para além desta cena, e ser um drama tenso, pesado e com final trágico. Claro, eu fui assistir com a mesma cara de pau de quem comprava revista Playboy e depois dizia que era “pelas entrevistas”. Sim, eu fui ver o filme porque sempre fui “um amante do cinema japonês”…

Outra curiosidade era que, quando as pessoas falavam que no filme havia essa cena de sexo explícito, logo emendavam a frase dizendo que os protagonistas eram “casados na vida real”, o que oferecia uma curiosa “liberação” para esta exposição pública do sexo entre eles. Tipo, “ahh, se eles são casados, tudo bem”. Parecia que o fato de estarem legalmente unidos através dos sagrados laços do matrimônio retirava da cena uma grande parcela de pecado, e aposto que essa desculpa foi uma das razões para permitir que este filme pudesse ser exibido em plena ditadura militar.

Na verdade, eu lembrei do filme por outras razões. Foi o nome da película que me fez imaginar uma interpretação alternativa. Digo isso porque hoje vivemos, de uma certa forma, no “Império dos Sentidos“, mas não nos “sentidos” com o significado das percepções que captamos do exterior e que nos impressionam, como o tato, o paladar, a visão, etc. Não, eu me refiro aos “Sentidos” com a conotação de “magoados” ou “ofendidos“.

Vivemos, assim, no “Império dos Magoados” onde os sentimentos alheios valem mais do que a própria verdade. Qualquer palavra, expressão, dependendo de sua origem (e não do seu conteúdo), pode ofender pessoas, grupos, etc. As piadas e os gracejos não podem mais se arriscar a tocar as feridas de todos os “(re)sentidos”, pois estes podem se machucar ao ouvi-las. Com isso a cultura fica paralisada, imóvel, temendo os cancelamentos inexoráveis que podem partir de qualquer pessoa e coletivo que se julgam ofendidos. Os comediantes, em especial, vivem sob vigilância extrema, e vivemos hoje em um tempo em que o humor perdeu boa parte da sua potência transformadora. Humor que não rompe barreiras e que não agride conceitos recalcitrantes é entretenimento anestesiante. Nesse Império os grupos historicamente oprimidos se tornaram os mais poderosos na cultura, ditando de forma autoritária o que pode e o que não pode ser dito. Como afirma Zizek, “ser branco, cis, hetero e homem nos tempos atuais tornou-se um crime para o qual não há mais perdão“.

Não nego que houve avanços em algumas áreas – em especial nas agressões que eram travestidas de piada – mas as perdas também são inegáveis. Por isso uma reação evidente já pode ser vista no horizonte. O “Império dos Sentidos” começa lentamente a ver sua força diminuir diante da reação de pessoas e grupos que não acreditam mais na capacidade da censura, dos silenciamentos e dos cancelamentos em oferecer solução para as desigualdades ou para acabar com o preconceito. Não se muda a cultura proibindo e punindo, mas educando e transformando as relações de poder.

A ideia de que os sentimentos feridos devem ser considerados superiores à justiça, à realidade e à verdade é um conceito que precisa acabar. O modelo de “maternagem” condena os oprimidos à uma posição inferior e reativa na sociedade, mas o que eles precisam é de protagonismo e poder de decisão, não de proteção infinita.

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Menos amor, por favor

Se a esquerda não ultrapassar a fase “o amor vencerá o ódio” seremos presas fáceis daqueles que fazem do ódio seu maior talento.

Não creio que precisamos fazer um governo centrado no amor, na compreensão, no afeto ou na alegria; estas são visões ingênuas da política, como se o seu exercício fosse uma prática sem contradições, sem choques, sem recuos, e como se “o amor cobrisse a multidão de ódio“; tal crença é demasiado cristã para ser verdadeira. Pelo contrário, precisamos de luta e enfrentamento, sem negligenciar a energia que emana da indignação.

Não se vence o fascismo oferecendo flores.

O discurso “paz e amor” nos fez perder espaço – e eleições – para a potência e a virilidade do bolsonarismo. Escutem os bolsonaristas!!! Sua retórica é de guerra e violência, e não se derrota essa energia com pacifismo. Precisamos deixar de fazer “resistência”, precisamos “largar as mãos”, precisamos deixar de lado a tentação onipresente de gozar na posição de vítimas e partir para a briga, sair “no soco”, na luta, no confronto, na batalha, no enfrentamento nas ruas.

Nosso discurso pacifista nos fez perder terreno, que levaremos muito tempo para recuperar. Adotamos erradamente uma postura passiva e frágil, cheia de lágrimas, sofrimentos, martírios e vitimismo.

Chega disso. A esquerda precisa atacar, sair à frente e parar de se defender. Precisamos mudar esse discurso frouxo, fragmentado, identitário e unificar nossas lutas.

Há poucos anos, na minha juventude durante a ditadura, todos falávamos em derrotar os inimigos, expulsar os militares, acabar com a censura e fortalecer as causas do povo; não pensávamos em chorar, reclamar e “resistir”. Hoje estamos contaminados com esse ideário neoliberal, essa opção pelo “amor”, as ideias cristãs, a não-agressão, o oferecimento da outra face e (a mais perniciosa de todas) a balela da “conciliação de classes”, porque ficamos intoxicados pela ilusão da sua possibilidade.

Não se combate fascismo com flores. A classe operária precisa largar a semiótica da paz. Não queremos a paz dos cemitérios e nem o silêncio dos mártires!! Precisamos jogar fora estas flores!!!”

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Censura

Eu me acostumei a ver os humoristas brasileiros – em especial os stand-up da última geração – sendo acusados de fazer bullying contra grupos oprimidos. Com o tempo, a partir da vigência do “politicamente correto”, criaram-se lugares fechados, vedados ao humor, ambientes proibidos às piadas, pois que tais espaços estariam ligados ao sofrimento de grupos tradicionalmente oprimidos por sua etnia, orientação sexual, identidade de gênero, deficiências físicas, etc. O humor a partir de tal imposição cultural transformou-se. Através de um patrulhamento feroz do que era dito o humorismo amansou-se, tornou-se civilizado e domesticado. A censura não ocorria mais por parte de “escolhidos” pelo estado para filtrar o que era adequado para os ouvidos sensíveis de nossa população cristã e conservadora, mas por mecanismos culturais descentralizados. Fazer graça se tornou perigoso, mas o humor perdeu uma de suas principais funções: a crítica social mordaz, ferina.

Segundo David L. Paletz, a sátira é uma forma de humor em que as instituições sociais e políticas, os indivíduos são ridicularizados e humanizados. Isso pode nos levar a liberar a tensões e, assim, levar a mudanças no sistema. Dado que a frustração é uma das principais causas da agressão, não surpreende que as pessoas que frustram nossos objetivos e prazeres sejam os principais alvos do humor (como reis, rainhas, políticos, médicos, policiais, clérigos, professores, mandatários, etc.). Com a introdução do humor “controlado”, que evitaria ofender, criou-se um humorismo contido, uma comédia amordaçada, que serviria ao impedimento da segregação desses grupos. Aliás, praticamente todos os programas de humor dos anos 80 e 90 seriam proibidos atualmente. Pense em Chavez, Trapalhões, Viva o Gordo, Zorra Total etc. Nada disso seria aceitável no mundo de hoje.

É compreensível esse movimento. A empatia nos impulsiona a tentar proteger essas pessoas mais fracas de um determinado espaço social, como uma mãe faria com seus filhos. Este para mim é o padrão “maternal”, que abriga criando uma cápsula da amor protetivo, impedindo as agressões que vem de fora. Por esta perspectiva, a censura poderia ser aplicada a qualquer um que estivesse fazendo zombarias sobre esses grupos. Seria uma “censura do bem”, para proteger sujeitos fragilizados dos ataques de uma cultura degenerada e excludente.

Apesar de entender as razões pelas quais se adotam estas medidas na cultura, sempre me posicionei de forma absolutamente contrária a esta proposta. Não acredito que, em médio e longo prazos, qualquer censura possa ser benéfica. A censura sempre é a imposição de força de um grupo sobre a liberdade de expressão de um sujeito ou de coletivos. Baseada em critérios morais ou políticos, julga a conveniência da publicação ou divulgação de uma obra humana impedindo sua liberação à exibição pública. A censura se baseia na ideia autoritária de que existem sujeitos em uma sociedade capazes de julgar o que devemos ou podemos escutar, ver ou admirar. Todavia, da mesma forma como não existe “ditador do bem”, a censura falha em seu intento principal de livrar a sociedade de uma ideia que tenta se expressar; com o tempo – por melhores que sejam suas intenções – ela apenas mantém essa ideia prisioneira no inconsciente social, onde se nutre e cresce.

O que é recalcado não desaparece, e fatalmente se fortalece.

Danilo Gentili foi um dos principais comediantes atacados por grupos identitários. Sofreu processos, ataques e violências por contar piadas sobre mulheres, crianças, nutrizes e muitos outros grupos. Apesar de ele se situar no ponto oposto ao meu no espectro político, creio que ele está correto em sua perspectiva sobre o humor. Ele é vítima da censura que uma parte da esquerda faz e se tornou incansavelmente perseguido pelos identitários e pelas patrulhas de costumes, algo absolutamente medieval. A “hegemonia da ofensa” – onde as piadas são inadequadas apenas a partir de uma escolha política – que ele denuncia é real. Nela se condena por preconceito alguns grupos, enquanto outros são liberados. Fazer piadas com gays, afirma ele, é errado, mas com a pretensa homossexualidade do filho de um presidente de direita, está liberado.

As punições que os stand-up receberam nos últimos anos são a imagem mais clara da absoluta falta de respeito com a liberdade de expressão que existe no Brasil. Acreditar que uma piada possa ser proibida daria arrepios na espinha de qualquer liberal que aceita as liberdades individuais como elemento fundador da democracia, mas no Brasil recebe aplausos até daqueles que repudiam o fascismo e se se acreditam democratas. Censurar uma música do Chico Buarque ou uma piada tosca do Rafinha Bastos tem o mesmo peso, pois na censura não há debate sobre o mérito e a qualidade da obra, apenas sua conveniência moral ou política. Portanto, deveríamos reagir com a mesma energia contra qualquer uma destas arbitrariedades.

O grande problema com a proteção aos grupos “frágeis” é que a blindagem destes grupos – mulheres, gays, negros, deficientes, trans, etc, sobre o que se pode – ou não – dizer gera mais exclusão do que algum efeito pedagógico. Uma pessoa cujas falhas não podemos apontar e zoar (como fazemos todos os dias com nossos amigos) é alguém diferente de nós; frágil e intocável. Estes grupos passam a carregar o status de crianças, fracas demais, demandantes de proteção. Existe um preço a ser pago se alguém se considera (ou é considerado) acima das críticas – ou abaixo delas. Se você não pode brincar com suas características, não vai conseguir proximidade. Entre os próprios protegidos existe reação, pois que o preço da proteção é a eterna imaturidade.

“Ahhh, mas negros, gays, loiras etc eram humilhados com piadas que os diminuíam”. Isso é verdade, mas a maneira de lidar com esse problema não pode ser a repressão, que só piora a exclusão – como bem nos ensinou Freud. A forma mais justa é, diante de um ataque contra estes grupos, valorizar o fato de alguém ser mulher, ser gay, ser negro, ser loira ou ter alguma deficiência e não excluí-los das piadas, pois estas auxiliam na criação de um fator especial nas comunidades humanas: a intimidade. Além disso, todos nós aprendemos desde muito cedo a diferenciar as piadas e seus contextos, em especial reconhecer quando a piada é um simples veículo usado para um ataque preconceituoso. Esta sim é deletéria, mas não passa de uma falsa piada, um gracejo que apenas dissimula uma agressão. Entretanto, mesmo ela não se extermina com censura, apenas com educação e convivência. Aliás, o grande elixir para curar o preconceito é esse: jamais segregar e sempre estimular o convívio dos diferentes; esta sempre foi grande arma para derrubar os muros entre nós.

Tenho profunda admiração por humoristas que rompem essa barreira. Danilo Gentili tem meu total repúdio por sua postura política, mas minha solidariedade pelo direito de fazer e contar piadas sem a ameaça de ser censurado. Muitos outros humoristas enfrentam o bombardeio da “correção política” e se colocam como linha de frente da ampla e irrestrita liberdade de expressão. Entre eles, Rick Gervais e Dave Chappelle são os melhores exemplos de humoristas do politicamente incorreto, e por isso merecem minha admiração e respeito.

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Roe vs Wade

Foto: Lorie Shaull / Wikimedia. Norma McCorvey é a da esquerda ao lado de sua advogada Gloria Allred

A Suprema Corte americana derrubou nesta última sexta-feira (24 de junho) a sua própria decisão de 1973 sobre o tema do aborto – tomada no ápice das manifestações americanas por direitos humanos e contrárias à guerra do Vietnã – que ficou conhecida como “Roe versus Wade”.

O nome “Roe vs Wade” surgiu em um caso famoso nos Estados Unidos protagonizado por uma mulher solteira chamada Norma McCorvey que, insurgindo-se contra uma lei do Texas que considerava o aborto ilegal, processou os Estados Unidos exigindo que os princípios de autonomia e inviolabilidade do seu corpo fossem garantidos para que pudesse realizar uma interrupção legal da sua gestação. Para garantir sua privacidade em um julgamento que envolvia a questão delicada do aborto, ela foi chamada de “Jane Roe”. No final, este julgamento histórico da Suprema Corte derrubou a constitucionalidade da lei do Estado do Texas que considerava o aborto um ato criminoso. O promotor público do caso se chamava Henry Wade, e por esta razão o caso se tornou mundialmente conhecido como “Roe vs Wade”.

* É bom lembrar que o caso foi julgado 3 anos depois da queixa, quando ela já havia ganhado seu filho e dado para adoção. Mais um exemplo de justiças que falham por tardar *

Estranhamente, Norma McCorvey aderiu ao movimento anti-aborto americano em 1995, tendo sido “convertida” por um pastor de sua cidade. Seu arrependimento foi expresso no livro “Won by Love” (Vencida pelo Amor), mas depois descobriu-se que ela foi paga pelos conservadores americanos dos movimentos “pró-vida”, tendo sido sustentada por eles até o fim de sua vida. “O ex-líder da Operação Resgate Rob Shenck, que mais tarde renunciou ao movimento antiaborto, disse aos jornalistas que eles temiam que ela pudesse desertar, então foi paga para permanecer do lado deles. Quando apareceu o depoimento de McCorvey sobre ser paga, Flip Benham, o pastor que a batizou na piscina, afirmou sem qualquer sinal de arrependimento: “Sim, mas ela escolheu ser usada. Isso se chama trabalho, é isso que você é pago para fazer”.

Foto: Washington Post

Esta decisão da suprema corte garantiu em todo o território americano o direito ao aborto, baseado nas ideias liberais de autonomia e cidadania. Com a decisão do dia 24 não haverá uma proibição ou criminalização imediata dos abortos, mas a decisão será garantida aos estados da federação, que por sua vez terão o poder de definir se garantem ou proíbem aos seus cidadãos esse tipo de procedimento. O temor dos grupos “pro-choice” (a favor da escolha soberana da mulher) é de que metade dos Estados americanos terão normas proibindo ou dificultando ao máximo a realização de abortos, em especial os estados do meio-oeste – o “Bible Belt” (cinturão da Bíblia) – mais conservadores, religiosos e ligados ao partido Republicano.

Diferente da Suprema Corte brasileira (o STF) a Suprema Corte dos EUA é composta por apenas 9 membros. No atual julgamento, seis deles votaram a favor da derrubada da decisão “Roe vs Wade”, enquanto outros 3 permaneceram ao lado do direito das mulheres de disporem livremente sobre seus corpos, inclusive para interromper gestações indesejadas. Os 3 ministros da suprema corte indicados por Donald Trump (Gorsuch, Kavanaugh e Barrett) votaram, como era de se esperar, a favor da derrubada da jurisprudência que garantia o direito ao aborto em nível nacional.

Aqui se pode estabelecer uma linha clara entre a decisão da suprema corte americana e os abusos do STF no que diz respeito à livre expressão, conforme determinado pela Constituição Federal. O fato é que os judiciários americano e brasileiros se tornaram órgãos legisladores. Por incompetência do legislativo de ambos os países, ou pelo furor que o poder desperta nesses personagens, o debate sai do parlamento e adentra as salas dos tribunais constitucionais. No caso do Brasil, pela fragilidade das instituições e pelo oportunismo político, permite-se que ministros – como o famigerado Alexandre de Moraes – use de seu poder para interpretar da sua maneira pessoal a Constituição Federal, inclusive indo de forma despudorada contra o que está explicito em seu texto. Assim, uma instância decisória não eleita tem mais poderes do que o executivo e o legislativo. A ditadura jurídica que se instala no Brasil é muito mais dramática e trágica do que o desastre do bolsonarismo, tendo em vista o fato de que podemos trocar o presidente em menos de 100 dias, mas o ministro – inobstante as agressões que fizer à Constituição – só poderá ser retirado em 2043 (dentro de 21 anos) quando for pego pela aposentadoria compulsória.

Suas atitudes impondo censura à imprensa do PCO e contra as críticas realizadas à sua atuação como ministro sequer merecem ser chamados de “censura”, pois que esta se aplica à ação prévia à publicação de uma notícia ou opinião que desagrade aos poderosos. Não, é pior do que isso: ele impede que a imprensa funcione dentro do preceito constitucional de livre e irrestrita expressão, o que configura uma ação ditatorial digna das ditaduras mais fechadas do mundo.

Um país que se pensa democrático jamais poderia tolerar que sua constituição fosse usada de forma arbitrária por juízes que, no caso de Alexandre de Moraes, só entrou para o STF após um golpe de estado claro e inquestionável, com a retirada da presidente Dilma e o surgimento da figura nefasta de Michel Temer, patrocinado pelos grupos mais reacionários e golpistas deste país.

Desta forma faz-se urgente uma reforma na Suprema Corte do Brasil, que limite os abusos de ministros e que diminua a poder desmedido que estes personagens tem nos destinos do país. Caso contrário, as eleições serão tão somente encenações patéticas para ludibriar o povo, que continuará governado por um judiciário venal, acovardado, anti democrático e ditatorial.

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Amor

Sim, mesmo que me falem de todos os outros amores, o amor do casal estará sempre em primeiro lugar porque é o único dos amores do qual somos dependentes para a continuidade da espécie. Se eu tivesse que proteger um, seria esse. Os outros, inobstante serem importantes para a vida de comunidade, não nos garantem a reprodução. Já passei pela experiência de pai de crianças, e sei enquanto minha nova função de avô é gratificante e significativa, porém certamente ela é acessória.

Eu concordo que estas formas contemporâneas de poliamor, trisal e outras arquiteturas são “mais do mesmo”; no fim das contas as mulheres biológicas vão engravidar de alguma forma e os cuidados dessas crianças será distribuído de forma não uniforme para quem estiver em volta. Se houver afeto como laço, tanto melhor. “O amor é isso que uma mulher devota ao seu filho, e todos os outros amores são dele derivados”. Nem bom e nem mau, apenas uma força coercitiva extremamente poderosa. Feita assim mesmo, para ser violenta e avassaladora, pois que desta energia depende toda a vida.

Ardian Kovaçi, “Romancë, cigare dhe vodka” (Romance, cigarro e vodka), ed. Paqe dhe Drejtesi, pág.. 135

Ardian Topalli Kovaçi é um escritor e terapeuta albanês nascido em Tirana em 1957. Filho de agricultores viveu uma infância de pobreza durante o governo socialista de Enver Hoxha, mas pôde estudar psicologia na Universidade em Tirana. Dedicou -se à clínica privada nos primeiros anos de formado vivendo na capital, enquanto escrevia para os jornais da Sociedade Albanesa de Psicologia. A coletânea desses artigos compõe seu livro mais conhecido, “Sob as Ruínas da Tabacaria”, de 2000, onde faz uma crítica mordaz ao totalitarismo albanês, tendo como cenário a famosa tabacaria onde Enver Hoxha criou a primeira célula do Partido Comunista da Albânia. Trabalha como colunista do Lajmi i Fundir, escrevendo sobre amor e relacionamentos. É divorciado e tem dois filhos.

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Venezuela

Pois eu pergunto se a eleição do partido do presidente Maduro, nas repetidas consultas populares, por acaso não é democrática? Qual o sentido em desmerecer os pleitos realizados durante o período que se inicia com Chavez? Nesta última eleição mais de 200 observadores internacionais convidados participaram da fiscalização e garantiram a justeza do resultado. Por que insistimos em questionar a voz das urnas?

Por que não reconhecer o óbvio: os lobos do capitalismo querem o petróleo da Venezuela – a maior reserva do planeta – e que tudo o que está acontecendo é, de um lado, uma tentativa de rapina desse tesouro e, por outro lado, o desejo do povo organizado de defender sua soberania. Acha mesmo que os relatos da imprensa brasileira (a mesma que esta semana esquece Queiroz e põe uma suposta amante de Lula na capa da IstoÉ) e relatos isolados podem nos informar o que está verdadeiramente ocorrendo? Por que nunca chamamos os chefes de Estado da Arábia de “ditadores sanguinários”, mas sim o presidente da Venezuela, o qual foi ELEITO DEMOCRATICAMENTE?

A solução é voltar ao modelo entreguista pré-Chavez? Ou realizar eleições? Quem sabe propor uma constituinte? Opsss, tudo isso a revolução já fez. E o povo organizado votou por manter os ideais da revolução bolivariana. Ou não?

É óbvio que existem erros e excessos na Venezuela, ninguem tem dúvida sobre isso, mas também havia na Inglaterra durante a guerra contra o eixo. As eleições foram abolidas nesse período mas ninguém ousa chamar Churchill de “ditador”, não?

Pois o presidente da Venezuela sofreu um atentado há algumas semanas!! O presidente americano deixou claro que uma solução bélica está sendo estudada. O Brasil acena com uma base americana nessa fronteira e o “nosso” “presidente” diz que fará tudo para derrubar o governo de Maduro. O país está sendo ameaçado interna e externamente. A Venezuela está sob embargo americano, como Cuba. Acha que é hora de republicanismo? Churchill não entrou nessa, por que Maduro entraria?

Por que podemos dizer que o que estamos vendo nas repetidas eleições de Maduro não é exatamente a resistência da sociedade civil contra a ameaça de golpe com a finalidade de se apoderar das reservas de petróleo? Será que os exemplos da Líbia, da Síria e do Iraque não tem NADA A NOS ENSINAR? Não dá para perceber o MESMO ROTEIRO de fomentar uma dissidência interna, desestabilizar o país, criar milícias e guerras campais, manifestações violentas nas ruas e forçar uma queda do governo colocando um testa de ferro pró americano? Olhe como aconteceu no Oriente médio!!!! Só não aconteceu na Síria pela intervenção russa, e o mesmo se desenha agora na Venezuela. A Venezuela resiste a uma invasão!!!!!

A resposta seria como? Sendo republicano e democrático como foi o PT, permitindo o aparelhamento do judiciário pela pior corja de juízes que já tivemos? Aceitando o julgamento falso de Lula que o impediu de ser democraticamente eleito? Ou deveriam os venezuelanos ir às ruas, apoiar o projeto nacionalista de Maduro pela garantia da autonomia do país, mesmo correndo o risco de cometer abusos e exageros?

E o PT? Deveria se associar à Colômbia, Brasil, EUA e Argentina – dominados por governos alinhados aos americanos – ou defender a DEMOCRACIA que elegeu Maduro, a mesma que nos faltou para eleger Lula?

Estou fazendo perguntas porque não sou venezuelano e não tenho todas as respostas. Apenas acho que a condenação peremptória do governo da revolução bolivariana pelo filtro que recebemos da imprensa golpista – um lixo insuperável no mundo inteiro – não me parece justo.

Quer saber o que é a Venezuela hoje, sob ameaça constante de ataques internos e externos? É o Brasil se Haddad tivesse vencido. Se você fosse venezuelana seria correto condenar o governo do PT e de Haddad se tudo que soubesse do Brasil fosse pelas capas da Veja e da IstoÉ? Pense nisso….

Gostaria que os democratas me dessem soluções para a crise da Venezuela. Com todo o respeito, informes anedóticos não me tocam, em especial de gente da classe média que saiu de lá. Precisa mais consistência e abrangência para me convencer. A crise de lá é terrível, disso não há dúvida alguma, mas alguém me explique por qual via um golpe de Estado patrocinado pelos americanos ávidos por petróleo poderia melhorar a situação. Como? O Iraque melhorou? A Síria melhorou? Como está a Líbia e seu petróleo agora? Nas mãos de quem? Podemos acreditar na imprensa que descrevia Gaddafi – nacionalista – como o diabo sanguinário encarnado? Ou podemos aprender que tudo isto é PROPAGANDA GOLPISTA?

E por último, descrever a “opulência” da vida do ditador – que foi visto num restaurante chique numa visita oficial – é uma estratégia absurda que foi usada contra Castro e contra Lula milhares de vezes. Isso é apenas baixaria e fofoca.

Quero soluções que passem pela democracia e pela proteção da autonomia e da soberania do país. Quem tem?

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Geração afascistada

Parabéns seus véios fascistinhas

Vejo entristecido uma quantidade enorme de idosos (véios, tipo eu) defendendo os desmandos dessa banda do judiciário que não aceita as nossas leis e sua aplicação. São pessoas entre 55 e 65 anos que, como eu, estavam na adolescência durante a ditadura sangrenta de meio século atrás. Então eu me pergunto: quando eu estava levando porrada de “brigadiano” na frente da faculdade, o que essa turminha de direitistas e conservadores fazia durante a ditadura de 64? Buscavam o quê? Eram contra os militares? Ou apenas brincavam de rebeldes, travestis de combatentes em corpos constituídos de privilégios e conservadorismo?

Posso dizer que certamente não lutavam pela volta da democracia, tanto é que agora desprezam a Constituição e os princípios da justiça. Tenho certeza que – mesmo usando camisetas do Che – mais se preocupavam em manter seus privilégios de classe e cor, pouco se preocupando com o resto do país que tinha fome e desassistência.

É uma lástima perceber que hoje, entre as pessoas da minha geração, o ódio às esquerdas e à justiça social – corporificada na perseguição a um líder popular preso sem provas – é maior e mais intenso que o amor à justiça e à democracia.

O que houve com minha geração que perdeu seus ideais, seus sonhos sua paixão e até sua humanidade?

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